Wilson Shcolnik fala sobre os desafios da medicina diagnóstica para a sustentabilidade do sistema de saúde privada

Apresentação ocorreu durante primeiro dia do 22º Congresso Internacional Unidas, em Atibaia (SP)

25 de Outubro de 2019

A sustentabilidade do sistema de saúde privada no Brasil foi o tema do primeiro painel do 22º Congresso Internacional Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde) – A Importância das Autogestões na Transformação do Setor de Saúde do Brasil, evento que ocorreu em 24 de outubro, no Hotel Bourbon, Atibaia (SP), e contou com a participação do presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik. Em sua apresentação ele falou sobre os desafios no contexto da medicina diagnóstica, que estão relacionados à incorporação do que tem valor no sistema; ao monitoramento do desempenho das empresas; à contenção de desperdícios; à saúde digital; às novas formas de remuneração; e as questões éticas. 

“Os impactos na subutilização são enormes, mas o compartilhamento de informações no sistema fragmentado que temos hoje precisa ser superado, e isso só acontecerá com a interoperabilidade”, disse Shcolnik. O presidente falou também sobre os modelos de remuneração diferentes do fee for service – cujo pagamento é feito por procedimento – e sobre a medicina especializada: “A medicina personalizada é a realidade, e precisamos lidar com essa integração de dados para oferecer uma racionalidade no cuidado médico focado em cada pessoa”. 

Em seguida foi a vez do presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), Leandro Fonseca da Silva, falar sobre a sustentabilidade do mercado de saúde suplementar. “O mercado cresceu 50% desde o início da regulação, ou marco regulatório. Nesse mesmo período, a população brasileira cresceu 20%. Ou seja, tivemos uma inclusão real no sistema de saúde suplementar”, acrescentou. 

Ele também comentou sobre a necessidade de integração entre o setor público e o privado. “Claro que o modelo que nos trouxe até aqui não é o mesmo que vai nos levar para o futuro, porque estamos tendo uma grande evolução tecnológica. Temos que pensar como um sistema único, sobretudo como integrar esses sistemas para que a população tenha uma saúde melhor.”

“Não temos um cuidado com o resultado. A saúde hoje está fragmentada, e isso é reforçado pelo fee for service. A ANS quer que a operadora faça gestão de saúde populacional”, completa Leandro Fonseca. 

Para finalizar, Bruno Toldo, médico e diretor médico da unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também abordou os desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde privado no Brasil, o cenário da saúde suplementar e os altos custos do sistema. 

O presidente da Unidas, Anderson Mandes, conta que essa edição do evento teve o maior número de filiadas e participantes de todos os congressos da entidade, bem como falou sobre o futuro: “Revimos as crenças e os valores que permeiam a nossa instituição e construímos um planejamento estratégico que vai criar uma entidade mais forte. Compartilhamento e colaboração farão parte da Unidas do futuro”, finaliza.

Mayana Zatz recebe Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Homenagem é um reconhecimento da Abramed a profissionais que fomentam o desenvolvimento e a melhoria da saúde no Brasil

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld é um reconhecimento a profissionais que estimulam o desenvolvimento e a melhoria da saúde brasileira, e acontece durante o FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde. A vencedora de 2019 foi a bióloga molecular e geneticistaMayana Zatz, que recebeu a premiação das mãos de Priscilla Franklim Martins, CEO da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Mayana é docente do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências de Universidade de São Paulo e exerceu o cargo de Pró-reitora de Pesquisa da universidade de 2005 a 2009. Realiza pesquisas em genética humana, com pioneirismo no campo de doenças neuromusculares. Atualmente, seu laboratório do genoma humano também realiza relevantes pesquisas no campo de células-tronco.

A homenageada foi a fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular e é Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, além de ter publicado centenas de trabalhos científicos e ganhado inúmeros prêmios nacionais e internacionais.

“Quero agradecer à Abramed ao receber esta homenagem. O Dr. Gastão era uma pessoa fantástica e tive o prazer de conhecê-lo. Nós, geneticistas, sempre temos projetos associados à medicina do futuro, sempre com a preocupação de diminuir os custos”, falou Mayana.

“Para a Abramed, é uma imensa honra resgatar a memória do Dr. Gastão com esta singela homenagem e relembrar com carinho características marcantes do nosso amigo e eterno inspirador”, lembrou Priscilla, ressaltando que alguns dos traços de personalidade do Dr. Gastão servem de parâmetro para que a entidade escolha quem vai receber o prêmio. “Este ano, quatro características foram sobressalentes: perseverança, conhecimento técnico-científico, caráter visionário e, exatamente como o Dr. Gastão, fazer história no mercado diagnóstico”, reforçou a CEO da Abramed.

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld é uma homenagem a este renomado profissional do setor de medicina diagnóstica, que faleceu em março de 2018, após décadas de empenho em tornar o segmento de diagnóstico mais unido.

