Todo exame que coleta amostras do nariz com um cotonete é RT-PCR?
A resposta é não. Abramed esclarece a diferença entre os testes e seus graus de confiabilidade para que nenhum brasileiro faça um exame de moderada sensibilidade acreditando estar sendo testado por uma metodologia de alta sensibilidade
1º de maio de 2021
Desde o início da crise causada pelo novo coronavírus, a
Organização Mundial da Saúde (OMS), apoiada pelas comunidades científicas
globais, indicou o RT-PCR como o exame padrão-ouro para diagnóstico da
COVID-19. Cientes de que esse era o exame mais confiável dentro desse cenário,
muitos brasileiros passaram a identificar essa metodologia como o teste que
coleta amostras nasais com um cotonete. Porém, com o passar dos meses, muitos
outros testes surgiram e, hoje, há uma certa confusão entre todos os tipos que
estão disponíveis, quais seus graus de confiabilidade e quando cada um deles
deve ser utilizado.
Para trazer mais clareza, a Associação Brasileira de
Medicina Diagnóstica (Abramed) esclarece todas as dúvidas que estão no ar. E o
primeiro apontamento dado pela entidade é: nem todo exame hoje disponível que
coleta amostras pelo nariz é um RT-PCR.
Atualmente, outras metodologias diagnósticas utilizam esse
tipo de amostra. É o caso do teste rápido de antígeno viral que também serve
para identificar a doença na fase ativa mas, erroneamente, tem sido chamado por
muitos estabelecimentos de POCT-PCR (Point-of-Care Testing – PCR). Esse teste
é, na verdade, um teste imunocromatográfico simples, menos sensível, que
dispensa o uso de reagentes adicionais e equipamentos sofisticados e precisos
usados em laboratórios clínicos, ou seja, é diferente do RT-PCR, que é um exame
molecular de alta complexidade.
“No RT-PCR, as amostras coletadas com um swab do fundo do
nariz e da garganta do paciente são dispostas em um equipamento capaz de
detectar e amplificar o material genético do vírus ali contido. É exatamente
essa multiplicação que aumenta a sensibilidade do teste. Já no teste de
antígeno nasal não há essa amplificação. Isso significa que mesmo doente, caso
o paciente não tenha uma carga viral alta em suas vias respiratórias, há grande
chance daquele teste dar um falso negativo”, explica Alex Galoro, diretor do
Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.
Disponível na literatura científica internacional, um estudo1 publicado em novembro de
2020 concluiu que a sensibilidade e a especificidade do teste de antígeno viral
são inferiores às dos exames RT-PCR. Para tal, a pesquisa utilizou esfregaços
de cidadãos testados via RT-PCR e foram selecionadas, para o comparativo, 75
amostras de pacientes comprovadamente infectados pelo novo coronavírus e outras
75 amostras de pacientes comprovadamente saudáveis.
Na ocasião, entre todas as amostras avaliadas, o teste
rápido apontou três falsos positivos (o que o levou a 96% de especificidade) e
53 falsos negativos (sensibilidade de 70%). Entendendo que a sensibilidade do
teste depende do ciclo da doença e da proporção da carga viral nas amostras,
outra análise foi feita levando à compreensão de que: em amostras com alta
carga viral, o teste rápido alcançou 100% de sensibilidade; em amostras com
carga viral média, 95% de sensibilidade; em amostras com carga viral baixa,
44,8% de sensibilidade; e em amostras com carga viral muito baixa, apenas 22,2%
de sensibilidade.
“O paciente não tem como saber qual sua carga viral. Por
esse motivo, a indicação é de que o teste rápido de antígeno viral seja
utilizado unicamente quando não houver a possibilidade de realização de um
RT-PCR e em pacientes sintomáticos, já que a presença de sintomas, na teoria,
indica uma carga viral mais alta”, explica Galoro. Importante destacar que
qualquer cidadão infectado transmite a doença independentemente da quantidade
de vírus que carrega.
Outros testes para
detecção da doença na fase ativa
Além dos testes descritos acima, há outros exames
disponíveis no mercado para detecção da doença na fase ativa, a exemplo do
PCR-Lamp. Trata-se de um teste isotérmico que, apesar de usar outra metodologia
para amplificação da carga viral e posterior análise de resultados, tem desempenho
similar ao RT-PCR e pode ser feito tanto com amostras colhidas do nariz quanto
com saliva.
