Abramed assina manifesto em defesa das agências reguladoras

Mais de 30 entidades do setor de saúde se manifestaram contrárias à aprovação de Emenda e apontam riscos para o desmonte da Anvisa e ANS

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e outras 30 entidades do setor de saúde assinaram o “Manifesto em Defesa das Agências Reguladoras”, onde se manifestam contrárias à Emenda 54 da Medida Provisória 1154/2023, que prevê transferir a competência normativa das Agências para conselhos externos.

Segundo o documento, a proposta de Emenda fere a ordem jurídica constitucional e legal, que consagra a independência administrativa, a estabilidade de dirigentes, a autonomia financeira e, consequentemente, a independência decisória e política dessas autarquias.

Se aprovada, a proposta irá desencadear enorme desestabilização do mercado de saúde no país e colocará em risco a população brasileira.

“Enfraquecer a autonomia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é desconsiderar todo um conjunto de esforços já efetuados pelo Estado brasileiro para garantir um controle sanitário eficiente e um mercado sustentável, com resultados comprovados e coerentes com as nossas necessidades”, diz o documento, que lembra ainda a atuação da Anvisa e da ANS durante a pandemia de covid-19.
Leia o manifesto na íntegra aqui.

Padronização do prazo para armazenamento de exames está entre os focos do Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed

Essa é uma das prioridades para 2023, juntamente com a eliminação do uso de filmes, em busca da sustentabilidade do sistema

O Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, criado para estudar, promover e acompanhar as normas relevantes para a área, tem duas prioridades para 2023, conforme explicam as lideranças: Gustavo Meirelles, VP da Alliar Médicos à Frente, e Marcos Queiroz, diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Albert Einstein.

Um dos principais assuntos é a padronização do prazo para armazenamento de exames de diagnóstico por imagem. Segundo Meirelles, não existe uma legislação clara a respeito do tempo ideal para a guarda desses materiais. “Vamos trabalhar para que a Abramed faça uma recomendação, endossada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), a ser posteriormente encaminhada ao Conselho Federal de Medicina (CFM). Atualmente, subentende-se que, enquanto o paciente não retirar seu exame, a clínica ou o hospital precisa armazená-lo, o que é feito, geralmente, de forma digital”, explica.

Mesmo quando o paciente retira o exame, alguns hospitais e clínicas preferem manter o documento por cinco anos, em média, para usá-los em comparações com exames atuais, mas é preciso que haja uma norma regulamentando até quando devem ser armazenados. “Além disso, essa indefinição acaba gerando custos desnecessários ao processo, o que afeta a sustentabilidade financeira das empresas”, acrescenta Queiroz.

Outro tema que merece atenção do Comitê neste ano é a eliminação do uso de filmes, em busca de soluções mais ecológicas, projeto que também se relaciona à pauta ESG (governança ambiental, social e corporativa, do inglês environmental, social, and corporate governance). Algumas instituições já migraram para o modelo digital, por questões de sustentabilidade e também porque a resolução é melhor para avaliação do médico.

Neste tema, há duas barreiras a serem quebradas: uma é a cultural, pois alguns profissionais são resistentes à mudança, e a segunda é a remuneração, questão já vencida pelas instituições maiores que precisa ser estendida às menores. Funciona assim: o valor pago por um exame de imagem inclui um percentual referente aos filmes. Apesar de não o usarem mais, as instituições deveriam continuar sendo remuneradas pelo armazenamento digital dessas imagens, tendo em vista os diversos custos envolvidos na adoção e manutenção dos sistemas. “É preciso entender como isso irá ocorrer nas instituições menores. Não é sustentável ter a imagem impressa, afinal, uma tomografia pode ter 2.000 imagens”, expõe Queiroz.

Também nessa questão, a Abramed pode recomendar às fontes pagadoras que continuem remunerando como documentação, já que o exame digital inclui custos para armazenamento em nuvem e uso de sistemas de visualização das imagens, entre outros. “É preciso deixar claro esse valor, que pode até ser superior ao de impressão, para não associar a solicitação a corte de custos”, declara Meirelles.

