LGPD, desafio populacional e tecnologias foram temas abordados por representantes do setor de radiologia durante congresso
A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) participou do 51º Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR22), que aconteceu de 1º a 3 de setembro, em Florianópolis, SC. Além de estar presente com um estande institucional, a entidade promoveu, no último dia do evento, o painel “Tendências do Mercado de Saúde”, que fez parte da programação do I Simpósio de Qualidade e Gestão de Clínicas do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
Participaram do debate Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed e presidente da Clínica Imagem; Valdair Francisco Muglia, presidente do CBR; Marcos Queiroz, diretor suplente do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein; e Marcelo Rodrigues de Abreu, diretor do SIR – Serviço Integrado de Radiologia. A moderação foi de Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, e de Luiz Ronan Souza, diretor do CBR.
Paes Junior iniciou com um panorama da saúde no Brasil, mostrando que estamos passando pelo fim do bônus demográfico, ou seja, até 2020 a população dependente era menor do que a ativa, período que proporciona ao país crescer, gerar riqueza e estruturar os serviços de saúde e a previdência, já que mais pessoas no mercado de trabalho geram mais tributos para financiar tanto o SUS quanto a saúde suplementar. “Agora, a população dependente está voltando a crescer, especialmente devido ao aumento da idade média, e o mercado não tem indicado tendência de conseguir absorver essa população com mais idade”, expôs.
Segundo Paes Junior, o grande problema da saúde brasileira é a despesa per capta em dólar por poder de qualidade de compra. O valor é muito baixo comparado com os investimentos em saúde. “Se quisermos ser um país desenvolvido, precisamos aumentar o investimento e a participação no PIB para 16%, que hoje é de 9,6%. É importante contar com esforços públicos e privados para estimular esse movimento”, disse, acrescentando que o mercado de saúde é favorável em termos de fluxo de capital, o que é uma tendência para seu crescimento e desenvolvimento.
Os principais desafios enfrentados no setor hoje no Brasil são: envelhecimento da população, aumento dos custos acima da inflação, regulação complexa e judicialização, fatores que levam ao aumento da taxa de sinistralidade e a uma menor rentabilidade do negócio, por isso é fundamental pensar em soluções para mitigar esses problemas. “Embora tenhamos muitos desafios, o setor da saúde tem as maiores possibilidades de ser protagonista dentro da economia”, disse Paes Junior.
Uma das soluções para vencer esses desafios é usar a tecnologia, que pode ser dividida em três grupos: saúde digital (realidade virtual, robótica, telemedicina e wearables), saúde de precisão (com grande destaque para a biologia molecular) e big data & analytics (machine learning, inteligência artificial e blockchain). A adoção dessas ferramentas conduz à melhoria da performance do sistema.
Por sua vez, Milva salientou a questão da geração de dados de saúde fora dos hospitais e centros médicos, por meio de aplicativos e softwares que monitoram o indivíduo o tempo todo. “Na última pesquisa com associados da Abramed, dois itens chamaram a atenção: aumento expressivo no número de aplicativos utilizados pelos pacientes e aumento dos softwares de gerenciamento. Qual é o impacto dessa tecnologia e da inteligência artificial tanto na jornada do paciente quanto para o prestador de serviço?”, questionou.
Queiroz vê com bons olhos esse movimento, pois as pessoas estão se colocando como protagonistas do seu cuidado à saúde, fazendo o próprio gerenciamento. “Elas estão se sentindo mais empoderadas, sem esperar que um terceiro faça isso por elas. Na pandemia, inclusive, o número de usuários de planos de saúde aumentou, o inverso do que se esperava”, comentou.
Já Abreu lembrou que o desperdício de dinheiro é o principal problema da saúde mundial e, portanto, a coleta de dados tem grande benefício financeiro ao colaborar para a prevenção de doenças, evitando gastos com tratamentos para casos já avançados. “Os planos de saúde estão de olho nos aplicativos e bancos de dados, pois querem reduzir os custos de qualquer forma. Nós que somos médicos, sabemos que há muito desperdício no setor, com cirurgias e exames desnecessários, mas é preciso tomar cuidado com o vazamento de dados”, disse.
Neste tópico, entrou em discussão a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), cujo objetivo é proteger a sociedade, como ressaltou Muglia. “Pode ser que uma operadora de saúde tenha acesso a um dado que indique histórico familiar de câncer, negando o acesso do indivíduo como beneficiário. Ou seja, o big data pode ser usado para o bem ou para o mal, por isso, é necessária a regulamentação. Para isso, é importante a união de entidades que tenham afinidades, pois o mercado é bastante competitivo”, ressaltou.
A preocupação com o vazamento de dados é importante, mas os benefícios com a disponibilização dessas informações precisam ser considerados. Segundo foi apresentado no painel, vale a pena o risco de acordo com o benefício oferecido, a exemplo do que acontece no setor bancário com relação ao capital das pessoas e à confiança depositada nas administradoras. As empresas da cadeia de saúde terão de mostrar claramente como a sociedade poderá ser beneficiada ao ceder seus dados, já que eles podem ajudar na melhoria de políticas públicas, além de colaborar para a redução de reajuste no caso de planos coletivos empresariais, ao permitir a gestão mais adequada da demanda. Como mostrou o debate, a LGPD precisa de revisão e reajuste, mas o caminho está sendo traçado.
Milva lembrou que é fundamental ter em mente quem é o proprietário do dado: o paciente. “As operadoras de planos de saúde são as mais interessadas no gerenciamento dos dados, pois isso permite a redução da sinistralidade, bem como aplicar o recurso certo no local certo. Ao mesmo tempo, vemos por parte delas uma posição de proprietária do dado, o que não é verdade. Os profissionais, quando geram esses dados dentro de suas entidades, precisam ter isso claro”, apontou.
A diretora-executiva da Abramed salientou que a LGPD veio para normatizar esse setor, sob regulamentação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). “Mas ela não é especialista em saúde, cabe a nós, que atuamos na área, orientar a entidade sobre as peculiaridades do setor.”
Em relação ao uso da inteligência artificial, ficou bem claro que ela não vai substituir o profissional de saúde. De acordo com as discussões no painel, o papel do profissional na prevenção de doenças vai ser cada vez maior, com o diferencial de ser baseado em dados bem estruturados e bem coletados.
Outro assunto colocado em pauta foi a redução de exames de imagem, em razão da pandemia. A tendência, agora, é de crescimento, motivado tanto por exames represados quanto pelo aumento da preocupação das pessoas com a própria saúde. Ainda, a relação entre número de empregos formais e a quantidade de vidas no plano de saúde influencia na quantidade de exames na saúde suplementar. No SUS, há outras questões; apesar da sobreoferta de alguns exames, existem aqueles que estão muito aquém da necessidade. Nesse ponto, convém criar estratégias que favoreçam o crescimento da oferta de exames de imagem dentro do sistema público.