Na pandemia, empresas com programas de integridade consolidados estão menos expostas

Na pandemia, empresas com programas de integridade consolidados estão menos expostas

Em webinar, especialistas debateram a manutenção da ética durante a crise gerada pelo novo coronavírus

29 de julho de 2020

Diante de tantos dilemas gerados ao setor de saúde durante a pandemia de COVID-19, a Alliance for Integrity, iniciativa do setor empresarial para incentivar a transparência no sistema econômico, realizou um webinar para debater a integridade no setor de saúde em tempos de crise. Com participação de Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e moderado por Paula Oda, coordenadora de Projetos em Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, o encontro virtual também contou com apresentações de Eduardo Winston Silva, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde (IES); e Luiz Eduardo Lemes, gerente de Ética e Compliance da Takeda Brasil.

Para Paula, são inúmeros os entraves que vão desde a escassez de fornecedores e insumos até instabilidades do mercado e falta de transparência, o que torna a discussão sobre a ética ainda mais relevante. “Nesse cenário de crise caracterizado pela urgência, imprevisibilidade e ameaças à saúde, precisamos assumir uma postura que nos permita olhar os riscos iminentes e trabalhar em cima deles”, comentou ao abrir o evento.

Uma das principais discussões enfatizou que o mundo não estava preparado para enfrentar uma pandemia, algo bastante imprevisível do ponto de vista dos negócios, porém todos há tempos sabem da importância de investir em programas de integridade e as empresas que já tinham implementado essa cultura em suas organizações vem conseguindo enfrentar esse período com mais serenidade.

Para Priscilla Franklim Martins, da Abramed, é uma pena que não haja, ainda na educação primária, uma disciplina sobre integridade. “Esse tema tem que ser abordado ainda na infância. Quando ensinamos os pequenos sobre a importância da ética, não precisamos ensinar os adultos pois passa a ser um valor natural”, declarou ao explicar que a Abramed vem trabalhando o tema junto aos seus associados desde 2017 quando lançou o primeiro Código de Conduta do setor de medicina diagnóstica. Já em 2019, a Associação lançou sua Cartilha de Compliance, um material didático para auxiliar não só seus associados, mas qualquer empresa, na criação de programas de integridade.

E se ética e integridade deveriam ser aprendidas ainda na escola, são temas que nunca devem ser deixados de lado. Como explicou Eduardo Winston Silva, do IES. “Ética não é um grupo de regras bem definidas que podem ser decoradas. O que lá atrás não era antiético, hoje pode ser”, disse.

Cautela e cuidado diante da pandemia

Para Luiz Eduardo Lemes, da Takeda Brasil, é hora de desacelerar, mesmo que essa instrução soe estranha em um momento repleto de necessidades urgentes. “A pandemia trouxe um senso claro de urgência, mas quando falamos em negociações, condução de contratos e programas de integridade, a pressa é inimiga da perfeição”, declarou ao exemplificar que situações onde há muita pressão para assinatura de parcerias podem levar à erros e falhas.

Quando a pandemia estourou gerando incertezas em todos os setores da economia e causando medo na população, as instituições precisaram se fundamentar ainda mais em seus programas de integridade para evitar deslizes. Segundo Priscilla, com a falta de previsibilidade de quando a crise irá de fato se desmanchar, foi necessário flexibilizar muitos processos para que o setor de saúde pudesse manter o atendimento à população.

“Encontramos uma série de dificuldades como, por exemplo, a falta de insumos para testes de diagnóstico, uma situação que nunca tínhamos vivenciado. Foi então que nos vimos frente a uma concorrência mundial por reagentes laboratoriais. O mesmo ocorreu com os equipamentos de proteção individual, indispensáveis para a segurança dos profissionais de saúde na linha de frente da luta contra a COVID-19. Diante desse panorama, algumas alçadas de aprovação precisaram ser flexibilizadas”, explicou.

E é nesse momento que podem surgir deslizes, como detalhou Silva. “Teve muita gente que se aproveitou da flexibilização para ter vantagens indevidas seja pelo overpricing seja por meio de fraudes”, disse ao mencionar que nos últimos meses foram notados muitos indícios de corrupção no segmento. Para evitar que esse cenário de falta de ética se consolidasse diante da pandemia, o IES criou um canal de assessoria onde tanto empresas privadas quanto gestores públicos podem se apoiar na hora de realizar compras necessárias para o controle da disseminação do novo coronavírus.

O principal alerta, na opinião de Silva, está no fato de que a flexibilização não representa liberdade para que os processos sejam feitos em desordem. “Não significa que todos podem fazer o que querem da forma como querem. No futuro mapearemos quem agiu com integridade e quem agiu em benefício próprio”, concluiu.

Novamente veio à tona a importância da consolidação da ética e da integridade nas empresas quando Priscilla reforçou que os ilícitos existem, mas que as empresas, quando preparadas, têm um comportamento padrão focado em minimizar esses ilícitos. “Quando há flexibilização, há aumento do risco. Mas, ainda assim, empresas que tem integridade, compliance e ética em suas espinhas dorsais ainda manterão esse comportamento que mitiga o risco. Na crise, o ilícito aconteceu, infelizmente, mas as empresas sérias estiveram menos expostas a isso do que as que realmente se abriram mediante a total flexibilização”, completou.

Integridade é para todos

O setor de medicina diagnóstica, conforme enfatizou Priscilla, já vinha se preparando para programas de integridade há anos, reconhecendo que essa temática deve estar envolvida em qualquer empresa de qualquer porte.

Para Lemes, é preciso desmistificar alguns conceitos que se enraizaram. “Criou-se uma aura de que programas de integridade são luxuosos, caros e dão muito trabalho, porém na prática, somente de reunir os colaboradores para uma conversa franca e transparente, estar aberto para ouvir esses profissionais e discutir o que está acontecendo, já é um excelente caminho”, explicou. Segundo o especialista, não adianta apenas ter uma lista de regras, é necessário trabalhar a cultura e a educação, sempre lembrando que na pirâmide corporativa, as pessoas do mais baixo nível hierárquico repetirão o comportamento dos líderes.

Priscilla concordou com essa percepção e colocou, em debate, a importância da liderança pelo exemplo. “Realmente não adianta estabelecer um programa de integridade onde as lideranças não dão o exemplo. Não podemos exigir que a base da pirâmide tenha um comportamento íntegro se as lideranças não têm”, complementou.

O webinar “Integridade no setor de saúde em tempos de crise” está disponível no canal do YouTube da Alliance for Integrity. Clique AQUI para acessar.

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