Segundo Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, o Comitê Técnico de Radiologia e Diagnóstico por Imagem tem uma importância estratégica para o setor de medicina diagnóstica. “Ele é responsável por fornecer orientação técnica e política-institucional para questões que afetam direta ou indiretamente esse segmento, contribuindo para a melhoria da saúde da população e promovendo a sustentabilidade de todo o sistema”, declara.

Ela destaca ainda que o diagnóstico por imagem é uma ferramenta valiosa que permitem os médicos tomar decisões precisas em relação à saúde dos pacientes. Portanto, discutir todos os temas que se relacionem a esse setor, em conjunto com as empresas que atuam nele, está entre os focos da entidade.

O comitê está montando dois grupos de trabalho para discutir as questões expostas e elaborar um cronograma de ações. O objetivo é discutir, propor e implementar alterações trazendo impacto positivo para o setor. “É importante cada empresa associada participar não só deste, mas também de outros comitês da Abramed, participando ativamente nas discussões”, acrescenta Milva.

Telessaúde é uma ferramenta para melhorar o acesso e a eficiência dos serviços de saúde

A Lei 14.510, que autoriza a prática da telessaúde, foi aprovada em 28 de dezembro de 2022 e está movimentando o setor

A telessaúde tem o potencial de transformar a forma como os pacientes recebem cuidados de saúde, permitindo maior acesso, principalmente em áreas remotas. A aprovação da Lei 14.510, em 28 de dezembro de 2022, que autoriza e disciplina a prática da telessaúde em todo o território nacional, vai proporcionar o desenvolvimento ainda maior de tecnologias e trará novas oportunidades para o setor da saúde, ampliando o atendimento às pessoas.

Em resumo, a lei inclui princípios como autonomia e dignidade do profissional de saúde, consentimento livre e informado do paciente, segurança e qualidade da assistência, confidencialidade dos dados, promoção da universalização do acesso aos serviços de saúde, bem como estrita observância das atribuições legais e responsabilidade digital. Ainda, os atos do profissional de saúde na modalidade de telessaúde terão validade em todo o território nacional. Já a competência de normatizar a ética da prestação de serviços fica a cargo dos conselhos federais de fiscalização do exercício profissional.

“A telessaúde evita deslocamentos a uma clínica ou hospital, auxiliando pacientes idosos, com necessidades especiais e que moram em regiões remotas, facilitando seu agendamento, poupando tempo e recursos. Além disso, reduz filas nesses estabelecimentos, aumentando a oferta de horários disponíveis e melhorando, assim, a qualidade, pois permite aos profissionais acessarem informações e registros médicos em tempo real”, ressalta Edgar Diniz Borges, diretor-presidente da LISBrasil, associação de referência no setor de Tecnologia de Informação que atua para desenvolver e promover iniciativas que contribuam para o fortalecimento do setor de medicina diagnóstica.

Segundo Borges, um ponto importante é a redução dos custos que envolvem o atendimento, favorecendo a alocação de investimentos nas demandas principais. “A lei é importante para garantir que os pacientes tenham acesso a serviços seguros e regulamentados, além de assegurar que os profissionais de saúde possam utilizar as tecnologias de forma ética e responsável”, salienta.

Para Michele Maria Batista Alves, gerente executiva da Saúde Digital Brasil (SDB), entidade representativa dos prestadores de serviço de telessaúde do Brasil, a regulamentação é a base para a evolução da telemedicina, pois permite que não só novas tecnologias como também soluções surjam e tenham impacto significativo. “Oferece, ainda, segurança jurídica, permitindo tanto aos governos quanto à sociedade em geral avançar na utilização deste serviço”, expõe.

Na área de diagnósticos, a telessaúde abre diversas facilidades aos pacientes, como exames e monitoramento à distância. Esse monitoramento pode ser feito por um profissional de saúde durante a realização do procedimento em si ou até mesmo consistir em teleorientação ou telemonitoramento pré e pós-atendimento, que pode se dar, por exemplo, via teleconsulta ou aplicativo.

“A telessaúde integrada à saúde digital, que é um conceito mais amplo, pois abarca as tecnologias de suporte à prestação dos serviços, permite ainda que os pacientes tenham acesso facilitado a resultados de exames e evolução clínica, recebam recomendações e monitoramento via aplicativo e realizem exames em domicílio. Tudo isso com a garantia de segurança pelos laboratórios”, salienta Michele.