Primeiro Congresso Nacional de Executivos da Saúde discutiu transformação do sistema de saúde

Evento tratou de como o trabalho colaborativo entre players pode evitar colapso no sistema de saúde

16 de outubro de 2019

“O novo executivo da saúde: lideranças para evitar o colapso” foi tema de debate do Congresso Nacional de Executivos da Saúde (CONEXs). O evento, realizado pelo Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) no dia 15 de outubro, em São Paulo, contou com a presença do presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik; de membros do Conselho, Lídia Abdlala e Claudia Cohn; e da diretora executiva da entidade, Priscilla Franklim Martins.

“Temos aqui mais uma oportunidade de unir integrantes de toda a cadeia da saúde, em prol da discussão de soluções possíveis que possam transformar nosso sistema de saúde e a Abramed não poderia deixar de participar deste momento”, salientou Shcolnik durante o evento.

O aumento das despesas com tratamentos de saúde, os modelos de remuneração, o uso da tecnologia e as divergências, os prós e os contras do Sistema Único de Saúde (SUS) e do setor privado foram alguns dos temas abordados no debate “Colapso, fato ou narrativa”, que teve a participação de Claudia Cohn na discussão. Para ela, que também é conselheira do CBEXs, a forma mais adequada de evitar o colapso e transformar essa narrativa também é “partir para a prática”. “Existem prioridades, e colaboração é o primeiro ponto. Precisamos deixar de olhar cada um para o seu umbigo. O setor caminhou nesse sentido, mas está longe do que precisa”, completando que, além da colaboração, é preciso que haja integração. “A jornada do paciente não é a hora em que ele está no hospital ou no laboratório. É quando ele acorda”, destacando a importância de modelos e processos que tratem de prevenção. “Temos que cuidar da saúde, e não da doença”, explicou.

Junto a ela nesta discussão estiveram o CEO da Amil, Daniel Coudry, o diretor-presidente da Central Nacional da Unimed, Alexandre Ruschi e a professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Lígia Bahia.

Para Coudry, a área da saúde vive um momento de completa reinvenção, focado em empoderamento de pacientes, direitos e deveres. “Olham muito para os direitos e pouco para os deveres. O avanço concreto depende do alinhamento entre os players. É preciso olhar para o coletivo; o direito coletivo tem que prevalecer sobre o individual. Precisamos de um desenvolvimento colaborativo”, defendeu. 

Alinhado a esse discurso, Alexandre Ruschi, afirmou que a evolução da saúde privada precisa sair do campo teórico para o prático. “Não há dúvidas do grande avanço que foi o SUS, mas a sociedade brasileira não soube cobrar e orientar o sistema público de saúde”, lamentando o contingenciamento de recursos públicos que a saúde sofreu nos últimos anos. Crítica do atual modelo assistencial, Lígia Bahia exigiu mais transparência em termos de atuação e em relação a projetos de lei sobre o tema que tramitam no Congresso de maneira secreta. Ela lembrou ainda que há casos de gestão eficiente e ineficiente tanto no SUS quanto nas instituições privadas. “Nós queremos que esse momento seja olhado com responsabilidade. Não adianta dizer que o médico é o corrupto. Existem outras soluções mais inteligentes do que acusar os médicos de conluios”, concluiu.

AUTORIDADES ESTIVERAM PRESENTES NA ABERTURA 

A abertura do Conexs recebeu autoridades da esfera governamental e regulatória. Entre os temas citados na cerimônia e de forma geral abordados ao longo do dia estiveram os desafios para com o envelhecimento da população, financiamento, modelo de gestão e legislação do segmento, além da formação de profissionais da área e da inteligência artificial, com tecnologias para teleatendimento e medicina remota.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leandro Fonseca, destacou a importância de iniciativas que incentivem a troca de ideias em um dos setores mais pujantes da economia. “Somos responsáveis por 9% do PIB e empregamos mais que a construção. A ANS está com a agenda e o diálogo abertos sobre proteção regulatória. Estamos dispostos a ouvir críticas, sugestões e participar do debate. Todo líder deve estar aberto a isso”, pontuou.

“Temos projetos de inteligência artificial pensando em mudar a realidade deste país, mas esse é um desafio de todos nós”, afirmou o secretário de Assistência Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco de Assis Figueiredo, que destacou avanços no aumento de vagas de emergência e na redução de custos dos hospitais que adotaram a metodologia lean de gestão. “Já são 60 hospitais e estamos indo para cem nos próximos meses”, contabilizou. 

Em nível estadual, o secretário de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, destacou mazelas e êxitos da saúde paulista, como o número dos casos de dengue e sarampo entre os problemas e os avanços conquistados no diagnóstico de melanomas por meio do projeto de teledermato desenvolvido em Catanduva, no interior do estado. Germann criticou ainda a divisão de despesas entre as três esferas públicas. “Há distorção, porque o município traz sob sua responsabilidade 30% dos gastos com saúde. A discussão da divisão de gestão municipal, estadual e federal pode trazer evolução para área da saúde”, disse. 

