Assinado por Renato Casarotti, presidente da Abramge, artigo aborda coordenação do cuidado como ferramenta da medicina
25 de julho de 2021
* Por Renato
Casarotti
A coordenação
do cuidado é uma ferramenta da medicina que auxilia
os pacientes a navegar pelo sistema de saúde de forma mais eficaz e eficiente,
de acordo com as suas necessidades clínicas e em sintonia com a evolução do
conhecimento sobre doenças crônicas e as diversas formas de prevenção.
Diante da
mudança no perfil demográfico e epidemiológico da população, sujeita a
enfermidades que se desenvolvem ao longo do tempo e podem ser evitadas ou
amenizadas por diagnósticos precoces, não faz mais sentido insistir
em um modelo de oferta de tratamento focado quase que exclusivamente em
situações críticas ou quadros agudos, adotado pela saúde suplementar no século
passado.
Nesse
contexto, ganha importância o acompanhamento constante dos usuários dos planos
de saúde por médicos da família, com o compartilhamento de
prontuários, históricos e exames, quando realmente for preciso encaminhá-los a
especialistas. A gestão integrada de recursos e informações economiza tempo,
evita desperdícios e proporciona um entendimento da saúde global do paciente,
que não pode mais ser tratado de forma fragmentada.
De acordo com
pesquisa recente do Conselho Federal
de Medicina (CFM), o número de
profissionais dedicados à Medicina da Família e Comunidade cresceu,
no Brasil, 30% em dois anos e 171% na última década. Esses índices têm
correspondência com os investimentos em atenção primária (o atendimento inicial
dos pacientes) feitos pelos planos de saúde e healthtechs. A mesma pesquisa
aponta que 80% dos casos dos pacientes podem ser solucionados por esse tipo de
atendimento, evitando hospitalizações e exames desnecessários.
O modelo
baseado na atenção primária concentra-se no cuidado ao longo
da vida e não quando o paciente já está em uma fase aguda. Assim, o médico da
família e comunidade é protagonista da manutenção da saúde e do bem-estar.
Diante do melhor uso da rede assistencial, os beneficiários e toda a cadeia
produtiva ganham com a otimização de exames e procedimentos.
O médico da
família é mais do que aquele profissional que acompanha o paciente em todas as
fases da vida: trata-se de um especialista em pessoas, pois possui um amplo
conjunto de informações, que vão muito além dos dados exigidos para um
prontuário comum.
Assim, conhece
as emoções, a rotina, as dificuldades e os sonhos de cada um, com capacidade
para fazer uma avaliação mais aprofundada do quadro clínico, que nem sempre
requer o direcionamento para especialistas. Por manter um
acompanhamento frequente, ele mesmo pode pedir exames ou apontar tratamentos de
diferentes especialidades pela vasta compreensão que tem de seu paciente.
No entanto,
isso não exclui o direcionamento e o trabalho em parceria com especialistas. A
diferença é que, com o acompanhamento do médico da família, as pessoas são
orientadas a procurá-los em situações mais complexas. A partir da necessidade
de encaminhamento, os profissionais trocam informações para a realização de exames
e a escolha do tratamento mais indicado para o caso em questão.
Atualmente,
com base em dados divulgados pela plataforma de inovação aberta Distrito, há 747
healthtechs no Brasil. Parte delas vem investindo na oferta de atendimento
primário digital a partir do médico de família e comunidade, reflexo de como
a transformação digital das empresas e da sociedade tem
impactado a medicina.
Segundo
a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), desde abril de 2020, foram feitas mais de 3 milhões de teleconsultas
entre as operadoras filiadas, que atendem quase 9 milhões de beneficiários no
país. Pode-se dizer que o sucesso da telessaúde impulsionou não apenas o modelo
de atendimento focado na atenção primária, mas também o comportamento das
pessoas quanto à adoção da saúde digital.
A chegada
iminente da internet 5G, aliada à Internet das Coisas (IoT) e à inteligência
artificial, resultará em um salto na digitalização da saúde, com a integração
de dispositivos e máquinas. Haverá maior armazenamento de dados em nuvem, mais
velocidade na transmissão desses registros e eficiência no cruzamento de
informações para a definição de protocolos de tratamento ainda mais precisos.
Esse movimento
também impactará o setor de medicina diagnóstica a partir da realização de
exames inovadores, como aqueles via telecomando, em que uma equipe opera o
aparelho remotamente e especialistas trabalham no laudo e pós-laudo. Tais
avanços tornarão factível a chamada Medicina 4P (preditiva,
preventiva, personalizada e participativa) em um curto espaço de tempo.
As operadoras
de planos de saúde caminham para esse futuro cada vez mais próximo. O
envolvimento dos médicos nesse processo é fundamental para facilitar o acesso
aos beneficiários e lhes proporcionar um tratamento mais completo, eficiente e
humanitário.
* Renato Casarotti é presidente da Abramge (Associação Brasileira de
Planos de Saúde)