Já os profissionais de saúde e os laboratórios, além de contarem com a segurança jurídica para a realização de atendimentos à distância, ainda que para alguns procedimentos seja exigida a presença de um profissional de saúde em cada ponta, podem contar também com equipamentos portáteis cada vez mais sofisticados, facilitando a realização de exames em domicílio, em áreas remotas ou em pequenos postos de atendimento.

Na análise de Cesar Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), a regulamentação não veio para impedir ou cercear a expansão da telessaúde, mas para priorizar a qualidade e evitar uma corrida pelo lucro. “É crucial ter discussões sobre questões como o nível de equipamentos, soluções e requisitos mínimos, pois trata-se de uma área que vai impactar vidas, diagnósticos, condutas e mudanças de tratamento. Portanto, deve ser feito com muito cuidado”, expõe.

Outra área relevante é a dos dispositivos utilizados na telessaúde, pois muitos deles não são homologados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ou pela Anvisa. Para Nomura, é importante encontrar formas de agilizar a implementação de novas tecnologias de monitorização de pacientes sem prejudicar a qualidade e a segurança.

Panorama Jurídico

Teresa Gutierrez, advogada da Machado Nunes Advogados, lembra que a telerradiologia e a telepatologia sempre tiveram regulamentação própria, sendo uma prática consolidada (Resolução CFM 2.107/2014 e Resolução CFM 2.264/2019, respectivamente). Para essas áreas, o impacto da Lei de Telessaúde é pouco, pois continua vigorando a regulamentação existente.  

No entanto, para a teleconsulta, Teresa faz questão de destacar que o Conselho Federal de Medicina (CFM) impôs ao menos duas restrições não previstas na Lei da Telessaúde: obrigação de consulta presencial em intervalos de até 180 dias para pacientes crônicos ou que requeiram acompanhamento por longo tempo; e obrigação de acompanhamento com consulta médica presencial, independentemente do pedido do paciente. “Essas limitações não são autorizadas por lei, ressalvada a hipótese de o CFM demonstrar que efetivamente tem um dano para o paciente utilizar a teleconsulta. É o princípio da precaução, ou seja, uma vez conhecido o dano, são impostas limitações à prática.” 

Sobre multas para não cumprimento de determinados pontos, a advogada conta que, antes da existência da lei propriamente dita, a falta de cumprimento de certos requisitos resultaria apenas em uma infração ética. Os responsáveis técnicos por unidades de saúde que realizam atendimento à distância respondem por elas. A penalização ocorre quando há um processo no conselho profissional; a punição pode incluir uma advertência ou até mesmo a cassação do registro, mas não há multa para infrações éticas médicas.

Quando falamos da Lei de Telessaúde, a questão pode acarretar uma infração sanitária. Nesse caso, o estabelecimento pode sofrer as penalidades previstas pelo código sanitário de cada estado, por exemplo, advertência, multa ou interdição. “No entanto, a interdição por atendimento à distância é improvável, pois não causa grande dano ao paciente. As penalidades podem ser impostas por descumprimento das normas do conselho médico ou de um parecer deste conselho”, explica Teresa.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, chama atenção para os desafios financeiros e de infraestrutura ligados a essas tecnologias avançadas. É importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para lidar com elas e sejam capazes de interpretá-las e utilizá-las de maneira eficaz, sempre com foco no bem-estar dos pacientes.

Segundo ele, ponto relevante quando se fala de tecnologia digital é a interoperabilidade dos sistemas para garantir que as informações sejam compartilhadas de maneira eficiente. “A interoperabilidade é importante para a telessaúde, pois permite que os sistemas possam se comunicar e compartilhar informações de maneira efetiva. Isso garante que prestadores de serviços de saúde, operadoras e instituições possam trabalhar juntos e compartilhar dados importantes sobre o paciente, o que é fundamental para o cuidado de saúde e para a gestão de recursos”, expõe.

Vale salientar que a telessaúde não deve ser vista como uma substituição aos cuidados presenciais, mas sim como uma ferramenta complementar para melhorar o acesso e a eficiência dos serviços de saúde.

