FILIS 2024: ANS, Anvisa e Anahp participam de debate sobre qualidade em saúde

Encontro terá a participação de representantes de órgãos reguladores, medicina diagnóstica e hospitais

15 de julho de 2024 – No dia 29 de agosto, o 8º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), realizado pela Abramed, reunirá no Teatro B32, em São Paulo, grandes nomes do setor para abordar o macro tema “Saúde Inovadora: Oportunidades para um setor sustentável”.

Um dos debates que serão realizados ao longo do dia abordará o tema “O papel da qualidade para a sustentabilidade do setor”, com a participação de Antônio Britto, diretor da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp); Daniel Meirelles, diretor da Terceira Diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); e Maurício Nunes da Silva, diretor de Desenvolvimento Setorial na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O moderador será Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed e gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury.

“A Abramed, que congrega tanto laboratórios clínicos, de anatomia patológica quanto clínicas de diagnóstico por imagem, espera que este debate com representantes e diretores de órgãos reguladores possa abrir caminhos e renovar expectativas. Trazendo nossas visões de mercado como usuários de novas tecnologias, queremos apresentar à Anvisa e à ANS as inovações mais recentes, criando oportunidades de reconhecimento para os prestadores e promovendo uma regulação mais direcionada à inovação emergente em nosso país”, comenta Shcolnik.

Ele também acredita que as sociedades médico-científicas, que congregam profissionais atuantes no setor de medicina diagnóstica, possam contribuir significativamente para a atualização dos padrões técnicos e requisitos de qualidade exigidos. Isso se deve à necessidade contínua de adaptação aos novos conhecimentos, aos modelos de prestação de serviços e às novas tecnologias que são constantemente introduzidas no mercado pela indústria. “Essa colaboração com os órgãos reguladores será uma grande oportunidade”, reforça.

Segundo Shcolnik, é importante incluir a ANS nesse debate, pois tanto as operadoras de saúde quanto os prestadores de serviço têm interesse no bem-estar dos beneficiários e pacientes. Também é do interesse das operadoras que eles não adoeçam ou que cuidem para o não agravamento de doenças, pois isso tornaria o tratamento mais difícil e, sobretudo, mais custoso.

“O programa Qualiss-ANS teve a boa intenção de premiar ou reconhecer os prestadores de serviços que investem em qualidade. No entanto, o número de serviços acreditados no Brasil ainda é muito pequeno, tanto na área hospitalar quanto na laboratorial e de diagnóstico por imagem. Infelizmente, a iniciativa da ANS ainda não atingiu os objetivos esperados, pois o reconhecimento em termos de divulgação para o público leigo e a obtenção de reajustes contratuais diferenciados não foram alcançados”, explica.

Com relação à Anvisa, Shcolnik destaca que a missão da agência é eliminar ou reduzir os riscos na prestação de serviços de saúde. Isso inclui regular tanto o registro dos produtos utilizados na assistência à saúde quanto os serviços de saúde em si. Na área de laboratórios clínicos, a agência possibilita e aprova o registro de kits de diagnóstico in vitro, contando com uma gerência específica para avaliar documentos e evidências que garantam que os kits de diagnóstico que chegam ao mercado não apresentem riscos para os pacientes.

“Para o setor de prestação de serviços, isso é essencial. Basta lembrar que, durante a pandemia da Covid-19, vários dispositivos de testes rápidos apresentaram resultados falsos, demonstrando baixa qualidade ou desempenho, tanto no Brasil quanto em outros países. Isso ocorreu porque a maioria desses dispositivos – e é importante destacar que existem centenas de testes rápidos – não são avaliados antes de serem colocados no mercado”, expõe.

Portanto, segundo Shcolnik, o debate será uma excelente oportunidade para abordar esse assunto com Daniel Meirelles, da Terceira Diretoria da Anvisa. O objetivo é despertar a atenção da agência e de seus servidores para a necessidade de solucionar esse problema. “Além disso, na área de diagnóstico por imagem, a Anvisa tem se preocupado em disciplinar e regular boas práticas em outros setores, como medicina nuclear, por exemplo. Essa iniciativa também é recebida pelos prestadores com muita alegria”, complementa.

Sobre a participação da Anahp, Shcolnik frisa que a entidade, assim como a Abramed, compartilha a preocupação com a qualificação dos seus associados. Esse compromisso é evidenciado pelos critérios de admissão, que já exigem investimentos comprovados em qualificação na prestação de serviços.

