Perspectivas na saúde populacional brasileira: uma abordagem multifacetada

Perspectivas na saúde populacional brasileira: uma abordagem multifacetada

É fundamental considerar não apenas aspectos clínicos, mas também sociais, econômicos e tecnológicos

15 de março de 2024 – A saúde populacional é essencial na promoção do bem-estar e da equidade, na redução de custos em saúde, na resposta a emergências de saúde pública e no apoio ao desenvolvimento sustentável. Compreender e abordar seus desafios no Brasil requer uma visão integral e coordenada, considerando não apenas aspectos clínicos, mas também sociais, econômicos e tecnológicos. 

Segundo Paula Campoy, presidente na Aliança para a Saúde Populacional (ASAP), os principais desafios incluem alta incidência de doenças transmissíveis e crônicas, distribuição desigual de recursos e serviços de saúde, bem como questões socioeconômicas. “Além disso, o sistema de saúde é muitas vezes focado no tratamento em vez da prevenção, o que acarreta custos elevados e menos eficiência”, destaca.

Para mudar esse cenário, é preciso um movimento que aborde não apenas os sintomas desses desafios, mas também suas causas fundamentais. Isso inclui investir em educação para a saúde, iniciativas de prevenção e campanhas de conscientização que possam mudar comportamentos de risco e promover estilos de vida saudáveis. “Paralelamente, é necessário fortalecer o sistema de atenção primária, tornando-o mais acessível e integrado com as comunidades que serve. Isso pode ser alcançado através do aumento do financiamento para a saúde pública e da adoção de tecnologias que melhorem a eficiência e a coordenação do atendimento”, conta.

Na saúde populacional, a medicina diagnóstica é um pilar central, pois fornece a base para a maioria das decisões clínicas. Seu papel é detectar doenças precocemente, orientar tratamentos, monitorar a progressão das doenças e avaliar a eficácia das intervenções. Em um país como o Brasil, com grandes disparidades regionais e diferentes perfis de doenças, sua função é ainda mais crítica.

“No atual contexto, enfrentamos a necessidade de equilibrar a alta demanda por serviços de diagnóstico com os custos operacionais e a necessidade de manter a qualidade e a precisão dos resultados. Há, ainda, o desafio da distribuição desigual de serviços de diagnóstico, com áreas rurais e comunidades menos desenvolvidas muitas vezes desassistidas”, aponta Paula.

Inteligência artificial e interoperabilidade

Uma forma de superar esses obstáculos é utilizar a tecnologia, e a inteligência artificial (IA) é um ótimo exemplo, ao possibilitar a coleta e a análise eficiente de grandes volumes de dados. Essa ferramenta identifica padrões imperceptíveis aos métodos convencionais, sendo imprescindível para prever surtos de doenças, entender epidemias e personalizar a medicina com base em dados genéticos e clínicos.

Avanços em dispositivos vestíveis e sensores remotos permitem monitoramento contínuo da saúde em tempo real, enquanto a IA melhora a precisão diagnóstica ao interpretar imagens médicas. Seus benefícios incluem otimização do fluxo de trabalho em saúde, eficiência operacional, redução de custos e, mais importante, melhoria nos resultados de saúde. 

“Ampliar o uso de IA na saúde populacional pode oferecer melhor acesso a diagnósticos e tratamentos de qualidade para populações desatendidas, além de melhorar a resposta a emergências de saúde pública, como demonstrado durante a pandemia de covid-19”, salienta Paula.

Vale destacar que a interoperabilidade de sistemas e o compartilhamento de dados são peças-chave na saúde populacional ao permitir a integração de informações entre diferentes níveis e serviços de atendimento, possibilitando uma visão abrangente da saúde do indivíduo e da população em geral.

Com sistemas que se comunicam eficientemente, é possível acompanhar a jornada do paciente, melhorar o manejo de doenças crônicas, otimizar a alocação de recursos e fortalecer estratégias de prevenção e promoção de saúde. Além disso, a interoperabilidade facilita estudos epidemiológicos e a vigilância em saúde, essenciais para decisões baseadas em evidências.

Inspiração nas melhores práticas

Há várias práticas de gestão de saúde populacional no mundo que poderiam ser adaptadas e adotadas no Brasil. Por exemplo, na Dinamarca e no Reino Unido, são usados sistemas de atenção primária robustos. “Eles servem como o primeiro ponto de contato, coordenando o cuidado e mantendo registros abrangentes que são compartilhados dentro do sistema de saúde. Este modelo facilita a prevenção e o manejo precoce de condições crônicas, e poderia ser adaptado no Brasil para fortalecer nossa atenção primária”, explica Paula.

Outra prática para inspiração e análise é o uso de sistemas de saúde digitais integrados, como na Estônia, onde a digitalização de registros de saúde permitiu o acesso em tempo real a informações médicas por profissionais de saúde e pacientes, melhorando a coordenação e a qualidade do cuidado. 

Na Holanda, há um enfoque significativo na governança participativa, onde pacientes e cidadãos têm voz ativa nas decisões sobre a saúde populacional. Já no Canadá, a abordagem para a saúde mental é integrada e acessível, com programas que vão desde a prevenção até o tratamento especializado e suporte comunitário. 

“É fundamental entender que, para cada prática bem-sucedida internacionalmente, é necessário adaptá-la ao contexto cultural, econômico e político do Brasil, garantindo que as soluções sejam sustentáveis e efetivas a longo prazo”, diz Paula.

Custos e valor em saúde

Os custos na gestão de saúde têm um papel duplo: são um indicativo de eficiência e uma barreira potencial ao acesso. No contexto atual, com recursos limitados e demanda crescente por serviços de saúde, é necessário gerir custos de forma estratégica para maximizar o valor para os pacientes.

Uma abordagem eficaz envolve investir em intervenções comprovadamente eficazes, como a prevenção de doenças e a promoção da atenção primária, o que pode reduzir a necessidade de tratamentos mais dispendiosos no futuro. Além disso, é importante adotar modelos de pagamento baseados em valor, que recompensem a qualidade dos cuidados e desincentivem intervenções desnecessárias.

Por fim, vale ressaltar que a colaboração entre profissionais de saúde, governo e entidades é indispensável para o avanço da saúde populacional. As parcerias público-privadas estão ganhando destaque, unindo conhecimento técnico, inovação e eficiência. Por sua vez, os profissionais de saúde podem ajudar na formulação de políticas públicas baseadas em evidências, especialmente em campanhas de vacinação e prevenção.

“Além disso, a colaboração em pesquisa e desenvolvimento é essencial, assim como o intercâmbio de informações entre os setores. Também é importante investir na capacitação e educação continuada dos profissionais de saúde para enfrentar os desafios emergentes”, encerra a presidente da ASAP.

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