Abramed integra webinário da Shift sobre perspectivas para a medicina diagnóstica

Evento demonstrou que as expectativas para 2024 são positivas, com a continuidade da colaboração entre as entidades setoriais e o crescimento do uso da inteligência artificial

Para fazer uma retrospectiva de 2023 e discutir as tendências que conduzirão o setor de medicina diagnóstica em 2024, a Shift, especializada em Tecnologia da Informação (TI) para o segmento, convidou Wilson Shcolnik, presidente do Conselho da Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para integrar o webinário “Transformando a saúde dos negócios e das pessoas”, também com participação de Fábio Brazão, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), e Maria Elizabeth Menezes, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). O evento foi realizado no dia 28 de novembro, sob a moderação de Marcelo Lorencin, CEO e fundador da Shift, parceira institucional da Abramed.

Os palestrantes reforçaram a importância da medicina diagnóstica no setor de saúde, lembrando que cerca de 70% das decisões médicas se baseiam em resultados de exames laboratoriais. E esse valor ficou ainda mais evidente durante a pandemia. Segundo dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, as associadas realizaram mais de 720 milhões de exames de diagnóstico em 2022, um aumento de 9,5% em relação a 2021.

“Nosso setor está em crescimento e vai continuar assim por uma série de razões. Estou otimista, embora ainda tenhamos muitos desafios a enfrentar. O grande fator positivo neste ano que se encerra foi a união das entidades, de uma maneira nunca vista antes. Com isso, nos tornamos fortes para defender os interesses do setor diante de tantas ameaças que encontramos no ambiente externo, seja em assuntos regulatórios, como a RDC 786/2023, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seja em assuntos de mercado, já que muitos laboratórios também atendem a área privada”, disse Shcolnik.

Ele frisou que o foco da RDC era o funcionamento dos laboratórios clínicos, mas, por uma série de contingências, gastou-se muita energia na discussão sobre exames realizados fora do laboratório clínico. “Na minha opinião, conseguimos bons resultados, pois os critérios para realização desses exames são muito rígidos. Compete a cada um de nós fiscalizar como eles estão sendo feitos nas farmácias, afinal, não podemos submeter as pessoas a qualquer tipo de risco”, complementou.

Ainda referente à RDC 786/2023, Shcolnik apontou várias conquistas relacionadas à tecnologia da informação. Antes, não havia autorização legal para a liberação automática de exames, embora todos os laboratórios utilizem essa ferramenta. Agora, a questão está prevista na regulamentação. Outra conquista foi a assinatura dos laudos, que não precisa mais ser certificada, simplificando o processo.

Shcolnik participou recentemente de uma reunião na Anvisa, mas a agência revelou não ter condições de informar um cronograma para discutir e promover ainda mais alterações já identificadas na nova RDC. “Nós da Abramed temos discutido algumas iniciativas no futuro para nos proteger e oferecer aos pacientes as melhores práticas, com resultados de exames confiáveis”, acrescentou.

Lorencin reforçou que a evolução da RDC é importante, desde que não traga impacto negativo e autorize o uso da automação para garantir o equilíbrio do setor e, ao mesmo tempo, a segurança do paciente. “Isso é o que preconiza a questão da assinatura em termos de autenticidade e integridade dos dados, sem aumentar os custos na cadeia produtiva de medicina diagnóstica. Isso também foi um trabalho em conjunto”, destacou.

Essa união entre as entidades também resultou na campanha inédita de valorização do laboratório, chamada “Eu confio no Laboratório”, demonstrando preocupação com a saúde do paciente após alteração na RDC. O objetivo é conscientizar a população sobre a importância de buscar resultados de exames em locais adequados, garantindo a qualidade dos resultados.

De acordo com Brazão, o local que vai realizar o exame fora do laboratório clínico – que já tem essa expertise – precisa montar um programa de garantia da qualidade, para fazer gestão de equipamento, gestão de risco e gestão de pessoas. “O investimento nesses locais deve ser fiscalizado”, ressaltou.

Fazendo uma comparação com outros países, Maria Elizabeth compartilhou sua experiência em um evento na Guatemala, que reuniu representantes da América Latina, América Central e República Dominicana. O Brasil é o único país com poucas barreiras sobre exames realizados fora de laboratório. “Mesmo nos Estados Unidos, onde cada estado tem sua legislação, não é tão aberto assim, com a preconização da assistência primária através de farmácia e inteligência artificial para alguns exames. Por outro lado, a América Latina está preocupada com a qualificação de laboratórios”, disse.

Maria Elizabeth também contou que só no Brasil há o farmacêutico generalista, o que coloca em risco a vida dos laboratórios. “Esse generalista não tem competência para fazer os exames, fornecer os resultados para o paciente e fazer o encaminhamento correto. Existem alguns cursos preparatórios, mas não são desenvolvidos pelas sociedades científicas”, apontou.

O impulso da tecnologia

“A tecnologia é a base de qualquer negócio, mas é preciso que as empresas tenham maturidade para poder capturar o seu valor”, disse Lorencin. “Quanto mais madura uma organização está perante seus processos, mais consegue capturar resultados da tecnologia, que vão desde a automação total até diferenciais competitivos”, comentou o CEO da Shift.

Para Brazão, os laboratórios precisam de um sistema que ajude desde o cadastro até a liberação dos resultados, passando pelas três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica, com foco na segurança. “Com o avanço da tecnologia, vemos o crescimento da telemedicina, que aumenta o acesso e gera resultado de forma mais rápida. Vivemos o momento dos quatro ‘p’: prevenção, participação, previsão e personalização”, disse.

Ele citou outras tecnologias promissoras, como a genômica, a metagenômica e a espectrometria de massa. Nesse ponto, destacou a união também entre laboratórios menores para unir tecnologias e realizar exames em parceria. “É importante se apegar à tecnologia na automação e na qualidade, para que os clientes tenham confiança em seu trabalho”, comentou Brazão.

Por sua vez, Shcolnik citou outras inovações. A radiologia já utiliza reconhecimento de imagem com grandes benefícios para os pacientes. “O olho humano não consegue ver essas imagens, mas a inteligência artificial as identifica e envia alertas para que os médicos possam priorizar a análise dessas imagens e tecer suas conclusões”, explica.

Na área de laboratórios clínicos, acrescentou o reconhecimento de imagem em hematologia e até em parasitologia. Segundo ele, a inteligência artificial elevará a importância dos exames para as decisões clínicas de 70% para quase 90%. “Na literatura internacional já há definições do uso da IA para melhoria de processos em laboratórios, para identificação de novos valores de referência populacionais, para indicações de exames em cada situação clínica e sobretudo para auxílio na interpretação. A IA conseguirá unir todos esses dados e transformá-los em informações muito valiosas. Esse é um futuro que se aponta”, explicou Shcolnik.

Maria Elizabeth também acredita no aumento da importância dos exames laboratoriais. Segundo ela, o crescimento é impulsionado pela miniaturização de plataformas, permitindo que até mesmo laboratórios de menor porte realizem exames em suas próprias instalações.

A presidente da SBAC explicou que as plataformas reduziram os erros, desde a fase pré-analítica até a emissão do laudo. Nas mais compactas, há a possibilidade de personalização para atender às necessidades específicas dos pequenos laboratórios, possibilitando a realização de exames individualizados. Essa abordagem não apenas melhora a precisão dos resultados, mas também oferece maior flexibilidade operacional.

Ela lembra, no entanto, que os dados no Brasil não estão centralizados, o que é fundamental para trabalhar predição e prevenção. “A Shift pode ajudar nisso em parceria com as entidades. Há vários trabalhos sendo realizados no Brasil que necessitam de integração. Precisamos de um lugar para estocar dados e permitir a análise”, acrescentou.

Maria Elizabeth ressalta, ainda, que a IA não vai substituir o cérebro humano. “Quanto mais nos capacitarmos, menos seremos substituídos. A proximidade com o paciente será de extrema importância. Depois da tecnologia, vai voltar a era da humanização. O tratamento humanizado vai se sobrepor à tecnologia”, expôs.

