Aumento no número de exames de dengue noticiado pela Abramed foi destaque na mídia

Os dados de exames de dengue realizados pelos associados à Abramed foram pauta de matéria na Folha de S. Paulo, publicada em 23 de janeiro. Com o título “Busca por teste de dengue na rede privada cresce 25% no país”, o texto mostrou a comparação entre as duas primeiras semanas epidemiológicas de 2023 e 2024.

Em entrevista, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, disse que os números demonstram que as pessoas estão preocupadas com a escalada da dengue no país e buscam a testagem quando têm sintomas associados à doença. Segundo ele, além do teste, é importante fazer a contagem de plaquetas e analisar o estado de hidratação da pessoa, para evitar casos mais graves.

A Record News, O Globo e as rádios CBN, Jovem Pan e BandNews também abordaram o assunto, mostrando o aumento de 77% no número de exames de dengue realizados nas semanas de 16 de dezembro de 2023 a 13 de janeiro de 2024.

Tendências e perspectivas para 2024 no setor de medicina diagnóstica

A expectativa é por diagnósticos mais rápidos e precisos, com a ajuda da tecnologia, impulsionando intervenções preventivas

O cenário da área de medicina diagnóstica para 2024 é muito promissor, com grandes oportunidades, embora haja alguns desafios. Segundo Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), as condições epidemiológicas continuam a impulsionar a demanda por exames, tanto na área laboratorial como na de imagem, especialmente em relação às doenças crônicas e ao envelhecimento da população.

De acordo com dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, o Brasil está passando por uma significativa transição demográfica. Essa mudança, relacionada à transição epidemiológica, indica uma alteração nos padrões de saúde do país. Anteriormente, as doenças infectocontagiosas eram a principal causa de mortes, especialmente em nações de baixa renda.

Contudo, à medida que a população amadurece, as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes, tornam-se mais proeminentes como causas de óbito. O Brasil reflete essa transição, com uma crescente prevalência de doenças não transmissíveis, evidenciando o impacto do envelhecimento populacional nesse cenário epidemiológico.

Além disso, Shcolnik ressalta que de acordo com as previsões do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 704 mil casos novos de câncer ao ano no triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência da doença. Essa realidade vai demandar ainda mais um diagnóstico precoce e preciso.

Por outro lado, estão surgindo novos biomarcadores que poderão auxiliar ​​em diversos aspectos do diagnóstico, como identificação de doenças, avaliação de riscos, estratificação de pacientes e monitoramento de tratamentos. Sua utilização tem permitido a individualização de tratamentos para a medicina personalizada.

“A busca por métodos mais avançados e precisos é evidente, com a espectrometria de massa ganhando destaque como uma metodologia analítica no laboratório clínico. Apesar de ser uma opção custosa, oferece vantagens na identificação e quantificação precisa de marcadores”, acrescenta Shcolnik.

No que diz respeito à população, o presidente da Abramed observa um aumento na conscientização sobre a importância da prevenção, refletido na realização de procedimentos preventivos. “Exames acessíveis, como o papanicolau e a pesquisa de sangue oculto nas fezes para identificar câncer de colo de útero, são ferramentas que ganharão ainda mais relevância”, destaca.

Um assunto que merece atenção é o risco de uma epidemia de dengue. Se isso se concretizar, o papel do laboratório clínico para avaliar o risco de hemorragias será fundamental para evitar mortes. Segundo dados preliminares das associadas à Abramed, o número de exames de dengue realizados na rede privada aumentou mais de 77% em quatro semanas (de 16 de dezembro de 2023 a 13 de janeiro de 2024), enquanto a positividade variou entre 18% e 24%.

Falando em tecnologia, uma inovação significativa que Shcolnik ressalta é a integração da inteligência artificial (IA) na análise e interpretação dos dados produzidos por laboratórios clínicos e na área de medicina diagnóstica. A combinação desses dados com informações clínicas e características pessoais pode proporcionar conclusões preditivas, abrindo caminho para intervenções mais eficazes.