“Infelizmente, o número de hospitais que adotam essas iniciativas ainda é baixo, assim como o de laboratórios. Esse movimento, iniciado há quase 25 anos, ainda não alcançou os resultados esperados, apesar dos diversos estímulos para indução da qualificação. Um ponto importante é a necessidade de que o público compreenda melhor o valor dessas iniciativas, pois, no final das contas, os beneficiários dos serviços são os principais interessados em sua implementação”, salienta.

Não perca esta oportunidade única de participar do 8º FILIS e discutir o papel da qualidade para a sustentabilidade do setor com os principais líderes do setor!

Serviço

8ª edição do FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde

Tema: “Saúde Inovadora: Oportunidades para um setor sustentável”

Quando: 29 de agosto de 2024

Horário: Das 9h00 às 18h00

Onde: Teatro B32, São Paulo

Garanta já sua participação: http://www.abramed.org.br/filis

Abramed promoveu debate sobre cenário atual e perspectivas futuras da medicina diagnóstica

Líderes discutiram os desafios para alcançar eficiência e produtividade e a necessidade de cooperação pela sustentabilidade do setor

26 de junho de 2024 – A Reunião Mensal de Associados (RMA) de junho da Abramed, realizado no Hospital Sírio-Libanês, contou com discussão sobre o “Cenário Atual e Perspectivas Futuras da Medicina Diagnóstica” e participação de importantes líderes da área.  Foi um valioso momento de troca de experiências sobre modelos de negócio, custos, eficiência, tecnologia e cooperação entre os stakeholders do setor. 

Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, abriu o debate, que teve como moderador Eliézer Silva, diretor do Sistema de Saúde Einstein no Hospital Albert Einstein e membro do Conselho de Administração da Abramed. Participaram da discussão: Fernando Torelly, CEO do HCor; Rafael Lucchesi, diretor geral Diagnósticos e Ambulatorial na Dasa; e Fernando Ganem, diretor geral do Hospital Sírio-Libanês.

Torelly destacou que a saúde suplementar no Brasil enfrentou grandes mudanças nos últimos anos a partir dos desafios trazidos pela pandemia de Covid-19. Em 2023, após um ano de esperança de recuperação, as operadoras de planos de saúde registraram um prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões. Em 2024, a complexidade no relacionamento com as operadoras aumentou, afetando o fluxo de caixa dos hospitais.

Segundo ele, um ponto importante nesse cenário é diferenciar os prestadores pela qualidade e não apenas pelo preço. Caso contrário, a indústria de saúde começará a perder. Considerando que a população brasileira com mais de 60 anos dobrará nos próximos 25 anos, essa questão se torna ainda mais crucial, pois isso trará grandes desafios de eficiência, acesso e desigualdade na saúde.

Para as instituições que fazem parte da Abramed, o CEO do HCor diz que o maior desafio é a concorrência. “Precisamos estabelecer a qualidade como um padrão essencial para competir, em vez de focar exclusivamente em contratos com operadoras e redução de preços para atrair demanda. Com certeza, o paciente não será o maior beneficiado por esse modelo concorrencial que estamos implementando.”

Tecnologia

Segundo Lucchesi, há 10 anos, havia grandes expectativas de avanços em integração de dados e muito se investiu em tecnologia para alcançar uma saúde mais integrada, eficiente e sustentável. “No entanto, parece que estamos retrocedendo. Este é um momento extremamente desafiador, com movimentos de sobrevivência no setor, especialmente na medicina diagnóstica. O fluxo de caixa tornou-se muito mais crucial e menos previsível do que no passado, o que levou a uma queda significativa nos investimentos”, expôs.

Segundo Lucchesi, as tendências atuais no setor de saúde não parecem mudar, com uma pressão crescente especialmente sobre pequenos e médios prestadores, que sofrem mais devido à menor capacidade de escala, planejamento de fluxo de caixa e levantamento de capital. “Esses prestadores também têm menos força nas negociações com operadoras, o que é prejudicial para o setor, que necessita de capilaridade.”

Lucchesi ressalta o papel da tecnologia para aumentar a produtividade, mesmo que isso implique em custos adicionais. “Acredito que podemos continuar crescendo com produtividade se o setor encontrar um equilíbrio. Dados recentes mostram uma leve melhora, impulsionada pelo repasse de preços para os clientes. Em 2024, é provável que tenhamos uma carteira menor, com menos pessoas acessando serviços de alta qualidade e rede aberta, resultando em preços mais altos. Isso pode significar menos pacientes em serviços premium.”

Colaboração

Na opinião de Ganem, é preciso discutir como aumentar a eficiência, focando principalmente nos processos e tentando ao máximo evitar mudanças em relação às pessoas. “A radiologia desempenha um papel fundamental nisso, contribuindo para a eficiência através da otimização do uso das máquinas e evitando no show.”