De forma geral, as perspectivas para 2024 são positivas para o setor de medicina diagnóstica, com a continuidade da colaboração entre as entidades para atingir as demandas do setor e com o crescimento do uso da inteligência artificial, ajudando os laboratórios a atenderem à população com mais precisão e rapidez.

Inteligência artificial e 5G pautaram a participação da Abramed no Global Summit APM 2023

Cesar Nomura, VP do Conselho de Administração da entidade, falou sobre “Conectividade na saúde e seus impactos na Medicina Diagnóstica”

A interseção entre conectividade e métodos de diagnóstico no contexto atual da tecnologia é fortemente impulsionada pela inteligência artificial (IA). Ela é empregada na análise de grandes conjuntos de dados clínicos, imagens médicas e informações genéticas, auxiliando os profissionais na identificação precoce de doenças, tomada de decisões mais informadas e personalização de tratamentos.

Essa sinergia entre IA e métodos diagnósticos é otimizada pela implementação da tecnologia 5G, que vem crescendo no Brasil. Sua capacidade de transmitir dados em altas velocidades e com baixa latência é um fator determinante para a eficácia das aplicações de IA na medicina diagnóstica.

O tema foi abordado por Cesar Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, durante o Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, realizado de 20 a 22 de novembro, em São Paulo. Ele apresentou a palestra “Conectividade na saúde e seus impactos na Medicina Diagnóstica”, no Painel Nacional Soluções em Saúde Digital e Telessaúde.

Como exemplo do uso dessas tecnologias, Nomura lembrou que, durante a pandemia, cientistas do Hospital das Clínicas de São Paulo desenvolveram uma plataforma de IA, chamada RadVid19, para identificar casos de Covid-19 em tomografias. Algoritmos eram aplicados às imagens enviadas para a nuvem, disponibilizando os resultados em apenas 10 minutos. A solução foi criada em apenas um mês e meio, abrangendo 50 hospitais, que processaram 27 mil tomografias, gerando uma das maiores bases de exames de tomografia de Covid-19 do mundo.

Apesar do sucesso, segundo Nomura, a quantidade de tomografias processadas, considerando o tamanho do Brasil, poderia ter sido ainda mais expressiva se houvesse maior colaboração com o governo, o que destaca o potencial de expansão e impacto positivo desse tipo de ferramenta.

Atualmente, o 5G é considerado uma das tecnologias de conectividade que mais impactam a saúde, oferecendo rapidez, baixa latência e alta confiabilidade, estando presente em quase todos os lugares. “A conectividade avançada, como o 5G, permite integrar equipamentos como ultrassom, endoscópios, dermatoscópios, raios-x, entre outros, a centros de referência remotos, com médicos especialistas, permitindo o diagnóstico remoto através de imagens transmitidas em tempo real”, explicou.

O advento da tecnologia 5G promete revolucionar o telediagnóstico, especialmente em regiões com poucos serviços disponíveis. Na dermatologia, por exemplo, diversos algoritmos de inteligência artificial proporcionam informações mais detalhadas do que um diagnóstico realizado por um clínico geral ou profissionais menos experientes nessas localizações.

O potencial transformador é evidente ao considerar as taxas de mortalidade em comunidades afastadas, afetadas pela escassez de serviços de saúde. Oferecer um serviço de pré-natal ou ultrassom, com um especialista à distância, pode ajudar a melhorar a saúde pública no Brasil.

Já existem iniciativas em andamento, como a realização de ressonância e tomografia à distância por diversos grupos no país, como o InovaHC – Centro de Inovação do Hospital das Clínicas, permitindo fazer exames em locais sem especialistas, gerando ganhos de escala, aumento na qualidade e na produção, além de redução de custos.

Outro exemplo é o projeto OpenCare5G, criado por um grupo de empresas de diferentes setores e o Hospital das Clínicas da USP, que visa criar uma rede privativa de 5G, oferecer o telediagnóstico em áreas remotas e desenvolver novas habilidades, empoderando a força de trabalho local, induzindo novos pesquisadores no âmbito de telecom e telediagnóstico.

Nomura explicou que o caso inicial do projeto OpenCare5G envolveu um ultrassom portátil conectado via 5G a um centro de referência médico. Um agente de saúde local com treinamento básico opera o dispositivo e um médico especializado localizado remotamente orienta o agente local, salva imagens e fornece o diagnóstico. Tudo em tempo real.

Segundo ele, o verdadeiro avanço só é alcançável através da colaboração entre entidades públicas, privadas, academias e indústrias. “Ao unir esforços para idealizar e implementar soluções inovadoras, podemos maximizar os resultados, fazendo mais com menos em benefício da saúde da população”, disse.

Debate

Na sequência, o vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed participou de um debate sobre “Soluções em Saúde Digital e Telesaúde” com participação de Cleidson Cavalcante, pesquisador em IoMT | UTI Respiratória do InCor HC/FMUSP, e Felipe Cabral, gerente médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento.

Uma das discussões foi sobre barreiras na implantação de ferramentas de interação à distância entre os profissionais de saúde. Para Cabral, a primeira delas pode ser a tecnológica, mas não é a principal. “A questão humana é um grande desafio, ou seja, o próprio médico querer uma segunda opinião de outro. Essa relação precisa ser de parceria, é importante trabalhar isso”, disse.

Nomura concordou, mas, para Cavalcante, a experiência foi diferente. No momento de dificuldade durante a pandemia, no caso da teleUTI geral adulto, houve uma grande necessidade de buscar outros profissionais. Ele lembrou, ainda, que na área de Terapia Intensiva é comum a discussão entre pares. “Além disso, quando os dados são entregues em tempo real, ou seja, quando os dois lados estão com acesso às mesmas informações, é importante já deixar combinado que aquele cujo sistema primeiro identificar alguma ocorrência deverá entrar em contato com o plantonista”, explicou.

Sobre a sustentabilidade da adoção de modelos conectados no Brasil, Nomura considera que é importante fazer primeiro a “lição de casa”. “Precisamos de integração entre as instituições de saúde e uma política de saúde pública por região”, destacou.

A respeito do uso da tecnologia na promoção de saúde, os participantes consideraram que é preciso comprometimento para conectar a população aos sistemas das instituições. As pessoas necessitam ser monitoradas e acessadas antes de desenvolverem a doença, evitando uma internação e as chances de complicação em seu quadro de saúde, além de reduzir os custos do sistema. A prevenção é o futuro e há ferramentas que podem contribuir nesse monitoramento.

“Se não nos prepararmos para as mudanças tecnológicas, seremos atropelados ou vamos acabar aceitando o que vier. O uso de aplicativos e tudo que vem de saúde digital é um caminho sem volta, mas é preciso dosar o que utilizar, porque nenhuma tecnologia é capaz de substituir o profissional humano”, salientou Nomura.

Abramed protagoniza debate sobre transformação digital no CBR23

Painel realizado pela entidade mostrou o panorama do mercado e abordou os desafios e os impactos da digitalização na saúde 

Para levar conhecimento, promover o networking e incentivar o debate de temas relevantes ao setor, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) marcou presença no 52º Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, o CBR23, que aconteceu de 12 a 14 de outubro, no Rio de Janeiro.

Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, fez a abertura do Painel que trouxe como tema central a “Transformação Digital na Medicina Diagnóstica”, no dia 14 de outubro, além da apresentação institucional da entidade. A programação contou com palestra de Ademar Paes Jr, diretor da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, sobre o “Panorama do mercado de Medicina Diagnóstica”, mostrando dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico; e palestra sobre “Desafios e impactos da digitalização na saúde”, com Adriano Tachibana, gerente médico imagem do Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, Luciana Dias, CEO da Transduson, apresentou um case sobre as tecnologias aplicadas na empresa, que se destaca pela digitalização.

Após as palestras, um debate sobre o tema central foi conduzido por Milva, abordando assuntos como ética, mudança de cultura, segurança de dados e o futuro da medicina diagnóstica. Os participantes frisaram que a evolução está acontecendo, portanto, é preciso se adaptar. 

