Inteligência artificial promete revolucionar a medicina diagnóstica

O uso das de tecnologias disruptivas no setor é promessa de melhoria do acesso e do cuidado; assunto pautou o 2º Encontro Latino-Americano de IA em Saúde

A aplicação da inteligência artificial (IA) tem sido tema central na medicina diagnóstica. A leitura de dados beneficiada pelos algoritmos, a leitura de imagens além do que o olho vê, a codificação de processos, a telerradiologia, tudo isso vem beneficiando o setor, tornando-o mais sustentável e proporcionando resultados precisos. A temática pautou o 2º Encontro Latino-Americano de IA em Saúde, que aconteceu durante a Jornada Paulista de Radiologia, a JPR 2023.

O pesquisador em tecnologia na radiologia, Paul Yi, da Universidade de Maryland (EUA), deixou claro que a substituição do humano não deve ser uma preocupação. São os médicos que alimentam sistemas, que fazem a triagem dos processos e são eles que estão à frente na cadeia de cuidado. As transformações tecnológicas são permanentes e jamais substituíram o homem. Há 20 anos se discutia telemedicina. O estudioso, por exemplo, se debruça sobre a IA há seis.

No Brasil, o uso de IA vem transformando o setor. A possibilidade de economizar insumos, focando prognósticos melhores, possibilita que o paciente não tenha que refazer procedimentos ou procurar por doenças em lugares errados, o que ajuda a evitar gastos desnecessários. Aliás, a medicina está mais preventiva com a chegada de tecnologias. Hari Trivedi, da Universidade de Atlanta (EUA), defendeu a aplicabilidade na construção de diagnóstico e demanda de tratamento a pacientes.

Felipe Barjud, coordenador médico de Informática, Inovação e Novos Negócios do departamento de Imagem do Hospital Albert Einstein, ressalta a importância da educação. Para ele, há interação diferente com o tema entre os profissionais mais jovens e os antigos. Felipe Campos Kitamura, head de Inovação Aplicada e IA na Dasa, lembrou que é necessário atenção ao processamento de dados. Além de também produzirem respostas equivocadas, eles podem criar padrões exclusivos com relação ao acesso.

A democratização foi tema de carta aberta elaborada por diversos presidentes de grandes multinacionais de tecnologia, como Google, enviada à imprensa em abril deste ano. No documento, foi ponderado o avanço nas pesquisas antes de se entender como o avanço galopante da IA pode interferir negativamente em diferentes setores. Aqui, a legislação é recente e trata de proteção de dados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já falava sobre a temática em 2021. Segundo o relatório Ethics and governance of artificial intelligence for health (Ética e governança da inteligência artificial para a saúde, em tradução livre) da entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso garantir alguns princípios para a regulamentação e governança da IA: proteger a autonomia humana; promover o bem-estar, a segurança e o interesse público; garantir a transparência, a explicabilidade e a inteligibilidade; promover a responsabilidade e a prestação de contas; garantir a inclusão e a equidade e promover a inteligência artificial que seja responsiva e sustentável.

Enquanto isso, a Lei Geral de Proteção de Dados é usada para garantir a proteção de dados do paciente e a tranquilidade para a exposição de seus diagnósticos. O Projeto de Lei 21/20 cria o marco legal do desenvolvimento e uso da IA pelo poder público, por empresas, entidades diversas e pessoas físicas. O texto, em tramitação na Câmara dos Deputados, estabelece princípios, direitos, deveres e instrumentos de governança para a IA a fim de que se garantam os direitos humanos e os valores democráticos.

Abertura da JPR 2023 destaca importância das entidades de classe nas discussões sobre acesso à saúde

A medicina diagnóstica, protagonista do evento, foi exaltada pelos presentes; tecnologia e prevenção de doenças foram citadas

No último dia 27 de abril, aconteceu a abertura da 53ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR), maior congresso do setor na América Latina e quarto maior do mundo. A feira reuniu 16 mil participantes, 3 mil expositores e 100 empresas do setor. O evento também contemplou a 25ª edição do Congresso da Sociedade Latino-Americana de Radiologia Pediátrica (SLARP) e foi realizado de 27 a 30 de abril em São Paulo (SP). A Abramed esteve presente com estande institucional e painéis de discussão que integraram a programação oficial do evento.

O presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), realizadora do evento, e vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, César Nomura, destacou a importância da união entre as entidades de classe e do aperfeiçoamento da radiologia como grade curricular nas faculdades de Medicina. “Criamos, com o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), o encontro das ligas de radiologia, trazendo alunos gratuitamente para viver experiências.” Ele destacou o protagonismo da medicina diagnóstica frente às transformações tecnológicas para a prevenção de doenças, como o uso da inteligência artificial e a telemedicina. “Já fazemos isso há 20 anos.”

A parceria e o fortalecimento do papel das entidades de classe estiveram no discurso de diversos atores importantes. Valdair Muglia, médico radiologista e ex-presidente do CBR, que recebeu a placa de Patrono de Mauro Brandão, presidente do Conselho Consultivo da SPR, e ressaltou a importância das entidades para a melhoria da Saúde Pública. Cibele Alves de Carvalho, atual presidente da CBR, também destacou a parceria entre as entidades médicas e lembrou aos quase 13 mil médicos radiologistas, em sua maioria com menos de 40 anos, que é necessário se aproximar do paciente e se inserir na linha de cuidado.

Com o título de Presidente de Honra da JPR, o médico radiologista Eleuses Vieira de Paiva, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, chamou atenção para a necessidade da realização de um diagnóstico da Saúde atual. “Nunca nos preparamos para o que estamos vivendo. Surgiu um passivo pós-pandemia, financeiro, assistencial e de gestão, que culminou nos balanços negativos das operadoras de saúde, verticalizando a assistência.” Ele se refere à crise sistêmica nos planos de Saúde que atinge o setor como um todo. Com relação à saúde pública, destacou a necessidade da regionalização do sistema para melhor enfrentamento dos gargalos, como filas e internações. Na ocasião, o secretário estava representando o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos-RJ).

