Encontro virtual reuniu especialistas para falar sobre abastecimento do setor, assistência à saúde e inovação
29 de novembro de 2020
O oitavo e último episódio da série #DiálogosDigitais
Abramed, realizado na noite de 24 de novembro, reuniu virtualmente
especialistas da medicina diagnóstica para um bate-papo sobre os principais
legados da pandemia de COVID-19. A série de eventos digitais, promovidos pela
Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), dialogou, ao longo de
quatro meses, com lideranças do setor de saúde sobre os mais variados assuntos
que impactam toda a cadeia.
Mediado por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de
Administração da Abramed, o último encontro abordou a cadeia de abastecimento
do setor; a segmentação das patologias afastando doentes crônicos dos
atendimentos e criando dificuldades de acesso mesmo para casos críticos; e as
novas metodologias que estão surgindo para otimizar o diagnóstico no país.
A mesa-redonda contou com a presença de Carlos Eduardo
Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina
Laboratorial (SBPC/ML); Guilherme Ambar, CEO da Seegene Brazil, marca focada no
mercado de diagnóstico in vitro; e Marcos Phillippsen, diretor-executivo da
Euroimmun Brasil, que desenvolve soluções para diagnóstico laboratorial.
Ao dar início, Shcolnik falou sobre o atual cenário da
medicina diagnóstica dentro do contexto da pandemia. “Já observamos, via
Abramed, aumento na demanda dos exames para detecção da infecção pelo novo
coronavírus. Os laboratórios clínicos estão preparados para atender esse novo
pico de solicitações?”, questionou.
Trazendo o parecer da SBPC/ML, Ferreira enfatizou que não
devemos considerar que o país começou a viver uma segunda onda, pois na
realidade estávamos em um platô após uma leve queda no pico de infecções
identificadas. “A gente convive com a doença desde março, sendo que o ápice
ocorreu entre maio e junho. Mas, de lá para cá, assistimos a um declínio suave
e, agora, a uma nova elevação nas últimas duas semanas”, pontuou.
Segundo o especialista, os laboratórios têm capacidade
produtiva limitada para o processamento dos exames, o que pode vir a impactar o
prazo de entrega dos resultados quando se fala no RT-PCR, exame molecular
apontado como padrão ouro para diagnóstico da COVID-19. “O ideal é que tenhamos
os laudos desses exames o quanto antes, pois com a confirmação de infecção,
esse paciente precisa entrar em isolamento para contenção da doença. E com o
aumento da demanda, que vem forte, há uma tendência de alargamento desses
prazos”, declarou.
Do lado da indústria, há certa tranquilidade quanto ao
fornecimento dos kits e o cenário visto no início da crise, em que havia imensa
dificuldade em obter os testes para aplicar na população brasileira, não deve
se repetir.
Lembrando que a Euroimmun dobrou sua capacidade produtiva
ainda nos primeiros meses da pandemia, Phillippsen enfatizou que hoje em pouco
tempo é possível reestabelecer os estoques. “A demanda por exames estava
caindo, então é natural que as fabricantes reduzam a produção até para evitar o
desperdício, visto que o produto tem prazo de validade. Na semana passada, a
demanda voltou a subir. Mas não ouvimos nada sobre falta de kits na matriz,
então é questão de timing para que possamos trazer mais testes para o Brasil
mantendo o suprimento nacional”, disse.
De acordo com Ambar, a Seegene sente uma demanda, hoje,
ainda maior do que ocorria em abril e maio. “Porém não vai faltar produto”,
garantiu. Para o executivo, a preocupação não está mais na ausência de reagentes,
mas nos insumos plásticos necessários para a coleta das amostras como cotonetes
e outros materiais importantes à segurança do profissional de saúde.
Tratamento integral além da COVID-19
Outro ponto de aprendizado enfatizado pelo time de especialistas
que compunham a mesa de debates do último episódio do #DiálogosDigitais Abramed
foi a manutenção do atendimento à outras doenças mesmo em meio a pandemia.