No mesmo dia, o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnick, a convite do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), participou da programação, palestrando sobre o cenário atual dos prestadores do Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico, tratando da atuação da defesa profissional.

Desafios e avanços da digitalização

O debate “Transformação Digital na Medicina Diagnóstica” rendeu insights valiosos. “Quando tratamos de tecnologia, falamos de ética, legitimidade das informações e governança. No entanto, ainda enfrentamos desafios significativos envolvendo cibersegurança e proteção de dados. Portanto, é fundamental identificar indicadores para mensurar os processos de transmissão de dados”, disse Milva.

Ademar complementou que esses indicadores estão sob a responsabilidade das empresas e, geralmente, são impulsionados por seus departamentos internos. Ao implementar um serviço de tecnologia em uma organização que já possui estrutura em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), é necessário cumprir uma série de requisitos. “No entanto, a questão vai além de legitimação e segurança; precisamos evoluir para outros temas, como o direito de propriedade sobre os dados e considerações éticas em relação à utilização dessas informações.”

Segundo Ademar, cada vez que um indivíduo disponibiliza seus dados, ele perde a rastreabilidade sobre seu uso. “A ausência desse controle não é necessariamente prejudicial – na era analógica também não havia –, mas precisamos evoluir e criar ferramentas de controle”, reforçou.

Melhorias na eficiência 

Tachibana compartilhou que o Hospital Israelita Albert Einstein melhorou significativamente sua eficiência por meio da transformação digital, abrangendo áreas como agendamento, operações diárias e engajamento dos pacientes. “Notamos que a digitalização tem alcançado uma grande parte de nossos clientes, e isso resulta em melhorias tanto na eficiência como no crescimento da instituição, além de reduzir custos. Essa redução foi fundamental para mantermos nossas operações com as mesmas características”, expôs. 

Contudo, ele reconheceu que houve um impacto considerável no número de glosas no balanço da instituição, algo que não era um problema no passado, mas que passou a fazer parte da rotina. “Embora busquemos constantemente aumentar a eficiência e a produtividade, enfrentamos penalizações em outras áreas”, disse.

Ele lembrou que a implementação de inteligência artificial para melhorar a produtividade dos médicos ou a interpretação de exames de forma mais eficiente ainda não é uma realidade, devido a questões éticas. Segundo Tachibana, é preocupante que os médicos estejam entrando em um ciclo descendente e os radiologistas estejam sob crescente pressão. Uma pesquisa da Medscape feita nos Estados Unidos indicou que um terço dos radiologistas sofre de burnout, o que é alarmante.

“Apesar das preocupações, tentamos encarar esse cenário com otimismo, acreditando que o sistema se ajustará com o tempo. No entanto, se não tivéssemos adotado rotinas digitais com custos mais controlados, estaríamos em desvantagem”, disse.

Por sua vez, Luciana contou que a Transduson experimentou melhorias significativas graças à transformação digital. Como exemplo, citou que a experiência do paciente começa com o check-in digital, e as autorizações para exames são obtidas em segundos devido ao uso de robôs. 

Antes da implementação de melhorias, o índice de glosa estava em torno de 2% e, em alguns meses, chegou a 10%. Para enfrentar esse desafio, a empresa contratou programas de robôs, padronizou os motivos de glosas e, com isso, o tempo de resposta diminuiu de dias para horas. “Embora o investimento inicial tenha sido alto, melhorou muito esse retorno. Conseguimos reduzir o índice de glosa de volta para 2%”, expôs.

Custos

A transformação digital mudou completamente os custos de saúde. Ademar explicou que existem três principais fatores que contribuem para o aumento dos gastos. Em primeiro, a inflação inerente aos serviços, como ajustes em serviços de lavanderia, hotelaria e contratos de manutenção. Em segundo, a incorporação de novas tecnologias, como novos medicamentos ou exames. Em terceiro, o aumento da utilização desses serviços pelos beneficiários. 

Disparadamente, o terceiro fator é o mais significativo. O acesso à informação está incentivando as pessoas a consumirem mais serviços de saúde e a se engajarem em medidas preventivas. No entanto, o mundo ainda está se adaptando a essa mudança. “A transformação digital é um fator muito relevante, e agora enfrentamos o desafio de utilizar essa transformação para reduzir custos e tornar o sistema mais inteligente e eficiente de forma assertiva. A inovação não é uma prioridade se não há agenda e orçamento direcionados a ela”, ressaltou.

De acordo com Ademar, a tendência é ampliar o acesso à saúde a todos, e não haverá recursos financeiros suficientes se não houver incorporação tecnológica. 

Cultura

Na Transduson, a digitalização dos resultados de exames reduziu os custos em 50%, no entanto, Luciana disse que os pacientes com mais de 50 anos ainda preferem receber os resultados em papel, muitas vezes sem compreender os custos envolvidos e as implicações relacionadas a ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa).

Para ela, a transição cultural para a digitalização é um processo gradual e desafiador. “Poucos aceitam essa transformação digital, 60% dos pacientes ainda preferem fazer agendamentos por telefone, poucos adotam o uso de aplicativos e o WhatsApp”, apontou.

Segundo Tachibana, é preciso criar um caminho para que cada pessoa continue a utilizar o serviço. “É importante entender que elas têm suas próprias necessidades. Algumas requerem explicações detalhadas ou um processo diferenciado, preferindo ainda o analógico”. Ele contou que o Hospital Israelita Albert Einstein, inicialmente, buscou personificar os perfis de usuários, para auxiliar a compreender as particularidades de cada um. 

Ademar lembrou que a compra de filmes para a impressão de exames tem diminuído, portanto, a adaptação é uma questão de tempo. Mas declarou ser fundamental reconhecer as diferenças entre os perfis do público. Por exemplo, o perfil de um idoso com alta renda é diferente do de um idoso com baixa renda, assim como o perfil de um jovem com alta renda é distinto do de um jovem com baixa renda.

“Enfrentamos diversos desafios nesse processo de transformação, mas precisamos começar, pois não há mais como retroceder. Manter processos conservadores não é viável. A necessidade de aumentar a produção e a capacidade limitada exigirão que sejam realizados mais exames com menos recursos. A transformação digital precisa implementar mecanismos para melhorar a performance, senão, haverá 100% de radiologistas com burnout”, alertou.

Como vai ser o futuro?

Segundo Ademar, a transformação digital traz uma tendência de inversão de lógica no point of care. O tradicional é o paciente ter alguma dúvida, marcar consulta, o médico solicitar os exames e o paciente retornar com o resultado. É um processo que envolve paciente, médico, exames e médico novamente.

Através da tecnologia, isso se inverteu. O paciente primeiramente se educa sobre sua condição, estabelece uma rotina de testes diagnósticos e procura o médico apenas quando detecta alguma alteração. Na Virginia, Estados Unidos, alguns planos de saúde já adotaram esse modelo com grupos específicos, como pacientes com diabetes ou hipertensão. Em vez de realizar consultas a cada seis meses, eles fazem apenas exames diagnósticos e consultas uma vez por ano ou a cada dois anos. 

“Precisamos estar abertos a uma mudança cultural. Às vezes, a luta não está em resistir à mudança, mas em manter a relevância do processo. A chave da medicina diagnóstica está em sermos mais eficientes, organizados, entregarmos mais valor, fazermos um controle mais preciso, sem erros, com segurança e qualidade”, disse Tachibana.

Segundo Luciana, a evolução não tem volta e envolve maior eficiência, qualidade das imagens, rapidez na entrega de resultados, atendimento personalizado ao paciente e telemedicina. Tudo com conforto. “Precisamos mudar nossa cultura e avançar, pois a tecnologia é uma ferramenta que potencializa os processos e reduz os custos”, salientou.

Por fim, Ademar encorajou todos a liderarem a transformação digital em seus ambientes, seja consumindo tecnologia, seja contribuindo para o desenvolvimento de soluções e processos. “A inovação não depende do avanço tecnológico, mas da responsabilidade que assumimos para resolver problemas. Façam parte dessa liderança”, encerrou.