Títulos de Membros Honorários

Receberam a homenagem: Beatriz González Ulloa, radiologista mexicana; Jean-Luc Drapé, da Sociedade Francesa de Radiologista; José Lipsich, da Argentina; Dr. Marcelo Gálvez, do Chile.

“Desafio de Inteligência Artificial para determinação do gênero e da idade pela radiografia de tórax”

Durante a abertura foram apresentados os resultados do desafio promovido pela SPR. A ação consistiu na criação de um modelo capaz de predizer o gênero e a faixa etária do paciente por meio da radiografia de tórax. Instituições convidadas pela SPR doaram dezenas de milhares de imagens; esses dados permitem que os participantes criem algoritmos de inteligência artificial para indicar o gênero e a idade do paciente. Os dados foram compartilhados segundo a legislação de segurança de dados. Participaram mais de 100 pessoas de dez países do mundo. Foram mais de 900 algoritmos criados. Veja o resultado no link SPR.

Boas práticas nas clínicas de medicina diagnóstica garantem segurança do usuário

Certificações que avaliam o exercício da medicina e das instituições de Saúde garantem qualidade, resolutividade e sustentabilidade; tema foi discutido durante a JPR 2023

Analisar o cumprimento ético, seguro e eficaz dos serviços de Saúde foi o tema da palestra “Profissionalismo e Gestão em Saúde – Sessão Especial PADI (Programa de Acreditação em Diagnóstico por Imagem)”. Os debatedores destacaram a importância da segurança do paciente por meio de programas de acreditação dos serviços, inclusive no enfrentamento de eventos adversos, e lembraram os requisitos que norteiam o uso de novas tecnologias. O evento aconteceu durante a Jornada Paulista de Radiologia (JPR) 2023.

As acreditações são como selos de qualidade que avaliam, por meio de instituições de classe e reguladoras, padrões e requisitos pré-definidos que devem estar na rotina de quem é avaliado para garantir a aplicação de boas práticas. A Abramed, sendo responsável por 60% dos exames particulares realizados no país, traz como critério associativo, a obrigatoriedade de as empresas serem acreditadas, seguindo as regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Essas avaliações proporcionam a observância da atuação profissional, das condições dos estabelecimentos, da aplicação de boas práticas e da ética, da gestão, da eficiência, como redução de desperdício, confiabilidade nos resultados e, finalmente, garantir a segurança no exercício da medicina. Mas especialistas atestam que poucos locais têm uma política voltada para isso.

Segundo a Abramed, dos 12 mil a 17 mil laboratórios no Brasil, apenas cerca de 5 mil utilizam controle de qualidade, obrigatório na Anvisa. Nesse cenário, a Associação estimula fortemente a regulação dos serviços. Na instituição, as clínicas de diagnóstico por imagem são acreditadas pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e passam por avaliações periódicas, em que devem demonstrar evidências do cumprimento dos padrões de segurança por meio do Padi.

Os laboratórios de análises clínicas ainda são certificados pelo Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (Palc), oferecido pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), reconhecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e certificado pela International Society for Quality in Health Care (ISQua), única sociedade no mundo que chancela padrões voltados para a acreditação em saúde, reconhecendo-os internacionalmente.

A certificação avalia se os locais de saúde estão preparados para enfrentamento de reações adversas em procedimentos. Natalia Henz Concatto, médica radiologista do Hospital Moinhos de Vento, destacou que, no caso da execução de ressonância magnética, é possível haver, mesmo que raramente, eventos adversos graves associados à aplicação de contraste. “Os profissionais de Saúde devem estar cientes dos potenciais riscos e tomar as medidas para minimizá-los.” Cláudia Maria Meira Dias, representante da DASA, completou que é necessário um time multidisciplinar qualificado para enfrentar possíveis problemas.

A comunicação assertiva também foi pauta do debate. E deve ser uma habilidade estimulada e prevista nas boas práticas da profissão. Felipe Veiga Rodrigues apresentou o sistema desenvolvido pelo Hospital Sírio-Libanês, que classifica em uma plataforma os tipos de achados críticos e auxilia em todo o processo de comunicação de eventos adversos para o paciente ou familiares.

O uso de tecnologias também faz parte da análise de padrões de qualidade, uma vez que recursos são cada vez mais usados na prática clínica, como a proteção de dados por meio da Lei Geral de Proteção de Dados. A discussão do uso das tecnologias passa por regulação, mas também por humanização dos serviços. Especialistas entendem que o uso de softwares e plataformas que facilitem a atuação do médico e a torne mais precisa possibilita que o profissional esteja mais disponível para o cuidado.

A liderança deve ser focada nas pessoas, sejam elas colaboradoras ou pacientes

* Por Juliana Richter

A saúde sempre teve grande relevância na vida das pessoas. Falamos mais sobre o assunto, buscamos mais saúde nos últimos anos, com um foco ainda maior na prevenção. Como liderança na área, no setor de medicina diagnóstica, busco estabelecer e praticar o lema #cuidesesempre, sejam nas práticas que adoto quando influencio em decisões que podem impactar pacientes, quanto na promoção de ações que envolvam saúde e bem-estar dos colaboradores.

Os números apontam uma retomada no setor de saúde suplementar, superando o patamar de 50 milhões de vidas cobertas. Em outra via, observa-se grande reestruturação das operadoras de saúde, um olhar mais dirigido na qualidade das prestadoras de serviços. Avanços em pesquisas, tecnologias e a busca na melhor experiência dos usuários vêm modificando a forma de conduzir o setor, de transformar os negócios e de equilibrar o interesse de todos os stakeholders.

