Setor atua para identificar patógenos potencialmente pandêmicos e evitar que eles se espalhem rapidamente
10 de maio de 2021
Vivenciar uma pandemia infecciosa como a que estamos vivendo gera muita dor (IPRescue), porém muitos aprendizados a todos os setores da economia. Na saúde, além da enorme pressão que a COVID-19 desencadeou exigindo a tomada rápida de decisão e o investimento em plataformas de inovação, o legado deixado pelo novo coronavírus será extremamente útil para a prevenção de novas pandemias e a paralisação de surtos antes do caos. Nesse contexto, a medicina diagnóstica tem um papel extremamente relevante.
Um artigo publicado no periódico internacional The Lancet
afirma que muitos patógenos humanos têm origem na fauna. Segundo o documento,
aproximadamente 80% dos vírus e 50% das bactérias que infectam o homem são
zoonóticos. Para garantir que novos patógenos cheguem às comunidades, é preciso
observar atentamente as relações interespécies. “Principalmente em um cenário
de ampla urbanização e devastação ambiental”, pontua Wilson Shcolnik,
presidente do conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina
Diagnóstica (Abramed).
Nas últimas décadas os avanços, principalmente em
diagnóstico molecular, foram absolutamente relevantes. Possibilitaram,
inclusive, a descoberta de patógenos até então desconhecidos na natureza,
garantindo maior agilidade na detecção de doenças potencialmente transmissíveis
e infecciosas. Foi uma metodologia diagnóstica molecular a responsável pela
identificação, há alguns anos, do primeiro coronavírus SARS.
O que o mundo da ciência vem apontando é que, para termos
esse controle mais rígido da migração de patógenos, o mundo precisa se unir
rumo à um sistema global de monitoramento. Artigo publicado no The British
Medical Journal e assinado por especialistas em prevenção de doenças diz que o
primeiro passo é aplicar as mais recentes tecnologias diagnósticas – como
métodos multiplex e sequenciamento genético de nova geração, cujos custos vêm
caindo com a evolução da técnica – na detecção precoce e em tempo real de
qualquer possibilidade de migração de patógenos potencialmente pandêmicos entre
as espécies.
Saindo do âmbito da prevenção, caso novos vírus e bactérias
consigam vencer as barreiras naturais representadas pelo sistema imunológico e
as outras barreiras já testadas na pandemia de COVID-19, a medicina diagnóstica
segue fortalecendo um derradeiro bloqueio com a implementação de rápida
testagem para confirmação dos diagnósticos, identificação dos infectados,
direcionamento aos tratamentos existentes e comprovadamente eficazes, e
bloqueio da cadeia de transmissão.
“Ainda no primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia
estava começando a se espalhar pelo globo, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou que “testar, testar e testar” era o melhor caminho para conter o
SARS-CoV-2. Porém, o mundo não estava tão preparado para essa demanda
crescente. Mas nosso papel é impedir que a história se repita”, diz Shcolnik.
Ao avaliar as ações tomadas no início dessa pandemia,
pudemos observar já um cenário dentro desse contexto. Os cientistas – inclusive
brasileiros – conseguiram sequenciar em poucas horas o novo coronavírus, o que
possibilitou que os sistemas de saúde agissem rapidamente para providenciar
kits de testes e investir em medidas de controle. Os laboratórios privados
brasileiros, inclusive, foram exemplares criando, in house e em tempo
recorde, seus próprios kits para detecção da infecção e, posteriormente,
ampliando a variedade de metodologias diagnósticas para ampliar o acesso da
população aos exames.
Esse é um dos aprendizados que prometem tornar novas
pandemias mais controláveis no futuro. “Caso uma nova pandemia venha a se
instalar, já temos histórico, conhecimento e expertise para tornar esse cenário
ainda mais otimizado e pronto para vencer qualquer patógeno”, reforça o
presidente da Abramed.