Por Fabiano Gomes Estellita*
Na medicina diagnóstica, a integração de dados entre sistemas é como um quebra-cabeça complexo: peças de informação valiosas espalhadas, com alta sensibilidade e sem um padrão para uni-las. Imagine os desafios: garantir a segurança de dados de saúde, como rege a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), e encontrar um modelo que atenda às necessidades de segurança, integridade e praticidade.
É como se cada organização tivesse seu próprio idioma, dificultando a comunicação e o compartilhamento de conhecimentos que podem salvar vidas. Sem um padrão claro de codificação, é preciso decidir qual modelo usar. A criação de novos formatos só complica ainda mais o processo de decisão, para quem tem à frente o desafio de fazer integrações cada vez mais complexas.
A saída para responder a estes anseios tem sido o foco de ação de empresas desenvolvedoras de softwares, entidades de representação, como a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), e outros agentes participantes deste complexo cenário. Em geral, são adotados modelos já criados pelos fornecedores de software com adequações específicas para atender alguma demanda. No entanto, cada integração é quase um novo modelo ou a versão adaptada de um já existente
Essa diversidade de formatos e codificações contribui para gerar ineficiência no setor, além de retrabalho e uma demora excessiva em viabilizar ações. Muitas vezes nos deparamos com mudanças que levam meses, desde a identificação de uma necessidade de integração, passando pela definição do formato e conciliação de códigos e validação. Ter a tecnologia como um fator que gera atrasos é um dilema antagônico, afinal, ela deve ser um catalizador para otimização de processos.
Nesse ponto, a Inteligência Artificial (IA) e a Internet das Coisas (IoT) estão revolucionando a troca, o tratamento e a análise de dados em saúde. A IoT facilita integrações entre sistemas, enquanto a IA identifica padrões, anomalias e sugere melhorias na gestão de informações, de forma rápida. Ainda estamos vivendo um momento de entendimento de até onde estas tecnologias podem nos levar, mas sem dúvidas há uma quebra de paradigmas e possibilidades a nossa frente.
Entre os fatores críticos relacionados à integração estão a segurança e a privacidade dos dados. Para lidar com isso, os protocolos de comunicação devem incluir camadas de proteção para garantir que apenas emissor e receptor interpretem os dados. Outros pontos importantes são integrar apenas informações necessárias e garantir que os proprietários estejam cientes do uso e acesso aos seus dados. Ao alimentar bases de conhecimento públicas, é fundamental proteger a identidade e os dados sensíveis dos indivíduos, tornando as informações úteis para pesquisas sem comprometer a privacidade.
De fato, a pandemia de 2020 destacou a importância de informações unificadas e padronizadas para respostas mais eficientes no sistema de saúde. Com a diversidade de empresas envolvidas na geração e compartilhamento de dados, a troca de dados é essencial para um sistema de saúde democrático e acessível, reduzindo custos e possibilitando o acesso a procedimentos modernos e eficazes.
Padrões de codificação como o LOINC (Padrão Universal para identificação procedimentos médicos) e o HL7 (conjunto de normas internacionais para a transferência de dados clínicos entre sistemas de informação em saúde), que já são usados em grande escala fora do Brasil, são caminhos promissores na direção da padronização e do ganho de eficiência.
Vale ressaltar que a troca de informações de saúde garante que as operações tenham escala para suportar o grande volume de demandas por diagnósticos ágeis e confiáveis, além de ampliar o acesso a procedimentos complexos e diferenciados, possibilitados pela integração entre organizações. Além disso, o compartilhamento de dados entre as empresas viabiliza ações de negócios entre elas e ajuda a construir bases de conhecimento que possam servir como fonte de dados para orientar políticas de saúde públicas.
No Comitê de Interoperabilidade da Abramed, trabalhamos para democratizar o entendimento sobre interoperabilidade, tornando-o acessível a todos, não restrito a fóruns mais técnicos. Com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais de diversas áreas e de relevantes empresas da medicina diagnóstica, buscamos promover uma visão ampla e integrada.
Também colaboramos com órgãos governamentais e outras associações para incentivar a adoção de padrões de comunicação e codificação, impulsionando a padronização e a simplificação das trocas de informações no setor. Estamos comprometidos em facilitar a colaboração e garantir um futuro mais conectado e sustentável para toda a cadeia da saúde.
* Fabiano Gomes Estellita, gerente de Tecnologia da Analiza e Membro do Comitê de Interoperabilidade da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). Formado em Matemática com especialização em Governança de Tecnologia de Informação (SENAC-RJ) e MBA em Liderança, Gestão de Equipes e Produtividade (PUCRS), atua há 30 anos com tecnologia em empresas de medicina diagnóstica.
28/05/2024