Para ajudar na solução desse e de outros impasses, o deputado federal Pedro Westiphalem (PP-RS), destacou a importância das reformas políticas. “Temos obrigação de superar as ideologias e usar a razão, cumprir a agenda e a pauta econômica. A reforma tributária nos atinge diretamente. É importante que as reformas sejam feitas”, lembrou o deputado, que é ginecologista e cirurgião vascular e representou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM- RJ).

O Conexs contou ainda com as apresentações de nomes interacionais, como do global chairman da KPMG International, Mark Britnell e do presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço.

“Um desafio que enfrentamos diariamente em nosso setor é a oportunidade de diálogo entre todos os players, e um evento como esse, que coloca todo mundo para falar, torna-se um ambiente de fomento à saúde, aos debates e que reúne, oportunamente, os líderes de agora e do futuro”, reforça Priscilla, diretora executiva da Abramed. 

De acordo com o presidente do CBEXs, Francisco Balestrin, o congresso integrou pessoas que compartilham o mesmo propósito, de servir e liderar mudanças em prol de uma saúde melhor. “São homens e mulheres com larga força de serviços prestados ao setor público e empresarial no mundo e no Brasil”.

A saúde do Brasil

*Matéria da Revista Forbes ed 68

Quando alguém faz um exame de sangue, compra um remédio ou é atendido em um hospital, aciona uma das muitas engrenagens que movimentam um setor extremamente complexo e que tem papel fundamental na economia do país.

A saúde privada no Brasil reúne principalmente hospitais e clínicas, serviços de diagnósticos – como laboratórios de análises clínicas e de imagem -, farmácias e fabricantes de medicamentos e de produtos médico-hospitalares. Estes incluem desde luvas descartáveis e aventais até aparelhos de ressonância magnética, reagentes para exames de laboratórios e os equipamentos que processam todos esses exames.

Um dos aspectos que mais preocupam os gestores do universo da saúde é encontrar meios para usar os recursos de modo mais eficiente, reduzindo o desperdício de tempo, esforços e dinheiro. Essa busca tem movimentado grandes grupos e tem servido como mola propulsora para a criação de incontáveis healthtechs – startups focadas em saúde, geralmente apoiadas em inovações tecnológicas. O setor também observa atentamente a movimentação da economia de forma mais ampla. “A saúde privada depende diretamente da situação econômica e da geração de empregos para crescer. Quando a economia vai bem, aumenta o acesso aos hospitais, que é feito principalmente por usuários de planos de saúde”, explica Ary Ribeiro, ice-presidente do Conselho de Administração da Anahp, entidade de classe que tem 118 associados, entre eles os maiores hospitais do país.

Segundo Ribeiro, em 2018, os hospitais geraram 96 mil empregos, o que representa um crescimento de 81% em relação ao ano anterior. Somente nas atividades de atendimento foram criados 37 mil empregos.

Para a indústria farmacêutica, outro aspecto da economia que pesa na balança é a carga tributária, pois ela tem impacto no acesso da população aos medicamentos. “O desenvolvimento de um produto farmacêutico demora de oito a 12 anos, com investimentos que podem chegar a USS 1,5 bilhão. Em nosso setor, a carga tributária é de 33%, ou seja, de cada RS 100 que custa um produto, RS 33 vão para o governo, quando ele é que deveria fomentar o acesso da população aos medicamentos”, diz Nelson Mus-solini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), que representa 370 empresas nacionais e internacionais. Seus associados detêm mais de 95% do mercado de medicamentos do país e geram cerca de 90 mil empregos dire-tos e 500 mil indiretos.

A conjuntura também é motivo de preocupação para Paulo Henrique Fraccaro, superintendente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), que representa 315 empresas de um universo de 600. “Há muito tempo reivindicamos uma política setorial específica para repensar aspectos como tributação, apoio à inovação, fomento e financiamentos, que não existem para a área de equipamentos e produtos descartáveis”, argumenta.

Regulação é um grande desafio para os prestadores de serviços de exames de imagem e análises clínicas, afirma Claudia Cohn, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnostica (Abramed). “As agências reguladoras da saúde e o próprio Ministério deveriam examinar os impactos na saúde privada antes de publicar novas regulamentações”, explica. Não são raros os casos em que normas são modificadas porque causaram um efeito mais negativo do que positivo. Na tentativa de minimizar esse tipo de problema, sociedades de especialidades médicas e entidades de classe, como a Abramed, oferecem seus especialistas para auxiliar na regulamentação.

À parte essas queixas, o setor de medicina diagnostica no país é imenso. Em 2017 foram realizados 2 bilhões de exames de imagem e análises clínicas – 817 milhões deles foram feitos na rede suplementar ou privada. No mesmo ano, o mercado de medicina diagnostica no Brasil gerou receita bruta de RS 35,4 bilhões.