Painel liderado pela Abramed abordou os desafios da gestão em medicina diagnóstica

Com apresentação de cases de sucesso, o evento integrou o I Congresso de Acreditação e Qualidade em Medicina Diagnóstica, do CBR

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) liderou o painel “Desafios da gestão em medicina diagnóstica”, no I Congresso de Acreditação e Qualidade em Medicina Diagnóstica, realizado de 26 a 28 de setembro, durante a Medical Fair Brasil (MFB), em São Paulo.

Organizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), em parceria com a Abramed, a Associação Brasileira das Clínicas de Diagnóstico por Imagem (ABCDI), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML); e a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), o congresso representou um marco no segmento. 

O painel aconteceu no dia 28 de setembro e foi moderado por Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, que conduziu a sessão de perguntas do público após as apresentações de quatro cases de sucesso, envolvendo desafios e iniciativas em gestão na medicina diagnóstica em diferentes áreas.

Roberto Caldeira Cury, diretor médico-executivo de medicina diagnóstica da Dasa, mostrou as ações implementadas pela rede de laboratórios. Marcos Queiroz, diretor de medicina diagnóstica no Hospital Albert Einstein e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, compartilhou a experiência do laboratório inserido no complexo hospitalar. Julio Pessotti Neto, diretor de Laboratório Clínico na Hapvida Diagnóstico e NotreLabs, apresentou o case como uma rede verticalizada. E Maria Elizabete Mendes, coordenadora do núcleo de qualidade e sustentabilidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMUSP) – Divisão de Laboratório Central, finalizou com a experiência do setor público.

Gestão em rede de laboratórios

Em 2017, a Dasa deu início à padronização dos fluxos operacionais, para minimizar desvios e assegurar que todos os pacientes recebam um padrão de atendimento consistente. O processo começou com o mapeamento das melhores práticas operacionais de todas as suas 26 marcas e a consolidação desse conhecimento em um modelo de produção, como explicou Cury. 

Esse esforço levou cerca de um ano e meio e, em 2018, a empresa implementou com sucesso o modelo, garantindo uniformidade em todas as marcas e unidades. Em 2019, criou o Núcleo de Operações e Controle para centralização da qualidade, tanto médica quanto operacional, e um modelo de certificação das unidades através de auditoria. Em 2021, estabeleceu núcleos de segurança dos pacientes e, em 2023, vem focando na cultura organizacional.

Cury destacou que a Dasa encoraja a notificação de quase erros, visando proteger vidas e melhorar constantemente os procedimentos. Ele enfatizou a importância da cultura justa para todos os colaboradores, que significa que as pessoas não são punidas por seus erros e falhas, mas as violações não são toleradas.

“Em resumo, ressaltamos a importância da padronização de processos e fluxos, a gestão de indicadores, a cultura organizacional focada na segurança do paciente, a estruturação de auditorias internas e multiplicadores, a conquista de certificações e acreditações nacionais e internacionais, bem como a mensuração da qualidade e a excelência médica, priorizando o paciente e a melhoria contínua”, expôs Cury.

Gestão em complexo hospitalar

Queiroz contou como a gestão de um laboratório de medicina diagnóstica dentro de um hospital é fundamental para o sucesso e a segurança do atendimento médico. Ele defendeu que o investimento em qualidade é essencial e, muitas vezes, a melhor maneira de abordar os gestores é demonstrar que a falta de qualidade pode gerar prejuízos, especialmente quando se trata de prevenir eventos adversos catastróficos. “Ou seja, existe um custo para a não qualidade”, reforçou.

Entre os principais desafios enfrentados na busca pela acreditação, Queiroz citou o baixo engajamento da alta liderança, a falta de uma cultura organizacional voltada para a gestão de riscos, a priorização de investimentos a curto prazo, a dificuldade de alocar recursos humanos qualificados, a falta de dados e o baixo investimento em melhoria contínua e eficiência operacional.

Para vencer esses desafios, o Hospital Albert Einstein implementou um escritório de qualidade, que busca agregar as pessoas no tema qualidade, promovendo a transparência e a segurança. “Há uma tendência de colocar os problemas embaixo do tapete, mas isso é o que de pior pode acontecer. É preciso engajar as pessoas”, expôs.

E para obter sucesso nessa empreitada, é importante inventar formas para que a informação cause realmente impacto. Pensando nisso, o Einstein utiliza a prática “Safety Huddle”, pela qual as principais lideranças se reúnem diariamente, por 10 minutos, para compartilhar informações do dia anterior e prever o dia que começa. Isso cria um ambiente de comunicação aberta e de confiança na liderança. 

Queiroz também enfatizou que é possível ser produtivo e manter a qualidade, e que é papel do gestor demonstrar isso. Ele incentivou o reconhecimento e o engajamento por meio de prêmios de qualidade, além de pequenos gestos, como cafés da manhã com o colaborador destaque. “Aqui no Einstein realizamos de três a quatro eventos de premiação por ano”, contou.

Sobre a diferença de um laboratório dentro de um complexo hospitalar, ele citou a exigência ainda maior para resultados corretos cada vez mais rápidos e a existência de um corpo clínico instalado. Queiroz aproveitou para salientar que a medicina diagnóstica está envolvida nas maiores decisões médicas, sendo responsável por 70% das decisões de um paciente internado.

O diretor defendeu que a área não deve ser vista como apoio, mas uma atividade-chave para o sistema de saúde. “É a medicina diagnóstica que tem dados estruturados, ou seja, é responsável pelas definições de estratégias dentro de uma instituição”, reforçou.

Gestão em rede verticalizada

Pessotti Neto compartilhou o case da NotreDame Intermédica, ressaltando os projetos desenvolvidos pelo grupo, que conta com 271 unidades de atendimento de imagem e análises clínicas, atendendo 67 unidades hospitalares em todo o Brasil.

Um dos projetos está relacionado ao tratamento de pacientes com diabetes. O Brasil é classificado como o sexto país com o maior número de pessoas com essa condição, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes. Para abordar esse desafio, o grupo criou um painel dedicado a esses pacientes, composto por uma equipe de controle dedicada.

Durante o primeiro ano do projeto, foram identificados 1.500 pacientes em alto risco, que receberam monitoramento contínuo. Eles eram convocados para consultas regulares a cada 60 ou 90 dias, quando não retornavam, a equipe ligava agendando o exame. “Com esse grupo, as internações caíram a zero, ninguém teve complicações por diabetes”, apontou Pessotti Neto. 

Outro projeto apresentado envolve a análise do perfil bacteriano de todos os clientes em internação e pronto-atendimento. Esse acompanhamento hospitalar detalhado possibilita a administração de antibióticos logo nas primeiras bactérias identificadas, otimizando significativamente o tratamento.

Gestão no setor público

Maria Elizabete apresentou alguns desafios enfrentados pela instituição e delineou as estratégias adotadas para superá-los. “Tínhamos muitas falhas da comunicação, elevado turnover, entre outros problemas, que levaram a uma desmotivação enorme da equipe. Era como uma areia movediça, com todo mundo afundando sem tomar providências”, explicou. A jornada de transformação teve início em 1995, com a necessidade de se autoconhecer para planejar as ações. 

Para tornar o laboratório uma área de excelência, foi desenvolvida uma política de sistema de gestão, definindo missão, visão e valores. Cada colaborador percebeu o que era importante mudar. A cada dois anos, novas diretrizes estratégicas são lançadas, e avaliações com as lideranças são realizadas.

Um dos desafios do serviço público mencionados por Maria Elizabete é a ausência de “dono”, o que exige uma responsabilização que começa na liderança. “Tivemos de utilizar os recursos disponíveis e valorizar as pessoas, desenvolvendo talentos e trabalhando para que as novas lideranças de tornassem inspiradoras”, contou.

