Tecnologia, prevenção e sustentabilidade do sistema surgem como caminhos para vencer desafios
3 de dezembro de 2020
Qual o futuro da medicina diagnóstica? Para responder à essa
pergunta e vislumbrar a próxima década é necessário parar e olhar no
retrovisor, observando os inúmeros avanços que se consolidaram entre 2010 e 2020:
desenvolvimento da pesquisa genômica movimentando positivamente a medicina
personalizada; automação trazendo ganho de escala e eficiência diagnóstica; e
telessaúde promovendo acesso à população são apenas alguns exemplos. “Isso sem
falar no enorme crescimento do nosso setor neste ano frente à pandemia de
COVID-19, que nos obrigou a encontrar oportunidades de desenvolvimento em um
momento de grande crise na saúde mundial”, relembra Wilson Shcolnik, presidente
do Conselho de Administração da Abramed.
Há um consenso entre as entidades do segmento de que a
tecnologia – somada ao conhecimento humano – pautará muitas das soluções que se
farão necessárias até 2030. Para entender essa visão, conversamos com a
Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), a Sociedade Brasileira de
Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a Câmara Brasileira de
Diagnóstico Laboratorial (CBDL), e o Colégio Brasileiro de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem (CBR).
Transformando mercados e indústrias, as inovações
tecnológicas também alteram os rumos da medicina diagnóstica e, na opinião de Alair
Sarmet Santos, presidente do CBR, para evoluir é preciso observar quais dessas
tecnologias são, de fato, eficientes. “Para fazermos frente a esses novos
desafios temos de aproveitar as tecnologias digitais exponenciais que podem
abrir novas fronteiras para cuidados com a saúde de forma mais efetiva e
acessível à população”, declara.
Para isso, integrar as diversas áreas vem se mostrando um
caminho profícuo. “A partir do momento em que unimos especialidades como
anatomia patológica, patologia clínica, diagnóstico por imagem e métodos
endoscópicos, conseguimos gerar informações acuradas e precisas, agregando
valor ao diagnóstico e à orientação terapêutica”, diz Carlos Eduardo dos Santos
Ferreira, presidente da SBPC/ML.
E quando há uma grande quantidade de dados sendo gerados
graças a processos tecnológicos, é preciso dedicar ainda mais atenção à essas
informações. “Os resultados liberados através dessas novas tecnologias precisam
ser indiscutivelmente confiáveis pois pautarão a evolução do tratamento e até
mesmo indicarão a cura”, complementa Luiz Fernando Barcelos, que preside a
SBAC.
Mas a tecnologia não é capaz de revolucionar, sozinha, a
medicina. O profissional está por trás de todo avanço, garantindo inclusive o
aprendizado da máquina e trilhando os padrões que serão interpretados com
maestria pela inteligência artificial. A somatória de homem e tecnologia pode
pautar a próxima década do diagnóstico no mundo, como cogita Fábio Arcuri, presidente
da CBDL: “Não há limites para onde o conhecimento humano poderá nos levar com
novos marcadores, metodologias mais sensíveis e específicas, rápidas e
remotas”.
Prevenção como degrau à sustentabilidade
Para que todos os avanços imaginados sejam efetivados, o
setor de medicina diagnóstica – bem como a saúde como um todo – precisa ser
sustentável. Ao longo de 2020, inclusive, a Abramed trabalhou por inúmeras
causas que impactam diretamente essa noção de sustentabilidade, atuação que
seguirá fortalecida nos próximos anos. “Não há como pensar em progresso sem
antes pensar em sustentabilidade. Precisamos garantir o funcionamento dos
laboratórios e clínicas de imagem que, espalhados pela imensidão do Brasil, são
fundamentais para permitir que a população brasileira tenha acesso a exames que
contribuam ao melhor diagnóstico e gerenciamento do tratamento de suas doenças.
Para isso sempre trazemos estudos transparentes sobre nossas necessidades e
enfatizamos que o nosso setor é essencial para a manutenção da vida e da
sociedade”, comenta Shcolnik.
O executivo complementa o raciocínio com um dos assuntos
mais debatidos nos últimos anos. “Há uma discussão enorme sobre overuse,
ou seja, sobre realização desnecessária de exames gerando desperdício no
sistema. Sabemos que isso pode sim existir e precisa ser combatido, porém, ao
iniciar esse debate, não podemos deixar de lado a temática do underuse,
que faz com que muitas pessoas deixem de realizar exames que poderiam salvar
suas vidas”, diz.
Prevenção, inclusive, é uma forte aliada da
sustentabilidade. “Sem dúvidas a medicina preventiva, baseada em evidências e
por meio da aplicação de algoritmos relevantes, é um dos componentes da
resposta à densa equação da sustentabilidade econômica do setor”, comenta
Arcuri. Para o executivo, é importante que todos os atores da complexa cadeia
de saúde se unam na proposição de um modelo de diagnóstico sustentável que
permita a incorporação tecnológica e o melhor desfecho clínico para o paciente.
Lembrando que estamos baseados nos quatro “Ps” da medicina – preventiva, preditiva, personalizada e participatória – Ferreira, da SBPC/ML, reforça que para a tão almejada sustentabilidade, ao mesmo tempo em que é necessário fortalecer o cenário da prevenção no nosso país, é preciso engajar o paciente. “O laboratório e a clínica de imagem contribuem grandiosamente com o diagnóstico precoce, mas sem a participação ativa do paciente no seu próprio cuidado não há qualidade de vida”, finaliza com o pensamento de que todos precisam entender seu papel no ciclo de cuidados para que o setor seja sustentável e próspero.
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