Valor da Medicina Diagnóstica para Integração da Saúde foi tema do primeiro debate do FILIS 2023

Valor da Medicina Diagnóstica para Integração da Saúde foi tema do primeiro debate do FILIS 2023

Precisão diagnóstica e redução dos custos provocados pela repetição de exames esbarram em gerenciamento de dados de beneficiários, desde sua coleta, padronização e compartilhamento. Especialistas debateram como então entregar serviço de valor ao paciente

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias, eventualmente disponibilizadas facilmente, inclusive ao público não médico, o mercado de saúde passa por mudanças. Ainda que essas soluções tecnológicas estejam ao “alcance das mãos” – como se costuma dizer atualmente – elas são consideradas investimento alto, mas essenciais para entregar diagnósticos e tratamentos de valor aos pacientes. 

Como solucionar essa equação por meio da integração, aumentando geração de valor ao beneficiário, considerando que a medicina diagnóstica é peça fundamental no conceito de saúde baseada em valor? O questionamento pautou o primeiro debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo.

Foram convidados para o debate o Professor Alberto Duarte, Pesquisador e Diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP; Ademar Paes Jr., Presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), membro do Conselho de Administração da Abramed e Sócio da Clínica Imagem; Cesar Nomura, Presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), vice-presidente da Abramed e Superintendente de Medicina Diagnóstica no Hospital Sírio-Libanês; Clóvis Klok, Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP); e moderando o Carlos Figueiredo, CEO do Cura Grupo e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo o CEO do Grupo Cura, o autor Michael Porter apresentou a equação que indica que valor em saúde é igual a qualidade sobre custo, porém há quem acrescente que “qualidade sobre custo deve ser multiplicado por pertinência (onde se enquadra a questão de desperdício). Não adianta ter qualidade ou baixo custo se não houver pertinência, pois se for zero, ao se multiplicar por zero o resultado é nulo. O interessante é entender a qualidade a partir do desfecho para o paciente, que a qualidade tem que ser medida a partir do que o paciente recebe e é resolutivo na vida dele”, afirmou.

Essa resolutividade pode ser alcançada, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), caso o profissional de saúde pense que o diagnóstico seja de um familiar; situação semelhante pela qual recentemente passou Cesar Higa Nomura, após ficar 11 dias internado. 

“Foi a primeira vez que como médico fiquei nessa posição de paciente grave”, revelou Nomura ao fazer um relato pessoal que no primeiro momento sob suspeita de ser um AVC foi submetido a uma tomografia que precisava ser realizada rapidamente utilizando um equipamento adquirido há quatro anos pelo hospital onde atua – “aparelho que realiza o exame em aproximadamente um segundo”. Ele explicou que essa máquina custa 60% mais do que uma máquina habitual, mas que a operadora vai pagar o mesmo valor do exame independentemente de qual equipamento será utilizado.  

Nomura pondera que a rapidez do equipamento em identificar que não era um AVC, um exame sem necessidade de anestesia, teve um valor importante: “Não é valor financeiro. No equipamento há um software de inteligência artificial que identifica se é ou não um AVC, isso não é cobrado, pois acreditamos que precisamos entregar isso de valor”.  Com o resultado de que não se tratava de um acidente vascular cerebral, foi iniciado tratamento para encefalite, sendo necessária uma ressonância.

“Aquele tubo é claustrofóbico. Para um paciente que não pode ser sedado, um exame rápido com acurácia, é importante ao diagnóstico. Nesse equipamento, embarcamos um algoritmo de inteligência artificial – que mais uma vez não será coberto – mas que acelera o exame em quase 60%. Tudo isso resulta na relevância de um diagnóstico bem colocado”, explica Nomura.

Mas se por um lado são fundamentais exames considerados caros, por outro há desperdício de valores com pedidos de exames desnecessários em quantidade. “Nós temos hoje uma medicina que se tornou banalizada! Nossos médicos formados terão dificuldades de diagnósticos. Vão pedir o que puderem para não serem chamados de negligentes”, afirma o pesquisador e diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP, Alberto Duarte.

Interoperabilidade de sistemas

Um dos atuais desafios da saúde é entregar aos pacientes, hospitais e médicos a tão desejada “qualidade”, que não pode ser obtida se não com interoperabilidade de sistemas, segundo Duarte. O pesquisador sugere uma solução que fosse portável para e por qualquer empresa, no modelo de nuvem computacional, armazenando informações. Isso evitaria repetição de exames e certamente resultaria em economia. “Temos que inovar no processo, criar robôs que facilitem análise e diagnóstico e pedir só exames que são necessários”, conclui.

Há, entretanto, segundo o presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, Ademar Paes Jr., alguns desafios, como a realização de um diagnóstico quanto à maturidade de cada uma das empresas, clínicas e hospitais em relação em construir métricas e dados relacionados à sua operação. E existem vários níveis de maturidade em relação a isso.

“Às vezes é difícil explicar desfecho favorável se não tiver isso adequadamente registrado”, explica Paes Júnior ao lembrar que esse registro impacta a execução de exames e tratamento e a prescrição. “Computação sempre foi input, processamento e output. Input por si não gera valor sozinho, não adianta guardar terabytes de dados. O que gera valor é o output e como se transforma isso em valor dentro das empresas”. 

Um exemplo desse output e transformação de dados em valor é que em Santa Catarina a ACM realiza levantamento estadual de fatores de risco populacional em cada região, então se identifica população diabética, de obesos, de consumo de alimentos, população de hipertensos, tabagismo e sedentarismo. “Onde há mais sedentários, faltam aparelhos de atividade, como praças. Esses dados são compartilhados com operadoras e governo. Isso é uma atividade simples”.

Para Nomura, porém, é necessário considerar um desafio característico da tecnologia: descentralização. “Nós em saúde tínhamos o monopólio de geração de dados, um paciente tinha que ir ao laboratório ou hospital e gerar lá o dado. A cada semana surgem novas tecnologias descentralizando essa geração de informações. Isso não vai parar”, compara e sentencia que estratégias para centralizar informações podem funcionar em determinados nichos, mas que globalmente não acontecerá, e que a real centralização deve ser no paciente. 

“Sempre fui um otimista e depois de alguns dias na UTI fiquei mais ainda”, afirma Nomura. “Olho para o futuro, com planejamento a médio e longo prazo, com as discussões e a proximidade entre instituições e governo percebida aqui no evento. E não esquecer em nossas empresas que valor em saúde não pode ser da boca para fora”, complementa.

Para Paes Júnior, embora ninguém tenha certeza dos caminhos para resolutividade dos problemas, que são muitos, é certo que “sozinho, ninguém vai resolver absolutamente nada”. “A solução está dentro das nossas instituições”, concluiu Klok.

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