Constatação foi apresentada por Conrado Cavalcanti, vice-presidente da ABRAMED, durante painel na 12ª Convenção Brasileira de Hospitais; evento foi realizado dias 3 e 4 de julho em Goiânia (GO)
05 de julho de 2018
A manutenção do crescimento do setor brasileiro de medicina diagnóstica mesmo durante uma crise política e econômica que abalou tantos mercados no país foi destaque no painel apresentado por Conrado Cavalcanti, vice-presidente da ABRAMED, na 12ª Convenção Brasileira de Hospitais. Realizada pela FBH (Federação Brasileira de Hospitais) entre 3 e 4 de julho em Goiânia (GO), a convenção reuniu grandes líderes do setor de saúde. Além de Cavalcanti, estiveram presentes no debate Claudia Cohn, presidente da associação, e Lídia Abdalla, que atua como conselheira da entidade e CEO do Laboratório Sabin.
“O setor de diagnóstico teve crescimento de dois dígitos entre 2012 e 2016 e, mesmo com a crise, continua crescendo, ainda que mais moderadamente. Nos últimos 30 anos, os reajustes do nosso setor foram abaixo da inflação, muitas vezes chegando próximos a zero. O desenvolvimento, então, só foi possível graças à gestão, aos benefícios em escala, à redução de custos, à automação e à tecnologia”, comentou Cavalcanti ao citar que o setor de medicina diagnóstica movimenta R$ 30 bilhões ao ano e responde por cerca de 15% dos gastos com saúde, dado que, se adicionados os gastos com as áreas de diagnóstico instaladas dentro dos hospitais, aproxima-se dos 20%.
Ofertando mais de 200 mil empregos formais, além das oportunidades indiretas geradas dentro da cadeia, a medicina diagnóstica, e a saúde como um todo, está vivenciando uma drástica mudança de cenário embasada no envelhecimento da população e na agregação de novidades tecnológicas. Dentro de um contexto de transformação, é preciso encontrar o caminho da sustentabilidade. “Fala-se muito dos modelos de remuneração, da performance, da quantidade versus a qualidade, do valor e da verticalização de alguns grupos”, disse Cavalcanti.
Lembrando que alguns grandes grupos formados, inclusive, com capital estrangeiro atuam no país, o vice-presidente enfatizou, como consequência positiva de todo esse processo de mudança, a consolidação que vem sendo promovida. “Nos últimos três anos, 43 hospitais foram comprados por três grandes grupos, e muita consolidação também ocorreu no setor de diagnósticos.”
Para ele, os fundos internacionais estão interessados na saúde brasileira justamente por contarmos com um mercado ainda bastante pulverizado. “Com a população em processo de envelhecimento, há um potencial de crescimento na área diagnóstica. Com margens muito positivas, o setor oferece espaço para melhorias de gestão e para estabelecimento de parcerias que trazem sinergia e aumento dessas margens para quem chega com coragem de intervir”, declarou.
Com mais de 20 mil estabelecimentos, o setor de diagnóstico carece de união e é justamente este o papel da ABRAMED, que reúne pequenas, médias e grandes empresas para aumentar a representatividade do segmento. Para a presidente Claudia Cohn, parar de olhar os problemas isoladamente, passando a observá-los dentro do contexto geral do setor, foi um grande avanço. “Em um determinado momento, notamos que precisávamos priorizar as demandas. Foi então que passamos a matar um leão por dia, enxergando quais eram nossas reais necessidades. Foi essa perspectiva que nos fez trabalhar melhor a gestão em governança, ampliando a representatividade do setor junto aos órgãos regulatórios”, comentou.
Lídia Abdalla, conselheira da ABRAMED e CEO do Laboratório Sabin, lembrou que vivemos em um país continental com diferenças regionais e garantiu que a união de todos os players torna possível elevar o nível de qualidade dos serviços prestados. “Hoje conseguimos acompanhar, influenciar e apontar o que é importante para a medicina diagnóstica, principalmente no que diz respeito à legislação e regulação, dois pontos que impactam diretamente toda a cadeia”, detalhou.
Essa união de esforços já trouxe resultados positivos à ABRAMED, que teve atuação importante junto a decisões legislativas. “A RDC nº 30/2015, por exemplo, obrigava o exame de laboratório a ter certificação de uma única empresa, criando monopólios. Após discussões, conseguimos, junto à Anvisa, que esse monopólio fosse revogado, trazendo inúmeros benefícios ao segmento”, explicou Cavalcanti mencionando que a entidade também atuou para promover mudanças na RDC nº 25/2001, a qual trata da importação, comercialização e doação de produtos para saúde usados e recondicionados, e que está ativa no debate sobre o Projeto de Lei nº 347/2018, que visa reduzir para 30 horas semanais a jornada das equipes de enfermagem.
Fake news e o futuro – Dentro de sua palestra, Cavalcanti voltou a mencionar a importância de o setor atuar em conjunto a fim de minimizar a repercussão de notícias e dados irreais sem fundamentação técnica. “O dado mais famoso é o que diz que de 30% a 50% dos exames não são sequer retirados pelos pacientes”, disse relembrando que a SBPC (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica) fez, recentemente, um estudo com mais de 90 milhões de exames e garantiu que apenas 5% desses laudos não são acessados.
Além da disseminação de informações inverídicas, o vice-presidente citou também a importância de combater a ideia de que exames com resultados sem alterações representam desperdício. “Mesmo o exame com resultado inalterado representa um diagnóstico. E a maior parte das decisões médicas são fundamentadas em diagnósticos”, declarou relembrando que o custo do paciente que tem uma piora clínica por não ter realizado os exames é altamente relevante para a cadeia. “Se, por um lado, há o over using, por outro há o under using. Há estudos que comprovam que, se o exame não for feito na hora certa, haverá aumento do custo a longo prazo. Nós, da ABRAMED, defendemos o uso racional dos exames”, argumentou.
Vislumbrando o futuro do setor, Cavalcanti aproveitou para citar inovações que prometem revolucionar a saúde. Entre os pontos por ele enfatizados, destaca-se a medicina nuclear – que já vem sendo aplicada em pacientes oncológicos; a medicina de previsão, que atua com a união entre genoma e ambiente para a criação de tratamentos individualizados; e a inteligência artificial, que contribui grandemente para a área diagnóstica.
Falando sobre um dos principais receios de quem teme o avanço tecnológico, Cavalcanti traz ares de tranquilidade. “Não devemos ter medo, pensando que as máquinas substituirão os profissionais. O melhor do mundo é a junção do homem com a máquina. Nem um, nem outro funcionam bem sozinhos. Vamos usar toda essa inteligência como oportunidade para automatizar processos, ganhar eficiência, reduzir erros e aumentar a qualidade da interação com o paciente”, finalizou.
A palestra de Cavalcanti movimentou a 12ª edição da Convenção Brasileira de Hospitais. O evento também recebeu apresentações sobre turismo de saúde, parcerias público-privadas, atendimento hospitalar, gestão de resíduos e muitos outros temas que, assim como a medicina diagnóstica, têm alta relevância e interferência na dinâmica e rotina dos hospitais no Brasil.