Conforme avalia, há oportunidades nesse sentido e na colaboração com outras instituições. “Precisamos avaliar até que ponto cada instituição pode reduzir custos sem comprometer a qualidade dos resultados para se manter competitiva e credenciada.”

Para qualquer instituição, três fatores são essenciais, de acordo com Ganem: o paciente precisa perceber valor na sua instituição e continuar buscando seus serviços; o corpo clínico deve ver sentido em cuidar dos pacientes dentro da instituição; e a operadora precisa reconhecer o valor de estar associada à sua instituição. “Este último ponto é o mais desafiador. Embora se fale muito sobre valor na saúde, na prática, isso raramente se traduz em ações concretas de remuneração, tempo e desempenho”, disse.

Para Ganem, é responsabilidade de todos os que lideram instituições sérias e comprometidas com a qualidade encontrar mecanismos para resolver os desafios. “Cada instituição tem sua própria agenda, mas resolver esses problemas individualmente pode ser difícil. Negociações individuais são importantes, mas também precisamos do envolvimento de outras instituições.”

Neste ponto, Torelly diz que é fundamental sentar todos juntos para encontrar soluções e lembra: “Estamos vivendo não mais na saúde baseada em evidências, mas na saúde baseada na eficiência. Quem não for eficiente não vai sobreviver.”

Como exemplos de parceria pela sustentabilidade do sistema, Eliézer disse que o Hospital Einstein, junto à Mayo Clinic, está explorando modelos bem-sucedidos de inteligência artificial. Durante uma consultoria, foi destacado que a transformação de uma instituição baseada em dados, análise e inteligência artificial começa com mudanças na mentalidade das pessoas.

“A eficiência trazida por esses modelos pode alcançar até 25%, abrangendo desde processos cotidianos como assinaturas de contratos até logística de medicamentos. Inspirados pela iFood, que expandiu para várias verticais, vemos que outras indústrias são mais cooperativas e integradas, enquanto o setor de saúde ainda enfrenta barreiras entre prestadores e operadoras”, disse.

Ele acredita que, como setor, é preciso mostrar a diferença do que se propõe: um aumento de custo necessário, mas acompanhado de ganhos em produtividade que ajudam a sustentar o setor. “Propomos uma agenda integrada para abordar essas questões de forma conjunta”, acrescenta.

Para Torelly, 2024 deve ser o ano do diálogo no setor da saúde. “Conflitos não levam a lugar nenhum quando todos estão sofrendo. Precisamos criar uma agenda de curto prazo e estruturante que fortaleça financeira e estruturalmente a saúde, para não ficarmos discutindo pagamentos de procedimentos. Estamos presos em discussões transacionais menores enquanto enfrentamos um problema macroeconômico de sustentabilidade do setor.”

Segundo ele, as lideranças da Abramed, Anahp, FenaSaúde e Abramge deveriam unir esforços para criar uma agenda política estratégica. “Continuar disputando pequenas vantagens apenas nos fará perder outra oportunidade de realizar uma grande transformação. Devemos explorar alternativas, como apoiar ações das operadoras que possam gerar mais recursos sem afetar os prestadores”, contou.

Por sua vez, Ganem resumiu essa discussão em três pontos essenciais: inteligência, cooperação e a necessidade de deixar de lado as vaidades. Ao final, Nomura ressaltou a importância da qualidade e da eficiência para direcionar o setor. “Junto aos associados, a Abramed tem discutido intensamente essas questões, que fazem parte do nosso Estatuto Social e do Regulamento Interno. Valorizamos muito esse compromisso com a excelência nas operações de nossos associados.”

O encontro terminou com uma visita guiada ao Hospital Sírio-Libanês.

Abramed debate “O papel do ESG na Medicina Diagnóstica”

Parceria entre a Abramed, o Comitê de ESG e a Roche Diagnóstica, o encontro contou com representantes do Pacto Global da ONU, do Capitalismo Consciente e associados da entidade

26 de junho de 2024 – Para discutir como práticas sustentáveis, de governança e socialmente responsáveis moldam o futuro da saúde, a Abramed realizou, em 20 de junho, um encontro especial com profissionais referências, na sede da Roche Diagnóstica Brasil, em São Paulo.

Flavia Vianna, gerente de Saúde e Trabalho do Pacto Global Brasil da ONU; Lidia Abdalla, CEO do Grupo Sabin e vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed; Daniela Garcia, CEO do Capitalismo Consciente Brasil; e Sandra Sampaio, diretora de estratégia da Roche Diagnóstica trouxeram excelentes insights sobre o tema, sob mediação de Daniel Perigo, gerente de Sustentabilidade do Grupo Fleury e Líder do Comitê de ESG da Abramed.