No campo do diagnóstico por imagem, Cesar Higa Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, destaca a crescente presença da IA nos exames de ressonância magnética, que prometem aumento na qualidade e redução no tempo necessário para sua realização.

O uso da IA está promovendo uma revolução na prática médica, oferecendo diagnósticos mais rápidos e precisos, melhorando a eficiência operacional e proporcionando uma melhor experiência aos pacientes. “No entanto, é importante considerar questões éticas, regulatórias e de segurança ao integrar a IA na prática clínica, para garantir que os benefícios sejam alcançados de maneira responsável e segura”, salienta.

Além disso, Nomura ressalta a tendência de redução no uso de filmes e papéis nos exames de imagem. “A migração para formatos digitais e armazenamento em nuvem se mostra não apenas mais eficiente, mas também mais ecologicamente responsável, pois sem os filmes não há mais descarte no meio ambiente. Isso é uma tendência mundial”, declara. A Abramed tem se dedicado ao tema, atuando junto a outros atores da cadeia.

Outra tendência cada vez mais proeminente no setor de saúde é a busca pela interoperabilidade, visando otimizar a troca de informações entre diferentes sistemas e proporcionar uma visão abrangente dos dados do paciente. Nesse contexto, o Padrão Internacional de Nomenclatura e Codificação de Observações de Laboratório (LOINC) emerge como uma ferramenta crucial.

O LOINC estabelece um conjunto padronizado de códigos para a identificação única de observações clínicas e resultados de testes laboratoriais, facilitando a harmonização e integração eficiente de dados entre instituições de saúde. A implementação do LOINC contribui para a interoperabilidade ao permitir que profissionais de saúde compartilhem informações de maneira mais precisa e eficaz, promovendo uma abordagem mais coordenada e centrada no paciente.

“Essa tendência reflete o compromisso crescente em aprimorar a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde por meio da integração de sistemas e da adoção de padrões que transcendem fronteiras institucionais. A Abramed tem atuado ativamente pela sustentabilidade do setor, buscando tornar a interoperabilidade uma realidade”, complementa Shcolnik.

Assim, 2024 promete ser marcado por avanços significativos no setor de medicina diagnóstica, desde o aprimoramento de métodos analíticos até a integração da inteligência artificial, proporcionando diagnósticos mais precisos, rápidos e aprimorando as possibilidades de intervenções preventivas.

A medicina não pode mais negligenciar a gestão e a eficiência econômica

Por Alberto Duarte*

É inegável que a medicina contemporânea se depara com desafios complexos, sobretudo quando nos debruçamos sobre o intricado cruzamento entre diagnóstico, gestão e a sustentabilidade de nosso sistema de saúde. Como profissional imerso nesse cenário, percebo que é hora de uma reflexão profunda sobre como podemos promover mudanças positivas, levando em consideração o papel da medicina diagnóstica, pois se sabe que cerca de 70% das decisões médicas se baseiam em resultados de exames laboratoriais.

Quando pensamos em laboratórios e exames de imagem, inevitavelmente, estamos falando de elementos fundamentais na jornada diagnóstica do paciente. Contudo, aprimorar esses ambientes não deve se limitar apenas à sofisticação tecnológica, mas também à consciência de que a busca por diagnósticos precisos deve ser equilibrada com a responsabilidade de evitar exames desnecessários, que não apenas encarecem o processo, mas também expõem o paciente a procedimentos invasivos sem razão clínica.

Ao longo de minha trajetória, tive a oportunidade de liderar iniciativas voltadas para o uso racional do laboratório em um hospital público. Esta experiência ressaltou a importância de conscientizar os médicos sobre a necessidade de solicitar exames de forma ponderada. Alguns deles pecam pelo excesso por receio de serem acusados de negligentes.

Então, criamos algoritmos que indicavam quando e com que frequência determinados exames deveriam ser realizados, evitando excessos e reduzindo a sobrecarga econômica nos serviços de saúde. Esse é o tipo de movimento que contribui para o equilíbrio na cadeia de saúde, que envolve o médico, o paciente e a operadora de saúde.

