Proximidade entre as diferentes entidades amplia voz e representatividade; pandemia e pleitos em comum fortaleceram o relacionamento
3 de dezembro de 2020
A gestão de um sistema de saúde altamente complexo como o
brasileiro encontra desafios e, nos desafios, oportunidades. A manutenção de um
diálogo transparente entre representantes da indústria, dos prestadores de
serviços diversos e das operadoras – sempre com base em relações confiáveis e
éticas – deve ser vista com prioridade.
Impulsionado pela pandemia de COVID-19 que exigiu, e ainda
exige, esforços conjuntos para redução dos tristes impactos ao país e por lutas
que convergem as necessidades de inúmeros subsetores, esse diálogo vem se
fortalecendo ao longo dos anos mostrando ser possível deixar de lado algumas
individualidades para trabalhar pelo bem comum: melhorar a saúde populacional
ofertando atendimento de qualidade sem ferir a sustentabilidade dos sistemas.
Com esse objetivo compartilhado, a integração torna-se natural.
Não que a busca por maximizar resultados deixa de ser
legítima, porém a conscientização sobre a necessidade da união e do trabalho
conjunto torna-se mais relevante como comenta Claudio Lottenberg, presidente do
Instituto Coalizão Saúde (ICOS). “O entendimento de que todos estão trabalhando
para criar valor para o paciente dentro de práticas com qualidade e menor custo
tem sido a linguagem que une os diferentes participantes da cadeia produtiva”,
diz.
E, de fato, independentemente dos pleitos individuais de
cada subsetor, a força maior permanece centrada no paciente. É o que comenta
Eduardo Amaro, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional
de Hospitais Privados (Anahp): “cada um em sua área de atuação, mas todos com
uma enorme sinergia”.
Para o presidente da Associação Brasileira de Importadores e
Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI), Sérgio Rocha, manter esse
relacionamento ativo é questão de sobrevivência. “O setor de saúde é único e
qualquer solução ou caminho precisa ser comum. Todos devem atuar em sintonia”,
comenta. E essa relação é, na opinião de Breno Monteiro, presidente da CNSaúde,
o grande carro chefe. “O ponto principal é justamente a interlocução entre as
entidades. A Abramed, nessa década, sempre se mostrou aberta ao diálogo
representando de forma clara e verdadeira a medicina diagnóstica do Brasil”,
declara.
Percepção que também se faz presente na fala de Walban
Damasceno, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da
Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (ABIMED). “Sem dúvida
alguma o sistema de saúde e seus atores são elos de uma corrente totalmente
interdependente”. O executivo enfatiza a necessidade de criação de uma visão
sistêmica que entenda os mercados público e privado como complementares para
ampliação de acesso e para que o país consiga entregar saúde de qualidade aos
seus quase 210 milhões de habitantes.
Apesar de reconhecer que houve muito avanço nos últimos
anos, Rocha acredita que o diálogo ainda precisa ganhar corpo e Damasceno
enxerga espaço para melhorias principalmente no que tange à elevação da voz
setorial junto aos tomadores de decisão. “Quando nos posicionamos, sinto que
ainda falta, à nossa voz, o timbre ideal para que sejamos ouvidos e possamos
evoluir”, diz. “Temos uma agenda intensa, repleta de desafios, e só
conseguiremos avançar quando formos ouvidos na proporção adequada à nossa
representatividade, que é o que ocorre, por exemplo, com setores como o
agronegócio”, completa.
Luta compartilhada
Esse fortalecimento da voz setorial mencionado por Damasceno
pode ser notado ao longo de todo ano de 2020 quando a saúde brasileira se uniu
para discutir a Reforma Tributária. Atuando em conjunto para mostrar que uma
reforma mal formulada e que não reconhece a essencialidade de setores como a
saúde pode ser um enorme retrocesso, entidades elaboraram estudos e dialogaram
com membros do legislativo e do executivo a fim de defender a sustentabilidade
dos serviços em saúde.
A Abramed, por exemplo, compartilhou com o mercado um
relatório intitulado Impactos da Reforma Tributária no Setor de Medicina
Diagnóstica que mostra, diante de uma reforma míope, possível aumento de
40,4% na carga tributária do setor. Unindo esforços com diversas outras entidades
– e até mesmo extrapolando as barreiras da saúde para encontrar apoio na
educação – vem enfatizando, tanto à população quanto à mídia e aos decisores,
que aumentar as despesas dos serviços de saúde trará um prejuízo enorme ao povo
brasileiro que cada vez menos terá a oportunidade de acessar, via convênios
médicos, a rede suplementar ampliando a faixa de pessoas integralmente
dependentes do SUS.
“Acreditamos que a essencialidade do segmento saúde deva ser
considerada. Já fomos impactados pela COVID-19 e um aumento de tributação seria
cruel com o setor. Colocamos em risco o acesso à saúde, a empregabilidade e a
expansão do mercado para mais pessoas”, diz Amaro reforçando a percepção de que
tanto hospitais, quanto clínicas de imagem e laboratórios têm as mesmas
preocupações com relação aos textos da reforma que tramitam no Congresso
Nacional.
Impactos pandêmicos
O cenário é triste, mas a pandemia de COVID-19 deixou alguns
legados para a saúde. Além do amplo conhecimento que vem se disseminando pelo
mundo, no Brasil a comunicação intersetorial cresceu consideravelmente. “A
saúde historicamente dialogava pouco, mas esse cenário foi mudado pela crise.
Nunca tínhamos visto tantas entidades debatendo assuntos altamente relevantes
para o setor como um todo, tomando decisões práticas e ágeis, e batalhando para
vencer desafios até então inimagináveis”, diz Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed.
“A saúde é um setor que funciona como uma cadeia de produção
e o novo coronavírus; uma situação nova e, para a maioria das pessoas,
inesperada; reforçou essa percepção levando os segmentos a buscarem uma atuação
ainda mais coesa e homogênea”, complementa João Alceu Amoroso, presidente da Federação
Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). “A iniciativa privada foi muito
importante para a testagem atuando, inclusive, na validação dos testes
sorológicos para que tivéssemos liberação do maior número possível desses
exames sempre com a qualidade que o setor prima”, diz Monteiro, da CNSaúde.
Representando os hospitais privados, Amaro reforça que a
pandemia colocou à prova a capacidade de o setor se reorganizar com extrema
agilidade. A medicina diagnóstica correu para atender à demanda por testes de
COVID-19 e os hospitais se preparam para receber um número elevado de pacientes
infectados. “Fomos exitosos e é importante reforçar que os hospitais não
conseguiriam combater, sozinhos, a crise. Somos uma orquestra bem afinada”,
relata.
Vencer a pandemia segue como uma das principais
tarefas do setor. “Uma batalha dura, mas que temos enfrentado com competência”,
completa Amaro.
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