Diretamente ligadas à medicina diagnostica estão 45 empresas associadas da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), que fornecem produtos e equipamentos para laboratórios clínicos. “Nosso principal desafio é oferecer produtos cada vez mais inovadores para diagnóstico”, diz Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL. O setor cresceu 8,8% nos últimos 12 meses em consumo aparente (produção industrial doméstica mais importações menos exportações), chegando a cerca de USS 2 bilhões.

Para as farmácias, o maior desafio, dentro da onda global de priorizar a prevenção de doenças, tem sido melhorar a participação desses estabelecimentos nos cuidados com a saúde dos clientes e ampliar a oferta de serviços. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, “até 2013, casos simples como gripes ou intoxicação alimentar demandavam atendimento em postos de saúde e hospitais”.

Barreto explica que o orçamento público não consegue arcar sozinho com todos os gastos. É essa lacuna que as farmácias tentam preencher, ao oferecer serviços de revisão de medicamentos, acompanhar o tratamento indicado pelo médico, medir pressão e níveis de colesterol e glicose, além de aplicar vacinas. Esse atendimento é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Abrafarma reúne 25 grandes redes de farmácias no Brasil que, juntas, geram 129 mil empregos diretos. C) varejo farmacêutico soma 78 mil estabelecimentos e movimenta R$ 100 bilhões.

INOVAÇÃO

Inteligência artificial, machine learning, realidade aumentada… O setor de saúde no Brasil tenta acompanhar o acelerado movimento de transformação tecnológica que permeia produtos e processos ao redor do mundo. Nas páginas a seguir, você conhecerá um pouco da história e das aplicações de avanços como a telemedicina, entre várias outros avanços e novas ferramentas. Outra dessas ferramentas – e que tem se mostrado extremamente útil no universo da medicina – é a realidade virtual (ou realidade aumentada). Equipamentos de realidade virtual permitem a médicos e enfermeiros praticar procedimentos em um ambiente de total imersão.

É o que tem feito desde o ano passado a Johnson & Johnson Medical Devices em suas unidades de São Paulo e Recite. Como o projeto começou dentro da área de ortopedia da empresa, o foco da plataforma, por enquanto, ainda está centrado nessa especialidade. “Fazemos treinamentos para cirurgias de artrosplatia de joelho, em que a articulação é substituída por uma prótese, e de quadril, além de procedimentos em trauma com fratura de quadril e cirurgia ortognática, para os maxilares”, explica Elisabete Murara, diretora sênior de educação para América Latina. Em breve, a empresa iniciará treinamentos em cirurgia geral.

NA PRÁTICA

Um caso real ilustra esse cenário de inovação aplicada. Preocupada com os problemas de fala da filha Sofia, que nasceu com síndrome de Down e aos 3 anos ainda apresentava dificuldades, a cientista de computação Marinalva Soares procurou ajuda da amiga e pesquisadora Alessandra Macedo na USP de Ribeirão Preto. Depois de muita pesquisa, nasceu o aplicativo SofiaFala, que usa inteligência artificial para interpretar e avaliar a qualidade da fala de crianças com Down. O programa capta o som emitido e, por uma interface que incentiva a criança a participar, como se fosse uni jogo, ajuda-a a pronunciar corretamente as palavras. Ao mesmo tempo, envia as informações ao fonoaudiólogo para que ele possa acompanhar a evolução do aprendizado.

O app recebeu financiamento do CNPq e começou a ser desenvolvido em 2016. O trabalho reuniu uma equipe multidisciplinar da universidade, formada por profissionais de áreas de ciência da computação, fonoaudiologia, engenharia e psicologia. Foi lançado este ano.

A SAÚDE DO C-LEVEL EM PERIGO

Pressão por resultados e hábitos ruins aumentam riscos de AVC e infarto em executivos – e executivas

Se, como dizia o filósofo Jean-Jacques Rousseau, o homem é produto do meio, o ambiente em que o brasileiro vive está bastante nocivo. É o que se deduz dos resultados de milhares de check-ups realizados pela clínica Med-Rio Check-up, especializada em executivos e profissionais liberais.

“Temos visto, por exemplo, um aumento de casos de depressão. Eles passaram de 8% para 11% do total de 2017 para 2018”, ilustrou o médico especializado em medicina preventiva e CEO da clínica, Gilberto Ururahy. Ele cita ainda o aumento de casos de estresse, excesso de peso, sedentarismo, insónia (Ognomy), hipercolesterolemia, hipertensão e diabetes nos mais de 10 mil exames realizados anualmente.

As incertezas da economia e o acúmulo de tarefas, de responsabilidades e de metas agressivas – além da sensação de responsabilidade sobre o destino dos colaboradores e de suas famílias – ajudam a desarmar as defesas do organismo dos profissionais no alto da pirâmide. As portas se abrem perigosamente para problemas graves – como AVC e infarto do miocárdio, além da já citada depressão.