Como anfitrião, Carlos Martins, CEO da Roche Diagnóstica Brasil, abriu o encontro, lembrando que, em 2024, a empresa foi eleita, pelo 15º ano consecutivo, a mais sustentável do setor de saúde, de acordo com o índice Dow Jones. “Sustentabilidade, segurança, diversidade e inclusão são vistas de forma muito séria por nós. Iniciamos há dois meses um projeto de alta profundidade, que tem como objetivo impactar quatro pilares: pessoas, pacientes, nossa cultura e, consequentemente, a sociedade”, explicou.

Logo após, Lidia apresentou a Abramed e ressaltou a relevância desse primeiro encontro para discutir o tema ESG e seus impactos na medicina diagnóstica. Na sequência, Périgo destacou que a reunião é um desejo antigo do Comitê de criar maneiras para estimular as melhores práticas de ESG nas empresas. “Sabemos que o trabalho é grande, mas há muitas oportunidades. Nosso grupo se dedica a conversar sobre esse tema e contribuir para o avanço das iniciativas”, expôs.

O encontro contou com palestra da Flavia, que iniciou falando sobre o Pacto Global Brasil da ONU, formado por 10 movimentos ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das questões mais urgentes do Brasil. “Trata-se de um chamado às empresas para promover ações concretas por meio de compromissos públicos. Somos a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com abrangência e engajamento em 162 países”, expôs.

O Pacto Global da ONU – Rede Brasil é a segunda maior rede local do mundo, com mais de 1.900 participantes. Os mais de 50 projetos conduzidos no país abrangem, principalmente, os temas: Água e Saneamento, Alimentos e Agricultura, Energia e Clima, Direitos Humanos e Trabalho, Anticorrupção, Engajamento e Comunicação.

Flavia explicou o Movimento Mente em Foco, iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil que convida empresas a agir em benefício de seus colaboradores e da sociedade no combate ao estigma e ao preconceito social ao redor da saúde mental. O objetivo é que a saúde mental seja tratada não apenas como uma medida emergencial, mas, de forma preventiva e humanizada, como um tema perene e que faça parte da estratégia de negócio das companhias.

“É fundamental falar de sustentabilidade no trabalho, mas, se não olharmos para as pessoas, não vamos conseguir fazer a transformação que queremos no planeta. Cuidar da saúde mental é urgente e necessário. Portanto, ambicionamos ter, em 2030, mil empresas com programas estruturantes de saúde mental, impactando 10 milhões de trabalhadores”, disse.

Flavia também divulgou o Guia prático para construção de um ambiente de trabalho com segurança psicológica. “Trouxemos o assunto da saúde mental, mas reforçamos a saúde integral, ou seja, física e emocional. A proposta é colocar as pessoas nas tomadas de decisão das empresas”, expôs, lembrando que a saúde mental é responsabilidade de todas as pessoas, da liderança e de cada um, para um mundo corporativo mais saudável. “Sendo assim, precisamos realizar um trabalho preventivo, muito mais que um atendimento emergencial, sem tabu”, reforçou.

Após apresentação, foi aberta a mesa de debates com os demais participantes. Daniela começou explicando que o Capitalismo Consciente é um movimento que objetiva ajudar as empresas a implementarem práticas de estratégia e liderança conscientes, gerando um impacto positivo nos resultados, nas pessoas e no planeta. “A empresa é um sistema, que depende das boas relações com trabalhadores, fornecedores e comunidade”, disse.

Segundo ela, existem várias maneiras de externalizar isso, como a educação dos consumidores sobre medicamentos e a gestão de resíduos. Por exemplo, o descarte adequado de radiografias. “Uma empresa que ensina esses procedimentos está fortalecendo sua relação com os stakeholders externos que consomem seus produtos”, disse.

A Roche, por exemplo, busca engajar outros stakeholders da cadeia em suas ações sustentáveis, como explicou Sandra. São mais de 60 mil fornecedores, o que significa que a comunicação e a gestão dessa cadeia são fundamentais. “A Roche apoia os ODS e tem como meta, em relação aos parceiros, reduzir, até 2030, pelo menos 18% da emissão produzida de forma indireta”, disse.

Em relação aos distribuidores, a empresa garante o cumprimento das metas através do código de conduta, ética e sustentabilidade, que permeia todo o programa de desempenho. Para o paciente, há ações de conscientização sobre o descarte de medicamentos em parceria com outras empresas. E expandindo o impacto à comunidade, a Roche, por meio de um programa global, incentiva os colaboradores a fazerem doações a instituições que ajudam crianças em situação de vulnerabilidade. “Temos muitas ações internas e externas, o tema ESG é um dos critérios, por exemplo, para eleger fornecedores”, disse.