“Em março e abril assistimos ao esvaziamento dos hospitais
por conta da incerteza quanto à dinâmica da infecção. Quando começamos a
compreender melhor o fluxo da doença passamos a retomar os procedimentos
eletivos”, pontou Ferreira que além de presidir a SBPC/ML também é médico do
Hospital Israelita Albert Einstein. “O paciente crônico não pode interromper
seus atendimentos, principalmente os críticos. Tivemos casos de pacientes com
problemas agudos que permaneceram em suas casas”, comentou.
A manutenção dos cuidados com a saúde tem sido comentada
frequentemente pela Abramed. A Associação vem enfatizando que o diagnóstico
precoce salva vidas e que outras doenças não esperam a COVID-19 passar para se
manifestarem. “Vemos novamente a ocorrência de suspensão de cirurgias eletivas
e procedimentos. Na semana que vem devemos nos reunir com a ANS e outras entidades
da saúde para tratar justamente sobre esse assunto que nos preocupa bastante”,
declarou Shcolnik.
Inovação em diagnóstico
Ambar comentou que a Seegene tem cerca de 160 profissionais
trabalhando com pesquisa e desenvolvimento e que o foco está na redução dos
custos dos kits para que, dessa forma, todas as inovações criadas pela empresa
sejam mais acessíveis aos brasileiros. “Mas não paramos de desenvolver. Nos
próximos dois anos devemos lançar 100 novos kits no mercado. Além disso,
focaremos nas demandas individuais, ou seja, em desenvolver kits de forma
rápida, em até dois meses, para atender necessidades específicas do país”, completou.
Ele também enfatizou que a biologia molecular em testes de alta complexidade
deve crescer bastante no mundo pós-pandemia.
Incorporação de exames no Rol da ANS
Com o decorrer do bate-papo, os especialistas também
trataram da incorporação de novos exames no rol de procedimentos obrigatórios
da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Com a COVID-19, os exames de RT-PCR
e alguns sorológicos foram incorporados emergencialmente, o que trouxe luz à
necessidade de avaliação de novas metodologias para garantia de tecnologias
diagnósticas inovadoras para a população nacional.
Há, em curso, uma avaliação por parte da ANS de novos exames
a serem incorporados como, por exemplo, um painel multiplex para infecções do
trato respiratório capaz de identificar, de uma única vez, dezenas de agentes
infecciosos, entre eles o coronavírus (temos, em nosso portal, uma matéria
específica sobre esse assunto que você pode ler clicando AQUI).
Mesmo com a apresentação de análise custo-efetividade confirmando que há
economia por paciente quando aplicada a nova metodologia, a incorporação
enfrenta dificuldades. “Investir no teste certo para o paciente agrega valor
para o sistema de saúde, pois faz o diagnóstico mais certeiro e aumenta a
segurança”, comentou Ferreira.
Complementando com o ponto de vista da inovação, Ambar
declarou que a Seegene traz, para o Brasil, painéis com custos acessíveis e que
o principal trabalho está na apresentação das novas tecnologias aos
profissionais de saúde. “A incorporação também depende de o médico passar a
solicitar aqueles exames”, disse. O executivo afirmou que em outros países onde
a marca atua, em até dois anos é possível fazer com que novas metodologias
diagnósticas sejam utilizadas pelos sistemas públicos de saúde.
Concordando com Ambar, Phillippsen mencionou a Euroimmun
Academy, plataforma focada em disseminar conhecimento junto aos profissionais
de saúde. “Somente trazendo a informação, enfatizando a importância dos testes
diagnósticos, é que eles passarão a fazer parte do rol”, finalizou.
O bate-papo completo deste episódio está disponível no canal
do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir),
assim como todos os outros da série #DiálogosDigitais promovidos pela
Associação.