Representantes das principais associações do setor alertam para possível colapso do sistema de saúde
2 de março de 2021
Durante a coletiva de imprensa realizada virtualmente hoje, nove das
principais entidades que representam o setor de saúde se reuniram para
apresentar os impactos da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS).
Chamado de Movimento Unidos pela Saúde, o grupo apontou
que o setor de saúde foi o único a ter o aumento integral da tributação,
justamente em um momento em que o país passa por um cenário extremamente
crítico por conta da pandemia, com alta no número de infecções, aumento das
internações por covid e elevação de custos para o setor como consequência deste
enfretamento. Para eles, aumentar os preços para esses pacientes neste momento,
é uma medida muito prejudicial para todos.
O Movimento Unidos pela Saúde é composto pela
Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a
Saúde (ABIMED), Associação Brasileira da Indústria de Artigos
e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO), Associação Brasileira
de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI), Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Associação Brasileira
de Planos de Saúde (ABRAMGE), Associação Nacional de Hospitais
Privados (Anahp), Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde),
Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e o
Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp).
Durante o evento online, os representantes das entidades
reforçaram que, ainda que o tributo incida sobre o setor privado, a medida
afetará toda a cadeia da saúde. Fernando Silveira, presidente executivo da
ABIMED, afirmou que o Movimento Unidos pela Saúde compreende a
necessidade do governo estadual de ajuste das contas públicas, mas que aplicar
um aumento de 0% para 18% é um exagero. “Queremos dialogar com o governo
para chegar a uma solução que seja sensata para todos. Mas, aplicar carga
tributária desta forma e neste momento, não é a melhor alternativa”.
Já Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO, lembrou da
importância de focar no tratamento de pacientes com Covid-19, em vez de ajustar
as contas públicas. “Somente o governo estadual paulista acredita que seja
a hora certa de colocar em ordem as suas finanças, considerando que elas são
mais importantes do que os recursos para a saúde. O momento é inoportuno e,
como São Paulo atende 70% das necessidades deste setor no país, significa que
os outros estados ajudarão a pagar os consertos fiscais do estado”.
Para Bruno Boldrin, diretor executivo da ABRAIDI, este é o pior momento
da Covid-19 no Brasil, seja pela superlotação dos hospitais ou pelas restrições
realizadas em diversos estados do País. “O aumento da carga tributária
pode contribuir negativamente para este cenário, fazendo com que empresas do
setor com menor faturamento quebrem, por exemplo. Para lutar contra isso,
estamos conversando com deputados que votaram a favor do projeto do governo,
para mostrar os reais impactos, e já temos mais de 35 parlamentares que apoiam
a nossa causa”.
De acordo com um levantamento realizado recentemente pela Associação
Nacional de Hospitais Privados (Anahp), só entre seus 118 membros, o ICMS
causará um aumento de custos de 1,3 bilhão. Segundo Eduardo Amaro, presidente
do Conselho de Administração da entidade, as instituições ainda tentam se
recuperar dos impactos de 2020 e não suportariam mais um aumento de despesa.
“No ano passado, os hospitais foram muito impactados pela redução de
cirurgias eletivas. Agora, estamos enfrentando uma segunda onda, com as
instituições recebendo cada vez mais pacientes com Covid-19 e tendo de lidar
com novos cancelamentos de procedimentos não-emergenciais. Neste cenário,
definitivamente, agora não é a hora de aumentar o imposto”.
Marco Aurélio, diretor-executivo da Anahp, ressaltou que, apesar de
sofrerem impactos financeiros, os hospitais privados contribuíram com a
economia do país, com a geração de mais de 70 mil novas oportunidades de
emprego, e com o setor de saúde como um todo, com a criação de protocolos de
segurança e a construção e administração de hospitais de campanha.
Carlos Goulart, diretor de relacionamento institucional do Sindhosp,
reforçou a importância da saúde suplementar para o Brasil. De acordo com um
levantamento realizado pela entidade, que reúne cerca de 55 mil hospitais,
clínicas e estabelecimentos de saúde, 40% da assistência médica em São Paulo é
feita pela área privada. Para o executivo, hospitais e pacientes serão os
principais prejudicados com a medida. “Há notícias de empresas de São
Paulo que já estão buscando alternativas, muitas delas querendo ir para outros
estados. O aumento do tributo só desestimula os investimentos na cidade e
ocorre no momento em que hospitais precisam realizar compras de EPIs, por
exemplo”.
Em São Paulo, laboratórios de análises clínicas e de diagnóstico por
imagem são responsáveis por 56% dos exames solicitados na saúde suplementar,
segundo Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Neste segmento, os insumos poderão
ficar mais caros, levando a um impacto estimado em R﹩ 400 milhões na rede
suplementar. Este prejuízo ainda pode se desdobrar em queda drástica nos
investimentos e perda de postos de trabalho. “Os nossos associados
realizaram 40% dos exames de Covid, por exemplo. Caso o aumento continue, isso
trará impactos significativos para o setor”. Este ponto também foi
reforçado por Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge. “A
saúde é um bem essencial e não há substituto”, reforçou.
João Alceu Amoroso Lima, presidente da FenaSaúde, afirmou que o aumento
da carga tributária é uma infecção oportunista no sistema de saúde de São
Paulo. “Como se já não bastassem os desafios já colocados, como a mudança
do perfil demográfico da população, que está ficando mais idosa, e a chegada de
novas doenças crônicas, agora surge o impacto da carga tributária”.
Para Bruno Sobral, secretário executivo da CNSaúde, os consumidores do
país inteiro sofrerão com o reajuste. “Fizemos um levantamento e, de 117
países, 78% deles não realizam qualquer tributação sobre a saúde. Além disso,
só em São Paulo foram fechados 4.500 leitos privados nos últimos tempos e, uma
das nossas maiores preocupações, é que a classe média baixa inevitavelmente não
consiga arcar com os custos e migre para o SUS”.
A coletiva de imprensa completa pode ser conferida em https://www.youtube.com/watch?v=aCjrPWEv_N8&feature=youtu.be e mais
informações sobre o Movimento Unidos pela Saúde podem ser obtidas em https://movimentounidospelasaude.org.br/.