Falando sobre tecnologia, Sandra ressaltou o valor da inteligência artificial, destacando seu papel na redução do tempo de processos e na sustentabilidade do laboratório. Este tema está diretamente relacionado à medicina de precisão, que foca na prevenção e na diminuição de desperdícios. “No âmbito local, é fundamental dialogar com os órgãos de saúde competentes para ampliar o acesso da população a essas tecnologias e melhorar os desfechos para os pacientes”, expôs.

Por sua vez, Lidia salientou que o compromisso com as metas ambientais e sociais deve estar na agenda das lideranças, pois dar o exemplo é essencial para o engajamento. “Quando as pessoas se sentem respeitadas e ouvidas, começam a ver que o impacto vai além delas, atingindo seu círculo de amigos e a comunidade. Mas se nada disso sensibiliza o líder, há a questão da lucratividade, pois a empresa se torna mais competitiva quando investe em ESG e sua reputação sobe”, declarou. 

Sobre como começar, Lidia disse que não é necessário reinventar a roda; basta buscar exemplos do que está funcionando bem. “É importante fazer benchmarking com empresas de outros segmentos também. Às vezes, encontramos boas práticas simples que podemos implementar no dia a dia. Começar é difícil, mas depois é questão de manter o foco e o compromisso. Fazer e replicar: esse é o maior potencial que temos como profissionais, influenciar aqueles ao nosso redor”, expôs.

De fato, Flavia comentou que o desafio é enorme e que precisamos nos unir para enfrentar o problema. “Não podemos mais olhar para uma catástrofe e achar que ela está longe, pois ela está muito perto de nós. Precisamos nos mobilizar. O Impacto Global também destaca a importância do movimento das empresas para a transformação. Muitas colocam a responsabilidade no público, mas cabe a elas reconhecerem o poder que têm de transformar e gerar receita de forma responsável e sustentável. Precisamos estar dispostos a separar o tempo necessário para estarmos juntos, ouvir o que os especialistas estão dizendo e aprender com o que outras empresas estão fazendo, promovendo a troca de experiências”, disse.

Questionada sobre tendências em ESG, Daniela respondeu que, em termos de business, é reportar cada vez mais, afinal, ESG não é uma escolha, mas uma jornada. Já em termos de negócio e reputação, a tendência é analisar como a empresa se organiza e amplifica a sua atuação a respeito desses temas com transparência e ética. “Por fim, a tendência global é olhar para dados, ajudando o ser humano a viver melhor. Estamos caminhando para a sociedade 5.0, que é a tecnologia a serviço do bem-estar”, disse.

Daniela reforçou que ESG é cultura, assim como a transformação digital, e precisa ser trabalhado transversalmente. “Procure entre seus pares líderes de outras áreas para que, juntos, possam comprometer a liderança a ser patrocinadora desse tema. De forma mais pragmática, ignorar o impacto positivo pode resultar em problemas na gestão de riscos, na área financeira e na reputação.”

Segundo Daniela, precisamos ter uma visão sistêmica. Se não olharmos para nós como parte do todo, não vamos caminhar. “O sistema precisa fluir, esse é aprendizado da pandemia. Todos devem seguir a mesma jornada e trabalhar com propósito. O recado é muito claro: precisamos ter consciência do nosso impacto, intencionalidade das ações e buscar a melhor performance possível com foco na prosperidade da sociedade.”

Ao final, Flavia deixou uma frase bem conhecida e inspiradora: sonho que se sonha só é só um sonho, mas um sonho que se sonha junto se torna realidade. “Precisamos sonhar com um mundo sustentável, inclusivo e que contemple todas as pessoas. E que elas estejam saudáveis em sua integralidade, porque só assim teremos um mundo seguro e saudável para cada um de nós.”

Summit Abramed na Hospitalar debate os desafios regulatórios da IA na saúde

Discussão também traz os desafios éticos e práticos, destacando a necessidade de regulamentação da IA

21 de maio de 2024 – O Summit da Abramed, realizado durante a Hospitalar 2024, abriu espaço para um importante debate: a regulamentação da Inteligência Artificial na saúde. O painel fez parte do evento que reuniu importantes nomes do setor para discutir soluções tecnológicas, sob o tema “Transformação Digital na Saúde: Como a Inteligência Artificial está moldando o futuro do cuidado”, no último dia 21 de maio, no São Paulo Expo.