De modo geral, há carência de levantamentos sobre a saúde do brasileiro, incluindo as principais causas de morte no país. Por isso, levantamentos como o da Med-Rio servem como baliza para enxergar o cenário e traçar ações preventivas. “Além de aspectos físicos, fazemos várias avaliações no campo emocional: estresse, ansiedade e depressão. No âmbito cardiológico, constatamos que 22% da população examinada é hipertensa; 50% têm alta taxa de colesterol ruim (LDL); e a insónia aumentou de 18% para 25% do universo pesquisado de 2017 para 2018”, diz o CEO da clínica – que já realizou cerca de 140 mil check-ups desde o início das atividades.

SEXO MAIS FRÁGIL

Em 1990, quando a empresa começou a operar, apenas 10% do público era do sexo feminino. Hoje representa 40%, em razão da maior inserção da mulher no mercado de trabalho e da adoção de hábitos que até então eram mais característicos do sexo masculino, como fumar e beber.

“Em 1990, de cada nove infartos, um acontecia em mulher. Hoje, a cada três, um é no sexo feminino”, alerta Ururahy, ao lembrar da jornada dupla ou até tripla das mulheres. “Infartos e AVCs já matam duas vezes mais mulheres do que os tipos de câncer que só acometem o sexo feminino.”

Como melhorar esse quadro? Para o especialista, pela educação e pelo comprometimento – a transformação só pode ocorrer se o indivíduo quiser e agir para isso. A começar pela alimentação: maus hábitos alimentares têm contribuído não só para a epidemia de obesidade como também para o aumento dos casos de esteatose hepática (gordura no fígado) não alcoólica.

Um fator que tem contribuído para a melhora do quadro geral é justamente o avanço dos check-ups, que tempos atrás eram considerados um benefício exclusivo, que a empresa dava a poucos executivos, e hoje se transformou numa ferramenta de segurança empresarial.

O processo de contratação de um C-level custa caro para a empresa. Por isso, é melhor contar com seus altos executivos em plena forma desde o início. “O check-up se incorpora cada vez mais ao mundo empresarial”, destaca o médico – que prevê crescimento anual de até 15% nesses procedimentos para os próximos anos. (CV)

TELEMEDICINA

Novo “conjunto de ferramentas” revoluciona o setor e deve movimentar R$ 12,2 bilhões

A telemedicina é um conjunto de ferramentas que permitem maior integração no sistema de saúde, como conectar hospitais, médicos e serviços de saúde. A explicação é do cirurgião cardiovascular Edmo Gabriel, que ensina essa disciplina na Faculdade Unilagos, em São José do Rio Preto (SP). Em abril, ela foi tema do Global Summit Telemedicine & Digital Health, em São Paulo. No evento, chegou-se à conclusão de que a telemedicina é um caminho sem volta e que sua tendência é ganhar adesão de todas as especialidades médicas, com uma taxa de crescimento de 20% ao ano – até 2022, deve movimentar R$ 12,2 bilhões.

No início do ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução que detalhava os requisitos para telemedicina e temas relacionados, como teleconsulta, telediagnóstico, telecirurgia, teleconferência, teletriagem médica, telemonitoramento, teleorientação e teleconsultoria. O documento foi motivo de polémica. Diante da repercussão, o CFM suspendeu temporariamente sua validade para analisar os pontos que geraram discussão. A atualização de normas que regulem a telemedicina e o que ela compreende já deveria ter acontecido. As regras em vigor são antigas (de 2002) e genéricas. Muita coisa mudou, como mostra uma pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) divulgada em abril. Segundo o estudo, 82,5% dos médicos paulistas afirmaram que utilizam tecnologias no dia a dia para assistência aos pacientes, entre elas os aplicativos de mensagens. Quase 85% dos entrevistados defenderam que as informações de saúde dos pacientes estejam disponíveis em nuvem, com proteção dos dados mas com acesso permitido aos médicos. A maioria dos entrevistados também disse acreditar que esse compartilhamento beneficia profissionais, pacientes e o sistema de saúde. Em São Paulo, o Hospital Albert Einstein usa a telemedicina síncrona, que conecta médicos e pacientes em videoconferências. Outros recursos incluem reuniões virtuais, em que médicos discutem casos, e a tele-UTI, em que os especialistas “visitam” os pacientes à distância, acompanhados de um plantonista no local e à beira do leito. Hospitais do Grupo Le-forte, também na capital paulista, usam o recurso no atendimento de emergências em neurologia, como AVCs, crises convulsivas e traumatismos cranianos.

Segundo o médico César Biselli, coordenador de Inovação e Tecnologia do Hospital Sírio-Libanês (SP), a telemedicina representa mudanças “que desafiam os médicos e os conselhos profissionais a se adaptarem de modo a integrar essas soluções em sua rotina, compartilhar decisões com outros profissionais à distância, sem perder a qualidade e a confiabilidade das relações entre profissionais e pacientes”.