Entretanto, a responsabilidade não recai apenas sobre os ombros dos médicos. A gestão, muitas vezes negligenciada nos currículos médicos, deve ser incorporada de maneira mais significativa na jornada de aprendizado. Durante minha presidência no conselho do Instituto Central do Hospital das Clínicas, percebi a complexidade que surge quando profissionais, muitas vezes não treinados em gestão, são encarregados de administrar serviços médicos.

A gestão eficaz não é apenas uma habilidade administrativa, mas uma ferramenta essencial para otimizar recursos, escolher opções terapêuticas mais acessíveis e, consequentemente, oferecer um atendimento de qualidade sem exorbitantes custos. No entanto, essa perspectiva de gestão não é amplamente ensinada nas faculdades de medicina, fazendo com que o médico nem sempre esteja apto a tomar decisões eficientes no âmbito financeiro.

Além disso, é importante abordar a assimetria na qualidade do ensino de medicina entre diferentes regiões. A padronização e a normatização nos currículos médicos são imperativos para garantir que todas as faculdades do país formem profissionais aptos a atuar em diversos cenários. Não podemos aceitar faculdades que não ofereçam oportunidades adequadas de prática clínica e residência, afinal, a experiência é crucial para o desenvolvimento de habilidades médicas. Há avanços na conscientização sobre essas questões, mas ainda há muito a ser feito para melhorar o sistema de saúde como um todo.

Nesse contexto de transformações necessárias, a inteligência artificial emerge como uma aliada promissora. A capacidade de reunir e analisar dados de forma rápida e precisa pode ser aproveitada para orientar os médicos na tomada de decisões mais embasadas. Algoritmos podem indicar a necessidade real de determinados exames, evitando solicitações desnecessárias e contribuindo para a racionalização dos recursos.

A Abramed, como representante das empresas de medicina diagnóstica, não tem como normatizar esse tema, mas pode, como vem fazendo, promover a racionalização através da conscientização da cadeia de saúde sobre a importância dessa questão e suas consequências. Dessa forma, a entidade visa a proteger seus associados, evitando glosas e o mau uso da prática médica.

Portanto, o futuro da medicina, na minha visão, depende da sinergia entre conscientização, gestão eficaz e incorporação de tecnologias inovadoras. A inteligência artificial não vai substituir o profissional, mas é uma ferramenta valiosa para orientar práticas mais conscientes e eficientes. As associações médicas, as instituições de ensino e os próprios profissionais têm um papel crucial na promoção dessas mudanças.

Como atuante na área, reafirmo que a medicina não pode mais negligenciar a gestão e a eficiência econômica. A busca incessante pelo que é mais recente e saliente na mídia nem sempre se traduz no melhor para o paciente. É chegada a hora de um realinhamento na formação médica, incorporando uma visão mais holística que compreenda a importância da gestão, da responsabilidade financeira e do uso consciente da tecnologia em prol de um sistema de saúde sustentável e de qualidade.

*Alberto Duarte – Graduado em Medicina pela Universidade de Pernambuco, com doutorado em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e aperfeiçoamento em Imunologia pela Harvard Medical School. Conquistou livre-docência na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1983, e implantou o serviço de Imunologia Clínica do Hospital das Clínicas, além de ser responsável pela criação do Laboratório de Investigação Médica também nessa faculdade. Entre 2011 e 2013, foi Diretor do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e entre 2012 e 2023 foi Professor Titular de Patologia da FMUSP e Diretor do Laboratório Central do Hospital das Clínicas da FMUSP.  Recebeu o Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld de 2023, homenagem criada pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Quantidade de exames de Covid-19 realizados na rede privada cresce 12,8%, segundo Abramed

Na comparação entre as últimas duas semanas, o número de exames subiu de 6.714 para 7.580; já a taxa de positividade foi de 19% para 22%

O número de exames de Covid-19 realizados na rede privada registrou aumento de 12,8% na comparação entre a semana de 31 de dezembro de 2023 a 6 de janeiro de 2024 e a semana de 7 a 13 de janeiro de 2024, segundo os associados à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que representam cerca de 65% do volume de exames realizados na saúde suplementar no Brasil.

