Líder deve atuar com empatia para a construção de um ambiente de confiança, visando ao bem-estar dos colaboradores
13 de julho de 2021
O líder tem papel fundamental como facilitador e tradutor
da cultura organizacional para os liderados, é responsável por conduzir a
equipe para atingir os objetivos da companhia. E a liderança que atua na área
de saúde trabalha com algo muito valioso que é a vida das pessoas, o que traz
responsabilidade ainda maior e aumenta os desafios na busca contínua por
melhorias.
Como o mundo mudou, evoluiu e ficou mais dinâmico,
os responsáveis por liderar as equipes nas organizações atualmente têm de ter
um diferencial que pouco se via antigamente: a diversidade na era da tecnologia,
em que as informações chegam de forma rápida e que os times exigem mais
transparência e participação nas decisões.
“O líder do século passado, muitas vezes, era
autoritário o que hoje dificilmente funciona. A liderança deve atuar com muito
mais empatia e democratização do conhecimento, participação ativa das equipes e
como facilitadora nos processos de trabalho”, explica Lucilene Costa, gerente
de Saúde Corporativa do Grupo Fleury e diretora do Comitê de RH da Associação
Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
Em um cenário de pandemia, algumas
características de gestão de pessoas são importantes e precisam ser
valorizadas. Segundo Lucilene, diante de tanta incerteza e insegurança, o líder
precisa ter humildade para assumir quando não tem as respostas e a algumas
características são fundamentais para enfrentar qualquer tipo de crise.
A especialista
lista como iniciativas mais importantes: a comunicação clara e realista do
momento; manter a serenidade e otimismo para equipe entender que sempre haverá
caminhos a serem percorridos, mas que todos estão ligados ao mesmo propósito; buscar
e se apoiar em ações conforme os problemas forem surgindo; ser empático, entendo
que cada um reage à crise de uma forma; não adiar decisões, mesmo que difíceis;
revisar os objetivos e metas traçados anteriormente; cortar custos; e manter o
olhar no longo prazo
“Enfim, é estar aberto para o novo, entender que a
crise, na maioria das vezes, tira as pessoas da zona de conforto e que novas
ideias surgem, assim como muitos processos precisam ser revisados”, ressalta
Lucilene.
Também é preciso lembrar que o líder é humano e não
um super-herói, então, diante dos problemas que afetam um colaborador ou a
equipe, a gerente de Saúde Corporativa do Grupo Fleury sugere mapear a
situação, dividi-la em fases e buscar apoio de áreas especialistas, como RH, Departamento
Médico, ou fóruns e grupos que tratem do tema na organização.
“As questões geralmente são deflagradas por fatores
multicausais, por isso, o líder não deve apostar numa fórmula mágica. São
diversos desafios e para cada um cabe uma série de ações, desde iniciativas de cuidado
à saúde do colaborador até outras ações governamentais de apoio ao trabalhador,
como orientação jurídica e financeira”, diz Lucilene, para quem a construção de um ambiente seguro e empático é tão
importante quanto a promoção de ações de bem-estar ou o estabelecimento da
confiança como base para todas as relações nas empresas.
As organizações, para a especialista,
precisam dar atenção ao clima organizacional, serem claras em suas comunicações
e, na medida do possível, garantir flexibilidade e autonomia ao trabalho na
rotina diária.
“Essas são algumas ações práticas que
podem ajudar na redução do estresse e para que as pessoas se sintam mais
compreendidas e dispostas a falar sobre seus sentimentos”, afirma Lucilene.
Saúde mental
A pandemia mudou a realidade, os aspectos
sociais, pessoais e a relação com o trabalho. O novo cenário fez surgir também
um outro ponto de atenção aos gestores: a saúde mental dos colaboradores e como
mantê-la em dia.
O acolhimento e o pertencimento nunca foram pontos
tão importantes de união da gestão e da cultura empresarial nos cuidados com os
aspectos emocionais e mentais dos trabalhadores.
