Confira a entrevista com Henrique Pasqualette, mastologista e diretor médico do Centro de Pesquisas e Estudos da Mulher (CEPEM)
30 de junho de 2020
A evolução da medicina diagnóstica ao longo das últimas
décadas é nítida identificando patologias cada vez mais precocemente,
promovendo exames cada vez mais específicos e garantindo resultados com extrema
confiabilidade. Pensando em saúde da mulher, é perceptível, por exemplo, como o
segmento contribuiu para que o câncer de mama – doença tão temida pelo público
feminino – pudesse ser identificado e tratado de forma rápida e muito menos
agressiva.
Especializado em diagnóstico no universo feminino, o CEPEM (Centro
de Estudos e Pesquisas da Mulher) está há 27 anos atuando no Rio de Janeiro (RJ)
e acompanhou de perto grande parte dessa evolução, incorporando ano a ano
tecnologias capazes de salvar vidas. Conversamos com Henrique Pasqualette,
mastologista e diretor médico do CEPEM, sobre os avanços já computados, os
impactos da pandemia no segmento e os principais desafios que se desenham neste
cenário onde há alta competitividade e onde a inovação se mostra o melhor
caminho para a evolução.
Confira a entrevista completa.
Abramed em Foco – O CEPEM é especializado em saúde
feminina. Como enxerga a evolução da medicina diagnóstica voltada à mulher?
Henrique Pasqualette – Quando eu me formei, o
diagnóstico do câncer de mama, por exemplo, se baseava na palpação, os exames
de imagem estavam apenas começando. E isso fazia com que o prognóstico fosse
muito ruim, as cirurgias mutilavam as mulheres e a maioria das pacientes
chegava a falecer. Nos últimos 40 anos o cenário mudou de forma fantástica e é
raro assistirmos mulheres morrerem em decorrência do câncer de mama, já que
temos todas as oportunidades para um diagnóstico precoce e tratamentos cada vez
mais evoluídos. Na obstetrícia também assistimos à uma evolução surpreendente.
Abramed em Foco – Falando em evolução, pioneirismo e
inovação estão no DNA do CEPEM. Por que é tão importante investir em pesquisa e
desenvolvimento?
Henrique Pasqualette – No CEPEM estamos
constantemente incorporando tecnologias e inovação para oferecer, às pacientes,
o melhor que podemos. Temos sempre muitas novidades. Ainda em meados de 1997
trouxemos, para o Brasil, a mamotomia, tipo especial de biópsia auxiliar no
diagnóstico do câncer de mama. No início dos anos 2000 incorporamos a
mamografia digital de campo total e, já em 2003, a mamografia digital com
detecção inteligente. Temos essa tendência de trabalhar com tecnologias que
aprimoram os resultados dos exames e melhoram a qualidade de vida da população.
Abramed em Foco – O relacionamento com outros players
da medicina diagnóstica é importante?
Henrique Pasqualette – Com certeza. No início sentíamos
falta de ter essa relação com o mercado para que pudéssemos desenvolver um
ponto de vista mais profissionalizado, e a Abramed abriu as portas para que
nossos executivos aprendessem com o mundo que se desenvolvia fora da nossa
casa. Acho muito importante que nossos especialistas participem das reuniões e
dos eventos promovidos pela associação e acredito que quanto mais laboratórios
e clínicas participarem da Abramed, mais fortalecidos seremos.
Abramed em Foco – E como fica a competitividade nesse
cenário tão acirrado?
Henrique Pasqualette – Estamos há 27 anos no Rio de
Janeiro e temos várias gerações que evoluíram conosco. No começo tínhamos de
disputar os profissionais, hoje temos uma relação muito forte com nossos
especialistas que estão engajados com nossa marca. Vejo a competitividade como
algo positivo que nos obriga a melhorar a cada dia, a buscar a excelência.
Contamos com certificados PADI e PROQUAD e não nos deixamos afetar pela
massificação que muitas vezes observamos quando as marcas começam a ampliar
seus segmentos. Além disso, entendemos que a medicina é algo que exige um
contato próximo com os pacientes e um tratamento individualizado, humanizado.
Abramed em Foco – A pandemia de COVID-19 mudou o ritmo de
trabalho de todos. Passada a crise, qual o legado que o novo coronavírus nos
deixa?
Henrique Pasqualette – Esse momento que vivemos é
muito significativo e ninguém imaginava que chegaríamos a essa situação. Na
pandemia, a medicina diagnóstica ganhou representatividade e despontou como um
dos atores da solução. Com os testes de COVID-19, somos parte importante do
entendimento da crise e da elaboração de estratégias. Por outro lado, vivemos
um momento complicado do ponto de vista econômico e financeiro, todos nós
sofremos muito. E nesse momento, inclusive, a Abramed foi fundamental ao
capitanear uma série de atitudes em prol do setor, levando as nossas
dificuldades ao Ministério da Saúde, ao Governo Federal e aos bancos de
investimentos. Acredito que a pandemia, de certa forma, nos auxilia a
consolidar a relevância da medicina diagnóstica no contexto da saúde. Vínhamos
fazendo um bom trabalho e, nesse momento, aproveitamos a oportunidade para
apresentar, com mais força, que somos indispensáveis.
Abramed em Foco – Quais os grandes desafios da medicina
diagnóstica nos próximos anos?
Henrique Pasqualette – Enxergo quatro grandes ondas
ocasionadas pela COVID-19. A primeira, que já vivemos, dos pacientes infectados
que necessitavam de cuidados, sendo que nossos recursos eram finitos. A
segunda, que está começando a surgir, é composta pelos pacientes que não tiveram
suas necessidades além da COVID-19 atendidas durante a pandemia, quando
procedimentos foram cancelados e adiados. A terceira onda, que logo chegará,
diz respeito às pessoas que tinham comorbidades, não receberam a atenção devida
durante a crise, não foram monitoradas, e acabaram tendo suas condições
agravadas. A quarta, e última, onda que percebo será a de uma população que
sofre as consequências da pior pandemia do século, um grupo de desempregados,
pessoas que perderam os entes queridos, órfãos e toda uma gama de cidadãos com
necessidades bem específicas. Dessas quatro ondas, a medicina diagnóstica se
faz indispensável nas três primeiras e precisará suportar a população também na
quarta. Afinal, quando eu me formei, a medicina, com a anamnese e o exame
clínico, era soberana. Hoje, após tanta evolução tecnológica, agregamos exames
laboratoriais e de imagem e a medicina não mais existe sem o setor de
diagnóstico.
Abramed em Foco – O que o CEPEM espera da Abramed como
associação para vencer os desafios do setor para os próximos anos?
Henrique Pasqualette – Vejo a Abramed cada vez mais
forte, desde a gestão da Claudia Cohn que teve uma atuação exemplar até essa
nova gestão, com o Wilson Shcolnik, que está fantástica. É uma associação que
tem muito a oferecer. Um dos caminhos que vejo é a Abramed atuando para
auxiliar a dificuldade que os profissionais que vem de outras áreas da medicina
têm para se adaptar ao setor de diagnóstico, que tem particularidades. Vejo a
entidade assumindo um bom papel na formação educacional desses futuros
profissionais. Além disso, os dados que a Abramed compila e divulga são
balizadores muito importante para o nosso segmento que está a cada dia mais
profissionalizado. Temos um belo caminho a percorrer, a entidade está a cada
dia mais robusta, as reuniões e os eventos que promove são ótimos e a
assessoria jurídica é indispensável. Durante a pandemia vimos como a Abramed
foi importante para nossa área e tenho certeza de que a entidade vai continuar
crescendo.