Encontro virtual promovido pelo Banco Citi Brasil recebeu Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação
29 de setembro de 2020
Ultrapassando as barreiras do setor de saúde, Priscilla
Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina
Diagnóstica (Abramed) participou, dia 29 de setembro, de uma live do Banco Citi
Brasil sobre a atual situação e as perspectivas do setor de medicina
diagnóstica do país. Mediado por Tobias Stingelin e Leandro Bastos,
respectivamente diretor e analista de research para Varejo, Saúde e Educação, o
bate-papo trouxe detalhes sobre os impactos da pandemia e os atuais pleitos
desse segmento essencial da saúde.
Depois de apresentar a Abramed e falar sobre a
representatividade da Associação no mercado de saúde brasileiro, enfatizando
que os associados são responsáveis pela realização de 56% de todos os exames
feitos na saúde suplementar, Priscilla teve a oportunidade de falar sobre a evolução
da medicina diagnóstica diante da pandemia de COVID-19.
“O setor de diagnósticos, que é prestador de serviços assim
como os hospitais, foi muito impactado na pandemia. Os pacientes desapareceram
das unidades e a queda no atendimento de laboratórios e clínicas chegou a 70%”,
comentou a executiva mencionando que a rede privada de laboratórios foi muito
eficiente e, logo que o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi
confirmado no Brasil, saiu em disparada para desenvolver os exames e, assim,
poder testar a população o mais rapidamente possível.
Claro que uma pandemia dessas proporções também traz
desafios diários para as equipes de saúde. Segundo Priscilla, um dos principais
foi a disputa internacional por insumos. “Somos um setor dependente da
indústria estrangeira e competimos com muitos outros países”, disse. No que diz
respeito à importação, Priscilla comemorou o fato de que se por um lado
tínhamos dificuldade em obter esses produtos do mercado externo, por outro o
setor conseguiu duas vitórias junto Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa):
liberação dos insumos em apenas 24 horas (antes levava 10 dias), e isenção
fiscal em mais de 200 itens.
Outro desafio mencionado por Priscilla durante o encontro
virtual foi a interrupção da malha aérea e de problemas relativos ao transporte
terrestre, o que colocou todo o setor em contato direto com o Ministério da
Infraestrutura para minimizar os entraves, o que foi essencial.
Vencidos muitos empecilhos, na opinião da diretora da
Abramed, houve uma evolução natural e gradual do combate à crise e, hoje, a
situação soa praticamente normalizada. “O setor já segue rígidas regulações
focadas na segurança do paciente. Passamos a comunicar as pessoas de que elas
deveriam retomar seus cuidados com a saúde. Em junho começamos a ver um
reaquecimento e hoje ainda não chegamos ao mesmo nível pré-pandemia, mas
estamos muito perto disso”, declarou.
Como em toda crise, a pandemia de COVID-19 despertou a
criatividade das empresas. “O que o setor tem feito para se reinventar”,
questionou Stingelin. Priscilla mencionou a ampliação do atendimento na
residência, com coletas domiciliares, e a vasta implementação do drive-thru,
dando segurança e conforto para os pacientes. Paralelamente, mencionou uma
certa competitividade prejudicial que fez com que houvesse muita irresponsabilidade
na realização de testes em locais totalmente inapropriados. “Vimos testes para
COVID-19 sendo feitos em postos de gasolina, conduzidos por profissionais que
nem mesmo a máscara sabiam utilizar corretamente”, declarou. “Qual a
procedência desses testes? Eles tiveram sua qualidade comprovada”,
complementou.
Interessado em entender as lições que uma pandemia
infecciosa como a do novo coronavírus gera em um setor tão importante da
economia, Stingelin perguntou: “qual o grande aprendizado que veio para ficar e
mudará a dinâmica do setor daqui para frente?”. Para Priscilla, a resposta está
na telemedicina e na ampliação do diálogo entre todos os atores da complexa
cadeia de saúde. “O telediagnóstico já existe há dez anos, mas a telessaúde
como um todo, que a gente já desejava, foi acelerada e é um caminho sem volta.
Assim como o diálogo que melhorou muito. Vimos muitas decisões serem tomadas a
várias mãos e uma melhor comunicação com o governo”, apontou.
Novos pleitos do setor
Bastos questionou Priscilla sobre qual a atual agenda da
medicina diagnóstica. Foi quando a executiva elencou os principais pleitos do
segmento, começando pelas análises das Consultas Públicas 911 e 912 – que
revisam a RDC 44, que regula as farmácias, e a RDC 302, responsável pelas diretrizes
de funcionamento dos laboratórios clínicos – legislações que estão em andamento
e visam a liberação de exames em farmácias e drogarias.
“Essa é uma discussão ampla, complexa, com prós e contras.
Nosso setor entende que esse é sim um caminho, mas que não pode haver dois
pesos e duas medidas. Caso as farmácias passem a realizar exames, deve haver
regulação exatamente igual à que há para os laboratórios, até porque são
justamente esses rígidos protocolos que garantem a segurança dos pacientes”,
explicou.
Na sequência, Priscilla apresentou qual a percepção do setor
quanto à atual Reforma Tributária que corre no Congresso Nacional, lembrando
que laboratórios e clínicas de imagem apoiam a desburocratização, desde que
haja neutralidade e que a essencialidade da saúde – bem como da educação – seja
reconhecida. “As propostas que estamos vendo gerarão uma superoneração do
sistema de saúde. Na medicina diagnóstica o aumento da carga tributária pode
ultrapassar 40%. As empresas do setor, que não conseguirão arcar com suas
folhas de pagamento, vão demitir e fechar; os beneficiários de planos de saúde
vão ter dificuldade em manter seus convênios, migrando para o SUS; e o acesso
ficará restrito independentemente da classe social das pessoas. É um problema
que afeta todos”, explicou.
A executiva aproveitou a oportunidade para mencionar a
campanha digital #aSaudeNaoPodePagarEssaConta
e a aliança Saúde e Educação, formada entre os dois setores, para lutar pelo
reconhecimento de sua essencialidade.