Palestrante confirmado para o FILIS 2023, o diretor do D.Hip e embaixador do Medical Valley falará sobre gêmeos digitais e estará disponível para parcerias
Um dos principais clusters nas áreas de engenharia biomédica e saúde digital do mundo quer estreitar relações com o Brasil. Tobias Zobel, diretor do Digital Health Innovation Platform (D.Hip) e embaixador do Medical Valley, estará no país como palestrante do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), que será realizado pela Abramed no dia 31 de agosto, em São Paulo.
Formado por mais de 500 empresas parceiras, o Medical Valley é um top cluster de saúde focado em inovação e colaboração, localizado em Erlangen, Alemanha. “Um cluster não é só um líder; nós também oferecemos serviços, como treinamento e educação, para capacitar nossos parceiros a melhor se posicionarem no mercado e aprimorarem suas habilidades inovadoras”, conta Zobel.
O Medical Valley é um modelo de sucesso, contando com uma ampla infraestrutura que inclui diversos hospitais, institutos de pesquisa e universidades. Essa colaboração é vital para impulsionar a inovação tanto na indústria quanto nos hospitais. O cluster não apenas busca o desenvolvimento tecnológico, mas também contribui para moldar políticas públicas, fazendo recomendações ao governo alemão que possam facilitar diagnósticos e terapias avançadas. “Para nossos parceiros, criamos modelos de business de acordo com as novas leis”, conta.
Além da Alemanha, o Medical Valley tem forte presença na China e nos Estados Unidos. No entanto, as mudanças nas leis e no cenário de desenvolvimento de produtos durante a pandemia levaram o cluster a enfocar parcerias dentro da Europa, com Suíça, Espanha, Portugal, Dinamarca e Itália. “A parceria com o Brasil é uma grande oportunidade para nós também”, disse.
Falando em Brasil, Zobel admite que os últimos dois anos foram desafiadores devido à pandemia. No entanto, ele expressa otimismo quanto ao futuro: “Estamos ansiosos para retomar nossas parcerias e colaborações no país. Nosso objetivo não é apenas promover intercâmbio científico, através de workshops, mas também garantir que as empresas alemãs do Medical Valley se beneficiem dessas relações, assim como as brasileiras, permitindo acesso a ambos os mercados”.
Zobel destaca parcerias já em andamento com instituições brasileiras, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Hospital das Clínicas de São Paulo, para desenvolver novos algoritmos na área de imagens e tratamento de dados. Além disso, está iniciando uma aproximação com a Abramed, para colaboração entre os mercados e compartilhamento de tecnologias.
Sua agenda para o Brasil, durante a estada para o FILIS, consiste em visitas a hospitais, empresas e universidades. “Estou aberto a explorar novas oportunidades, tanto na Europa quanto no Brasil. Se há interesse em colaborar e inovar, estou disposto a discutir como podemos unir forças.”
Algo importante na colaboração entre o Brasil e a Alemanha é atender às rigorosas normas éticas de proteção de dados na Alemanha, o que permite a implantação da solução em qualquer lugar do mundo. “Esse intercâmbio promove um diálogo transcultural rico, que é fundamental para a inovação e soluções médicas eficazes em escala global”, expõe Zobel.
Gêmeo Digital
Em se tratando de novas tecnologias no setor de saúde, Zobel conta que o Instituto D.Hip tem se concentrado na pesquisa e no desenvolvimento de um gêmeo digital de saúde, tema que também será abordado por ele no FILIS.
Um gêmeo digital é uma representação em tempo real de um paciente específico, incorporando informações médicas, histórico de tratamentos, exames, dados genéticos, estilo de vida e muito mais. Isso permite que os profissionais de saúde tenham uma visão abrangente do estado de saúde do paciente e possam tomar decisões informadas.
Além disso, os gêmeos digitais podem ser usados para simular cenários e procedimentos, permitindo que os médicos testem diferentes abordagens antes de realizar uma intervenção real em um paciente. Isso pode ser útil em situações complexas e de alto risco.
“Criamos um centro de dados clínicos interno em nosso hospital, mantendo assim todas as informações dentro da instituição. Não removemos nenhum dado do hospital, mas integramos os algoritmos para aprimorar a inteligência artificial. Diversos países são relevantes para esses estudos, cada qual com suas particularidades, e também para o constante refinamento dos algoritmos”, explica Zobel.
Há alguns anos, o foco era na obtenção massiva de dados, contudo os pesquisadores perceberam que a qualidade deles e a consistência das fontes são essenciais. A grande quantidade é refinada em fragmentos relevantes para treinar algoritmos. Hoje, o interesse mudou para projetos exploratórios prospectivos, em que pacientes consentem em compartilhar diversos dados, complementando o conhecimento clínico. Isso leva ao aprimoramento do sistema de suporte clínico.
No âmbito da colaboração entre governo, hospitais e indústria, é crucial haver diálogo transparente. O governo pode não compreender totalmente o desenvolvimento desses produtos de dados, então a informação técnica deve ser compartilhada. Questões éticas, como a proteção de dados e a reidentificação de pacientes, são relevantes.
“Devemos avaliar os riscos em relação aos benefícios, ponderando preocupações legítimas dos pacientes com os resultados positivos para muitas vidas. O desafio é equilibrar esses aspectos ao influenciar regulamentações de proteção de dados eficazes e abrangentes. Isso assegurará uma abordagem equitativa que considere várias perspectivas”, conta Zobel.
Experiência do paciente
Sobre o impacto das tecnologias na experiência dos pacientes, Zobel explica usando o exemplo do gêmeo digital, que possibilita às pessoas ter as informações de sua saúde nas mãos, no próprio celular. Para pacientes com doenças crônicas ou em grupos de risco, por exemplo, isso é especialmente útil.
As pessoas podem ver de que modo suas ações, como exercício e alimentação saudável, impactam diretamente os parâmetros vitais. Isso não apenas educa o paciente, mas também constrói confiança no próprio comportamento e na assistência médica.
Essa abordagem, chamada de “Behavioral Health Care” (Cuidados de Saúde Comportamentais), permite personalizar as recomendações com base nos dados individuais do paciente, ajudando-o a entender seus sintomas e ações específicas necessárias. Isso funciona tanto para pacientes já diagnosticados como para pessoas em busca de prevenção.
Zobel ressalta que essa tecnologia não substitui o papel do médico, mas fornece uma nova opção de melhoria, sugestão e apoio baseados em estatísticas. Os algoritmos permitem uma visão holística e ajudam a encontrar conexões entre sintomas e condições, mas a decisão final continua sendo tomada pelos médicos. “Portanto, embora a inteligência artificial possa ser uma ferramenta poderosa, não substituirá o médico no processo de tomada de decisão clínica”, salienta.
Além da palestra, Zobel também participará do debate “Avanços e efetividade para a Gestão da Saúde”, junto a outros líderes do setor. O FILIS objetiva promover a troca de experiências e a geração de parcerias entre líderes da área, enfocando a gestão e a tecnologia como instrumentos para a melhoria dos cuidados de saúde. Faça já sua inscrição neste link.