Especialistas debatem a relação entre custo e investimento na medicina diagnóstica

Especialistas debatem a relação entre custo e investimento na medicina diagnóstica

Terceira edição da série #DiálogosDigitais Abramed foi realizada em 24 de agosto e moderada por Wilson Shcolnik

31 de agosto de 2021

Especialistas em medicina diagnóstica estiveram virtualmente reunidos em mais uma edição da série #DiálogosDigitais Abramed. Neste episódio, comandado pelo presidente do Conselho de Administração da Associação, Wilson Shcolnik, o debate mesclou assuntos diversos que permeiam o setor com o objetivo principal de esclarecer: medicina diagnóstica é custo ou investimento?

Participaram do bate-papo Alexander Buarque, diretor de ética da Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT); Bernardo Barros, gerente médico da BioMérieux; e Malu Sevieri, diretora-executiva da Medical Fair Brasil.

“Nosso setor teve um papel importante nessa pandemia, fomos mais valorizados e novos recursos surgiram ao longo do tempo. Hoje temos testes diferentes, cada um com sua aplicação correta. E isso nos colocou em evidência. Conseguimos perceber como o investimento em medicina diagnóstica é importante dentro desse momento de tantos novos recursos que podem, inclusive, gerar muita economia para o sistema de saúde, indicando a terapia certa para o paciente certo”, comentou Shcolnik.

Considerando que a medicina ocupacional vem ganhando cada vez mais relevância no ciclo de cuidado – inclusive agora com o retorno dos trabalhadores para seus escritórios e espaços de trabalho –, Buarque comentou como a testagem para COVID-19 foi aplicada à rotina das empresas como uma forma de prover mais segurança e tranquilidade. “Com a testagem, principalmente quanto aplicada diariamente, conseguimos captar algumas pessoas assintomáticas, em estágio inicial da infecção pelo novo coronavírus”, explicou. É a medicina diagnóstica agindo para detectar precocemente os contaminados evitando a disseminação do patógeno.

Na sequência, o executivo falou um pouco sobre as mudanças da medicina do trabalho. Segundo ele, nos últimos cinco anos, esse segmento da saúde alcançou um novo patamar, saindo do desenho de coordenação de ações básicas e exames de aptidão, para elaboração de estratégias populacionais, tanto de diagnóstico quando de cuidado coordenado.

“A medicina do trabalho tinha um perfil de exames focados no risco. Então, às vezes eram elaborados testes especialmente para algumas posições. Hoje entendemos que as pessoas passam dez horas por dia dentro do trabalho e que esse é um excelente lugar para que possamos cuidar e acolher esses trabalhadores elaborando, inclusive, estratégias de autocuidado”, completou. Quando se enxerga todo esse potencial da medicina ocupacional, agrega-se ainda mais valor à medicina diagnóstica.

Seguindo essa reestruturação, a medicina do trabalho passou a focar nas principais patologias, trazendo para perto de si a atenção primária, deixando de lado exames sem evidência de atuação para rastreio – como o eletroencefalograma para quem vai trabalhar diariamente em altura mencionado por Buarque – para englobar um checkup mais dinâmico.

De acordo com ele, foi adotada a estratégia “Know your numbers”, focada em fazer com que cada trabalhador conheça seus principais dados de saúde: pressão arterial, diâmetro da cintura abdominal, IMC, colesterol e glicemia de jejum. “Os três primeiros tínhamos acesso na consulta, mas os outros dois dependiam de exames laboratoriais. Então colocamos esses testes na estratégia para que as pessoas já saíssem da consulta conhecendo esse diagnóstico”, explicou. Além de realmente utilizar a medicina diagnóstica para traçar um perfil de risco, essa estratégia agrega um valor que antes não era visualizado nos exames ocupacionais.

Outro ponto do debate foi a possiblidade de empresas com grande número de funcionários trazerem, para dentro de seus workplaces, laboratórios clínicos. Na opinião de Buarque, essa não é uma decisão que pode ser padronizada. “Temos muitas empresas estruturando agora suas estratégias. É um mercado que ainda não apareceu 100%. É importante que os prestadores fiquem atentos a esse nicho, pois será preciso avaliar cada cenário, fazer estudo de mercado e entender as dores de cada cliente”, disse.

Medicina diagnóstica no ambiente hospitalar

Atuando em ambientes críticos, Barros falou um pouco sobre a rotina de solicitação de exames nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e quais as mudanças mais recentes. Entre os apontamentos do especialista, estavam os exames focados no diagnóstico sindrômico. “Temos tentado alternativas com mais valor como, por exemplo, exames que auxiliam no diagnóstico de diarreias e pneumonias trazendo uma identificação do agente etiológico em menor tempo para início do tratamento antibiótico adequado mais rápido. Temos vários fabricantes, alguns já trabalhando com resultados prontos em até 60 minutos. Excelente para uma terapia empírica até mesmo dentro do pronto-socorro”, detalhou.

Contribuindo com a explanação sobre a relevância desses avanços diagnósticos, Shcolnik mencionou: “esses painéis que permitem diagnóstico muito rápido, para um caso de uma criança que chega ao pronto-socorro com suspeita de meningite, por exemplo, são fantásticos para permitir uma orientação terapêutica imediata. Faz muita diferença também para quem trabalha dentro do laboratório hospitalar”.

Barros mencionou, inclusive, que cada hora de atraso no início do tratamento com antibiótico correto há acréscimo linear na mortalidade. Quando esse atraso chega a seis horas, aumento de 30% na mortalidade e quando passa de 12 horas aumento de até 50%.

Lembrando que para cada tecnologia agregada a um sistema de saúde é preciso investir na educação e treinamento dos profissionais que ficarão responsáveis pela operação, Barros disse que a adesão tecnológica tende sempre a trazer benefícios, tanto para os pacientes quanto para o sistema.

Relacionamento, tecnologia e novos produtos

Considerando que a tecnologia segue em constante evolução trabalhando, inclusive, para agregar valor à medicina diagnóstica na construção de exames cada vez mais acessíveis e assertivos, trabalhando pela redução de custos e aumento do alcance, o relacionamento entre vendedores e compradores dentro do setor é indispensável para a construção de uma medicina diagnóstica sustentável. Nesse sentido, Malu trouxe algumas de suas principais perspectivas globais já que atua diretamente com a organização da Medical Fair Brasil, versão brasileira da Feira MEDICA da Alemanha.

Segundo a executiva, o Brasil é extremamente atrativo do ponto de vista de negócios por conta do tamanho do seu mercado, porém há ainda algumas barreiras de confiança a serem vencidas. Quanto a diferenças na apresentação dos produtos, Malu acredita que o mercado global está equilibrado. “Não vejo muita diferença na parte de avanços tecnológicos. A diferença maior está na oferta. Fora do Brasil temos muitas empresas vendendo as mesmas tecnologias que, quando chegam no mercado brasileiro, chegam com custo alto. Na Ásia, por exemplo, temos muito mais variedade para um mesmo tipo de produto”, pontuou.

Para exemplificar como o mercado está aquecido e trabalhando pela inovação, a diretora trouxe alguns exemplos: aplicativos para gerenciamento de cirurgias, tirando a responsabilidade de definição de prioridades do médico e colocando na inteligência artificial, o que é uma boa alternativa para o Sistema Único de Saúde (SUS), que lida com filas para operações; e softwares que trabalham com o cruzamento de dados de exames a fim de predizer o risco de pacientes internados nas UTIs.

O terceiro episódio da série #DiálogosDigitais Abramed está disponível na íntegra no canal do YouTube da entidade. Clique AQUI para assistir.

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