Foram realizadas quatro palestras com temas atuais e relevantes ao cenário da medicina diagnóstica
13 de setembro de 2021
A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)
marcou presença no 2º Congresso Virtual da Sociedade Brasileira de Patologia
Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML). O encontro, que teve a transformação
digital como tema principal, foi realizado entre os dias 7 e 11 de setembro.
Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi o
coordenador da mesa redonda “Desafios Laboratoriais do Século XXI”.
Foram, ao todo, quatro palestras com temas distintos, mas
que contribuem de forma relevante com os principais debates conduzidos hoje no
campo do diagnóstico. Confira, a seguir, os destaques de cada apresentação:
Burnout e inteligência emocional: os seus colaboradores
vão bem?
A primeira palestra, comandada por Marina Reis, professora
de gestão de pessoas e desenvolvimento humano, abordou burnout e inteligência
emocional. Em sua apresentação, Marina enfatizou que para que a saúde esteja,
de fato, no centro das empresas, é necessário aderir ao conceito de
responsabilidade compartilhada. Segundo a especialista, o local de trabalho é
um ambiente que ensina a cuidar da saúde. “O que temos visto nas grandes
empresas são processos grandes de autogestão, autoconhecimento e principalmente
autocuidado”, declarou.
Considerando que não há como falar em cuidado sem mencionar
saúde mental, Marina comentou que antes mesmo da pandemia o Brasil já tinha altas
taxas de ansiedade, e o novo coronavírus piorou esse cenário. Diante de tantas
incertezas, o que a especialista incentiva é que todos tomem cuidado com o viés
de negatividade. Para isso, levou ao congresso uma interessante frase de Rick
Hanson, psicólogo norte-americano e autor de conteúdos sobre neurociência: “a
nossa mente é velcro para coisas ruins e teflon para as coisas boas”.
O que Marina frisou foi que o medo é uma defesa, mas que não
podemos viver o tempo inteiro com medo. “Precisamos ter esse cuidado para que
nossa mente não permaneça sempre grudada a coisas negativas, senão teremos uma
ansiedade exacerbada”, disse.
Depois de mencionar que estamos saindo do mundo VUCA
(acrônimo em inglês para volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) e
entrando no mundo BANI (acrônimo em inglês para frágil, ambíguo, não-linear e incompreensível),
a especialista encerrou sua apresentação com quatro focos para que consigamos
prevenir o burnout: atenção plena, consciência emocional, conexão com o
propósito e resiliência.
Medicina personalizada
Na sequência da palestra de Marina, a mesa redonda recebeu
Armando Fonseca, médico especialista em pediatria e membro da SBPC/ML e de
outras entidades do setor, para explicar a história e as vantagens da medicina
personalizada, bem como a participação do diagnóstico nesse contexto.
Trazendo imagens históricas que demonstram que, a princípio,
as doenças eram atribuídas a castigos divinos, Fonseca declarou que mesmo
diante de cenários tão distintos da nossa atual realidade, é possível atribuir
o conceito da medicina personalizada há Hipócrates, considerado o “pai da
medicina” que viveu há mais de 2.300 anos. “Hipócrates já falava em
personalização da medicina quando atrelava a alteração dos fluidos biológicos
às doenças”, disse.
Enfatizando que não há uma competição entre a medicina
tradicional e a medicina personalizada, Fonseca relembrou a importância do
Projeto Genoma Humano para a evolução da ciência e mencionou um marco histórico
para o Brasil. “No final de 2019, um projeto da USP sequenciou 15 mil genomas
em uma plataforma de pacientes focada em relacionar manifestações clínicas e
expressões da doença ao genoma. Isso nos inseriu no mundo da genômica
definitivamente”, declarou.
O especialista também enfatizou o importante papel dos
exames diagnósticos para a consolidação da medicina personalizada. Segundo ele,
diagnosticar e tratar pacientes com base em suas características genéticas é o
que prevê a medicina personalizada, além de acelerar a resolutividade para
atenuar custos do sistema. Fonseca, inclusive, mencionou um dado do Painel
Abramed – O DNA do Diagnóstico que reforça que até 70% das decisões clínicas
são fundamentadas nos resultados de exames.
Ao longo de sua apresentação, Fonseca trouxe uma frase
interessante atribuída ao médico Michael Yurkewics e que diz respeito ao
diagnóstico individualizado: é mais importante saber que tipo de pessoa tem
aquela doença, do que saber que tipo de doença tem aquela pessoa.
Telemedicina no laboratório clínico
Com a pandemia de COVID-19, a telemedicina cresceu de forma
exponencial não só no Brasil, mas no mundo. Para tratar desse tema, a mesa
redonda recebeu Eduardo Cordiolli, gerente médico de telemedicina do Hospital
Israelita Albert Einstein e presidente da Saúde Digital Brasil.
Segundo Cordiolli, a mídia vem destacando os avanços da
telemedicina, porém enquanto algumas reportagens declaram que as teleconsultas
podem crescer até 15% ao ano, ele acredita que o desenvolvimento é muito mais
agressivo. “Em 2021 falavam em 7,5 milhões de consultas virtuais e já passamos
de 10 milhões. Acredito que o crescimento pode chegar a 80% ao ano”, disse.