Para promover empresas brasileiras do setor, será necessário criar um ambiente adequado e equilibrado. A inflação da saúde pressiona o Produto Interno Bruto (PIB) por mais investimentos e é utópico pensar que esses recursos virão apenas da iniciativa pública. O mercado de saúde suplementar tende a crescer fortemente, somado ao envelhecimento populacional, das tecnologias não excludentes e do modelo de negócios existente.

Certamente, tudo isto promoverá mudanças na busca por exames no setor de medicina diagnóstica. Entendendo o tamanho do desafio, busco encarar o presente e, ao mesmo tempo, me transformar para o futuro.

Na Clinoson, empresa de medicina diagnóstica de Porto Alegre (RS), onde atuo há mais de cinco anos, mantemos o foco no paciente. Entender de gente sempre foi algo natural na minha formação. Impactar positivamente a sociedade por meio da minha liderança sempre foi o meu norte. Para isso, é necessário, desenvolver negócios e pessoas, se envolver no ecossistema como um todo, conduzindo times para que a jornada do paciente seja a melhor possível, trazendo a satisfação, a segurança e a entrega dos resultados propostos.

Mulheres na liderança

Inevitavelmente, me perguntam sobre ser mulher em um ambiente tão masculino, já que permeio o espaço de grandes lideranças. Com minha veia empreendedora e proatividade, de gostar de “fazer acontecer”, desde cedo busquei estabelecer movimentos que me permitissem acessar melhores oportunidades, sejam nos setores da indústria como no segmento de serviço.

Nunca me senti sozinha. Pude contar com líderes incríveis, de ambos os gêneros, que visualizaram minhas competências, acreditaram, apostaram no meu desenvolvimento e experimentaram a minha capacidade (e vontade) de entrega.   Percebo que nas grandes empresas do segmento de medicina diagnóstica, é perceptível a relevância e o domínio das mulheres na abordagem de temas estratégicos e ocupando cargos de alta gestão. Na Clinoson, buscamos fomentar a competência, gerando oportunidades a todos. Contudo, somos sabedores que ainda há um caminho fértil a ser percorrido pela sociedade.

Em uma breve retrospectiva, minha carreira foi mais que uma escolha, foi a consequência de minhas ações reforçadas pelas formações que busquei e lideranças que me inspirei. Liderar sempre brilhou meus olhos. Desde muito cedo, me recordo de ir em busca de boas ferramentas e aprendizados e entender de negócios. Percorrer um caminho na área da indústria, ter pessoas que me inspiram e ensinam, ser apaixonada por gente e por tecnologia me fizeram chegar ao cargo de CEO.  Sempre foi “um olhar no presente e outro no futuro”.

*Juliana Richter é CEO da Clinoson e Conselheira de Administração da Casa dos Raros. Formada em análise de sistemas. Tem mestrado profissional em Gestão e Negócios (Brasil/França)

Saúde para todos: como promovê-la?

Por Gonzalo Vecina*

A garantia de saúde para todos somente vai acontecer se a sociedade entender que isso é fundamental. Se é por meio da iniciativa pública ou privada, não interessa; interessa que todos tenham acesso. Algumas ofertas são exclusivas do Sistema Único de Saúde (SUS), como a vigilância epidemiológica e sanitária. A saúde suplementar pode oferecer tecnologias que devem ser usadas para impactar toda a sociedade. A oferta deve ser única, ou seja, presente nos dois setores. A união das partes atenderá ao todo.

Na Constituição de 1988 está: “A saúde é um direito do cidadão e um dever do estado”. Porém, até hoje, não conseguimos chegar a esse objetivo. Podemos elencar como causadores de obstáculos o sub financiamento, os problemas na gestão, as deficiências no modelo de produção de serviços no sistema público, além da falta de tecnologia e recursos humanos.

Outro problema é o processo de envelhecimento populacional. Atendemos pacientes idosos e pessoas com problemas de saúde mais graves, então é um risco quando intervimos nesse tipo de paciente sem retaguarda de UTI. Durante a pandemia foi evidenciada a falta desses leitos. Tivemos de promover aumento, mas ainda não foi suficiente, porém,  o acordar para a existência de um sistema como o SUS foi uma grande conquista da pandemia.

Por isso, discutir as intersecções dos setores é benéfico para o acesso à saúde da população. Um exemplo: 60% da rede hospitalar é privada. Parte dela contratada pelo SUS e parte exclusiva do setor suplementar. Para ser mais eficiente, a iniciativa pública pode promover parcerias, criando filas únicas para todas as suas demandas, como as que já opera para transplantes, por exemplo.

As novas tecnologias também devem ser um ponto de atenção para promover o acesso à Saúde. Vimos isso ser implementado durante a pandemia com a telemedicina. Mas existem problemas complexos – a rede hospitalar brasileira tem 7,2 mil hospitais, aproximadamente. Posso dizer que temos uma informatização mais robusta em não mais de 10% desse contingente!

O que já acontece nas instituições bancárias pode ser exemplo para saúde. Investimento em sinais via satélite ou cabeamento de fibra óptica podem promover acesso à tecnologia da informação. Outra barreira a ser enfrentada é a interoperabilidade, seja na jornada do paciente, seja no controle de estoques, nos recursos humanos, na gestão financeira ou nos laboratórios. Além de dar acesso à telemedicina e acesso eletrônico a prontuários. O futuro dependerá disso. Mas temos muito o que caminhar, uma vez que somente 7% dos hospitais brasileiros têm prontuários eletrônicos. Serão necessárias políticas públicas e investimentos para pensar nas soluções que envolvem, inclusive, infraestrutura nas cidades mais isoladas, além de regulação. É demorado, mas deve ser construído desde já.

Com relação à medicina diagnóstica e às tecnologias ultramodernas, como a ressonância magnética nuclear, o PET-Scanner, os implantes inteligentes como o coclear, a cirurgia robótica e a impressão 3D de órgãos, o acesso à rede de dados é fundamental. Aliado à inteligência artificial, são instrumentos que podem trazer acessibilidade e agilidade para prevenção e tratamento de doenças. Um exemplo interessante são os equipamentos de point-of-care, que realizam análises clínicas e dão o resultado no local do atendimento.