Foram construídas redes estratégias, que gerassem maior motivação e um ambiente de trabalho mais saudável, trazendo segurança para o negócio, resultados e mais resolutividade do ponto de vista técnico. Também foram criadas 14 comissões multidisciplinares, com multiplicadores. Cada uma é uma frente de trabalho que dá apoio ao laboratório, proporcionando colaboração e empoderamento.

Maria Elizabete destacou, ainda, o investimento em boas práticas e a conquista de acreditações. A primeira só veio depois de 10 anos, foi uma etapa superada. Depois a instituição levou quatro anos para conquistar a acreditação internacional do Colégio Americano de Patologistas (CAP).

Já a gestão de equipamentos se tornou um modelo para outros centros, e a segurança da informação foi abordada em colaboração com a equipe de TI, através do mapeamento de riscos para garantir um controle de acesso eficaz que evite ataques de hackers.

Maria Elizabete ressaltou a importância das auditorias internas e externas para garantir a qualidade, enfatizando que essas práticas são mantidas desde 1995 como parte dos esforços contínuos para aprimorar o laboratório. Nesse contexto, enfrentou desafios significativos, mas, com uma abordagem estratégica e colaborativa, conseguiu superá-los e estabelecer-se como uma área de excelência na medicina diagnóstica.

Encerrando, Maria Elizabete disse que o mais importante da missão da FMUSP é poder ensinar. “Essa nova geração de patologistas clínicos saiu do nosso laboratório com conhecimentos básicos em qualidade e boas práticas. Isso nos honra”, comentou.

Papel da Abramed

Ao fim das palestras, Milva apresentou a estrutura da entidade, seus projetos e iniciativas. Em referência ao tema do evento, salientou que a associação tem como missão trazer boas práticas para o setor, promovendo a sustentabilidade através da importância de utilizar o recurso certo no local certo.

“O que mais nos enche de orgulho é trabalhar em união com outras entidades, como o CBR. A defesa de pautas comuns tem um impacto positivo no setor, nas empresas e nos profissionais que nelas trabalham. Não podemos conceber a inovação sem considerar as necessidades das pessoas, pois nada funciona efetivamente se elas não estiverem motivadas e engajadas. Esse comprometimento beneficia todo o sistema”, declarou.

Valor da Medicina Diagnóstica para Integração da Saúde foi tema do primeiro debate do FILIS 2023

Precisão diagnóstica e redução dos custos provocados pela repetição de exames esbarram em gerenciamento de dados de beneficiários, desde sua coleta, padronização e compartilhamento. Especialistas debateram como então entregar serviço de valor ao paciente

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido de tecnologias, eventualmente disponibilizadas facilmente, inclusive ao público não médico, o mercado de saúde passa por mudanças. Ainda que essas soluções tecnológicas estejam ao “alcance das mãos” – como se costuma dizer atualmente – elas são consideradas investimento alto, mas essenciais para entregar diagnósticos e tratamentos de valor aos pacientes. 

Como solucionar essa equação por meio da integração, aumentando geração de valor ao beneficiário, considerando que a medicina diagnóstica é peça fundamental no conceito de saúde baseada em valor? O questionamento pautou o primeiro debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo.

Foram convidados para o debate o Professor Alberto Duarte, Pesquisador e Diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP; Ademar Paes Jr., Presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), membro do Conselho de Administração da Abramed e Sócio da Clínica Imagem; Cesar Nomura, Presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Paulista de Radiologia (SPR), vice-presidente da Abramed e Superintendente de Medicina Diagnóstica no Hospital Sírio-Libanês; Clóvis Klok, Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP); e moderando o Carlos Figueiredo, CEO do Cura Grupo e membro do Conselho de Administração da Abramed.

Segundo o CEO do Grupo Cura, o autor Michael Porter apresentou a equação que indica que valor em saúde é igual a qualidade sobre custo, porém há quem acrescente que “qualidade sobre custo deve ser multiplicado por pertinência (onde se enquadra a questão de desperdício). Não adianta ter qualidade ou baixo custo se não houver pertinência, pois se for zero, ao se multiplicar por zero o resultado é nulo. O interessante é entender a qualidade a partir do desfecho para o paciente, que a qualidade tem que ser medida a partir do que o paciente recebe e é resolutivo na vida dele”, afirmou.

Essa resolutividade pode ser alcançada, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), caso o profissional de saúde pense que o diagnóstico seja de um familiar; situação semelhante pela qual recentemente passou Cesar Higa Nomura, após ficar 11 dias internado. 

“Foi a primeira vez que como médico fiquei nessa posição de paciente grave”, revelou Nomura ao fazer um relato pessoal que no primeiro momento sob suspeita de ser um AVC foi submetido a uma tomografia que precisava ser realizada rapidamente utilizando um equipamento adquirido há quatro anos pelo hospital onde atua – “aparelho que realiza o exame em aproximadamente um segundo”. Ele explicou que essa máquina custa 60% mais do que uma máquina habitual, mas que a operadora vai pagar o mesmo valor do exame independentemente de qual equipamento será utilizado.  

Nomura pondera que a rapidez do equipamento em identificar que não era um AVC, um exame sem necessidade de anestesia, teve um valor importante: “Não é valor financeiro. No equipamento há um software de inteligência artificial que identifica se é ou não um AVC, isso não é cobrado, pois acreditamos que precisamos entregar isso de valor”.  Com o resultado de que não se tratava de um acidente vascular cerebral, foi iniciado tratamento para encefalite, sendo necessária uma ressonância.

“Aquele tubo é claustrofóbico. Para um paciente que não pode ser sedado, um exame rápido com acurácia, é importante ao diagnóstico. Nesse equipamento, embarcamos um algoritmo de inteligência artificial – que mais uma vez não será coberto – mas que acelera o exame em quase 60%. Tudo isso resulta na relevância de um diagnóstico bem colocado”, explica Nomura.

Mas se por um lado são fundamentais exames considerados caros, por outro há desperdício de valores com pedidos de exames desnecessários em quantidade. “Nós temos hoje uma medicina que se tornou banalizada! Nossos médicos formados terão dificuldades de diagnósticos. Vão pedir o que puderem para não serem chamados de negligentes”, afirma o pesquisador e diretor de Análises Clínicas da Rede D’Or SP, Alberto Duarte.

Interoperabilidade de sistemas

Um dos atuais desafios da saúde é entregar aos pacientes, hospitais e médicos a tão desejada “qualidade”, que não pode ser obtida se não com interoperabilidade de sistemas, segundo Duarte. O pesquisador sugere uma solução que fosse portável para e por qualquer empresa, no modelo de nuvem computacional, armazenando informações. Isso evitaria repetição de exames e certamente resultaria em economia. “Temos que inovar no processo, criar robôs que facilitem análise e diagnóstico e pedir só exames que são necessários”, conclui.

Há, entretanto, segundo o presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, Ademar Paes Jr., alguns desafios, como a realização de um diagnóstico quanto à maturidade de cada uma das empresas, clínicas e hospitais em relação em construir métricas e dados relacionados à sua operação. E existem vários níveis de maturidade em relação a isso.

“Às vezes é difícil explicar desfecho favorável se não tiver isso adequadamente registrado”, explica Paes Júnior ao lembrar que esse registro impacta a execução de exames e tratamento e a prescrição. “Computação sempre foi input, processamento e output. Input por si não gera valor sozinho, não adianta guardar terabytes de dados. O que gera valor é o output e como se transforma isso em valor dentro das empresas”. 

Um exemplo desse output e transformação de dados em valor é que em Santa Catarina a ACM realiza levantamento estadual de fatores de risco populacional em cada região, então se identifica população diabética, de obesos, de consumo de alimentos, população de hipertensos, tabagismo e sedentarismo. “Onde há mais sedentários, faltam aparelhos de atividade, como praças. Esses dados são compartilhados com operadoras e governo. Isso é uma atividade simples”.