O presidente do Conselho de Administração da Abramed, Cesar Nomura, deu as boas-vindas e iniciou a programação, que contou com duas palestras e dois debates para tratar dos impactos da Inteligência Artificial (IA) na saúde, além de aspectos regulatórios e éticos sobre o tema.

Ainda na abertura, Milva Pagano, diretora-executiva da entidade, apresentou institucionalmente a Abramed e mostrou a recém pesquisa lançada pela associação sobre o “Uso da Inteligência Artificial na Medicina Diagnóstica”, a publicação está disponível no site www.abramed.org.br.

Sob o tema “Os desafios regulatórios da Inteligência Artificial na saúde”, uma palestra introdutória com Guilherme Forma Klafke, líder de Projetos no Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação na FGV, abriu a segunda parte da programação. Para Klafke, a regulamentação é o elemento faltante em termos de diretrizes específicas e mostrou por que é necessário regulamentar: pela segurança jurídica; inclusão, eficácia e efetividade; responsabilidade, deveres de governança e fiscalização; realocação de responsabilidade; e deveres de conduta.

“Temos no Brasil uma proposta de regulamentação, o PL 2338, e nele foram associados todos os outros projetos. Existe uma Comissão temporária de IA, que começou em agosto de 2023, e a previsão é que em 18 de junho seja a votação desse PL”, resumiu.

Nesse ponto, o líder de projetos da FGV ressaltou alguns aspectos relevantes, como a categorização dos agentes segundo o risco. “Se a organização possui um sistema de IA que pode colocar em risco a vida ou a integridade das pessoas, ou se o sistema falhar na avaliação da gravidade do atendimento, é essencial ter uma supervisão rigorosa. A decisão final deve ser humana, ou um humano deve ser capaz de interromper o sistema, se necessário”, expôs.

Foi mostrado, ainda, como será a categorização do risco, que dependerá de regulamentação futura, baseada em critérios como: impacto negativo sobre direitos e liberdades; alto potencial de dano material, moral ou discriminatório; afetação de grupos vulneráveis, como crianças; e riscos de danos à saúde e à integridade física.

Logo após a palestra, Klafke integrou um debate moderado por Rogéria Leoni Cruz, líder do Comitê de Proteção de Dados da Abramed e Diretora Jurídica do Hospital Albert Einstein, com a participação de Marcelo Abreu, head de radiologia do Hospital Mãe de Deus, e de Fábio Cunha, membro do Grupo de Trabalho em Inteligência Artificial do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Rogéria começou com o questionamento: “Temos um Projeto de Lei e há muitas discussões sobre o tema, inclusive no CNJ, na Anahp e na Abramed. Como será o futuro da saúde a partir da evolução dessa tecnologia e de outras que irão surgir?”

“Com a observação dos movimentos regulatórios e do cenário internacional, onde se desenvolve uma corrida neopolítica em torno da regulação da IA, é necessário um controle e uma fiscalização mais rigorosos tanto da cadeia de saúde quanto do sistema de governança”, analisou Klafke.

Quanto ao papel da IA na radiologia e seus benefícios, Abreu destacou a intenção da indústria em sua rápida implementação. “Trabalho principalmente com ressonância e tomografia e estou preocupado com a direção que essa tecnologia inovadora está tomando, especialmente em relação à precisão. O diagnóstico clínico deve ser baseado em análise dos exames e dados, podendo ter interferências artificiais, desde que testadas adequadamente. A IA aumenta a eficiência e reduz os custos operacionais. Na área de imagem, é possível aprimorar a qualidade, mas como exatamente isso será feito? Precisamos avaliar os possíveis erros decorrentes disso. Embora traga benefícios e seja vista como uma promessa de revolução, questiono até que ponto uma solução específica pode ser utilizada”, ponderou.

Foi discutido, ainda, como equilibrar a necessidade de regulamentação na área da saúde, garantindo a segurança dos pacientes sem sufocar o progresso tecnológico. “Um ponto fundamental a ser considerado é que, em uma indústria como a da saúde, demonstrar segurança ao paciente fortalece a reputação e traz ganhos. A regulamentação se alinha à ideia de proporcionar segurança aos pacientes e estabilidade jurídica ao mercado”, afirmou Klafke.

Em relação aos desafios éticos relacionados à coleta e armazenamento de dados, bem como à garantia da privacidade e confidencialidade do paciente, levantados pela moderadora do debate, Abreu propôs: “Deveria existir um sistema que concedesse um selo, certificando que os dados estão sendo anonimizados. Essa validação, de acordo com os padrões de boas práticas na utilização de dados, nos traria uma maior segurança”.

