Líderes discutiram os desafios para alcançar eficiência e produtividade e a necessidade de cooperação pela sustentabilidade do setor
26 de junho de 2024 – A Reunião Mensal de Associados (RMA) de junho da Abramed, realizado no Hospital Sírio-Libanês, contou com discussão sobre o “Cenário Atual e Perspectivas Futuras da Medicina Diagnóstica” e participação de importantes líderes da área. Foi um valioso momento de troca de experiências sobre modelos de negócio, custos, eficiência, tecnologia e cooperação entre os stakeholders do setor.
Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, abriu o debate, que teve como moderador Eliézer Silva, diretor do Sistema de Saúde Einstein no Hospital Albert Einstein e membro do Conselho de Administração da Abramed. Participaram da discussão: Fernando Torelly, CEO do HCor; Rafael Lucchesi, diretor geral Diagnósticos e Ambulatorial na Dasa; e Fernando Ganem, diretor geral do Hospital Sírio-Libanês.
Torelly destacou que a saúde suplementar no Brasil enfrentou grandes mudanças nos últimos anos a partir dos desafios trazidos pela pandemia de Covid-19. Em 2023, após um ano de esperança de recuperação, as operadoras de planos de saúde registraram um prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões. Em 2024, a complexidade no relacionamento com as operadoras aumentou, afetando o fluxo de caixa dos hospitais.
Segundo ele, um ponto importante nesse cenário é diferenciar os prestadores pela qualidade e não apenas pelo preço. Caso contrário, a indústria de saúde começará a perder. Considerando que a população brasileira com mais de 60 anos dobrará nos próximos 25 anos, essa questão se torna ainda mais crucial, pois isso trará grandes desafios de eficiência, acesso e desigualdade na saúde.
Para as instituições que fazem parte da Abramed, o CEO do HCor diz que o maior desafio é a concorrência. “Precisamos estabelecer a qualidade como um padrão essencial para competir, em vez de focar exclusivamente em contratos com operadoras e redução de preços para atrair demanda. Com certeza, o paciente não será o maior beneficiado por esse modelo concorrencial que estamos implementando.”
Tecnologia
Segundo Lucchesi, há 10 anos, havia grandes expectativas de avanços em integração de dados e muito se investiu em tecnologia para alcançar uma saúde mais integrada, eficiente e sustentável. “No entanto, parece que estamos retrocedendo. Este é um momento extremamente desafiador, com movimentos de sobrevivência no setor, especialmente na medicina diagnóstica. O fluxo de caixa tornou-se muito mais crucial e menos previsível do que no passado, o que levou a uma queda significativa nos investimentos”, expôs.
Segundo Lucchesi, as tendências atuais no setor de saúde não parecem mudar, com uma pressão crescente especialmente sobre pequenos e médios prestadores, que sofrem mais devido à menor capacidade de escala, planejamento de fluxo de caixa e levantamento de capital. “Esses prestadores também têm menos força nas negociações com operadoras, o que é prejudicial para o setor, que necessita de capilaridade.”
Lucchesi ressalta o papel da tecnologia para aumentar a produtividade, mesmo que isso implique em custos adicionais. “Acredito que podemos continuar crescendo com produtividade se o setor encontrar um equilíbrio. Dados recentes mostram uma leve melhora, impulsionada pelo repasse de preços para os clientes. Em 2024, é provável que tenhamos uma carteira menor, com menos pessoas acessando serviços de alta qualidade e rede aberta, resultando em preços mais altos. Isso pode significar menos pacientes em serviços premium.”
Colaboração
Na opinião de Ganem, é preciso discutir como aumentar a eficiência, focando principalmente nos processos e tentando ao máximo evitar mudanças em relação às pessoas. “A radiologia desempenha um papel fundamental nisso, contribuindo para a eficiência através da otimização do uso das máquinas e evitando no show.”
Conforme avalia, há oportunidades nesse sentido e na colaboração com outras instituições. “Precisamos avaliar até que ponto cada instituição pode reduzir custos sem comprometer a qualidade dos resultados para se manter competitiva e credenciada.”
Para qualquer instituição, três fatores são essenciais, de acordo com Ganem: o paciente precisa perceber valor na sua instituição e continuar buscando seus serviços; o corpo clínico deve ver sentido em cuidar dos pacientes dentro da instituição; e a operadora precisa reconhecer o valor de estar associada à sua instituição. “Este último ponto é o mais desafiador. Embora se fale muito sobre valor na saúde, na prática, isso raramente se traduz em ações concretas de remuneração, tempo e desempenho”, disse.
Para Ganem, é responsabilidade de todos os que lideram instituições sérias e comprometidas com a qualidade encontrar mecanismos para resolver os desafios. “Cada instituição tem sua própria agenda, mas resolver esses problemas individualmente pode ser difícil. Negociações individuais são importantes, mas também precisamos do envolvimento de outras instituições.”
Neste ponto, Torelly diz que é fundamental sentar todos juntos para encontrar soluções e lembra: “Estamos vivendo não mais na saúde baseada em evidências, mas na saúde baseada na eficiência. Quem não for eficiente não vai sobreviver.”
Como exemplos de parceria pela sustentabilidade do sistema, Eliézer disse que o Hospital Einstein, junto à Mayo Clinic, está explorando modelos bem-sucedidos de inteligência artificial. Durante uma consultoria, foi destacado que a transformação de uma instituição baseada em dados, análise e inteligência artificial começa com mudanças na mentalidade das pessoas.
“A eficiência trazida por esses modelos pode alcançar até 25%, abrangendo desde processos cotidianos como assinaturas de contratos até logística de medicamentos. Inspirados pela iFood, que expandiu para várias verticais, vemos que outras indústrias são mais cooperativas e integradas, enquanto o setor de saúde ainda enfrenta barreiras entre prestadores e operadoras”, disse.
Ele acredita que, como setor, é preciso mostrar a diferença do que se propõe: um aumento de custo necessário, mas acompanhado de ganhos em produtividade que ajudam a sustentar o setor. “Propomos uma agenda integrada para abordar essas questões de forma conjunta”, acrescenta.
Para Torelly, 2024 deve ser o ano do diálogo no setor da saúde. “Conflitos não levam a lugar nenhum quando todos estão sofrendo. Precisamos criar uma agenda de curto prazo e estruturante que fortaleça financeira e estruturalmente a saúde, para não ficarmos discutindo pagamentos de procedimentos. Estamos presos em discussões transacionais menores enquanto enfrentamos um problema macroeconômico de sustentabilidade do setor.”
Segundo ele, as lideranças da Abramed, Anahp, FenaSaúde e Abramge deveriam unir esforços para criar uma agenda política estratégica. “Continuar disputando pequenas vantagens apenas nos fará perder outra oportunidade de realizar uma grande transformação. Devemos explorar alternativas, como apoiar ações das operadoras que possam gerar mais recursos sem afetar os prestadores”, contou.
Por sua vez, Ganem resumiu essa discussão em três pontos essenciais: inteligência, cooperação e a necessidade de deixar de lado as vaidades. Ao final, Nomura ressaltou a importância da qualidade e da eficiência para direcionar o setor. “Junto aos associados, a Abramed tem discutido intensamente essas questões, que fazem parte do nosso Estatuto Social e do Regulamento Interno. Valorizamos muito esse compromisso com a excelência nas operações de nossos associados.”
O encontro terminou com uma visita guiada ao Hospital Sírio-Libanês.