Para Nomura, porém, é necessário considerar um desafio característico da tecnologia: descentralização. “Nós em saúde tínhamos o monopólio de geração de dados, um paciente tinha que ir ao laboratório ou hospital e gerar lá o dado. A cada semana surgem novas tecnologias descentralizando essa geração de informações. Isso não vai parar”, compara e sentencia que estratégias para centralizar informações podem funcionar em determinados nichos, mas que globalmente não acontecerá, e que a real centralização deve ser no paciente. 

“Sempre fui um otimista e depois de alguns dias na UTI fiquei mais ainda”, afirma Nomura. “Olho para o futuro, com planejamento a médio e longo prazo, com as discussões e a proximidade entre instituições e governo percebida aqui no evento. E não esquecer em nossas empresas que valor em saúde não pode ser da boca para fora”, complementa.

Para Paes Júnior, embora ninguém tenha certeza dos caminhos para resolutividade dos problemas, que são muitos, é certo que “sozinho, ninguém vai resolver absolutamente nada”. “A solução está dentro das nossas instituições”, concluiu Klok.

Avanços e efetividade para a Gestão da Saúde foi o tema do segundo debate do FILIS 2023

Informações armazenadas desde o agendamento de consultas ou exames até o momento final de tratamento têm facilitado a rotina de grupos de saúde. Mas, a integração de diferentes serviços para oferecer valor ainda é desafio

A fim de propor caminhos para a gestão da saúde, Alexandre Fiorelli, Diretor da DIPRO da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Lídia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e membro do COnselho de Administração da Abramed; Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio Libanês e Tobias Zobel, Diretor da Digital Health Innovation Platform e Membro do Conselho Estratégico da Medical Valley participaram do segundo debate do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo, mediado por Claudia Cohn, diretora-executiva na Dasa e membro do Conselho de Administração da Abramed.

“Estamos vivendo um ponto de inflexão da história. A possibilidade de mineração de dados e de aplicar inteligência artificial sobre isso. Há algum tempo estamos enchendo nosso data lake e padronizamos dados para encher o health lake, que é como precisamos deles”, revelou Nigro. Essas ações permitem a tomada de decisão para tratamentos ou predição que permitem a definição de linha de cuidado para aquele público ou indivíduo. 

Este cenário é semelhante ao apresentado pela CEO do Grupo Sabin. A companhia tem um sistema integrado em todo o País que permite que qualquer médico que trabalhe com o grupo possa acessar o histórico do paciente desde o agendamento de uma consulta até o final do tratamento, independentemente de onde tenha sido realizado o procedimento, com rastreabilidade dos dados e segurança. 

Para Fioranelli, entretanto são necessárias duas avaliações: uma clínica e outra sobre impacto financeiro. Da primeira se busca saber se ela responde ao que se precisa, se dá resultado e se é segura ao paciente. Quanto à segunda: “como médicos queremos tecnologia de ponta, mas devemos pensar se é eficaz e possível para todos os envolvidos no processo”, analisa. 

Ainda de acordo com Fioranelli, a ANS tem a obrigação de enxergar as condutas em todo o setor em diferentes vetores e que muitas vezes tem divergências próprias relacionadas aos seus negócios. “De que maneira vamos convergir esses agentes em um mercado com alteração legislativa, de que maneira será essa abrangência e de que maneira identificamos a adesão desses pacientes?”, questiona o diretor.

Quanto à alteração legislativa e adesão dos pacientes, Lidia afirma que na era em que padrão de qualidade é objetivo das empresas, se tivesse que escolher por dois caminhos eficientes para foco e diagnóstico, decidiria por processo e estratégia internos e pela integração de diferentes serviços para oferecer valor ao paciente. “A grande avenida é a cooperação entre todos os atores e empresas. Uma plataforma de compartilhamento de informação respeitando, claro, a Lei Geral de Proteção de Dados”, enfatiza a CEO do Grupo Sabin.

Zobel acrescenta que o sentimento de responsabilidade do paciente pela sua própria saúde colabora na utilização das soluções digitais. Uma nova lei na Alemanha possibilitou que empresas de aplicativos de terapia e diagnóstico atuem por um ano, período que funciona também como certificação, quando e se aprovadas, os médicos alemães podem prescrever esses apps para alguns tratamentos.  

Modelo brasileiro de padronização de dados

A utilização dos dados tem como premissa ampliar com qualidade os atendimentos aos beneficiários. Questionado por Claudia Cohn sobre quais estratégias que existem para melhorar a gestão da saúde e se poderia apresentar exemplos alemães que pudessem inspirar o Brasil, Zobel optou por fazer o caminho inverso. 

“Uma grande vantagem do Brasil em relação a outros países é o uso do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF). Isso não existe na Alemanha, por exemplo. Aqui, esse documento pode ser inserido no banco de dados”, compara e lembra que durante a pandemia da Covid-19 esse registro foi essencial para o monitoramento de pacientes depois de hospitalizados e ao receberem alta.

Além da ausência de um cadastro de pessoas físicas, Zobel sinalizou que na Alemanha há alguns problemas para se chegar às inovações que em eventuais avanços tecnológicos acontecem para suprir uma carência: “Olhando para trás, para uma iniciativa alemã, entendemos que usamos algoritmos pela falta de profissionais e (para se antecipar ao) crescimento da população”, explica. 

Atento a esse cenário, Nigro afirmou que o Hospital Sírio Libanês já tem seus próximos 100 anos planejados a fim de ampliar atendimento e manter padrão. Com novas unidades em Brasília e Águas Claras (DF) há planos de expansão, que necessitam de expansão digital. “Precisamos de padronização de dados”, garantiu.

Ainda sobre expansão, Claudia ressalta que o Fórum Internacional de Lideranças da Saúde tem trazido aprendizados e maturidade ao setor: “Nas primeiras edições falávamos muito de conflitos e hoje os temas das conversas são cooperação e interoperabilidade. E são temas para uma conversa continuada. Saímos do FILIS com tópicos para debater ao longo do ano e de forma prática”.

O laboratório pode ser um dos motores da transformação digital na saúde, segundo presidente da Roche

Carlos Martins apresentou cases de automação e integração de sistemas no FILIS 2023

Como parte do “Momento Transformação” do 7º FILIS, espaço na programação para apresentação de cases de inovação em Saúde, Carlos Martins, presidente da Roche Diagnóstica Brasil, participou como palestrante sobre o tema “A integração de dados aumenta a eficiência e melhora os cuidados com os pacientes” e compartilhou quatro cases de sucesso envolvendo soluções digitais da empresa. 

Iniciou apresentando dados de uma pesquisa recente com 742 líderes de saúde, conduzida pela Harvard Business Review Analytic Services. Segundo 95% dos participantes, é muito importante gerenciar dados em ambientes de cuidados em saúde, mas apenas 19% afirmam que sua organização é bem-sucedida nisso. “Isso quer dizer que há muitas oportunidades para melhorar e impactar ainda mais o cenário”, disse Martins.

O estudo mostrou, ainda, os principais obstáculos: equipes isoladas dentro das organizações e falta de colaboração, sistemas desconectados ou incompatíveis, orçamento insuficiente, preocupação com a segurança da informação e falta de infraestrutura tecnológica. “Os profissionais de saúde precisam de insights orientados por dados para tomar decisões mais assertivas. Faltam integração e colaboração”, resumiu.

Para que o paciente não seja impactado por isso, a Roche acredita que o laboratório possa ser um dos motores da transformação digital na saúde, já que cerca de 70% das decisões clínicas são influenciadas por dados laboratoriais, de acordo com a Associação Europeia de Fabricantes de Diagnóstico (EDMA).

“O Brasil tem grande importância nisso, pois é uma potência em termos de medicina laboratorial, não apenas do ponto de vista de volume, mas também de especialidade e diversidade”, expôs Martins. Para a Roche, superar todos os desafios que os laboratórios e a saúde enfrentam exige mais do que uma solução dinâmica, exige uma transformação.

