Estratégias de cuidado ambiental promovem mais sustentabilidade no sistema de saúde

Estratégias de cuidado ambiental promovem mais sustentabilidade no sistema de saúde

Em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, a Abramed traz a perspectiva da medicina diagnóstica na pauta ESG; descarte correto de materiais e diminuição de CO2 devem estar na rotina dos laboratórios 

A pauta ESG (governança ambiental, social e corporativa) já é uma realidade no mercado. Todas as áreas estão atentas aos parâmetros exigidos na execução de suas tarefas. Pensando nos impactos que as empresas podem causar, a Abramed também insere a questão nos debates entre seus associados. No setor de Saúde, ainda que seja um movimento mais recente, há uma preocupação com a atuação responsável na comunidade onde atuam e no planeta como um todo, afinal, a questão interfere diretamente na promoção do cuidado.

Estabelecimentos como hospitais e laboratórios geram diferentes tipos de resíduos, com potenciais riscos à natureza e à saúde pública. “Alguns exemplos são os resíduos infectantes, químicos e rejeitos radioativos, além dos especiais, como filmes de raios-x, reveladores e fixadores, lâmpadas fluorescentes e óleo diesel”, explica Daniel Marques Périgo, gerente sênior de ESG do Grupo Fleury e líder do Comitê ESG da Abramed.

Segundo dados do governo federal, diariamente são produzidas mais de 9 mil toneladas de carga orgânica no país, e em torno de 5 mil toneladas chegam aos rios e reservatórios mesmo após o tratamento dos esgotos. Vale destacar que 100 milhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico e para 35 milhões falta água potável. Daí a importância da gestão dos materiais, como os utilizados nas salas de coleta, e dos resíduos, como os tubos pós-processamento, no caso da medicina diagnóstica.

Rejeitos radioativos, como radiofármacos, e outros tipos de resíduos, devem ser separados no momento da geração, descartados nos coletores adequados e identificados conforme seu tipo, transportados e armazenados em segurança. “No entanto, os processos devem considerar desde o início a coleta seletiva e a reciclagem dos materiais sem risco, que podem retornar ao processo produtivo”, comenta Périgo. Além de evitar a contaminação das pessoas, o descarte correto evita enchentes, a acumulação de lixo e a disseminação de vetores e outros animais.

No que se refere à poluição do ar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar poluído, o que contribui para o aumento das taxas de derrames, doenças cardíacas, câncer de pulmão e outras doenças respiratórias. Outro dado alarmante: 7 milhões de mortes prematuras são provocadas todos os anos pela poluição do ar, sobretudo nos países de baixo e médio rendimentos.

Como promover ações de governança climática

Périgo destaca que tudo começa com a mensuração dos gases causadores do efeito estufa gerados pelo laboratório. “É preciso identificar as fontes de geração e os gases gerados, permitindo a priorização e a adoção de ações de maior ganho”. O segundo passo é a definição de metas de redução, em relação ao total de emissões de CO2, ou a alguma fonte ou escopo específico de geração (escopo 1 – emissões diretas; escopo 2 – emissões indiretas do consumo de energia; escopo 3 – emissões indiretas).

O líder do Comitê de ESG da Abramed reforça a importância da elaboração de um plano que envolva a adoção de uma série de medidas, como a substituição de equipamentos de refrigeração (geladeiras, ar-condicionado) por equipamentos que utilizam gás ecológico; as ações de redução do consumo de energia ou de substituição da matriz energética por alternativas mais sustentáveis (biomassa, solar, eólica); racionalização do uso de anestésicos como óxido nitroso; redução da geração de resíduos; redução de viagens corporativas; otimização de rotas logísticas de entrega de amostras e insumos; adoção de frotas de veículos elétricos ou na categoria flex; estímulo à carona solidária, entre outras possíveis ações, que vão contribuir para a redução das diferentes emissões da empresa. Segundo estudos da Health Care Without Harm (HCWH), o setor Saúde contribui com 5% de emissões de gases carbônicos.

Tecnologias de produção mais limpa, métodos de economia circular, e outras, contribuem para a redução da pegada ecológica de produtos e serviços. O próximo painel de indicadores Abramed trará um capítulo de informações ESG, incluindo as relacionadas às questões ambientais.

A adoção de práticas de proteção ambiental muitas vezes obedece a leis municipais, estaduais e federais. A regulamentação mais conhecida em escala nacional para resíduos de saúde é a RDC 222/2018, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que define regras para o seu gerenciamento. Enquanto isso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), fixados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como meta até 2030, incluem reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades. Os esforços de regulação em relação às emissões são resultado da observação de que metade da população urbana está exposta a níveis de poluição do ar exterior pelo menos 2,5 vezes acima do padrão de segurança estabelecido pela OMS.

Se continuarmos produzindo da mesma forma, sem responsabilidade, diz a HCWH, 70 milhões de pessoas vão morrer por causa do estresse climático até o final do século, e o setor pode salvar pelo menos metade delas. O adoecimento por fatores climáticos afeta todo o sistema, com ocorrências de saúde fora da sazonalidade ou situações emergenciais, como no caso de eventos climáticos extremos, ou aumento da demanda, por exemplo, de pessoas com problemas respiratórios. Por isso, agir de forma proativa e preventiva e reduzir o impacto ambiental é a mudança de atitude que se espera. “Isso pode ser melhorado pela adoção de mudanças em infraestrutura, equipamentos com maior eficiência energética e consumo de água reduzido, digitalização e melhorias em processos e campanhas educacionais”, comenta Périgo.

Ele ainda faz um alerta para a formação dos profissionais. “Nas faculdades, geralmente não temos matérias sobre mudanças climáticas e saúde. Se não aprendemos isso na formação, não entendemos a realidade. Como podemos ser multiplicadores?”, questionou. “A crise climática não é algo do futuro, é cada vez mais frequente.”

Périgo lembra que as medidas contribuem, inclusive, para a melhoria dos indicadores financeiros dos estabelecimentos, como o EBITDA (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, em português). “Empresas com melhor situação financeira, por sua vez, contribuem para o fortalecimento do setor como um todo, e isso traz benefícios para os pacientes, uma vez que os recursos economizados podem ser aplicados na melhoria dos processos assistenciais.”

É importante, ainda, destacar que o uso racional dos serviços como exames, procedimentos e terapias contribui para a sustentabilidade econômica como um todo, favorecendo diagnósticos mais ágeis e assertivos para o paciente. “Por isso, ações desenvolvidas de modo coletivo, envolvendo parcerias entre os atores da cadeia de saúde, podem ter resultados ainda mais expressivos”, finaliza.

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