Voltando à intersecção dos setores, promover uma central de diagnóstico remoto e digital que atenda a todos os hospitais de determinada região pode aumentar o acesso à Saúde diagnóstica. Inclusive, técnicos de enfermagem podendo participar da realização de ultrassonografias, por exemplo, que serão lidas remotamente e com agilidade por um especialista. Isso abreviaria o tempo de diagnóstico de muitas doenças por meio do uso de boas evidências.

Mas o SUS não dispõe de tanta tecnologia. Como promover um processo de atenção unificado? A intersecção entre público e privado na tecnologia depende da criação de um caminho singular: o setor suplementar não pode ter acesso a tecnologias que o SUS não tenha e, por outro lado, o SUS precisa ter acesso à tecnologia de forma mais inteligente do que foi até agora. Para isso, eu diria que se faz necessária a criação de uma agência independente para avaliar tecnologias e decidir qual vai ser colocada dentro do sistema de atenção à saúde brasileiro.

Então, para promover melhorias, voltamos ao tema investimento. Temos que levar em conta que, em meio à crise econômica atual no Brasil e no mundo, temos problemas não apenas na saúde, mas na educação, na alimentação, na segurança pública, na distribuição da justiça, no saneamento básico e não vamos conseguir construir uma torre de marfim na saúde. Ou conseguimos evoluir na implementação dos direitos básicos da cidadania de uma forma mais ampla, ou não tem saída.

O setor privado também tem problemas de financiamento, mas com características diferentes. Gasta-se muito sem gestão. O que não podemos é injetar dinheiro no privado sem que o impacto promovido por ele seja produzir saúde e não somente lucro, gerando um sistema de atenção baseado na promoção da qualidade de vida.

Toda saúde é um bem público. A ficha tem que cair. Não é uma transformação cultural fácil e deve demorar. A própria universalização, que é muito mais simples que a tecnologia, não conseguimos resolver, mas não tem outro caminho para uma sociedade desenvolvida, moderna e civilizada — coisa que ainda não somos, infelizmente.

*Gonzalo Vecina é médico sanitarista, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Protagonismo feminino: sobre ter e ser referência e inspiração

Por Andrea Pinheiro*

Um dos maiores empregadores do país, o setor da saúde ainda tem a atuação feminina concentrada nas áreas assistenciais e administrativas. A participação das mulheres em cargos de alta liderança ainda é tímida, mesmo com os avanços dos últimos anos. Isso porque, fatores históricos e culturais permanecem impactando esse cenário e limitando o espaço delas.

Mas há mulheres obstinadas que lideram empresas com um olhar 360 graus e uma visão mais social e ampla, defendendo pautas globais no seu dia a dia, sendo mais sensíveis, por exemplo, a aspectos de ESG. E sim, essa empresa entrega resultado, mas um resultado que agrega valor para todos os stakeholders e toda a sociedade.

Há quinze anos atuo em uma empresa com alma feminina, com valores, princípios e políticas que abraçam a diversidade e inclusão. Mas em outros projetos profissionais que atuei, enfrentei situações desafiadoras, não só por ser mulher, mas também por ser jovem. Assumi grandes responsabilidades e encontrei o preconceito na prática.

Por isso, entendo como é importante que as empresas e organizações tenham políticas e práticas para que nós, mulheres, tenhamos condições de assumir cargos de alta liderança, e para isso precisam ter também políticas e práticas mais alinhadas às necessidades e aos diferentes papéis que podemos desempenhar na sociedade.

Somos profissionais, esposas, estudantes, cidadãs, empreendedoras, membro de uma instituição e tudo mais que desejarmos ser. Impedir que exerçamos alguma dessas funções em detrimento de outra é limitar as possibilidades de desenvolvimento e plenitude individual.

Um exemplo muito comum é acreditar que ser mãe limita a capacidade profissional de uma mulher. Isso é um grande equívoco. Avançaremos de forma mais sustentável quando esses tipos de vieses forem quebrados.

No Grupo Sabin, nossas mulheres podem realizar seus sonhos. Para a questão da maternidade, a empresa possui ações e programas para assistir nossas profissionais nesse momento especial, e também para engajar a sua rede de apoio, formada por familiares, colegas de trabalho, amigos e todos que possam influenciar e contribuir com esse momento de decisão, transformação, mudança e adaptação. Isso é um grande diferencial para a experiência de nossas colaboradoras, gerando mais segurança para que elas possam assumir novos desafios.

Nossas sócias-fundadoras são grandes exemplos de coragem, determinação e força, seu legado no empreendedorismo feminino inspira dentro e fora do grupo. Elas são engajadas com a temática do protagonismo feminino, contribuindo para políticas públicas e empresariais para que as mulheres possam exercer plenamente seus diferentes papéis na sociedade. Essa referência nos motiva a irmos além.

No ambiente corporativo, ainda percebemos o mundo mais masculino, um mundo que às vezes se fecha e nos transforma em minoria, principalmente nos espaços de decisão. Quando comecei a minha carreira, atuava em funções em que havia poucas mulheres. Por muitas vezes, fiz parte de um grupo pequeno que atuava com muitos homens. O primeiro desafio que tive de enfrentar foi aprender a me posicionar. Isso é fundamental.

As microagressões estão por todo lado, como quando alguém não dá atenção ao que estamos falando ou muda de assunto, ignorando a nossa fala. Para fazer frente a essas situações, precisamos trabalhar a nossa resiliência e a autoconfiança, não é automático. Felizmente, encontrei também pessoas maravilhosas pelo caminho, inclusive muitos homens, que contribuíram para um ambiente mais inclusivo e de equidade. No entanto, sabemos que ainda há muitas vitórias para conquistar.