Na prática

E mostrando que é possível fazer isso com as soluções já disponíveis no mercado, Martins apresentou quatro cases de renomadas instituições. O primeiro da Unimed Sorocaba (SP), que utiliza o sistema Infinity para gerenciar 330 mil testes por mês. A solução não só processa as amostras dentro do laboratório, como também centraliza toda a área de controle de qualidade. “A entidade tem mais de uma década de experiência e crescimento com a digitalização do diagnóstico. É um case importante em termos de pioneirismo digital”, destacou.

O segundo case foi do Hospital Israelita Albert Einstein, que buscou levar o máximo de inteligência para o novo Núcleo Técnico Operacional (NTO) do seu laboratório clínico. “Juntamente a outros parceiros, automatizamos e integramos equipamentos, fluxos e informações, o que beneficiou o paciente do ponto de rapidez e resposta, bem como de redução de erros.”

Dessa forma, o hospital obteve crescimento de 68% nos exames produzidos ao mês, gerando alta satisfação do corpo clínico e dos pacientes, com 100% das decisões baseadas em evidências. Mensalmente, são processados 500 mil testes e 114 mil amostras. 

A automação do novo NTO do Grupo Fleury, que processa 3 milhões de testes e 549 mil amostras por mês, foi o terceiro caso apresentado. “A automação permite prever o que vai acontecer, tendo um impacto importante na operação, trazendo consolidação, redução de custos, mais eficiência e resultados mais rápidos”, mostrou. 

Martins fechou sua participação apresentando o case do Ministério da Saúde, que lançou para a Roche o desafio: instalar 82 laboratórios em 27 estados e 58 cidades para monitorização de HIV e hepatites. Em 90 dias, a empresa atendeu o pedido, garantindo a operação otimizada dos analisadores e a integração de todos os equipamentos, com os resultados reportados em todo o Brasil. Por ano, são processados 1.6 milhão de testes.

“A automação de laboratórios é uma estratégia poderosa, impulsionando melhorias na qualidade do atendimento ao paciente, redução de custos e ampliação da eficiência operacional. Os casos exemplificados ilustram como essa abordagem bem-sucedida pode ser aplicada com êxito em entidades de variados tamanhos e especializações”, concluiu.

Palestrante do FILIS 2023 provoca reflexões sobre o uso de dados para a inovação na saúde

Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, mostrou a importância de mudar o mindset para criar insights e turbinar a experiência dos pacientes

Provocando o público com várias e pertinentes reflexões sobre como fazer diferente no dia a dia de suas operações, Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, apresentou durante a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS a palestra “Potencializando o uso de dados para a inovação na saúde”, mostrando como a empresa analisa as palavras “dados” e “inovação”.

A Amazon trabalha a inovação sob quatro eixos: cultura, mecanismo, arquitetura e organização. Barros focou nos dois primeiros. “Temos um ambiente integrado e todos os novos colaboradores, antes da primeira reunião, passam três meses estudando cada um dos 16 princípios de liderança da empresa”, explicou.

Entre os mais importantes está o conceito de “disagree and commit”, ou seja, é normal que as pessoas tenham opiniões diferentes e discordem em algumas decisões, mas é importante manter o progresso e a eficiência do trabalho em equipe. Significa que mesmo não concordando, há comprometimento em fazer acontecer.

Invent and simplify” é outro conceito que leva à reflexão: os colaboradores de sua empresa podem inventar? “Há abertura para receber uma proposta de simplificação de fluxo, por exemplo?”, provocou Barros, citando, ainda, a alta burocracia na saúde. “O sistema de informação de sua companhia é amigável para quem usa?”

Mais um “mantra” da Amazon é “think big”: pensar grande. “Quais são os planos da sua empresa? O que pretendem para os próximos anos?”, perguntou. 

Barros explicou, ainda, a importância do conceito working backwards (trabalhar de trás para frente), que envolve começar com um entendimento claro do resultado desejado ou do objetivo final e, em seguida, trabalhar de volta para determinar como alcançar esse objetivo. Dessa forma, todos sabem aonde pretendem chegar.

“O que queremos no fim do dia? Reduzir as filas? Diminuir os desperdícios? Todos os envolvidos estão alinhados com o mesmo objetivo? Isso acontece no seu dia a dia?”, questionou. “Não há nenhum segredo em aplicar tanto os princípios de liderança quanto os working backwards”, disse.

Desafios de saúde

Barros chamou a atenção para o fato de que a jornada do paciente não começa no hospital, mas bem antes disso, embora poucos se atentem a isso. “Os pacientes contam, hoje, com milhares de pontos de coletas de dados ao longo de sua jornada. Será que conhecemos quem atendemos? Precisamos analisar isso em nossa rotina”, provocou, mais uma vez.

As prioridades de saúde estão passando por uma evolução significativa, refletindo os desafios ouvidos na indústria de saúde. Há uma crescente demanda por acesso mais equitativo aos cuidados à medida que eles transitam de um modelo centrado no hospital para prestados localmente, focando na proximidade com os pacientes.

Além disso, há uma necessidade crescente de diagnósticos integrados que ofereçam uma visão 360 graus do paciente, permitindo uma abordagem mais holística para o tratamento. No entanto, os sistemas de saúde enfrentam pressões consideráveis, pois precisam capturar mais dados, manter o nível de serviços e responder rapidamente às necessidades dos pacientes, sob gerenciamento de orçamento constante.

“Para as organizações de saúde, o desafio de proporcionar cuidados centrados no paciente em meio a custos crescentes nunca foi tão significativo. Todo dia são gerados novos dados, precisamos saber separar o joio do trigo”, apontou Barros.

Em uma pesquisa feita com quem usa dados em saúde, o palestrante destacou duas afirmações dos respondentes: “Gastamos mais tempo ingerindo e processando dados do que traduzindo insights em melhores decisões de negócios”, e “Está tudo isolado! Pesquisar e analisar dados é difícil”. O que leva a outra reflexão: o quanto sua empresa trabalha para evitar o desperdício?

“Ouvimos muito sobre a importância da interoperabilidade, mas ela não é bala de prata, que resolve todos os problemas. Enfrentamos desafios cotidianos, questões da vida real, como a falta de treinamento adequado para profissionais e a crescente rigidez dos sistemas. Fundamental pensar nisso”, expôs Barros.

Data-driven

O profissional da Amazon também falou sobre data-driven, que, na saúde, refere-se ao uso de dados e análises para tomar decisões clínicas, operacionais e estratégicas. Pesquisa Executiva de Big Data e Inteligência Artificial 2022, feita pela NewVantage Partners, mostrou que tornar-se data-driven requer um foco organizacional na mudança cultural. Pelo 4º ano consecutivo, mais de 90% dos executivos apontaram a cultura como maior impedimento para alcançar resultados de negócios. 

“É preciso mudar o mindset. Uma organização data-driven é aquela que aproveita os dados como um ativo, para impulsionar a inovação sustentada e criar insights acionáveis a fim de turbinar a experiência de seus clientes. Pense nisso como tecnologia moderna complementada com uma metodologia moderna”, frisou.

A Amazon orienta que para chegar a uma visão moderna do uso do dado, é preciso trabalhar em ciclos. Primeiramente, definir um caso de uso – o mais palpável –, e a partir daí, comunicar e gerenciar a mudança no ritmo certo, para que todos visualizem aonde querem chegar.

Alguns pontos importantes nesse processo são: buscar o engajamento dos gestores, não apenas o patrocínio; usar os dados para subsidiar as decisões, não para justificá-las; ter os dados como um ativo da organização, não como propriedade departamental; e trabalhar a proficiência em capacidade analítica, e não proporcionar o “letramento de dados”, ou seja, investir na capacidade das pessoas de entender, interpretar e analisar dados de maneira eficaz.

Por fim, Barros deixou uma mensagem de Andy Jassy, CEO da Amazon: “Gostamos de dizer que não existe um algoritmo de compressão para a experiência”. Ou seja, a experiência é a base de tudo, e é a partir dela, com a ajuda dos dados, que seremos guiados e orientados às melhores decisões.