Abramed participa de reuniões com a ministra da Saúde

Segundo a pasta, o diálogo permanente com o setor privado da saúde é compromisso do governo atual desde a transição

Na primeira semana de fevereiro, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), representada pelo presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik, cumpriu importante agenda junto à ministra da Saúde, Nísia Trindade, em São Paulo e Brasília.

Um dos encontros foi no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com alguns dos principais nomes do setor de saúde suplementar. Participaram representantes de entidades setoriais, planos de saúde, laboratórios farmacêuticos e hospitalares. A instituição é reconhecida como “Hospital de Excelência” (HE) pelo Ministério da Saúde, ou seja, cumpre os requisitos para a apresentação de projetos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (ProadiSUS).

Segundo a pasta, o diálogo permanente com o setor privado da saúde é compromisso que vem desde o período da transição de governo. Assim, os representantes do ministério buscam conhecer e debater ideias de diferentes origens, visando sempre ao aperfeiçoamento do SUS.

Na sequência, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que se destaca como um grande centro de pesquisa e ensino, Shcolnik esteve entre os participantes de um café da manhã com a ministra. Na ocasião, Nísia destacou que as prioridades do Ministério da Saúde são retomar as coberturas vacinais, recuperar a coordenação nacional e ampliar o acesso de qualidade ao SUS, principalmente para a população mais pobre. “Diante da complexidade do Brasil, o Ministério da Saúde será orientado pelas melhores evidências científicas, a serviço do SUS e da democracia”, disse.

No terceiro encontro, a ministra atendeu à uma solicitação de reunião feita pelas entidades Abramed, Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) e Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB). O objetivo foi mostrar que o projeto do piso salarial nacional da enfermagem (PL 2.564/2020), apesar de reconhecer o papel importante da profissão, tem dificuldades em ser viabilizado.

A ministra recebeu o grupo, em Brasília, na companhia de seus principais assessores e dos funcionários do Ministério da Saúde que compõem o grupo de trabalho organizado para examinar o tema.

Na reunião, o setor privado solicitou a colaboração do Ministério da Saúde para identificar fontes permanentes e reais para o pagamento das despesas com o reajuste. Com a aprovação do PL, estima-se um aumento significativo nos custos da medicina de cerca de 9,5%. Os impactos serão sentidos tanto pelo setor público quanto pelo privado.

Foi destacada a fragilidade das soluções até agora apresentadas, por não apontarem fontes de recursos ou serem inconstitucionais. A insistência nesse tipo de solução tende a prolongar o debate, inclusive no poder Judiciário, sem que a questão seja resolvida definitivamente.

As entidades entregaram ao ministério diversos estudos sobre o assunto, encomendados a algumas das mais importantes consultorias econômicas e jurídicas do país. A ministra agradeceu as contribuições e informou que o processo de tomada de decisão sobre o assunto está terminando. Disse, ainda, que transmitirá à equipe do governo as posições e preocupações apresentadas, assim como já fez com o pleito da enfermagem.

A participação da Abramed e de outras entidades em reuniões com a ministra ajuda a construir relacionamentos e colaborações mais estreitas com o governo e influenciar decisões que afetam o setor de saúde, a indústria médica e, principalmente, os pacientes.

Publicado em: 15/02/2023

Genômica e inteligência artificial prometem revolucionar tratamento do câncer

A utilização dessas tecnologias para diagnóstico de tumores promoverá resultados mais precisos, rápidos e eficientes

A genômica e a inteligência artificial já são utilizadas com sucesso no tratamento do câncer, uma das principais causas de morte em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Dia Mundial de Combate à doença, 4 de fevereiro, é o marco de conscientização sobre os cuidados de prevenção e controle.

A genômica é a ciência que estuda a estrutura e a função do genoma humano, incluindo a identificação de mutações genéticas específicas associadas ao câncer. A inteligência artificial (IA), por sua vez, é uma tecnologia de aprendizado de máquina que pode ser usada para processar grandes quantidades de dados e identificar padrões complexos.

Juntas, a genômica e a IA têm o potencial de revolucionar o tratamento do câncer, fornecendo informações mais precisas e personalizadas sobre a doença. Por exemplo, os testes genômicos podem identificar mutações genéticas específicas que possam afetar a eficácia de determinados tratamentos. Algoritmos de IA podem ser usados para analisar essas informações genômicas junto a outros dados clínicos, como idade, histórico familiar e estágio da doença, para ajudar a determinar o melhor tratamento para cada paciente de forma individualizada.

