Durante a crise de COVID-19, queda média de 34,6% no número de alguns exames relacionados à patologia preocupa; sem diagnóstico precoce, tratamento torna-se menos eficiente e há redução na chance de cura
5 de novembro de 2020
São diversos os exames que podem auxiliar os urologistas na
detecção precoce do câncer de próstata, patologia que mata mais de 15,5 mil
brasileiros todos os anos. Porém, dados levantados pela Associação Brasileira de
Medicina Diagnóstica (Abramed) apontam queda em todos eles durante a pandemia
de COVID-19, o que leva a um cenário preocupante. Avaliando os números
divulgados pelo Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS do Ministério da
Saúde referentes aos procedimentos realizados entre janeiro e agosto de 2020 e
comparando-os com as quantidades de testes no mesmo período de 2019, nota-se
queda média de 34,6% no número de exames para diagnóstico da patologia na
esfera pública.
A dosagem de antígeno prostático específico (PSA), exame de
sangue que identifica uma proteína produzida pela próstata e, assim, pode
apontar alterações no órgão, assinalou queda significativa de 34,4%. Outros
dois exames de imagem também relacionados ao diagnóstico da patologia,
ultrassonografia de próstata por via abdominal e por via transretal, apresentaram
queda de 37,8% e 35,7% respectivamente. Já a biopsia reduziu 22,7% no período.
“Esses dados refletem o afastamento dos pacientes das
unidades de saúde durante a pandemia. Além de encontrar algumas unidades
fechadas, com receio de contrair o novo coronavírus, as pessoas adiaram
procedimentos, o que pode levar ao atraso na detecção de doenças, entre elas o
câncer de próstata. Com esse atraso, nos deparamos com consequências como o agravamento
das patologias, piora do prognóstico e redução da chance de cura”, explica
Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed. As
empresas associadas à entidade – responsáveis pela realização de mais da metade
dos exames de beneficiários da saúde suplementar – confirmaram redução de 39,5%
no número de testes de PSA realizados entre março e agosto de 2020 no
comparativo com o mesmo período do ano passado.
Culturalmente, os homens já são menos atentos à saúde e
prevenção. Tanto que, em 2018, segundo dados do Painel Abramed – O DNA do
Diagnóstico, dos mais de 50 milhões de pacientes atendidos nas associadas à
entidade, apenas 38% eram homens.
Mas as doenças não escolhem gênero. De acordo com
estatística do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata deve
acometer 65.840 pessoas somente em 2020. “Com essa drástica redução no número
de exames para detecção da patologia, quantos brasileiros perderam a
oportunidade de ter a doença detectada em tempo hábil para receber o melhor
tratamento?”, questiona Shcolnik.
No setor privado, a fim de reforçar à população que outras
doenças não esperam a pandemia de COVID-19 acabar para se manifestarem,
estimulando que todos retomassem seus cuidados, exames e procedimentos,
laboratórios e clínicas intensificaram ainda mais os seus já rígidos protocolos
de segurança. “Foi preciso investir em uma comunicação transparente, mostrar
que as unidades estavam atuando com toda a segurança para receber esses
pacientes. A redução de atendimento chegou a 70% no pico da pandemia, porém
agora estamos conseguindo retomar nosso ritmo normal, levando novamente a
possibilidade do diagnóstico precoce à população”, finaliza Shcolnik.