Sexto encontro do #DiálogosDigitais Abramed abordou inteligência artificial, LGPD, inovações em saúde e acesso único do paciente
21 de outubro de 2020
O advento da tecnologia vem transformando continuamente a
saúde no mundo, tornando o cuidado muito mais inteligente, integrado e
acessível a todos os pacientes. Para entender em que fase estamos, quais os
empecilhos para o avanço mais rápido e como será a nossa realidade daqui a 30
anos, o sexto encontro da série #DiálogosDigitais Abramed, realizado na noite
de 20 de outubro, recebeu especialistas do setor para um bate-papo moderado por
Gustavo Meirelles, membro do comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e Gestor Médico no
Grupo Fleury.
No debate sobre quais as tecnologias que estão
revolucionando o mercado, estiveram presentes Armando C. Lopes Jr, diretor
geral da Siemens Healthineers Brasil; João Fábio Silva, co-fundador e COO da
Stark-4pl; Leonardo Vedolin, vice-presidente da área médica da Dasa; e Luis
Gustavo Gasparini Kiatake, presidente da Sociedade Brasileira de Informática em
Saúde (SBIS).
Muito foi tratado sobre procura inteligente de sintomas e o
futuro da saúde diante de uma revolução tecnológica exponencial. E, na visão de
Lopes Jr, tudo isso só traz benefícios. “A inteligência artificial nos
beneficia em três grandes vertentes: aumentar e melhorar a produtividade para
que possamos ampliar o acesso; auxiliar a medicina personalizada; e contribuir
com a gestão de saúde populacional”, comentou.
Sabendo que a tecnologia tem muitas possibilidades de
contribuição à população, Silva aproveitou a oportunidade para fazer uma
crítica a alguns conflitos que atravancam o desenvolvimento desse setor. “A
dificuldade em colocar toda essa inovação em prática está em gerir interesses
que fogem a fazer o bem ao paciente. É preciso quebrar barreiras políticas”,
pontuou.
Para o executivo, a pandemia nos mostrou que temos a
tecnologia em mãos, mas precisávamos de uma emergência para que o investimento
fosse feito. “A telemedicina, por exemplo, tão óbvia e necessária, por qual
motivo não foi aplicada antes do novo coronavírus?”, questionou. Assumindo-se
otimista, complementou dizendo que sempre será defensor da tecnologia: “vejo
muitas soluções que só precisam ser usadas, aceitas e implementadas
rapidamente”.
Esse ciclo de oferta e demanda é, para Vedolin, natural. “O
que a história tem nos mostrado é que quando a tecnologia se desenvolve em uma
área, a demanda por aquela área também aumenta na mesma proporção”, declarou.
Enfatizando que o homem acaba falhando ao prever o futuro e que, por esse
motivo, ele não cogita fazer previsões, o vice-presidente da Dasa fez um
retrospecto sobre a inteligência artificial na medicina diagnóstica. “Vejo que
as modelagens de IA começaram muito ligadas à detecção de padrões, segmentação
de lesões básicas e caracterização de lesões. Tudo isso auxilia o médico ao
melhorar a qualidade do diagnóstico, levando-o a errar menos por estar baseado
em critérios morfológicos. É a fase que vivemos agora. Creio que em cinco anos
haverá uma evolução para um outro patamar com mais acurácia preditiva”, disse.
Promovendo uma análise sobre o posicionamento do Brasil
diante de um mundo tecnológico, Meirelles questionou Kiatake sobre o papel da
Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) nesse contexto de tecnologia. “O que muda
para melhor e o que muda para pior?”, perguntou.
Ao responder, o presidente da SBIS declarou que muitas vezes
os dados ficam ilhados dentro das empresas e que a LGPD pode contribuir em dois
aspectos: forçar as companhias a olharem para seus compilados de dados e abrir
os olhos da população para seus direitos como detentora dessas informações.
“A lei nos força a olha para dentro, a fazer um inventário
de dados e isso é excelente. Além disso, traz um novo conceito onde a população
começará a compreender que tem direito àquele dado e que essa informação pode
gerar benefícios para sua saúde”, verbalizou.