“O conhecimento coletivo da genômica do câncer em diferentes populações ajuda a compreender a genômica do câncer específico de um paciente, identificando as alterações responsáveis pela progressão do tumor        que o tornam resistente ao tratamento. O objetivo é identificar as alterações genômicas mais relevantes para o tumor”, explica o oncologista Rodrigo Dienstmann, diretor médico da Oncoclínicas Precision Medicine, do Grupo Oncoclínicas, e pesquisador do grupo Oncology Data Science no Vall d’Hebron Institute of Oncology (Espanha).

A inteligência artificial também está em uso na patologia, para guiar testes genômicos. Ao digitalizar a lâmina de um tumor, é possível utilizar algoritmos treinados com milhões de dados de pacientes para detectar padrões ocultos que o patologista não consegue ver ao examinar a lâmina com o microscópio. Isso permite identificar, por exemplo, uma alteração genômica na biópsia de um câncer.

“Essa tecnologia dá pistas sobre qual teste deve ser feito com prioridade, e a alteração desse tumor pode guiar o tratamento. Ou seja, no diagnóstico, a inteligência artificial é utilizada para indicar qual teste genômico deve ser feito e, após isso, como interpretar esse resultado”, explica Dienstmann.

Os avanços na utilização da inteligência artificial no diagnóstico de tumores promoverão resultados mais precisos, rápidos e eficientes. Como um tumor tem muitas alterações moleculares, é importante selecionar a melhor tecnologia diagnóstica para identificá-las. “O uso da IA dará celeridade aos laboratórios. Vale lembrar que a tecnologia não substitui o teste molecular com alta qualidade nem a necessidade de um profissional interpretar os resultados, como um patologista ou um biólogo molecular. Ela fornece ferramentas para agilizar e tornar mais eficiente a interpretação dos resultados”, ressalta o diretor médico da OC Precision Medicine.

É importante destacar que o desenvolvimento da inteligência artificial no diagnóstico do câncer requer alta tecnologia e laboratórios muito bem coordenados, desde patologistas até bioinformatas, incluindo todas as ferramentas de software que integram a IA na rotina. Para alcançar esse avanço, é preciso uma combinação de recursos humanos experientes, tecnologia de ponta e infraestrutura adequada, evitando testes desnecessários e concentrando-se nas alterações mais relevantes do tumor.

“Prevemos para 2023 uma ampla utilização de tecnologias de inteligência artificial na medicina diagnóstica, o que pode levar a resultados mais precisos e diagnósticos mais rápidos para os pacientes. Os algoritmos podem ser usados para identificar sinais precoces de câncer, avaliar a eficácia de tratamentos e monitorar a progressão da doença”, declara Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

No entanto, segundo ele, a falta de dados médicos de alta qualidade e padronizados pode afetar a precisão dos resultados da inteligência artificial, por isso é fundamental a integração entre os players da cadeia da saúde. Além disso, é importante garantir que as tecnologias sejam desenvolvidas de forma ética e responsável para evitar prejuízos aos pacientes.

Publicado em: 15/2/2023

Gestão corporativa de saúde eficiente se faz com integração

Os players precisam trabalhar em conjunto com a mesma quantidade de dados, olhando para o paciente de forma igualitária

Para uma gestão corporativa de saúde eficiente, dois pontos são fundamentais: integração entre os players do setor, inclusive interoperabilidade, e remuneração baseada em valor, na busca por eliminar os desperdícios. Essas questões acompanham as mudanças pelas quais o sistema de saúde vem passando, principalmente após a pandemia de covid-19.

Atualmente, muitas das empresas da área da saúde tem capital aberto na bolsa ou estão buscando destaque no mercado financeiro, necessitando apresentar resultados positivos e em períodos mais curtos de, no máximo, um ano, caso, contrário, suas lideranças podem ser trocadas. Na verdade, estas lideranças são contratadas sabendo do foco em resultados e até por este motivo, muitos são oriundos do mercado financeiro, não na área de saúde.

