Assinado por Antonio Fabbron Jr, CEO da DB Diagnósticos do Brasil, artigo aborda desafios e oportunidades da pandemia
27 de outubro de 2020
* Por Antonio Fabbron Jr
A pandemia de COVID-19 nos impactou diretamente e, nas
primeiras semanas, sob tantas incertezas, também não sabíamos muito bem para
onde tínhamos de caminhar. Porém, temos muitos aspectos a considerar e lições a
tirar dessa crise. A primeira delas está na importância de construir um
excelente relacionamento com fornecedores íntegros e de confiança. Se a crise
nos trouxe algo interessante foi a chance de ver, realmente, quem é parceiro e
quem é oportunista.
Durante a escassez de equipamentos de proteção individual
(EPIs) – uma questão muito importante e que ganhou proporção enorme nos
primeiros meses da crise no nosso país – nós fomos impactados, claro, mas
graças à nossa estratégia de ter estoques controlados para três meses, entregas
programadas e credibilidade junto aos fornecedores, conseguimos fazer com que
esse impacto fosse assimilável.
Essa boa relação que fomos construindo ano após ano por
negociar sempre com ética e transparência, foi extremamente importante. Foi
graças a esse relacionamento que nossos fornecedores cumpriram seus
compromissos conosco e mantiveram suas entregas, o que nos permitiu contornar o
problema sem grandes sofrimentos.
Essa parceria foi fundamental, porém não foi nossa única
arma para esse combate. Paralelamente, a capacidade de adaptação se mostrou
ainda mais necessária. Para garantir que nossos estoques para três meses de
EPIs pudessem durar mais, colocamos todo o nosso setor administrativo em home
office, reduzindo a circulação nas nossas processadoras. Com a queda de
movimento, as operações também caíram e aos poucos tudo foi se ajustando.
Também precisamos nos adaptar para solucionar os entraves
logísticos. Antes da pandemia contávamos com quase 100 voos diários para trazer
as amostras aos nossos laboratórios e mais de uma centena de operações
terrestres. A paralisação e redução dessa malha nos obrigou a redesenhar toda a
nossa logística.
Estrategicamente, já há alguns anos, tínhamos investido em
unidades descentralizadas e a proximidade com nossos clientes, somada à essa
redistribuição das operações, nos auxiliou a vencer mais esse desafio.
Apostamos em um sistema multimodal dentro do qual agregamos operações
terrestres em substituição a rotas exclusivamente aéreas. Sofremos, mas
vencemos.
Porém, algumas dificuldades permaneceram no nosso setor de
diagnóstico, mesmo depois de mexermos na rotina de nossas equipes e de
reestruturamos nossa cadeia de suprimentos. Dificuldades essas que não
dependiam apenas do nosso empenho, mas de uma união de fatores: somos
extremamente dependentes de insumos internacionais. Diante de uma crise
mundial, estourou uma crise por suprimentos. E sem produção interna, tivemos de
entrar em uma briga com todos os outros países que também disputavam esses
insumos.
Assim, a pandemia nos traz mais um aprendizado e um dos
nossos grandes desafios, hoje, é criar uma situação econômica que favoreça as
empresas nacionais, e as multinacionais com fábricas em território brasileiro,
a produzir mais desses insumos que importamos. Somente assim conseguiremos
enfrentar novas pandemias, novos cenários desfavoráveis, de modo mais sereno.
Precisamos nos tornar mais independentes e, também, mais
digitais. Precisamos investir pesado em tecnologia. Ainda fazemos muita coisa
de forma manual, o que nos torna vulneráveis. Somente com a transformação
digital a cadeia de suprimentos torna-se mais inteligente para que possamos
gerenciar em tempo real o que está acontecendo. Isso nos traz agilidade e
segurança para enfrentar esses cenários tão desafiadores.
Apagamos incêndios e, agora, estamos trabalhando pela
recuperação. Nossa queda nas atividades chegou a 70%. Porém, em setembro,
conseguimos produzir 15% a mais do que produzimos em fevereiro, último mês
antes da pandemia estourar no Brasil. E todas essas lições que aprendemos nos
últimos sete meses vão contribuir para que o mercado de análises clínicas se
recupere. Com respostas rápidas de nossos fornecedores, apoio de toda a cadeia,
e com nossa capacidade de adaptação sempre em alta, acredito que nosso
crescimento vai deslanchar. Muitas atividades que estavam represadas pelo medo
da contaminação estão voltando e contamos com as parcerias que construímos – e
fortalecemos na crise – para embasar nosso desenvolvimento.
* Antonio Fabbron Jr é CEO da DB Diagnósticos do
Brasil