Com mudança no menu de exames e engajamento dos colaboradores, medicina diagnóstica encara os desafios da COVID-19

Com mudança no menu de exames e engajamento dos colaboradores, medicina diagnóstica encara os desafios da COVID-19

Abramed comandou um painel no Medical Conecta sobre os impactos da crise no setor

10 de agosto de 2021

Na terça-feira, 10 de agosto, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) conduziu um painel no Medical Conecta, plataforma criada pela Medical Fair Brasil para movimentar o mercado médico-hospitalar e promover o fechamento de negócios enquanto os eventos presenciais ainda não foram retomados. Na ocasião, reuniu especialistas para tratar dos desafios do setor de diagnóstico durante a pandemia de COVID-19.

Para esse bate-papo e troca de experiências, estiveram reunidos Carlos Aita, médico patologista e responsável técnico na DB Diagnósticos; César Amaral de Camargo Penteado, diretor médico do CURA; e Gabriela Brincas, diretora da Clínica Imagem. A moderação foi feita por Alex Galoro, diretor do Comitê de Análises Clínicas da Abramed e gestor médico no Grupo Sabin.

Após a abertura do painel, feita por Milva Pagano, diretora-executiva da Associação, Galoro declarou: “estamos em meio a uma pandemia de um vírus ainda pouco conhecido. No início, não tínhamos vacina tampouco muitas informações sobre como lidar com ele e ainda não temos tratamento específico. Tudo isso trouxe um grande impacto para a organização dos nossos serviços e tivemos de nos adaptar apostando em diferentes medidas para diferentes fases”. Na sequência, convidou os participantes a contar um pouco mais sobre como cada empresa enfrentou esse cenário.

O painel foi interessante por trazer a realidade de três modelos diferentes de negócios no setor de medicina diagnóstica. E, mesmo assim, as realidades muitas vezes coincidiram e os desafios enfrentados foram os mesmos.

A Clínica Imagem está instalada dentro de uma unidade hospitalar no estado de Santa Catarina e tem foco em exames de imagem, o que permitiu, à Gabriela, falar um pouco sobre a realidade do diagnóstico nesses dois ambientes. “Assistimos a uma queda muito grande na volumetria de diagnósticos entre março e abril do ano passado. A readequação de equipes e o medo dos nossos colaboradores frente ao desconhecido foram os principais desafios nos primeiros 40 dias de pandemia”, pontuou.

Penteado, cuja empresa abraça tanto o diagnóstico laboratorial quanto o de imagem, também destacou a queda considerável no número de exames realizados nos dois primeiros meses da crise. “No início foi bem difícil para nos equilibrarmos, mas é interessante perceber que a nossa estrutura predial, térrea e fragmentada, que antes considerávamos uma fraqueza, se mostrou uma vantagem competitiva. Por conta desse formato, conseguimos estabelecer uma boa segmentação de fluxo, para a segurança de todos, garantindo a tomografia ao nível ambulatorial para confirmação de diagnóstico de COVID-19”, declarou.

Mesmo atuando principalmente como laboratório de apoio, Aita tem uma percepção similar à de Gabriela e de Penteado, porém trouxe, ao debate, um outro desafio muito importante durante a crise: a logística. “Além de depender dos laboratórios que são nossos clientes e foram impactados, também dependemos da logística, que teve o fluxo aéreo interrompido nos obrigando a atuar com a logística terrestre”, disse.

Atrelado à questão logística, está o aumento considerável dos preços. “Estamos sofrendo, ainda hoje, pois a alavanca está voltando, mas o preço de compra ainda é um preço pandêmico. Quanto tempo vamos carregar o aumento de valor dos nossos consumíveis do dia a dia?”, questionou Gabriela. Esse aumento, inclusive, teve de ser absorvido pelas empresas de medicina diagnóstica, já que não foram repassados para as operadoras e planos de saúde, o que aumenta ainda mais o impacto já existente sobre as operações.

Mudanças no catálogo de exames

Além de impor mudanças estruturais aos laboratórios e clínicas de imagem, a pandemia também levou as empresas a uma adaptação do seu catálogo de exames. No setor de imagem, Gabriela comenta que o carro chefe passou a ser a tomografia de tórax, exame também utilizado para diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus. “A tomografia virou, de fato, a nossa sustentabilidade financeira e volumétrica quando vimos o ultrassom e a mamografia despencarem”, declarou.