A questão delicada é que, além de oferecer saúde, é preciso ser sustentável para dar retorno aos acionistas. “Não há nada errado em empresas entrarem no mercado visando ao lucro, mas é preciso fazer o outro lado, ou seja, a operação técnica. Afinal, o objetivo não é meramente financeiro”, expõe Claudio Tafla, presidente da Aliança para a Saúde Populacional (ASAP).

Pelo lado dos pacientes, Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), ressalta que hoje as pessoas estão mais conscientes da responsabilidade sobre a própria saúde, buscando saber mais. Questões ligadas ao autocuidado não eram nem conhecidas há alguns anos. Ainda, vale lembrar que a gestão de saúde se faz com três pilares básicos: alimentação saudável, atividade física e consciência sanitária. Por si só, o sistema não tem o poder de mudar o perfil da pessoa; a motivação precisa vir dela, mas as empresas devem estar preparadas para lidar com isso.

Outra mudança relevante no sistema de saúde é a prevalência de planos coletivos empresariais ou coletivos por adesão, enquanto, no passado, os planos para pessoas físicas detinham a maior quantidade. “Com isso, há uma pressão ainda maior das empresas contratantes das operadoras de planos de saúde nos dois sentidos: menores reajustes anuais das mensalidades, porém com incremento e foco na saúde dos colaboradores para que diminuam absenteísmo e presenteísmo em curto, médio e longo prazos, aumentando sua produtividade”, comenta Tafla.

Por conta disso, a gestão da saúde passou a ser impulsionada pelas empresas contratantes/empregadoras e o termo gestão de saúde corporativa ganhou força, como observa Milva, citando a sinistralidade e a polarização entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços de saúde, que levam à eterna discussão sobre demanda X necessidade e as consequentes glosas. “E aqui entra o valor efetivamente do serviço que está sendo prestado, não o aspecto da quantidade, mas o da qualidade. Tirando as distorções do mercado, quando olhamos para a integração da cadeia e uma gestão mais eficiente, com o paciente no centro, conseguimos pensar mais na efetividade do cuidado, no uso do recurso certo na hora certa, conforme a necessidade real”, diz.

Essa questão se liga ao desperdício em saúde, como mostram vários estudos quantitativos e qualitativos sobre o tema. Em 2005, a Universidade de Boston identificou que 50% do que era investido acabava desperdiçado. Esse mesmo estudo, em 2009, revelou que o valor caiu para 30%. Atualmente, no Brasil, segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), 20% do valor investido em saúde é desperdiçado. “Hoje, são investidos R$ 600 bilhões em saúde, se esses 20% fossem reinvestidos em ações eficientes, seriam mais de R$ 120 bilhões para melhorar o sistema, o que traria menos tensão a questões como má remuneração de prestadores, falta de recursos e judicialização na saúde”, acrescenta Tafla.

No entanto, vale lembrar que não basta colocar mais recursos no sistema de saúde se ele é mal gerido, porque isso só aumentaria a ineficiência e o desperdício. Primeiramente, é necessário melhorar a gestão para então começar a aportar recursos e “cortar pelas beiradas” o que é preciso cortar. “É um conjunto de ações que passa pela efetiva integração da cadeia. Quanto mais integração, mais efetividade e menos desperdícios”, complementa Milva.

Faz parte desse conjunto de ações a mudança do modelo de remuneração. “Precisamos equilibrar o acesso à saúde com modelos acordados entre todos os atores do sistema e realizáveis na prática. Assim, traremos todos para o mesmo lado e foco no melhor desfecho para o usuário, porque o sistema está fragmentado devido a um modelo de remuneração onde cada um busca o melhor resultado para si, e isso, com certeza, não traz eficiência para o sistema”, explica Tafla.

“Se houvesse um modelo de remuneração que convidasse a medicina diagnóstica a fazer uma melhor gestão das solicitações de exames pelos profissionais de saúde, seria possível criar uma consultoria/auditoria/curadoria dos pedidos, permitindo ao médico avaliar a própria solicitação, inclusive com base no histórico e no prontuário do paciente”, argumenta Tafla. “O modelo de remuneração vai forçar uma integração e vice-versa, os dois caminham juntos”, adiciona Milva.