Outro desafio está relacionado à violência doméstica, acabando com a autoestima e a esperança. E não falo aqui só da violência física, mas também da psicológica e emocional. A agressão na alma, na autoestima. Precisamos estar muito atentos a esses aspectos para apoiar as mulheres, de modo que tenham consciência deste tipo de violência e consigam mudar sua realidade.

Como diretora de Relações Institucionais e Comunicação Corporativa, atuo fortemente na disseminação das práticas e temáticas desse protagonismo, abraçando a causa. Nosso objetivo é inspirar as pessoas e as empresas, a partir do compartilhamento de nossas políticas e ações, da participação em fóruns e grupos temáticos, estimulando o debate, o aprendizado, o conhecimento e a construção de projetos e programas que possam contribuir para o enfrentamento desses desafios.

É importante abrir espaços de diálogo sobre esses temas sensíveis com as mulheres e também com os homens. Eles podem ser grandes parceiros e facilitadores desse processo e precisam estar atentos aos vieses inconscientes. Aliás, a própria mulher precisa estar atenta a isso, pois ela às vezes não se posiciona perante uma atitude que a iniba como profissional ou cidadã, não expondo sua perspectiva e contribuição.

Temos alguns avanços nesses aspectos. Hoje existem grupos que discutem políticas públicas e cultura para mulheres, há mulheres na política e em cargos de liderança falando sobre protagonismo e empoderamento. Há uma série de movimentos e ações que formam uma corrente, mostrando também a força da pluralidade, dos olhares e perspectivas diferentes.

O que me inspira é amplificar essas vozes femininas, para que elas possam seguir uma jornada mais protagonista no contexto empresarial, na ciência e na sociedade. Sou professora também, apesar de não conseguir conciliar com a minha agenda executiva. Mas no dia a dia sou mentora, conselheira, líder, facilitadora. Tenho propósito de contribuir para que a informação e o conhecimento sejam acessíveis, que estimulem a conexão, o diálogo e o senso crítico, para incentivar as mudanças que queremos ver no mundo.

O meu exemplo veio de casa. Minha mãe sempre exerceu múltiplos papéis e eu cresci olhando para ela com admiração, pensando que um dia eu poderia ocupar o meu lugar no mundo.

Como é bom ter essas referências de mulheres que nos inspiram! Quando falamos de diversidade e inclusão, precisamos de referências para nos estimular e espelhar. Além disso, precisamos contribuir para que as novas gerações possam ganhar mais força, conquistando novos espaços e abrindo caminhos para as próximas mulheres.

Que cada mulher possa encontrar suas referências e também ser referência para outras. Que nunca deixemos de nos posicionar. Que nossa voz seja sempre ouvida!

* Andrea Pinheiro, Diretora de Relações Institucionais e Comunicação Corporativa do Grupo Sabin

Abramed assina manifesto em defesa das agências reguladoras

Mais de 30 entidades do setor de saúde se manifestaram contrárias à aprovação de Emenda e apontam riscos para o desmonte da Anvisa e ANS

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e outras 30 entidades do setor de saúde assinaram o “Manifesto em Defesa das Agências Reguladoras”, onde se manifestam contrárias à Emenda 54 da Medida Provisória 1154/2023, que prevê transferir a competência normativa das Agências para conselhos externos.

Segundo o documento, a proposta de Emenda fere a ordem jurídica constitucional e legal, que consagra a independência administrativa, a estabilidade de dirigentes, a autonomia financeira e, consequentemente, a independência decisória e política dessas autarquias.

Se aprovada, a proposta irá desencadear enorme desestabilização do mercado de saúde no país e colocará em risco a população brasileira.

“Enfraquecer a autonomia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é desconsiderar todo um conjunto de esforços já efetuados pelo Estado brasileiro para garantir um controle sanitário eficiente e um mercado sustentável, com resultados comprovados e coerentes com as nossas necessidades”, diz o documento, que lembra ainda a atuação da Anvisa e da ANS durante a pandemia de covid-19.
Leia o manifesto na íntegra aqui.

Teste pode antecipar em 15 anos o diagnóstico da Doença de Alzheimer

Solução inovadora possui alto nível de automação, qualidade e segurança para levar resultados mais rápidos e precisos aos pacientes

Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2021, cerca de 1,2 milhão de brasileiros apresentavam alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados a cada ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões e, segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, os números poderão alcançar 74,7 milhões em 2030 e 139 milhões de pessoas em 2050, devido ao envelhecimento da população e a quatro fatores de risco associados à Doença de Alzheimer (DA), como: tabagismo, obesidade, altos níveis de glicose no sangue e escolaridade. 

Com mais de duas décadas de pesquisa científica sobre DA, a Roche Diagnóstica vem trabalhando em testes com biomarcadores inovadores para resolver questões clínicas e detectar a patologia em seus estágios iniciais, contribuindo para interromper sua progressão e, assim, preservar o que torna as pessoas quem elas são. “Trazemos para o mercado os testes IVD, em amostras de líquido cefalorraquidiano (LCR), que aumentam a precisão do diagnóstico e a confiança do médico”, explica Sandra Sampaio, diretora de Marketing da Roche.

Os critérios clínicos atuais para o diagnóstico da DA requerem que o paciente apresente algum grau de demência, sendo feito, na maioria das vezes, pela exclusão de outras patologias. Nesse sentido, a tecnologia da Roche é capaz de avaliar a dosagem de proteínas no líquor que possuem associação com a Doença de Alzheimer. A dosagem dessas proteínas, também conhecidas como biomarcadores TAU e beta-amiloide, permitem o diagnóstico e são detectáveis na fase de Comprometimento Cognitivo Leve (CCL). Acúmulo de beta-amiloide e tau são as principais características patológicas do Alzheimer e podem surgir 15 anos antes do início dos sintomas.