A importância dos gêmeos digitais na personalização da medicina e no futuro da saúde

Colaboração entre países, interoperabilidade, empoderamento e experiência do paciente foram temas abordados por Tobias Zobel, palestrante internacional do FILIS 2023

É fato que o perfil da população mudará em breve e que até 2050 deverá chegar a 10 bilhões. Como consequência desse maior número de pessoas, haverá também um aumento da demanda e saúde de alta qualidade. Por outro lado, ao mesmo tempo, o mundo terá um déficit de 18 milhões de profissionais de saúde até 2030. É exatamente nesse contexto que a automação e a inteligência artificial (IA) tornam-se essenciais para o setor da saúde, sendo inseridas no diagnóstico e no tratamento.

Segundo Tobias Zobel, diretor do Digital Health Innovation Platform (d.hip) e embaixador do Medical Valley – um dos complexos mais ricos para engenharia aplicada à medicina no mundo, localizado na região norte do estado alemão da Bavária -, a automação aumentará continuamente por meio de robôs virtuais e físicos baseados em IA para, desta forma, apoiar os profissionais de saúde e, em última instâncias, os pacientes e indivíduos saudáveis. O executivo foi um dos palestrantes internacionais que participou do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), no dia 31 de agosto, e falou ainda sobre os desafios na saúde no Brasil e na Alemanha e como os países podem colaborar mutuamente para solucioná-los.

Embora na d.hip, que consiste em uma aliança de inovação entre pesquisa industrial, clínica e tecnológica, existam, por exemplo, diversos projetos, que incluem data center de saúde digital e os próprios gêmeos digitais, ainda há muito o que avançar. Também é notável a necessidade de engajar as pessoas na IA. 

“Não sabemos o que vem pela frente, apenas que o resultado será bom. Mas, por hora, o que podemos dizer é que estamos em uma espécie de área cinza e precisamos definir o máximo de padrões possível. Nas legislações existem tópicos que ainda não foram contemplados, é muito parecido aqui no Brasil, onde existem projetos que precisam ser considerados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Governo. É o caso da proteção de dados, que apesar de ser importante, tem o outro lado da equação no sentido do quanto o dado beneficia o diagnóstico? O maior desafio que enfrentamos hoje na Alemanha e que, finalmente, estamos discutindo, está relacionado à identificação dos pacientes”, complementa Zobel.

Gêmeos digitais 

Com relação ao gêmeo digital de saúde, modelo baseado em tecnologia que vincula o mundo real ao digital para tornar os dados em percepções acionáveis, o especialista explicou que existem muitas definições.  Mas, salientou que o digital patient twin aprende e evolui constantemente com uma pessoa para evitar tanto que ela fique doente ou para ajudá-la a recuperar sua condição de saúde o mais rápido possível quando adoecer.

A prevenção, nesse caminho de um gêmeo digital pessoal, é um dos tópicos mais importantes, mas com ela vem o empoderamento do paciente. É preciso garantir que eles compreendam seu estado de saúde e o quanto são responsáveis por ela. Atualmente o princípio está em comparar pacientes com a base toda de dados, identificar semelhanças e diferenças. Porém, a ideia é dar um passo além, coletando dados anteriormente de quando ela ainda é saudável e em seguida olhar para a avaliação do estado de saúde, o risco e criar um plano de prevenção personalizada para que eles possam mudar seu comportamento e detectar precocemente doenças. Trata-se de informações simples, que podem ser extraídas, sem nenhum contato com o paciente. 

“Os dados também podem servir para melhor percepção da situação de saúde. O próprio paciente pode ajudar a fazer monitoramento, olhando para tudo o que impacta em suas vidas. Por isso, os wearables são tão essenciais. E quando chegamos finalmente na etapa da consulta, já conseguimos levar os dados clínicos fornecidos em etapas anteriores em relatório clínico completo, sem perda de nenhuma informação relevante para o diagnóstico e terapia. E quem tem esse dado é o próprio paciente. Um twin digital holístico é o que permite praticar medicina personalizada”, reforça.  

Para Zobel é preciso implementar o máximo de inteligência artificial possível. Exatamente por todas essas questões, ele reforçou a importância da interoperabilidade e da criação de padrões. Porém, enfatizou que, essa, não deve ser uma responsabilidade do Governo.  

“Encabeçar a solução desse desafio é um papel da indústria. A Abramed e outras associações estão fazendo um trabalho excelente neste sentido, e não vemos isso na Alemanha, por exemplo. Mas, se não tivermos esse avanço, não poderemos tirar proveito dos benefícios da IA”, atesta.

Além da criação de um modelo internacional de IA e de parâmetros que norteiam todos os processos desde o processamento até a anonimização, Zobel falou de desafios como integração, normalização e manutenção de dados; implementação nos fluxos de trabalho; acesso dos pacientes aos dados e direito de decidir sobre o uso; considerações regulatórias e interação com outras plataformas e repositórios. Esses, segundo ele, são os pontos que, inclusive, deverão ser olhados pela Anvisa para a regulação desses aspectos. 

“Isso tudo é um grande desafio. Temos que colocar esses pontos em um fluxo de trabalho real nos hospitais, que estão 20 anos atrasados. Em nosso hospital, por exemplo, temos 700 sistemas de TI para extrair dados clínicos de pacientes. E ainda precisamos garantir a proteção e a gestão da informação, bem como o paciente tem que dar consentimento sobre como podemos usar os dados. Esse é um aspecto prévio e primordial nessa discussão toda”, finaliza.

Leaders Connection e Momento Transformação foram as novidades do FILIS 2023

O primeiro focou na conexão entre os participantes do evento, enquanto o segundo foi dedicado a cases de sucesso

Duas novidades marcaram a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS): o Leaders Connection, períodos de pausa durante a programação do evento focados no networking entre os participantes; e o Momento Transformação, apresentação de cases nacionais e internacionais de inovação na área da Saúde apresentados por grandes players do mercado.

Com a crescente importância da colaboração e da interconexão entre os atores do sistema de saúde, o Leaders Connection se revelou uma iniciativa estratégica e bem-sucedida. Líderes de diferentes áreas tiveram a oportunidade de se reunir informalmente para um momento de verdadeira interação.

O FILIS propicia um ambiente onde profissionais altamente qualificados se congregam para discutir temas essenciais para a sustentabilidade do sistema, como gestão e inovação. “A Abramed preza muito pelo relacionamento, pela troca de boas práticas e pela comunicação entre os diferentes elos da cadeia de saúde. É no momento de intervalo entre as apresentações do FILIS que se torna possível fazer esse networking qualificado com o público”, ressaltou Milva Pagano, diretora-executiva da entidade.

Espaços como esse são essenciais para ampliar horizontes, explorar novas perspectivas e estabelecer conexões que podem impactar positivamente o futuro da saúde no Brasil e no mundo.

Cases de sucesso

Já o Momento Transformação foi dividido em duas apresentações. A primeira com a participação da palestrante internacional Wendi Mader, Vice President Employer da Quest Diagnostics, que abordou gestão e saúde populacional, ressaltando o papel dos insights diagnósticos nos programas de saúde corporativa e como essas informações podem direcionar as pessoas ao cuidado adequado no momento certo, aproveitando soluções tecnológicas inovadoras que aprimorem o acesso ao cuidado.

A segunda apresentação foi do Presidente da Roche Diagnóstica Brasil, Carlos Martins, que expôs o tema “A integração de dados aumenta a eficiência e melhora os cuidados com os pacientes”. Ele mostrou as soluções digitais utilizadas por Unimed Sorocaba, Hospital Israelita Albert Einstein, Grupo Fleury e Ministério da Saúde para integrar seus processos na área de diagnóstico, bem como os resultados obtidos.

Ao destacar casos de inovação na área da saúde, o Momento Transformação buscou inspirar líderes a abraçar mudanças, adotar novas tecnologias e aprimorar suas estratégias, se baseando no que o mercado vem praticando.

“O sucesso do Leaders Connection e do Momento Transformação ressaltaram mais uma vez a importância do FILIS como um espaço crucial para a integração de toda a cadeia da saúde”, finalizou Milva.