Na comparação entre as semanas, a quantidade de exames de Covid-19 subiu de 6.714 para 7.580. Já a taxa de positividade foi de 19% para 22%. Mesmo com esse aumento, os dados sofreram uma variação leve, revelando certa estabilidade no período.

No total das últimas seis semanas (de 2 de dezembro de 2023 a 13 de janeiro de 2024), foram realizados 43.135 exames, com taxa de positividade média de 21,7%. Na comparação entre essas seis semanas, o número de exames atingiu o pico de 9 a 15 de dezembro de 2023, com 13.012 exames realizados e 23% positivos, também a maior positividade do período. 

Já a menor quantidade de exames e a menor taxa de positividade nas últimas seis semanas aconteceram justamente na semana de 31 de dezembro de 2023 a 6 de janeiro de 2024. Foram 6.714 exames e 19% positivos.

Com relação às expectativas para o Carnaval, que acontecerá entre 10 e 13 de fevereiro, o número de exames de Covid-19 realizados deve cair, devido aos festejos e ao feriado, acompanhando o movimento de 2022 e 2023. Também nesses anos não se observou nenhum crescimento imediatamente após o Carnaval.

Vale lembrar que a Abramed desempenha um papel fundamental na compilação e no registro de dados relacionados à evolução da Covid-19. Os laboratórios clínicos associados enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde.

Essas informações são essenciais para avaliar a situação da pandemia e orientar as medidas de saúde pública. A entidade também enfatiza a importância de seguir as diretrizes de prevenção e cuidados para combater a propagação do vírus e proteger a saúde de todos.

Abramed chama atenção para uma possível epidemia de dengue no Brasil

O número de exames realizados pelas empresas associadas cresceu mais de 77% em quatro semanas, segundo dados preliminares

Com o período de altas temperaturas e a temporada de chuvas, na maior parte do Brasil, aumenta a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, gerando uma grande preocupação, especialmente após o recorde histórico de 1.017 mortes em 2022 e um continuado aumento de casos em 2023. 

Além disso, as mudanças climáticas, incluindo fenômenos como o El Niño, têm contribuído para a expansão do vetor em regiões antes consideradas menos propensas à disseminação da dengue, como Centro-Oeste e Sul, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) destaca a gravidade do risco de uma epidemia de dengue, a importância da conscientização da população sobre as medidas preventivas e a relevância dos serviços de diagnóstico médico na identificação e tratamento da doença. “Caso esse cenário se concretize, os laboratórios clínicos terão papel fundamental na avaliação do risco de hemorragias, o que é crucial para evitar mortes”, declara Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da entidade.

De acordo com dados preliminares fornecidos pelas associadas à Abramed, observou-se um alarmante aumento de mais de 77% no número de exames de dengue realizados na rede privada em um período de quatro semanas, compreendido entre 16 de dezembro de 2023 e 13 de janeiro de 2024.

Na semana de 16 a 22 de dezembro de 2023, foram realizados 8.606 exames de dengue, sendo 18% positivos, enquanto de 7 a 13 de janeiro de 2024 foram 15.246 exames, com 22% positivos. Em relação à positividade, a porcentagem variou entre 18% e 24% nas quatro semanas em questão, atingindo o maior valor na semana de 31 de dezembro de 2023 a 6 de janeiro de 2024 (24%). 

Os números mostram que as pessoas estão buscando a confirmação do diagnóstico ao sentirem sintomas associados à doença, como febre alta, dores musculares, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo.

A associação reitera seu compromisso em colaborar com as autoridades de saúde, profissionais do setor e a sociedade em geral, visando a implementação de estratégias eficazes para enfrentar essa questão de saúde pública e minimizar os impactos sobre a população brasileira.