Outro benefício do teste é a automação, algo muito relevante tanto para os laboratórios quanto para o paciente. Com ele, é possível simplificar o processo de execução, além de excluir interferentes por ser um sistema fechado de diagnóstico. Dessa forma, o laboratório passa a ter uma maior padronização, levando a resultados de alta precisão para os pacientes e, também, de uma forma mais rápida. Os testes Elecsys® CSF para DA (biomarcadores Aβ-42, tTAU e pTAU) da Roche Diagnóstica já estão aprovados pela Anvisa e podem ser prescritos por geriatras, psiquiatras e neurologistas, por exemplo. 

Publicado em 24/1/2023

Perspectivas da medicina diagnóstica para 2023: oportunidades e desafios

Por Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed

Os avanços tecnológicos, o aumento do envelhecimento populacional, e a crescente preocupação com a saúde e o bem-estar tendem a impulsionar o setor de medicina diagnóstica no Brasil e no mundo. Entre os desafios a serem superados, podemos considerar a existência de infraestrutura, recursos tecnológicos e humanos capacitados para lidar com o contínuo aumento da demanda. Também deverá ser solucionado o acesso a exames laboratoriais e de imagem, que têm trazido avanços proporcionando o cuidado personalizado, gerando economia para o sistema de saúde e benefícios diretos aos pacientes.

Serão necessários investimentos para dotar os serviços com equipamentos que disponham de tecnologias mais avançadas, e a expansão, verificada para novos mercados na prestação de serviços de saúde, exigirá novos aprendizados.

Não podemos esquecer que para conviver com essa nova realidade é preciso uma mudança de cultura. O conhecimento médico avança e já há exames preditivos disponíveis, levando as pessoas a compreender a importância de cuidar de sua saúde antes que as doenças ocorram, em vez de aguardar o aparecimento de sintomas e até que elas sejam diagnosticadas.

Entre os novos exames podemos citar a biópsia líquida, um exame de sangue que possibilita detecção de câncer, testes genéticos para identificar predisposição a certas doenças hereditárias e os exames moleculares que possibilitam reclassificar doenças conhecidas, possibilitando indicação precisa de tratamentos. Equipamentos de diagnóstico por imagem modernos, que introduziram várias formas de imagem funcional e molecular já podem ser operados à distância e integrados com inteligência artificial, possibilitando a identificação de lesões e tumores cada vez menores.

Em 2023, esperamos ver um aumento na utilização de tecnologias de inteligência artificial (IA) em todas as áreas da medicina diagnóstica, o que pode trazer benefícios significativos para os pacientes, como aumento da precisão e rapidez dos diagnósticos. No entanto, também devemos estar atentos aos desafios potenciais da IA, como a necessidade de supervisão e regulamentação adequada para garantir a precisão dos resultados e a segurança dos pacientes.

A telessaúde também tem se tornado cada vez mais popular, permitindo que os pacientes tenham acesso a cuidados de saúde, o que amplia o acesso das pessoas a exames de diagnóstico, principalmente em áreas remotas. Outra tendência é o crescimento da medicina personalizada, que se baseia no uso de dados genéticos e outros marcadores para personalizar o tratamento e os diagnósticos para cada paciente individualmente. Isso pode levar a melhores desfechos e reduzidos efeitos colaterais.

Também é preciso estarmos cientes dos desafios financeiros e de infraestrutura necessária atrelados a essas tecnologias avançadas. É importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para lidar com elas e sejam capazes de interpretar e utilizá-las de maneira eficaz para beneficiar os pacientes.

A demonstração de valor que cada exame pode trazer para atividade médica será cada vez mais necessária. Já é tema há muitos anos a necessidade de mudança da forma de pagamento fee-for-service para uma abordagem baseada em valor, Value Based Healthcare (VBH), em que o pagamento é feito de acordo com o valor dos serviços de saúde entregues aos pacientes e ao sistema de saúde, levando em conta a qualidade e a aplicação prática dos resultados reportados, não apenas o volume de procedimentos realizados.

Isso exige que a medicina diagnóstica demonstre seu valor e o impacto na saúde dos pacientes, e que os provedores de serviços trabalhem juntos com outras especialidades médicas para fornecer cuidados integrados e coordenados.

Também é tendência a crescente estruturação de ecossistemas integrados de saúde que incluam serviços de medicina diagnóstica. Esses ecossistemas são projetados para fornecer uma abordagem holística, permitindo que os pacientes tenham acesso a uma ampla variedade de serviços médicos e de saúde, num mesmo ambiente, seja corporativo ou empresarial.

No âmbito regulatório, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou sua agenda 2023, incluindo tópicos que deverão ser discutidos pela Abramed neste ano. Entre eles, as diretrizes para organização do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a descentralização das ações de inspeção e fiscalização sanitárias, regulamentação da análise prévia de dispositivos médicos para diagnóstico in vitro e Regulamento Técnico para o Funcionamento de Provedores de Ensaios de Proficiência para Serviços que executam Exames de Análises Clínicas. Vale lembrar que a nossa entidade sempre atua em estreita colaboração com autoridades regulatórias para ajudar no desenvolvimento do setor de diagnóstico no país.

Vale mencionar, ainda, a disseminação da cultura ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa. Organizações mais maduras na adoção de estratégias nesse contexto podem direcionar e apoiar as que estão ingressando. Exatamente enxergando a relevância e poder do compartilhamento de conteúdo e de melhores práticas, que a Abramed estruturou, em 2022, o Comitê ESG, com o desafio de desmitificar a relação que o tema possui com práticas exclusivamente voltadas às questões ambientais, trazendo a discussão para o contexto da área da saúde.