Na DB Diagnósticos, uma das estratégias foi concentrar os exames que dependiam de insumos chegando por via aérea nas unidades de São Paulo, deixando, no sul, os exames que poderiam ser abastecidos pela malha rodoviária. Tudo isso somado a uma drástica mudança no menu geral de exames que incorporou os testes de COVID-19. “Tivemos que nos adaptar e o que facilitou foi nossa agilidade em incorporar esses testes em nossa rotina”, disse Aita.

Porém, essa queda no número de exames preocupa não só as empresas por questões de sustentabilidade, mas de saúde. O amplo afastamento dos pacientes de exames preventivos atrasa diagnósticos de doenças e piora os prognósticos. Atuando para evitar que muitas pessoas deixassem de realizar seus exames, as empresas privadas de diagnóstico investiram em ações pontuais. A Clínica Imagem, por exemplo, fez um trabalho de aproximação com os oncologistas para que as biópsias não parassem, mesmo tendo de enfrentar um certo desafio logístico para a obtenção das agulhas próprias para esse procedimento.

Além da mudança nos exames ofertados, houve mudança também no formato. Penteado comentou que além do drive-thru – sistema abraçado por muitos laboratórios para evitar que pessoas potencialmente infectadas com o novo coronavírus tivessem de circular pelas unidades para fazer os testes – o CURA investiu no walk-thru a fim de atender aqueles que chegavam sem carro ao laboratório.

Equipes e recursos humanos

A queda no número de procedimentos impacta, diretamente, as equipes, exigindo, da gestão, a tomada de decisão. No CURA, foi possível manter todo o time. “Em um primeiro momento, todos ficaram assustados com os números de exames despencando. Porém, com as medidas provisórias que surgiram, como, por exemplo, a possibilidade de antecipação de férias e implementação de jornadas reduzidas, pudemos nos reequilibrar”, disse Penteado.

Na DB, houve uma redução do quadro de pessoal, porém esse cenário já foi reestabelecido. “O maior impacto foi no mês de abril de 2020, mas com a retomada da produção, hoje temos uma equipe maior do que antes”, falou Aita.

Essa necessidade de equilíbrio também foi um dos desafios apontados por Gabriela, que enfatizou que além das questões administrativas, o time teve de lidar com afastamentos por sintomas respiratórios e, inclusive, com um aumento significativo do número de gestantes, que também impactou o quadro.

Porém, mesmo diante desse cenário de altas taxas de infecção no país, os três executivos contaram motivados que entre seus times o número de casos de COVID-19 foi significativamente baixo, não ultrapassando 25% em nenhuma das empresas.

Interessante observar, inclusive, alguns apontamentos sobre os potenciais locais de infecção. Segundo Aita, na DB Diagnósticos foi possível perceber uma maior taxa de infecção nas pessoas que estavam atuando em home office. “Aparentemente, quem estava em trabalho presencial, acabava se cuidando mais. Em casa, podemos nos desarmar e ficamos mais suscetíveis ao contágio”, declarou.

Expectativas e futuro da medicina diagnóstica

“Vendo o momento atual, com tendência de queda de casos e aumento da vacinação, como vocês enxergam a evolução dos próximos meses? E o que fica de aprendizado”, questionou Galoro.

Para Gabriela, um dos grandes aprendizados foi perceber que mesmo com todas as dificuldades, os colaboradores estavam engajados. “Apesar dos afastamentos, das infecções, das novas regras, vimos uma equipe muito motivada e com senso de pertencimento”, declarou a executiva que também mencionou que durante a crise eles conseguiram reduzir o tempo do laudo, uma novidade que permanecerá e beneficia os pacientes que acabam acessando seus resultados mais rapidamente. Penteado e Aita também concordaram que a resiliência das equipes foi fundamental. Para encerrar o encontro virtual, Milva enfatizou que o fator humano tem, de fato, um peso positivo em todo esse cenário desafiador. “Apesar das limitações e do medo, fico feliz em ver a capacidade humana de união, resiliência e motivação. Especialmente no setor de saúde, sempre me emociono ao ver as pessoas atuando na linha de frente, expostas ao risco e mesmo assim em um espírito de doação, entrega e atenção ao outro. Acredito que sairemos desse túnel chamado pandemia melhores do que entramos”, finalizou.

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