Comparação anual

Comparando as duas primeiras semanas epidemiológicas de 2023 e 2024, o número de exames registrou crescimento, mas o número de infectados se manteve praticamente constante. Na primeira semana epidemiológica de 2023, foram realizados 9.744 exames, com 2.583 positivos, enquanto na primeira semana epidemiológica de 2024 foram 10.916 exames, com 2.666 positivos. A variação em exames realizados foi de 12%, enquanto na positividade foi de 3%.

Na segunda semana epidemiológica de 2023, foram realizados 11.002 exames, com 3.418 positivos, enquanto na segunda semana epidemiológica de 2024 foram 15.246 exames, com 3.365 positivos. A variação em exames realizados foi de 39%, enquanto na positividade foi de -2%.

Vale ressaltar que os laboratórios clínicos associados à Abramed enviam os resultados dos exames diretamente à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo para o monitoramento epidemiológico pelo Ministério da Saúde. Essas informações são essenciais para avaliar a situação da doença e orientar as medidas de saúde pública. 

Desenvolvimento da inteligência artificial na saúde esbarra em questões éticas e integração de dados

Enfrentar esses desafios é imprescindível para que a IA desempenhe um papel efetivo no avanço do cuidado à saúde

Na incessante busca por avanços no campo da inteligência artificial em saúde, enfrentar seus desafios tornar-se prioridade. A busca por algoritmos eficazes e éticos demanda uma atenção meticulosa em relação à qualidade, diversidade dos dados, integração à infraestrutura de saúde e interpretação dos resultados.

Há vários pontos que precisam ser avaliados, conforme salienta Regis Otaviano França Bezerra, radiologista do Hospital Sírio-Libanês – associada Abramed – e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Um deles envolve a qualidade e a quantidade de dados. “Para um algoritmo ser efetivo, é preciso ter um extenso conjunto de dados diversificados. A qualidade desses dados é primordial, ou seja, eles precisam ter sido bem anotados e representar diversas populações. Um algoritmo limitado a uma única região ou população não pode ser extrapolado com sucesso para outros contextos”, explica.

Um segundo desafio é a integração desses dados à infraestrutura de saúde, pois isso é fundamental para sua aplicação abrangente. Não basta ter dados somente em uma instituição ou hospital, pois ele não poderá ser utilizado de maneira geral. 

E aí também entra um tópico importante: a necessidade de estabelecer padrões e protocolos de interoperabilidade. A interoperabilidade é fundamental para superar barreiras entre sistemas de saúde diversos, permitindo a troca eficiente e segura de informações entre plataformas distintas. Isso não apenas facilita a implementação de algoritmos de IA, mas também promove uma abordagem mais unificada na prestação de cuidados de saúde.

Em termos de obstáculos, Regis também cita as questões éticas e regulatórias, como a divulgação de dados, a transparência, a equidade, a responsabilidade e a conformidade com as leis e regulamentações locais e internacionais. “O consentimento e o uso responsável de dados médicos sensíveis são aspectos críticos. Essa discussão continua em evolução e precisa ser trabalhada de maneira muito cuidadosa, devido à sua grande importância.”

Outros pontos desafiadores são a validação e a padronização de dados. Segundo Regis, antes de uma implementação generalizada, é necessário validar a eficácia clínica e a confiabilidade dos modelos de inteligência artificial. Este processo é complexo e dispendioso, exigindo uma abordagem meticulosa.

Nesse contexto, também há a generalização entre populações. Modelos treinados em uma população específica nem sempre representam outros grupos. Por exemplo, com relação ao câncer de próstata, sabe-se que afrodescendentes têm, em geral, tumores mais agressivos, por isso, qualquer modelo de inteligência artificial deve contemplar esse grupo de pessoas para que seja completo, principalmente em populações como a brasileira, cuja diversidade é muito grande.

Mais um ponto de atenção está na interpretação de modelos de inteligência artificial, frequentemente considerados “caixas-pretas”. Compreender e interpretar os resultados é fundamental para garantir a transparência, a responsabilização e a confiança nas suas aplicações.

Por fim, Regis cita que a implementação da inteligência artificial implica em um investimento significativo em tecnologia, energia, treinamento e infraestrutura. Esse custo elevado representa um obstáculo, especialmente em países como o Brasil, que já enfrentam limitações de recursos, especialmente ao lidar com doenças com grande taxa de prevalência.