O cardiologista Roberto Botelho, membro-fundador da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde ao lado de nomes como Adib Jatene, Raul Cutait e Gyorgy Bohm (criador da disciplina de informática médica no Brasil), é um dos pioneiros da prática no país. No início das pesquisas, conheceu um especialista da Nasa que queria levar para a prática clínica o que já fazia com astronautas em órbita: monitorar sinais vitais à distância. “Ele transformava um eletrocardiograma em sinal de modem; o exame era transmitido por telefone fixo e depois decodificado na outra ponta”, lembra.

Botelho e sua equipe aprimoraram a tecnologia da Nasa e a aplicaram na América Latina. Com a ajuda de inteligência artificial e da nuvem de dados, eles ajudam centros que não têm cardiologistas (como inúmeras UPAs pelo Brasil) a fazer diagnósticos de infarto nos pacientes que dão entrada com sintomas característicos, como dores no peito. O paciente é imediatamente submetido a um eletrocardiograma; os dados são enviados para uma central remota que, em três minutos, devolve o diagnóstico, indica os procedimentos e faz os encaminhamentos necessários, além de alertar os hospitais especializados envolvidos no programa para a chegada iminente de um infartado. Em quatro anos, o programa atendeu 800 mil pessoas com sintomas suspeitos e diagnosticou 8 mil infartos. “Reduzimos a mortalidade em 50%”, comemora Botelho. Os custos também caíram pela metade – estudos indicam que o Brasil gasta anualmente R$ 22 bilhões com essa doença. “O próximo passo da telemedicina é chegar ao cidadão onde ele estiver, via celular e smartwatches, por exemplo. Basta a regulamentação sair para isso se tornar realidade.” (RD)

DOENÇAS CRÔNICAS

Incidência cresce entre jovens e crianças; recursos tecnológicos permitem diagnóstico precoce

Um fenômeno que vem se tornando preocupante-mente comum é a incidência cada vez maior de doenças crónicas em adultos jovens, crianças e adolescentes. Segundo o cardiologista e clínico geral Marcelo Sampaio, há algumas décadas eram muito raros os casos de infarto em pessoas com menos de 35 anos. A situação mudou. O médico diz que vê pacientes ainda na adolescência, dos 13 aos 17 anos, infartando. Para ele, parte desse problema é resultado de nosso estilo de vida atual, em que as pessoas estão sujeitas aos chamados fatores de risco, como fumo, álcool, uso de drogas, obesidade, sedentarismo e elevados níveis de estresse.

As principais doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que afetam a população brasileira são as cardiovasculares, como hipertensão arterial, doença arterial coronariana – que pode provocar infarto agudo do miocárdio -, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral (AVC), doenças respiratórias crónicas, diabetes e tumores. Estes, em alguns casos, já podem ser considerados crónicos graças aos recursos tecnológicos, que permitem um diagnóstico precoce, e aos novos medicamentos.

A hipertensão arterial é uma doença silenciosa, não apresenta sintomas visíveis. De acordo com Sampaio, um em cada cinco brasileiros é hipertenso. “A pessoa pode passar muitos anos sem saber que sofre de hipertensão arterial, sem fazer exames nem se tratar. Quando descobre, já está com os rins prejudicados – a lesão renal é uma das consequências dos níveis elevados de pressão”, alerta o cardiologista, que é coordenador do pronto atendimento da Beneficência Portuguesa de São Paulo. (RD)

DIABETES

A doença vem crescendo de forma alarmante e já pode ser considerada um problema de saúde pública – afeta de 8% a 9% da população brasileira. As duas formas da doença são o tipo 1 – conhecido com diabetes infanto-juvenil – e o tipo 2, que afeta adultos. Este é provocado em grande parte pela obesidade e sedentarismo, sendo um fator de risco para infarto e AVC. “O diabetes tipo 2 é outra doença silenciosa, porque os níveis elevados de açúcar não provocam nenhum sinal nem sintoma no início, mas ao longo dos anos isso vai afetar diversos órgãos. Às vezes, o primeiro sinal de diabetes pode ser um derrame”, explica Sampaio.

PREVENIR E CONTROLAR

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças crónicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 71% das mortes no mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a proporção é ainda maior: 74%. Apesar desses altíssimos índices, a maioria dessas doenças pode ser prevenida ou controlada, o que permite manter boa qualidade de vida.

INFLUÊNCIA GENÉTICA

As doenças crónicas são resultado de uma interação entre a carga genética do indivíduo e fatores ambientais, ou fatores de risco – fumo, alcoolismo, obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, estresse. A carga genética pode ser herdada, mas também pode decorrer de mutações ou alterações nos genes. Daí a importância de manter hábitos saudáveis e fazer exames regulares para medir a pressão, o colesterol e a glicose e controlar o peso. “No Brasil é comum a pessoa ir ao médico somente quando sente alguma coisa”, diz Sampaio. “É preciso mudar essa cultura e fazer avaliações regulares para se conhecer por dentro, sentindo-se bem ou não”, diz Sampaio.

COMBATE AO CÂNCER

Biópsia líquida detecta células ou fragmentos de DNA de tumores que circulam no sangue, na urina ou na saliva

Novas técnicas que analisam mutações nos genes dos tumores têm permitido aos médicos obter diagnósticos mais precoces e precisos e, assim, direcionar melhor o tratamento. “Nas últimas décadas, o conceito de medicina personalizada vem ganhando cada vez mais força na oncologia, e os testes moleculares são ferramentas para essa prática”, explica a oncologista clínica Marcela Grosara, coordenadora médica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Alterações ou mutações anormais no DNA de um gene podem levar ao surgimento de um tumor. A análise das células em nível molecular permite identificar a mutação do gene, mapear alterações individuais daquele tipo de câncer e, até mesmo, determinar qual é a medicação mais adequada, o que aumenta as chances de o tratamento ser bem-sucedido, ao mesmo tempo que evita o uso de terapias desnecessárias ou que não seriam benéficas ao paciente, segundo Grosara.

Uma técnica empregada recentemente é a biópsia líquida, que detecta células ou fragmentos de DNA de tumores que circulam no sangue, na urina ou na saliva. Ela tem sido aplicada para rastreamento precoce de câncer, de modo menos invasivo, para estudar as características moleculares do tumor e avaliar a resposta ao tratamento.

No entanto, de acordo com o oncologista Fernando Santini, médico titular do Centro de Oncologia do Sírio-Libanês, o uso da biópsia líquida ainda não é tão amplo porque sua indicação é mais comprovada para tumor de pulmão, tanto para o diagnóstico inicial quanto para a detecção de resistência ao primeiro tratamento.

“Para diagnosticar o tumor de um modo geral, ainda precisamos retirar e analisar uma amostra do tecido desse tumor para saber seu ’nome’ e ’sobrenome’, isto é, se é um adenocarcinoma, um tumor escamoso ou outro tipo”, esclarece Santini, que também é médico titular do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.

Ele explica que a biópsia de tecidos também utiliza métodos de análise molecular e, dependendo do tipo de câncer, é realizada por meios relativamente simples. “Para um tumor de pulmão, por exemplo, é feito um procedimento minimamente invasivo, em que se introduz uma agulha que é guiada

pela tomografia para coletar uma amostra do tecido. Da mesma forma isso é feito para o fígado”, diz o oncologista. Caso o material retirado não seja suficiente para fazer a pesquisa molecular, então pode ser usada a biópsia líquida. (RD)

VIDA MAIS SAUDÁVEL

Estudo feito em conjunto pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de Harvard (EUA), publicado em abril na revista científica Câncer Epidemiology, concluiu que adoção de hábitos de vida saudáveis poderia evitar 63 mil mortes por ano no Brasil devido ao câncer, O trabalho utilizou dados da OMS e de instituições brasileiras de pesquisas. Os resultados mostram que tabagismo, álcool, sedentarismo, obesidade e consumo de alimentos muito industrializados estão relacionados a 20 tipos de câncer. Hábitos saudáveis ajudariam a evitar 114 mil novos casos a cada ano.

DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS

Democráticas, elas afetam todas as classes socioeconômicas; laboratórios brasileiros usam técnicas de Primeiro Mundo

Ele mede apenas l centímetro de comprimento, tem o corpo facilmente identificado por listras e se tornou o grande vilão dos centros urbanos. É o famosíssimo Aedes aegypti, mosquito transmissor das principais doenças infectocontagiosas que afetam a população brasileira, classificadas como arboviroses -dengue, chikungunya, zika e, mais recentemente, febre amarela, depois que esta deixou de ser uma doença exclusiva das matas e se disseminou por capitais, inclusive na populosa e urbanizada região Sudeste.

Segundo o infectologista Alberto Chebabo, do laboratório Alta Diagnósticos, teoricamente as arboviroses são mais frequentes em áreas de baixa renda, em locais que geralmente favorecem a proliferação do mosquito. “Mas como há cidades em que populações de diferentes classes socioeconômicas vivem muito próximas, no mesmo bairro ou até na mesma rua, a doença afeta todo mundo”, diz. Nessas condições, o mosquito não escolhe suas vítimas para a próxima refeição. As arboviroses se tornaram um problema de saúde pública também em países desenvolvidos da Europa e nos EUA. (RD)

FÍGADO NA MIRA

Hepatite é uma doença que provoca a inflamação do fígado e pode ser causada pelo uso de alguns remédios, por alcoolismo, por outras doenças e também por vírus. As virais são classificadas pelas letras A, B, C, D e E. No Brasil, mais de 70% das mortes por hepatites virais são consequência da C, seguida da B (21,8%) e da A (1,7%). A D é mais frequente na região Norte. Muitos têm o vírus da B ou da C e não sabem. Assim como as arboviroses, elas também não escolhem suas vítimas. Em maio, um campus da UniRio foi interditado após diversos casos de hepatite A. A vigilância sanitária concluiu que as cisternas da universidade foram contaminadas durante os temporais que alagaram o Rio de Janeiro em abril.