Como mencionado anteriormente, o setor está vivendo um intenso processo de transformação digital e de inovação com foco na ampliação do acesso à saúde. A medicina diagnóstica contribui diretamente para a crescente do ecossistema empresarial e pode contribuir com outros objetivos de desenvolvimento sustentável que abrangem as temáticas voltadas ao crescimento econômico e emprego; padrões de produção e consumo sustentáveis, e as medidas para combater a mudança do clima dinâmica econômica e social do país e tem também uma responsabilidade grande na redução e neutralização dos impactos das suas atividades no planeta.

Muitos laboratórios associados à Abramed já trilham o caminho da sustentabilidade, outros estão iniciando. A pauta ESG tem enorme potencial para o segmento, mas ainda há, sim, muito a evoluir. É necessário provocar uma mudança no mindset dos líderes.

Estamos cientes das oportunidades e dos desafios que a medicina diagnóstica enfrentará neste ano e comprometidos a trabalhar com nossos associados e parceiros para abordar esses desafios e aproveitar as oportunidades de melhoria do segmento. Continuaremos a promover a educação, a pesquisa, a ética e a transparência em colaboração com outras Entidades e autoridades sanitárias.

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Roche é a mais nova parceira institucional da Abramed

Sandra Sampaio, diretora de estratégia e marketing da Roche, fala sobre as contribuições da empresa para o setor de medicina diagnóstica

Fundado em 1896, na Suíça, o Grupo Roche hoje está presente em mais de 100 países, entre eles o Brasil, operando mundialmente em duas divisões: a Farmacêutica e a Diagnóstica. Seu objetivo é inovar para transformar os cuidados com a saúde e melhorar a vida dos pacientes ao redor do mundo por meio da inovação.

A empresa é a mais nova parceira institucional da Abramed, chegando para contribuir para o desenvolvimento do setor de diagnósticos através de soluções inovadoras que colaboram para a sustentabilidade da cadeia de saúde e a ampliação do acesso da população a exames precisos e rápidos.

Nesta entrevista exclusiva, Sandra Sampaio, diretora de estratégia e marketing da Roche, fala sobre as perspectivas para 2023, soluções digitais, otimização de processos, o papel da indústria, a participação da marca no mercado brasileiro e ações de ESG.

Abramed em Foco – Quais são as perspectivas da companhia para 2023? Há potencial para crescimento? Quais são as prioridades de negócios?

Sandra Sampaio – Nosso ponto de partida é sempre de fora para dentro, ou seja, do paciente para a Roche. E, quando olhamos para fora, vemos alguns aspectos do mercado que indicam potencial de crescimento em 2023. Por exemplo, mesmo a pandemia já estando num momento mais calmo, ainda existe represamento de procedimentos, principalmente na saúde suplementar. Também há muita movimentação no mercado de saúde em relação à consolidação, verticalização e formação de ecossistemas. Sem falar no avanço da saúde digital, que vem ajudando no maior acesso da população à atenção primária. Apesar desses potenciais, sabemos que ainda existem os desafios inerentes.

Em relação a prioridades, podemos citar três que consolidam bem o nosso objetivo: uma delas é continuar aumentando o acesso de maneira sustentável, principalmente fortalecendo as parcerias já estabelecidas e criando novas. A segunda é intensificar o processo de levar ao mercado de saúde mais soluções digitais, que ajudam a ampliar o acesso. Pensando nisso, contamos com um portfólio abrangente e estamos preparando mais inovações para 2023, fruto da dedicação à pesquisa e desenvolvimento. A terceira prioridade é fortalecer a experiência do cliente por meio da expansão de nossos serviços, oferecendo soluções digitais que garantem mais agilidade.

Abramed em Foco – Como tecnologia e qualidade fazem a diferença no mercado?

Sandra Sampaio – As empresas que atuam no setor sabem que 70% das decisões clínicas são tomadas com base em diagnóstico. E, quando se fala em diagnóstico, a qualidade não pode ser opção, ela é fundamental. Pensando pela perspectiva do paciente, estamos falando em qualidade de vida, algo de que não podemos abrir mão. Pelo ponto de vista da instituição de saúde, qualidade significa diagnóstico mais preciso, num tempo menor. Para essas organizações, qualidade é sinônimo de reputação. E, quando se alia qualidade com tecnologia, para garantir que o diagnóstico seja entregue corretamente no tempo certo, assegura-se também o crescimento sustentável das instituições.

Abramed em Foco – A pandemia de covid-19 trouxe uma necessidade emergencial de otimizar os processos de diagnóstico a fim de expor o paciente ao menor risco possível. Quais são os caminhos para que se consiga tornar os exames mais eficazes?

Sandra Sampaio – O primeiro caminho é escolher um teste que realmente possua a qualidade necessária para prover o diagnóstico com precisão e acurácia, que vai garantir melhor resultado e melhor direcionamento do paciente. No entanto, é importante lembrar que além do teste, há outros fatores na tomada de decisão. Precisamos aliar o teste de alta qualidade ao uso correto de protocolos específicos, provendo o conhecimento necessário para os profissionais que vão fazer uso dele. E aqui vejo outro caminho muito importante, mas que ainda está muito numa fase inicial: como dar mais apoio à decisão médica. É preciso garantir o emprego de protocolos que façam sentido para a enfermidade, como o correto uso do teste, e aliar isso ao poder de uma solução digital para permitir que o médico tome a melhor decisão. Só para tornar-se um pouco mais concreto, podemos citar a patologia digital, que por meio do scanner digital e softwares de rastreabilidade provêm a informação de maneira mais abrangente, com alta qualidade e rápida para o profissional da saúde. Na ponta, esse profissional também pode se valer de algoritmos que usam de inteligência artificial e vários outros componentes para enviar ao médico algumas possibilidades que vão tornar a decisão mais rápida e melhor. Assim, o teste acaba sendo mais eficaz.

Abramed em Foco – Qual é o papel da indústria na ampliação de acesso da população a exames de qualidade e na implementação de ações que promovam melhorias aos processos já estabelecidos?