Ter ciência desses pontos e buscar superá-los é essencial para que a inteligência artificial possa ser aplicada de forma eficaz no cuidado à saúde, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do setor de saúde. E, portanto, a Abramed acredita que todo o ecossistema deve agir de forma integrada para alcançar esse objetivo.

Acesso digital a resultados de exames médicos: uma mudança cultural necessária

Por Cesar Higa Nomura*

A era digital trouxe consigo a necessidade de repensar processos em diversos setores, e a área da saúde não fica imune a essa revolução. A retirada de resultados de exames médicos pela internet é uma peça importante desse cenário, onde tecnologia, sustentabilidade e cultura comportamental convergem.

Isso porque a transição para a digitalização não é apenas uma mudança operacional, mas também um processo complexo e gradual de transformação cultural que impacta hospitais, laboratórios, profissionais da saúde e, principalmente, os pacientes.

Segundo a quinta edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, 122 milhões de laudos foram acessados eletronicamente em 2022, representando 19% do total de exames realizados, o que reflete a crescente tendência de acesso digital impulsionada pela disponibilidade de novas tecnologias de compartilhamento de dados. Importante ressaltar que os associados à Abramed são responsáveis por 65% do volume de exames feitos na saúde suplementar no Brasil.

Um aspecto particularmente esclarecedor desses dados está relacionado ao mito do desperdício na medicina diagnóstica, que algumas fontes sugerem estar próximo de 30%. Segundo dados do Painel Abramed, menos de 3,8% dos exames laboratoriais e 9% dos exames de imagem não são acessados ou retirados pelos pacientes nos laboratórios clínicos brasileiros.

A disparidade pode ser explicada pela não consideração dos acessos diretos de pacientes e médicos aos resultados de exames pela internet, bem como pela utilização de e-mail e outras tecnologias para a transmissão desses resultados. Essa constatação desafia a percepção comum e destaca a necessidade de uma compreensão mais abrangente das práticas digitais na medicina diagnóstica.

Vale reforçar que a Abramed trabalha para a adequada utilização dos recursos da cadeia da saúde, considerando que a entidade é o elo que atua no diagnóstico e na prevenção, o que reduz o desperdício. Importante lembrar, ainda, que o acesso online aos laudos está em crescimento constante, e a fonte mais precisa para informações são os próprios laboratórios.

Apesar disso, ainda existe uma certa resistência em trocar o meio físico pelo digital, especialmente entre os pacientes com mais de 50 anos, que muitas vezes preferem receber os resultados em papel. A transição para a digitalização é um desafio, que deve levar em conta as diferentes necessidades dos usuários e as novas demandas da sociedade em termos de sustentabilidade.

Os pacientes também desempenham um papel fundamental nesse processo. Ao buscarem informação sobre responsabilidade ambiental e a contribuição de cada pessoa na saúde do planeta, podem iniciar uma mudança de cultura que influencia outros ao seu redor. Ao assumir isso, não apenas se beneficiam das inovações tecnológicas na área da saúde, mas também se tornam ativos na construção de um mundo mais sustentável para todos.

O mais importante é que a retirada de exames online não é apenas uma questão econômica, mas também uma iniciativa alinhada aos princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança Corporativa). Essa tomada de decisão reflete um compromisso mais amplo com valores que promovem a integridade corporativa e a contribuição positiva para o meio ambiente e a sociedade.

Assim, podemos dizer que a retirada de exames online transcende o aspecto puramente tecnológico; é uma jornada cultural que exige compreensão, paciência e personalização. A resistência à mudança não deve ser vista como um obstáculo intransponível, mas como uma oportunidade de envolver os pacientes nesse processo evolutivo.

Ao integrar a tecnologia com sensibilidade cultural, podemos moldar uma nova era na medicina diagnóstica, beneficiando, acima de tudo, as vidas daqueles que servimos.

*Cesar Nomura, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e Superintendente de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês