Decifrar o código genético do vírus é o que permite a identificação das variantes e auxilia na construção de barreiras ao contágio
13 de abril de 2021
A genética molecular avançou de forma surpreendente desde o
início do Projeto Genoma Humano, em 1990. O rendimento do sequenciamento de DNA
aumentou, segundo artigo1 publicado em janeiro deste ano no New
England Journal of Medicine, de 1.000 pares de bases por dia para mais de 1.000
pares de bases por segundo. Paralelamente, dados do National Human Genome
Research Institute, divulgados pelo Painel Abramed2, mostraram que
paralelamente ao aumento da produção, o custo por genoma caiu drasticamente
entre 2001 e 2019, passando de US$ 95,2 milhões para US$ 1,3 mil.
Em um cenário de crise sanitária como o que o mundo está
vivenciando desde o início de 2020, muitos dos esforços da pesquisa genética
acabam direcionados às demandas da pandemia. No Brasil, apenas 48 horas depois
que o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado no país, pesquisadores
brasileiros sequenciaram o genoma do novo coronavírus. Na época, essa conquista
foi muito divulgada, pois decifrar o código genético do vírus era fundamental
para a melhor compreensão da disseminação da doença e para que potenciais
mutações futuras pudessem ser identificadas.
E foi exatamente o que aconteceu. O novo coronavírus vem
sofrendo mutações genéticas que seguem acompanhadas pelos pesquisadores por
meio do sequenciamento genômico e servem de base para a construção de barreiras
ao contágio.
Documento divulgado pela consultoria McKinsey3
sobre a relevância do sequenciamento genômico como ferramenta para o combate à
COVID-19, reforça que sem esses dados, as autoridades ficam cegas quanto às
mutações, o que impacta diretamente no controle da crise sanitária. Segundo a
publicação, entre as iniciativas fundamentadas no sequenciamento estão a
realização de ações de saúde pública; a condução mais eficiente de
investigações quanto à transmissão e a taxa de evolução; e a avaliação da
eficácia em tempo real das medidas adotadas.
Na saúde pública brasileira, a Rede Genômica Fiocruz4
está junto com o Ministério da Saúde em um projeto de sequenciamento de
amostras do novo coronavírus em todo o território nacional. Para isso, são
utilizados três laboratórios centrais (Lacens) que estão aptos a realizar essa
tarefa. Segundo divulgado pela entidade, até o momento foram realizados cerca
de 3,6 mil sequenciamentos do genoma do Sars-CoV-2 no Brasil e mais de 60
linhagens do novo coronavírus já foram identificadas no país.
No setor privado, sequenciamento genômico está entre as
principais atividades das empresas. Utilizando essa metodologia, por exemplo, a
Dasa5 foi a rede responsável por confirmar os dois primeiros casos
da variante do Reino Unido no Brasil (cepa B.1.1.7). Já o Fleury atuou em
parceria com o Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, em um
estudo inédito publicado em julho de 2020 na Revista Science sobre a forma como
o novo coronavírus começou a se espalhar no território brasileiro.
Referências:
(1)
Human Molecular Genetics and Genomics — Important Advances and Exciting
Possibilities
(2)
Painel Abramed 2019 – O DNA do Diagnóstico
(3)
Genomic sequencing: A vital tool in combatting the pandemic
(4)
Covid-19: Rede Genômica Fiocruz vai sequenciar amostras do vírus no Brasil
(5)
DASA detecta amostrar inéditas de variantes do Coronavírus no Brasil
(6)
COVID-19: Grupo Fleury participa de estudo brasileiro inédito publicado na
Revista Science