Porém, é
importante que todos saibam que há diferença de desempenho dos testes de acordo
com o tipo de amostra utilizada: a sensibilidade de qualquer teste para
COVID-19 é maior quando utilizadas secreções nasais, visto que a carga viral
costuma ser inferior em amostras de saliva. “O recomendado é que os testes
sempre sejam feitos com swab nasal e que o teste via saliva seja utilizado
apenas em pessoas que tenham dificuldades anatômicas para a coleta da secreção
pelo nariz”, diz Galoro.
Sorológicos para
identificação de anticorpos
Os testes disponíveis no Brasil são os mesmos utilizados
pela maioria dos outros países. Além dos já mencionados para detecção da doença
na fase ativa (RT-PCR, PCR-LAMP e Teste de Antígeno Viral), estão disponíveis
os testes capazes de detectar anticorpos e, assim, apontar se aquele paciente
já teve contato com o novo coronavírus. Os mais realizados, hoje, são os testes
sorológicos para IGG, IGM e anticorpos totais.
Entre eles, há diferenças na metodologia de análise, na
sensibilidade e na entrega de resultados.
O teste-rápido – que é feito através de um pequeno furo na
ponta do dedo para extração de uma gota de sangue a ser avaliada por imunocromatografia
em um dispositivo portátil – depende muito da experiência e conhecimento do
profissional de saúde que está executando a coleta e traz um laudo qualitativo,
ou seja, apenas indica “positivo ou negativo” para IGG e IGM. Por ser uma
metodologia mais simples, tem sensibilidade menor, o que aumenta a chance de
resultados falso negativos.
Já os testes sorológicos feitos em laboratório com coleta de
sangue venoso trazem resultados quantitativos e conseguem indicar, com mais
precisão, como foi a exposição daquele paciente ao patógeno.
Aqui, novamente é preciso estar atento à janela imunológica,
ou seja, cada pessoa demora um período específico para produzir anticorpos após
ser infectado. Portanto, qualquer exame sorológico só deve ser feito dez dias
após o início dos sintomas.
Teste pós-vacinação
Com a imunização fluindo no mundo, surgiram os testes de
sorologia pós-vacina, pesquisas de anticorpos neutralizantes focadas em
investigar a resposta imune de cada indivíduo à vacinação. Importante enfatizar
que dependendo da vacina que é aplicada, o anticorpo pesquisado deve ser
diferente. Isso porque cada imunizante estimula uma resposta do sistema
imunológico.
Além disso, estudos clínicos realizados com esses testes
mostram que nem todo cidadão vacinado apresenta soropositividade. E isso não
significa que ele não está protegido. O que os pesquisadores notaram é que, por
vezes, o teste aplicado não é capaz de detectar exatamente o anticorpo gerado e
que, além disso, anticorpos não são a única fonte de defesa do organismo, que
conta também com os linfócitos T, inacessíveis aos testes sorológicos.
Portanto, mesmo que o paciente opte por fazer um teste de
anticorpo pós-vacina, o resultado não deve interferir na conduta. Isso
significa que tendo resultado positivo ou negativo na pesquisa de anticorpos
neutralizantes, o indivíduo deve permanecer utilizando máscara, realizando os
processos adequados de higiene e cumprindo o distanciamento social. Além disso,
não há, até o momento, qualquer indicação de reforço vacinal ou mudança do tipo
de vacina justamente porque, apesar de serem fonte importante de informação
para médicos e vacinados, os resultados desses testes sorológicos pós-vacinação
ainda não foram completamente compreendidos pela ciência.
A Abramed descreveu, na tabela abaixo, os detalhes mais importantes de cada teste. Porém, a Associação reforça que o melhor caminho para a realização do teste certo no momento certo está na indicação médica. “Para uma boa assertividade, o paciente precisa saber o que ele está pesquisando – se RNA do vírus ou anticorpos – e em qual momento do ciclo da doença ele está. É difícil para o cidadão comum ter esse discernimento. Portanto, o ideal é que o brasileiro procure o médico, explique o seu caso para que ele consiga indicar o melhor teste para aquela situação”, diz Galoro. Isso porque independentemente do teste escolhido, se for feito em um período inadequado da janela imunológica (fazer um RT-PCR quando já passaram muitos dias do início dos sintomas ou um sorológico no começo da infecção) pode gerar resultados equivocados.