Artigo
assinado por Carlos Figueredo*
Os anos pandêmicos foram desafiadores para a saúde e para a
medicina diagnóstica. Como sabemos, houve uma queda brusca no número de
realização de exames e de terapias para o acompanhamento não só da rotina, mas
também de doenças crônicas. Agora, essa demanda está ressurgindo e precisa ser
atendida. E, obviamente o setor de medicina diagnóstica anseia muito por fazer
isso da melhor maneira possível.
No entanto, não é simplesmente voltar ao que era antes. Ampliar o
quadro de colaboradores, comprar mais insumos, aumentar as áreas para melhor
atender aos clientes, como se faria em qualquer aumento de demanda
anteriormente. O cenário é outro. Em
especial pelo aumento de custos. Garantir a sustentabilidade do setor tem se tornado
um desafio.
A pergunta é: a que preço faremos isso? A começar pelo
básico: um frasco de 1 litro de soro,
aumentou sete vezes de 2019 para cá. Já no frasco de 15 ml de contraste, esse
salto foi de 42%. Lembrando que a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), autorizou um
reajuste de 10,89% no preço dos medicamentos em abril. Para
exemplificar, no CURA grupo, tivemos nos últimos três anos um incremento de 30%
nos custos com Mat/Med. E, a situação
tende a piorar. Estamos vivenciando uma escassez tremenda de falta de insumos
no Brasil e esses dois itens fazem parte da lista. Os problemas incluem volume
de produção, inflação elevada que aumenta o custo de transporte e alta do
dólar, em especial por muitos insumos serem importados.
Mas, não foram somente os insumos – o que já não seria
irrelevante. Estamos ainda sob variação
da folha de pagamento, que assim como em muitos setores, é o maior custo da
medicina diagnóstica.
Apesar de valorizarmos muito a nossa força de trabalho, olhando
novamente para os números do CURA grupo, dá para ter uma boa ideia desse
impacto. Em São Paulo, os reajustes por conta dos dissídios coletivos, em 2022,
chegaram a 12%; valor muito próximo ao vivenciado em Pato Branco, no Paraná,
que foi de 11,95% e por Florianópolis e São José, em Santa Catarina, que foi de
11,08%. Já em Chapecó e na capital do Paraná, Curitiba, esse reajuste foi de
7%.
E, as perspectivas não são de que isso retroceda. Com o Projeto de Lei (PL
2564/2020), que está tramitando nas esferas de aprovação e fixa o piso salarial
dos profissionais de enfermagem, a estimativa de aumento dos custos com
medicina diagnóstica é de 9,5%, somente com essa categoria.
Outro fator que tem impactado
muito nesse aumento de custo são os aluguéis dos imóveis, reajustados por IGP-M ou INPC, índices que
tiveram bastantes elevações. Vemos muitas negociações de contratos em
andamento, até para que os reajustes sejam por IPCA. O que também não diminui o
impacto, já que em abril de 2022, o índice acumulado nos últimos 12 meses foi
de 12%. Mais uma vez trazendo para o real, no CURA grupo isso significou um
aumento de 33% nos últimos três anos.
Outros recursos importantíssimos também aumentaram. Despendemos 21% a
mais com energia elétrica; e, também, houve reajustes na água, por conta da
escassez hídrica.
Todas essas oscilações para cima vêm pressionando muito a estrutura
de custos, ainda mais em um cenário político e econômico instável.
Internamente, a eleição presidencial emerge como um agravante. Já externamente,
a Guerra impacta, por exemplo, na cadeia de produção e provoca aumento nos
custos de logística e transporte.
Para apimentar ainda mais essa reflexão, é preciso lembrar, que
todos esses reajustes que vivenciamos não foram repassados para os pacientes,
apesar de os planos de saúde terem sido reajustados em cerca de 15%, em 2022.
Ou seja, como dizemos no dia a dia: não está fácil para ninguém:
nem para os consumidores e muito menos para os prestadores de serviços, que
estão pagando a conta da saúde suplementar em sua totalidade. Afinal, as operadoras não estão na maioria
das vezes repassando esse percentual desse reajuste para os prestadores e,
mesmo quando fazem pressionam para que a faixa de incremento na remuneração
seja de 4% a 5%.
Em suma, esses números começam a colocar de fato em dúvida sobre
até quando conseguiremos manter a sustentabilidade dos nossos negócios e do setor
de medicina diagnóstica. Nesse momento, entramos em um alerta vermelho e alguns
modelos devem ser repensados. É hora mais do que nunca de debates entre o
setor, com o governo, operadoras para que todos juntos possam encontrar um
caminho mais sustentável. E isso, sem dúvida depende do diálogo e da união de
esforços. Caso contrário, temo que não conseguiremos segurar por muito tempo
essa situação.
*Carlos
Figueredo é CEO do Cura grupo