Sandra Sampaio – A indústria é responsável por trazer inovações. A Roche é uma das empresas que mais investem em pesquisa e desenvolvimento, top 10 entre as indústrias de todos os setores. Em diagnóstico, é a número um em investimento em pesquisa e desenvolvimento, pois consegue trazer com velocidade e frequência muito grande mais tecnologia e soluções para ampliar o acesso da população a exames. Cito novamente a patologia digital, que permite às instituições oferecer um serviço de medicina diagnóstica para além das paredes do laboratório, pois o teste pode ser realizado remotamente, utilizando uma lâmina que será escaneada e avaliada por um profissional e oferecendo apoio à decisão com auxílio dos algoritmos. Mas vai muito além de anatomia patológica. Um exemplo bem recente é o lançamento do sistema cobas 5800, um instrumento que faz testes moleculares utilizando PCR como metodologia. O menu inclui desde diagnóstico de HIV e hepatites até testes voltados para a saúde da mulher, como HPV e clamídia. O que quero dizer é que precisamos garantir que instituições de saúde, laboratórios e hospitais, independentemente de seu tamanho, também tenham condições de realizar testes mais especializados, que usem diferentes tecnologias. Com esse lançamento, estamos levando para laboratórios médios e pequenos a possibilidade de realizar testes com a mesma qualidade que hoje um laboratório de grande porte é capaz de oferecer. Essa também é uma forma de proporcionar acesso.

Outro exemplo é que a Roche está trazendo para o mercado brasileiro o teste para Alzheimer, enfermidade com grande relevância, não só em escala nacional, mas também mundial. Temos, ainda, o teste para identificação de insuficiência cardíaca, que passou a ser aplicado para estratificação de risco de pacientes diabéticos. Isso significa que, a partir de agora, é possível, com o mesmo teste já usado para outra enfermidade, ampliar o acesso, mostrando para pacientes diabéticos qual nível de risco para determinada doença eles têm. Inovando e levando essa solução para o mercado, conseguimos mostrar com exemplos claros o papel da indústria. Também estamos trazendo um painel sindrômico que ajuda a fazer, de uma única vez, um diagnóstico mais preciso e rápido. Mais de 20% do nosso faturamento é direcionado para pesquisa e desenvolvimento. Por ser uma empresa familiar, temos um olhar muito forte para a sustentabilidade.

Gostaria de falar, ainda, sobre a importância do papel da indústria no ecossistema de saúde, que é muito complexo e precisa de integração. A Roche acredita que essa parceria precisa ser de valor e ajudar a levar acesso para beneficiar pacientes e clientes. Eu me questiono se a indústria é vista com o papel que ela realmente tem. Nossa cadeia de saúde é bem complexa, e a indústria está ali na ponta, provendo os insumos. A visão desse papel precisa passar por uma transformação, sair do âmbito de fornecedor para o de parceiro. O foco da Roche é no paciente, portanto, as parcerias que fazemos são sempre para beneficiá-lo e ajudar meu parceiro a beneficiar o cliente ou o parceiro dele.

Abramed em Foco – Como a empresa avalia a participação dela no mercado brasileiro?

Sandra Sampaio – A participação da Roche é muito positiva. A marca é líder no mercado diagnóstico no Brasil e globalmente. Aliando-se o altíssimo investimento para gerar mais soluções e inovações, isso nos traz mais perspectivas de ampliar ainda mais o acesso da população à saúde. “Doing now what patients need next” é o que nos representa, o olhar para o paciente. A empresa tem um propósito muito forte e inovação no seu “DNA”. Isso sem dúvida tem trazido mais resultados para o mercado de forma mais contundente. Por outro lado, olhando a falta de acesso da população brasileira à saúde, ainda há muito trabalho a fazer e estamos muito empenhados nessa missão.

Abramed em Foco – Para a Roche, é dever e responsabilidade zelar pela sustentabilidade nos negócios e no ecossistema de saúde, impulsionar o desenvolvimento de soluções que agreguem valor aos clientes e beneficiem cada vez mais pacientes. Como se dão as ações de ESG da companhia?

Sandra Sampaio – Para a Roche, não é um tema novo, a empresa tem um olhar muito especial para as boas práticas relacionadas aos fatores ambiental, social e governança corporativa em âmbito regional, nacional e global. Nossa responsabilidade social de reduzir o impacto ambiental pela metade é super ambicioso. Todos os colaboradores passam por treinamento para garantir o conhecimento e tudo que isso implica no dia a dia da instituição. A Roche é considerada, há mais de 10 anos, uma das empresas mais sustentáveis do planeta, segundo o índice de sustentabilidade da Dow Jones, o que nos orgulha muito e reforça nossas práticas de ESG. No Brasil, temos uma equipe local responsável por esse tema, abordando o cuidado às pessoas e a implementação das práticas, pois é importante que tenham conhecimento de sua responsabilidade dentro da responsabilidade da Roche. A empresa também atua com programas sociais em comunidades. ESG é e continuará sendo uma pauta dentro das nossas reuniões de liderança sênior.

Abramed em Foco – Como a Roche enxerga a atuação da Abramed na medicina diagnóstica? O que espera da entidade como parceira para melhoria do setor?

Sandra Sampaio – A Abramed representa a voz da medicina diagnóstica. Embora haja muitas oportunidades de ampliar os acessos, também há desafios; por exemplo, quando falamos de medicina preventiva, vemos que o investimento na área é muito baixo. O Brasil investe em torno de 9,4% do PIB em saúde, mas o investimento em diagnóstico representa 0,5% do montante, menos do que vários países, inclusive da América Latina. Isso mostra que o olhar para a medicina diagnóstica ainda é raso. Temos uma saúde muito reativa, que enfoca o tratamento e não a prevenção. A Abramed tem feito um trabalho que tende a se intensificar cada vez mais, elevando o valor do diagnóstico no nosso país. Seu papel é muito importante dentro de um desafio que é ainda maior.