PRINCIPAIS SINTOMAS

As arboviroses apresentam sintomas muito parecidos e incluem febre, mal-estar, dor de cabeça, nas articulações, nas costas ou em todo o corpo, manchas vermelhas e erupções na pele, além de náuseas, vómitos, fadiga e fraqueza. O paciente com hepatite pode sentir cansaço, febre, mal-estar, tontura, náuseas, vómitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

DIAGNOSTICO AVANÇADO

Muitos laboratórios clínicos brasileiros já utilizam técnicas avançadas, como os métodos moleculares de diagnóstico, que permitem detectar a doença com mais rapidez e precisão. “Temos na rede privada uma estrutura para diagnóstico ’up to date’ muito semelhante à que se encontra nos países desenvolvidos”, diz Chebabo. Arboviroses e hepatites virais fazem parte da lista de doenças de notificação compulsória do Ministério da Saúde. Sempre que diagnosticarem um caso, médicos e serviços de saúde públicos e privados devem obrigatoriamente informar as autoridades. Os dados são importantes para determinar ações de combate a essas doenças.

DORES CRÓNICAS

Mal afeta mais mulheres que homens; um único remédio rende quase R$ 500 milhões às farmácias

Pesquisa da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) entrevistou recentemente 990 pessoas, entre homens e mulheres. Do total, 42% das pessoas ouvidas relataram sentir algum tipo de dor, enquanto 37% responderam que vivem com dor há mais de seis meses. Outro dado obtido no levantamento: as mulheres são mais afetadas (56%) do que os homens (44%). As dores mais comuns são as lombares, nas articulações, no rosto, na boca, pescoço e cabeça. Tem crescido também o diagnóstico de fïbromialgia.

Para alívio do incómodo, de forma geral os médicos indicam exercícios físicos, correção postural, reeducação alimentar, vacinação (como contra herpes-zóster) e controle de diabetes e hipertensão.

“A dor constante e persistente pode causar depressão e ansiedade e interferir em quase todas as atividades. Os pa-

cientes podem se tornar inativos, socialmente afastados e preocupados com sua saúde física”, explica o reumatolo-gista Dante Bianchi, do Hospital Copa D’Or, do Rio de Janeiro. A condição pode ainda prejudicar o sono, provocar irritabilidade, perda de interesse sexual, abuso de álcool e drogas e até mesmo levar a pensamentos suicidas.

“Por isso, a intervenção e seu tratamento são fundamentais”, alerta o anestesiologista Fábio Curtis, do Departamento de Anestesiologia e Dor da Faculdade Unilagos de São José do Rio Preto (SP). Ele explica que existem várias causas para a dor crónica, como artrite, lombalgia (costas), cefaleia (cabeça), lesão de um nervo, câncer, refluxo gastro–esofágico, fïbromialgia, endometriose e cirurgia. O importante, segundo os especialistas, é procurar um médico e não aceitar “diagnósticos” ou sugestões de tratamento de parentes ou amigos, tampouco se automedicar. (RD)

FÏBROMIALGIA

Em muitos casos, o médico chega ao diagnóstico de fibromialgia depois de realizar exame físico específico, de laboratório e de imagem e descartar outras doenças com sintomas parecidos. Ela não tem cura, suas causas são desconhecidas e afeta mais as mulheres, principalmente entre 25 e 65 anos. “Como a dor não tem uma origem definida, nem sempre analgésicos e anti-inflamatórios ajudam. Em muitos casos, os medicamentos que surtem algum efeito são os da classe dos antidepressivos, neuromodu-ladores e relaxantes musculares”, diz Bianchi. Há casos em que a dor diminui e quase desaparece, mas depois volta sem motivo aparente. Em maio foi anunciado um novo método para alívio do problema: um aparelho que une laser e ultrassom (foto) desenvolvido pelo Instituto de Física de São Carlos, da USP. Aplicado na mão do paciente por três minutos, diminuiu os sintomas em 90% deles após dez sessões.

NOVOS TRATAMENTOS

A chamada “indústria da dor” movimenta desde terapias alternativas (como homeopatia, florais, acupuntura, hipnoterapia, hidroterapia, ayurveda e medicamentos à base de Cannabis) até o remédio convencional mais consumido pêlos brasileiros – o Dorflex (da Sano-fi), que rende anualmente R$ 470 milhões às farmácias. “Hoje há centros especializados no tratamento da dor crónica, com abordagem multidisciplinar e profissionais habituados a esse tipo de atendimento, como anestesiologistas, neurologistas, reumatologistas, fisiote-rapeutas, psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais”, afirma Fábio Curtis. Uma das novidades é a medicina regenerativa, que usa células-tronco retiradas do próprio paciente.

FONTE: Revista Forbes