Para complementar essa percepção, o especialista declarou que em 2015 atendia
um caso virtualmente por dia, em 2020 passou a atender 60 casos diários por
meios digitais.
Há uma percepção de que esse crescimento não está atrelado
apenas à necessidade de distanciamento gerada pelo novo coronavírus, os
pacientes parecem aprovar a ideia de serem atendidos de forma remota. Trazendo
dados europeus, Cordiolli mencionou o caso de um ambulatório espanhol que foi
fechado durante a primeira onda de surtos, realizando apenas atendimentos
remotos, e quando, posteriormente, foi reaberto, notou que 91% dos pacientes
gostariam de continuar os atendimentos pela telemedicina. “A ideia de melhorar
a experiência é tão forte que os pacientes querem a telessaúde”, disse.
Porém, como essa digitalização pode chegar à medicina
diagnóstica? Segundo o especialista, os laboratórios clínicos, por exemplo,
estão seguindo caminhos baseados em coleta domiciliar, testes point-of-care e
aquisição de equipamentos portáteis de ultrassonografia. Isso, claro, do ponto
de vista do contato entre profissional de saúde e paciente.
Paralelamente há toda uma atividade fundamental depois que
os exames são coletados, e nesse momento a telessaúde pode se fazer ainda mais
presente para atingirmos a quádrupla meta: acesso, equidade, qualidade e
eficiência. “Se temos uma tecnologia possível, é desejável do ponto de vista
humano, sustentável e viável, conseguimos produzir algo que mudará a saúde para
melhor”, pontuou.
Para finalizar, reforçou que a telepatologia é muito
importante, visto que há uma carência de médicos patologistas em determinadas
regiões do país, e mencionou as quatro formas com que ela pode ser aplicada:
- Estática – Quando a amostra é fotografada e a
imagem enviada para análise em outro local
- Dinâmica – Quando um técnico manipula a lâmina
sob orientação de um médico à distância
- Robótica – Quando o médico manipula, à
distância, o microscópio
- WSI – Quando toda a lâmina é fotografada em alta
resolução e encaminhada para o médico, que consegue manipular a imagem para a
análise
- Híbrida – Mescla outras formas e permite a
análise tanto da imagem quanto do microscópio se necessário for
Aquisição, associação ou terceirização: tendências do
mercado
A última palestra da mesa redonda comandada por Wilson
Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, foi conduzida por
Fabio Sodre, médico patologista clínico, e trouxe, de forma didática,
conceitos, vantagens e desafios de três processos que vem sendo muito
vivenciados pelas empresas do setor de diagnóstico: aquisições, associações e
terceirizações.
Em sua apresentação, Sodre falou sobre as tendências
relacionadas a cada um desses formatos. “Nunca tivemos tantas aquisições no
mercado de saúde brasileiro. As taxas de juros, apesar de crescentes, estão em
níveis mínimos; há muito capital parado no mercado privado e os bancos estão
retomando a confiança”, disse. Sobre associações, mencionou que diante desse
cenário de múltiplas fusões, aqueles laboratórios que não querem ser adquiridos
podem optar por se associarem e, quanto à terceirização, mencionou que a Lei nº
13.249 trouxe segurança jurídica fazendo com que as empresas pudessem
terceirizar e, assim, focar nas vantagens competitivas e na busca por
crescimento significativo.
O especialista também explicou um pouco mais detalhadamente
cada processo.
O primeiro tópico abordado foram as fusões e aquisições e Sodre
enfatizou que esse é um processo que sempre visa a geração de valor para o
acionista, buscando sinergias entre as empresas. “A proposta é que as duas
companhias juntas obtenham resultado melhor do que a somatória dos resultados
individuais de ambas”, explicou.
Entre as armadilhas que precisam ser superadas, enfatizou
que não basta apenas avaliar o balanço da empresa que vai ser adquirida, é
preciso checar se aquela é a empresa “certa”. “Temos que observar a
complementaridade, as sinergias e como está a cultura de cada empresa para que
seja feito um processo suave de integração”, disse.
Ao falar sobre as associações, quando há união de empresas com o objetivo de conquistarem, juntas, benefícios e desenvolvimento mútuo, Sodre apontou como benefícios o fortalecimento da capacidade de ação, a criação de soluções efetivas, e a possível redução de custos junto a fornecedores. “Há, também, a criação de confiança entre os associados para uma livre troca de ideias”, pontuou. Entre as dificuldades, destacou o processo mais lento de tomada de decisão, a presença de interesses divergentes, a possibilidade de uma gestão tendenciosa e a necessidade de tempo para interação entre os associados.
Por fim, o especialista falou sobre a terceirização, processo muito utilizado por grande parte dos laboratórios clínicos nacionais que comumente contratam empresas para realização de serviços tanto atrelados à sua atividade fim, porém mais complexos, quanto complementares à sua atividade como limpeza, segurança e portaria. “A terceirização permite a rápida tomada de decisão sem custos adicionais relativos à demissão e a transformação de um custo que antes era fixo, em variável”, explicou.