E quanto às informações que já foram coletadas? “O PL não fornece uma documentação específica para os sistemas já desenvolvidos. É uma lacuna, e a transição ainda é carente. Será essencial realizar uma avaliação de impacto desses algoritmos, considerando o propósito e a função do sistema, a fim de fazer escolhas mais informadas”, observou Abreu.

No painel, Rogéria também enfatizou a importância do treinamento da comunidade médica para o uso da IA. “O Conselho Federal de Medicina já está debatendo como deve ser a regulamentação. Uma das principais preocupações é se essa tecnologia pode impactar a prática e a qualidade médica, e qual seria a responsabilidade do médico caso se oponha ao seu uso. Neste momento, o Conselho busca compreender esse avanço e aprender, sem impedir o progresso tecnológico por preocupações ainda não comprovadas”, explicou Cunha.

Por sua vez, Abreu ressaltou que o mercado enfrentou desafios significativos com o surgimento de tecnologias disruptivas e, com a chegada da IA, talvez a abordagem seja de “vamos regular isso adequadamente”, razão pela qual se adota a estratégia de implementar microrregulações. “O objetivo é evitar repetir o que aconteceu com as redes sociais, pois a ausência de regulamentação para proteger as crianças resultou em mudanças em toda uma geração”, explicou.

Respondendo à pergunta da plateia, o membro do Grupo de Trabalho em Inteligência Artificial do CNJ destacou a posição da indústria, dos fabricantes e inventores. “Poderíamos aproveitar esse momento e criar um mapa de benefícios em aplicações. Isso incluiria o acesso às populações carentes e a integração de dados, bem como a redução de custos no sistema de saúde brasileiro, utilizando as tecnologias disponíveis no setor privado. Há muitas oportunidades, por isso, precisamos discernir o que pode ser empregado efetivamente. No setor de saúde, nosso objetivo é alcançar o paciente antes mesmo da manifestação da doença”, concluiu.

Rogéria finalizou ressaltando que a discussão não se encerrava ali e expressando a expectativa pela implementação da regulamentação em breve, visando alcançar um equilíbrio entre deveres, riscos e responsabilidade civil.

O Summit Abramed na Hospitalar 2024 também promoveu um debate sobre os desafios e oportunidades para o uso da Inteligência Artificial na Saúde. Leia aqui.

Summit da Abramed na Hospitalar reafirmou o papel da inteligência artificial na transformação do setor de saúde

21 de maio de 2024 – A Hospitalar 2024 foi palco para o Summit Abramed, que reuniu importantes nomes do setor para discutir o macro tema “Transformação Digital na Saúde: Como a Inteligência Artificial está moldando o futuro do cuidado”.  O encontro foi realizado no dia 21 de maio, no São Paulo Expo. 

O presidente do Conselho de Administração da Abramed, Cesar Nomura, deu as boas-vindas e iniciou a programação, que contou com duas palestras e dois debates para tratar dos impactos da Inteligência Artificial (IA) na saúde, além de aspectos regulatórios e éticos sobre o tema. 

Ainda na abertura, Milva Pagano, diretora-executiva da entidade, apresentou institucionalmente a Abramed e mostrou a recém pesquisa lançada pela associação sobre o “Uso da Inteligência Artificial na Medicina Diagnóstica”, a publicação está disponível no site www.abramed.org.br.

Sobre o tema “Desafios e oportunidades para o uso da Inteligência Artificial na Saúde”, foi realizada uma palestra introdutória com a participação da diretora geral da Siemens Healthineers no Brasil, Adriana Costa, que iniciou sua apresentação expondo que, atualmente, metade da população global não tem acesso aos cuidados básicos de saúde.

Segundo ela, todos que atuam na área, independentemente do segmento, precisam lidar com desafios globais relevantes, que causam essa falta de acesso, como longevidade, crescimento demográfico da população e escassez de mão de obra especializada. “A Siemens está presente em mais de 70 países, com mais de 84 soluções alimentadas por Inteligência Artificial. Já usamos a IA em nossas tecnologias e soluções há algum tempo, mas é importante conectarmos aos avanços atuais da IA generativa e outros pontos fundamentais em termos de discussões futuras”, explicou.

Adriana ressaltou que a IA é uma grande ferramenta que possibilita resolver os problemas atuais em saúde, desde que o dados sejam interpretados corretamente. “Geramos muitas informações, mas o que fazemos com esses dados?”, comentou, afirmando que a IA generativa foi a adoção mais rápida de uma oferta digital na história da humanidade. Para ela, a IA generativa complementará as atuais soluções e poderá ajudar na padronização de protocolos e boas práticas no Brasil e mundialmente. 