Os players precisam trabalhar em conjunto utilizando a mesma quantidade de dados e informações, olhando para o paciente com visão igualitária. “O médico que está examinando o indivíduo tem determinado olhar para ele; a operadora tem outro olhar; e a medicina diagnóstica tem um terceiro. Como eles não têm os mesmos dados, a discussão se torna inócua, não se chega a um ponto em comum. Se todos os players tiverem a responsabilidade de atuar com eficiência, conseguiremos trazer todos para o melhor cenário”, analisa Tafla.

Importante reconhecer que prevenção e promoção da saúde são básicas para a gestão de saúde, mas é preciso encontrar recursos e fornecer acesso para entregar a todas as populações, de forma igualitária, tudo aquilo que é possível entregar. “Não podemos utilizar tecnologias muito avançadas para analisar o genoma, por exemplo, e não dar acesso a medicamentos e tratamentos básicos a pacientes já diagnosticados. Acredito que não podemos fechar os olhos para esse desequilíbrio em termos de saúde populacional”, diz Tafla.

O presidente da ASAP defende um sistema de saúde mais consistente, mesmo que caminhe devagar. “Ganhos que acabam trazendo repercussões negativas dão passos para trás na evolução do sistema de saúde. Temos de ser pró-inovação, pró-desenvolvimento, pró-pesquisa, mas com eficiência e responsabilidade.”

A melhor forma de tomar decisões é reunir todos os envolvidos no setor da saúde e debater se um ganho individual pode ser benéfico para todos. Dessa forma, as informações serão combinadas para alcançar resultados mais satisfatórios. É preciso buscar cases de sucesso e investir em pilotos de mudança que ajudem a trilhar esse caminho juntos, para gerar eficiência.

A medicina diagnóstica, com seus recursos de dados, qualidade e informações técnicas, pode ajudar a melhorar a seleção de exames, as prescrições e as indicações médicas no sistema de saúde. “É importante que as empresas sejam adequadamente recompensadas por isso. Ao realizar menos exames, é possível obter resultados mais precisos e precoces, contribuindo para a melhora do tratamento do paciente. Essa economia também gera beneficiários melhores, por isso, essa questão precisa ser considerada”, declara Tafla. Para os entrevistados, o foco na sustentabilidade é fundamental para o equilíbrio do sistema. A ideia agora é que haja avanços na integração entre os diversos atores da cadeia de saúde e que a transformação comece desde já. Abramed e ASAP, por exemplo, já estão articulando essa união de esforços em prol do setor.

Quantidade de exames e positividade de Covid-19 seguem estáveis, segundo Abramed

Na semana de 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2023, foram realizados 15.287 exames, com positividade de 12,6%

A quantidade de exames de Covid-19 realizados em clínicas e laboratórios privados no Brasil vem se mantendo estável nas últimas três semanas, assim como a taxa de positividade. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujos associados respondem por cerca de 60% de todos os exames realizados pela saúde suplementar no país.

Na semana de 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2023, foram realizados 15.287 exames de Covid-19, com positividade de 12,6%. Em relação à semana anterior, de 21 a 27 de janeiro, houve crescimento de apenas 5,7% na quantidade de exames (14.461) e redução de 0,9 pontos percentuais na positividade (13,5%). Na semana de 14 a 20 de janeiro, foram 15.715 exames, com 13% de positividade, comprovando a situação de estabilidade.

Desde 24 de dezembro de 2022, o número de positivos vem reduzindo, passando de 27,1% para 12,6%. No total das últimas seis semanas (24 de dezembro a 3 de fevereiro), foram realizados 111.329 exames de Covid-19, com taxa média de positividade de 17,7%.

Importante ressaltar que dados mais antigos estão sendo atualizados pelos associados da Abramed. Segundo as novas informações, de 31 de dezembro de 2022 a 6 de janeiro de 2023, foram realizados 21.643 exames de Covid-19, com 20,2% de positividade. De 7 a 13 de janeiro, foram 18.602 exames, com 15,7% de positividade. E de 14 a 20 de janeiro, foram 15.715 exames, com 13% de positividade. 

Segundo a Abramed, é fundamental que a saúde suplementar reporte os dados de diagnóstico em relação à Covid-19, pois isso ajuda a compreender a situação epidemiológica da doença e a identificar focos de disseminação, contribuindo para a tomada de decisões e a implementação de medidas de prevenção e controle mais eficazes.