Esse tema serviu de gancho para que o time de especialistas
participantes do encontro virtual passasse a tratar da interoperabilidade, tão
apontada como entrave no atual cenário de inovação tecnológica. Para Vedolin, é
interesse comum que haja interoperabilidade entre todos os elos da cadeia de
saúde. “Não tenho dúvida de que todos os protagonistas querem seguir esse
caminho”, disse ao afirmar que, na sua visão, interoperabilidade é interesse da
indústria, dos prestadores de serviços, das operadoras de saúde, das
associações e, sobretudo, do próprio paciente.
Se todos querem trabalhar nisso, quais os entraves? Para
Vedolin falta confiança. “É um problema sistêmico e os interesses devem estar
alinhados. Em algum momento vai ocorrer, porém temos que evitar que ocorra pelo
motivo errado, ou seja, que se desenvolva como forma de redução de custos
quando, na verdade, deve acontecer para melhorar a experiência do paciente e a
qualidade da assistência”, completou.
Depois de ouvir a experiência da Dasa nas palavras de
Vedolin, quem assistiu ao debate pode conhecer a visão do Grupo Fleury na fala
de Meirelles. “Para a interoperabilidade, ainda temos alguns entraves internos
como, por exemplo, o identificador único do paciente, que é o que mais nos
preocupa para garantir a segurança. Não sei pontuar quando, mas acredito que
isso acontecerá nos próximos anos”, declarou.
Os dois executivos aproveitaram a oportunidade para
relembrar que Dasa e Fleury, junto com outros grandes players da medicina
diagnóstica do país, já se reuniram dentro da Abramed para conversar sobre
interoperabilidade.
Visão de futuro
Após tantas abordagens distintas sobre a tecnologia em
saúde, o questionamento final de Meirelles foi: o que terá mudado em 2050?
Lopes Jr. aposta em uma maior percepção do paciente sobre o
uso de seus dados pelo setor; Silva enfatizou que a tecnologia estará avançada
permitindo maior acesso remoto dos pacientes e oferecendo muitos equipamentos
portáteis; Vedolin mencionou uma maior produção interna para suprir as
carências do mercado nacional, a utilização de drones dentro da cadeia de
supply chain e a genômica mais desenvolvida; e Kiatake trouxe maior
conhecimento em células tronco e discussão ética mais fortalecida.
Para encerrar o bate-papo, Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed, trouxe a pergunta do presidente do Conselho de
Administração da entidade, Wilson Shcolnik: “o que está sendo feito na sua área
para preparar as pessoas para a saúde digital?”.
Kiatake e a SBIS apostam na inclusão do tema no currículo
das universidades. “Temos que colocar essa consciência na garotada”. Já Lopes
Jr. acredita ser possível extrapolar os muros da escola, já que “inovação nasce
em qualquer lugar”. Para o executivo, criar é um processo que vem do
conhecimento sobre a experiência de outros segmentos de negócios. Indo nesse
mesmo caminho, Silva crê que além de expandir seus horizontes, é preciso se
adaptar. “Para liderar e dar o exemplo à minha equipe, primeiro preciso
aprender”.
Cientes de que o foco está nas pessoas, Meirelles e Vedolin
apostam na educação. Para Meirelles, os principais pontos dessa formação
profissional são educação em saúde, conscientização, desmistificação de novas
tecnologias, e mentorias que deixam o caminho aberto para todos. Já Vedolin
reforçou que educação é uma disciplina que se aprende. “É importante ter a
experimentação como forma de aprendizado. Testar e errar leva ao conhecimento.
Importante ter o erro como ferramenta de aprendizado. “É o que nos faz
sobreviver em um mundo instável”, finalizou.
O bate-papo completo deste episódio está
disponível no canal do YouTube da Abramed (clique AQUI
para assistir) e a próxima edição está marcada para 10 de novembro e trará,
como tema principal, “Lei Geral de Proteção de Dados”.