Nesse contexto, segundo Lucilene Costa, cada
indivíduo deve ser visto e entendido como biopsicossocial e o desafio para o
líder está em gerir pessoas em diferentes estágios, sabendo escutar, orientar,
dar feedback e apoiar de forma a tornar o indivíduo cada vez mais
autônomo.
“Isso gera um
ambiente agradável, sentimento de trabalho em equipe, desperta a humanidade,
estimula a capacidade analítica, traz reflexões e tomadas de decisões mais
assertivas. Sendo o resultado benéfico para todos”, esclarece a gerente de
Saúde Corporativa do Grupo Fleury.
Para as empresas de medicina diagnóstica, que assim
como outros setores da saúde também vêm tendo papel fundamental na luta contra
a Covid-19, com um trabalho contínuo, equipes de forma geral se desdobrando
para atender à enorme demanda de casos, e não só o volume, mas o tempo que já perdura
a pandemia, o agravo para a saúde mental dos trabalhadores também tem
acontecido.
“Por um lado, esses profissionais têm o propósito
legítimo do cuidado e do outro, o cansaço e o estresse de também ter o incerto em
sua frente, familiares em casa com medo de contaminação, perdendo entes
queridos e se expondo aos riscos do dia a dia”, alerta Lucilene.
A situação dos agravos em saúde mental não é uma
situação nova. A cada ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem divulgando
o elevado número de casos de suicídio, pessoas com depressão e estresse
generalizado e, por consequência, aumento no número de afastamentos
previdenciários e de pessoas impossibilitadas de retornarem aos seus postos de
trabalho por doenças mentais. A síndrome de Burnout (distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema relacionada
ao trabalho) tornou-se uma das causas
recorrentes de dias de trabalho perdidos.
“Vemos hoje alta carga horária, dupla jornada de
trabalho, esgotamento físico e mental. A durabilidade da pandemia e a
incapacidade do governo em estruturar políticas públicas claras e falíveis
também têm gerado o esgotamento dos trabalhadores”, lamenta a especialista.
Outro obstáculo quando o tema é a saúde mental é o
preconceito. Procurar um psicólogo ou um psiquiatra ainda é um tabu muito
grande, mesmo dentro do setor da saúde, e isso aumenta a gravidade da doenças
emocionais e mentais.
“Profissionais de saúde são educados nos bancos das
universidades ou durante seus cursos técnicos a cuidar e olhar a saúde do
outro, pouco consideram olhar sua própria saúde. A automedicação ou tratamento
no corredor, com algum colega próximo, impera na maioria das vezes”, adverte
Lucilene.
Por isso, ela afirma ser fundamental que as
lideranças, frente aos problemas de saúde mental nas organizações, hajam com
humanidade, entendendo que hoje o sofrimento é de determinado colaborador e
amanhã pode ser deste líder.
“A empatia é o melhor remédio para a quebra do
preconceito, assim como as rodas de conversas falando sobre as fragilidades das
situações e aflições que acontecem com todos, lembrando que cada pessoa é única
e enfrenta as intempéries de forma particular. Então, observar a equipe,
conversar, entender as fraquezas e fortalezas para apoio mútuo é a melhor forma
de agir”, acredita a gerente de Saúde do Grupo Fleury.
O impacto da cultura acolhedora das lideranças, na
opinião de Lucilene, é benéfico e mútuo e ainda contribui para o crescimento
das empresas.
“Pensemos nas organizações como organismos vivos
que cada um é uma parte do todo. Empresas que trabalham com esta cultura
crescem e são duradoras. No fim todos aprendem, crescem e ganham”, destaca
Lucilene.
Ela ainda salienta ser importante que as
instituições conheçam seus colaboradores, avaliando o perfil demográfico,
epidemiológico e cultural, para que, com olhar mais amplo para o cuidado dos
seus trabalhadores, adote políticas de benefícios mais claras e coordenadas com
o seu público.
“A
recomendação é atenção holística à saúde do colaborador”, finaliza.