Diagnóstico tardio reduz consideravelmente a chance de cura e aumenta os custos do tratamento; há desigualdade na distribuição de mamógrafos no país
7 de fevereiro de 2021
O Dia Nacional da Mamografia, comemorado em 5 de fevereiro, traz luz ao tema, porém os dados relativos ao principal exame para detecção precoce do câncer de mama não são muito animadores. Ao longo de 2020, ano assolado pela pandemia de COVID-19, o número de mamografias realizadas no país sofreu queda considerável tanto no sistema privado quanto no público, o que desperta um alerta sobre as consequências drásticas do diagnóstico tardio.
Somente nas empresas que integram a Associação Brasileira de
Medicina Diagnóstica (Abramed) – que em 2019 representaram 56,4% do total de
exames realizados na saúde suplementar – entre março e novembro de 2020 houve
diminuição de 53,1% na quantidade de mamografias quando comparado com o mesmo
período do ano anterior.
“Com a suspensão dos procedimentos eletivos diversas
unidades de atendimento foram fechadas. Além disso, com o receio da
contaminação, muitas pessoas deixaram de realizar seus exames periódicos e se
afastaram da assistência como um todo ao longo de 2020. As consequências podem
ser graves. Em termos absolutos, a redução no número de mamografias chega a 1,5
milhão de exames”, comenta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de
Administração da Abramed.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o cenário também é
preocupante. Os números compilados pelo Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico
mostram que, entre março e julho de 2020, foi observada uma queda de 63,4% no
total de mamografias bilaterais para rastreamento realizadas no setor público ante
igual período de 2019.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que toda mulher
com idade entre 50 e 69 anos faça uma mamografia a cada dois anos como forma de
prevenção. Na saúde suplementar, antes da crise de COVID-19, o número de exames
para essa faixa etária mantinha-se estável desde 2015, com cerca de 2,3 milhões
de mamografias realizadas anualmente para rastreio de câncer de mama nessa
população. “A perspectiva é que esse número também tenha caído entre 50% e 60%
no setor privado ao longo de 2020”, diz o executivo. Esses dados tornam-se
ainda mais preocupantes se considerada a estimativa do Instituto Nacional do
Câncer (INCA) de que, no ano passado, foram mais de 66 mil casos da doença no
país.
O diagnóstico tardio traz prejuízos para os pacientes e para
os sistemas de saúde. Segundo o INCA, 95% dos casos de câncer de mama no país
têm chance de cura quando detectados precocemente. Porém, antes mesmo da
pandemia, não tínhamos uma detecção tão rápida assim. A edição de 2019 do
Painel Abramed já enfatizava que 53,9% das pacientes eram diagnosticadas em
estadiamento avançado, ou seja, nos estágios 3 e 4 da doença. Com o
represamento das mamografias, essa estatística deve tornar-se ainda mais
preocupante.
Paralelamente, o atraso na detecção das lesões impacta a
sustentabilidade da prestação de serviços em saúde. A mais recente edição do
Painel Abramed consolida, em números, essa consequência. Segundo o relatório de
2020, os custos diretos do tratamento do câncer de mama se elevam
concomitantemente ao estadiamento da doença. Enquanto o tratamento iniciado no
primeiro estágio custa cerca de R$ 12,9 mil, quando iniciado no segundo estágio
o custo sobe para R$ 38,9 mil e, no terceiro estágio, chega a R$ 62,5 mil.
Todos esses dados se somam à mais um cenário que complica o
acesso das brasileiras ao diagnóstico precoce dessa doença que mata 17,5 mil
mulheres ao ano no país. Entre 2010 e 2019 aumentamos o número de mamógrafos em
território nacional, passando de 4.214 para 5.847. Esse número atende ao
parâmetro estabelecido pelo próprio Ministério da Saúde de que, para suprir a
demanda populacional, é necessário contar com um mamógrafo para cada 240 mil
habitantes.
Porém, ainda assim, 77,8% dos municípios não têm nenhum
equipamento para realização desses exames. Seguimos em um cenário de
desigualdade da oferta de mamografia já alertado pelo Painel Abramed de 2019 que
enfatizava que quase metade dos equipamentos estão concentrados na região
sudeste e a região norte tem apenas 6% dos mamógrafos em uso. “Quando temos uma
discrepância na distribuição de serviços de saúde, nos deparamos com um vazio
assistencial que precisa ser observado e vencido. Para isso, precisamos
investir na gestão eficiente de recursos tanto no setor público quanto no
privado, evitando desperdícios e ampliando as PPPs a fim de prover o
atendimento necessário à população. Além disso, as economias de escala são
essenciais para o desenvolvimento de uma rede assistencial economicamente sustentável
e precisamos pensar na criação de incentivos regulatórios para viabilizar o
desenvolvimento dessas redes”, finaliza Shcolnik.