Logo após, foi realizado o debate moderado por Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, além de Adriana Costa, da Siemens, e Carlos Pedrotti, gerente médico de Telemedicina no Hospital Israelita Albert Einstein e presidente do Conselho de Administração da Saúde Digital Brasil.

Para Paes Jr., a IA é extremamente importante nessa jornada atual, com o objetivo claro de melhorar o acesso e o desfecho para os pacientes, além de aperfeiçoar a eficiência do setor no âmbito da gestão. “Utilizamos a IA em diversas áreas, incluindo gestão de pessoas, operações, finanças, comercial e estratégica. Nosso objetivo é melhorar a eficiência empresarial e criar condições para implementar tecnologias que impactem positivamente a vida das pessoas”, ressaltou.

No painel, Adriana colocou que qualquer avanço na área de tecnologia precisa considerar o mercado atuante e o benefício tanto para o paciente quanto para a cadeia como um todo. “Precisamos entender o contexto onde estamos, seguir padrões globais e locais. O uso deve estar associado à realidade do mercado, ao acesso a essas tecnologias, pensando na cadeia de forma integrada”, afirmou.

A tendência no aumento da oferta de novas soluções e como elas devem ser consumidas também foram discutidas. “Essa é a pergunta de um bilhão de dólares. Antes de discutir quem vai liderar, é fundamental entender por que estamos fazendo isso e qual é o propósito do desenvolvimento dessa tecnologia. Nesse processo, já estamos bem avançados junto a diversas instituições. A colaboração e a integração determinarão a rapidez com que endereçaremos as soluções. Não haverá uma liderança única”, disse Adriana. 

Por sua vez, Pedrotti comentou como será essa integração para que se possa oferecer soluções de forma mais organizada e estruturada. “Nesse cenário, o importante não é só a inovação, mas também como transformar o sistema para ter viabilidade econômica. Hoje, a saúde digital é de grande representatividade. Existe uma cadeia de tecnologias das mais simples às mais complexas, em contato direto com o público em geral”, disse.

Segundo o gerente médico de Telemedicina no Hospital Albert Einstein, a IA será rapidamente incorporada quando provar ao usuário, ao médico que utiliza o sistema ou a outro profissional de saúde que ele se tornará mais eficiente usando a tecnologia, sem perda de tempo com tarefas repetitivas e burocráticas. “A eficiência pode vir em poucos toques, baseada nos protocolos mais atualizados, para que o próprio médico possa acessar rapidamente e acompanhar o paciente transversalmente”, explicou.

Para encerrar, uma pergunta da plateia mencionou a questão do tráfego de dados necessário para a tomada de decisões. Como fazer essas informações circularem entre instituições, em conformidade com a LGPD? “Embora ainda estejamos distantes da interoperabilidade, muitos outros países também enfrentam esse desafio. Esse é um dos pontos fundamentais para que o sistema de saúde avance com mais qualidade”, afirmou Pedrotti.

Já Adriana completou que poucos países têm tantos dados como o SUS. “Quanto mais os setores público e privado e as agências reguladoras trabalharem em conjunto, mais teremos essa articulação para trazer uma solução combinada de dados.”

Conforme destacou, a tecnologia é uma grande impulsionadora para garantir qualidade para todos em qualquer lugar. “Precisamos colocar o paciente no centro, e o negócio precisa ser rentável e justo para toda a cadeia. As pautas não são excludentes, mas combinadas, para ter um bom resultado para todos nós”, encerrou Adriana.

O Summit Abramed na Hospitalar 2024 também promoveu um debate sobre os desafios regulatórios da Inteligência Artificial na saúde. Leia aqui.

Abramed participa da JPR 24, abordando o papel do radiologista na saúde do futuro

Além do estande institucional, a entidade promoveu um debate incluindo lideranças da indústria, academia e sociedade médica

16 de maio de 2024 – Com o objetivo de fomentar o diálogo e ressaltar sua contribuição para o desenvolvimento da medicina diagnóstica, a Abramed esteve na 54ª Jornada Paulista de Radiologia (JPR), realizada em São Paulo, de 2 a 5 de maio. No primeiro dia do evento, promoveu o Painel que discutiu “O Papel do Radiologista na Saúde do Futuro”, além de receber associados e parceiros em seu estande institucional, durante os quatro dias de JPR.

Na abertura, Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, iniciou ressaltando a parceria de longa data entre a associação, a SPR e o CBR – respectivamente, Sociedade Paulista e Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. “Trabalhamos em diversas frentes, não apenas em defesa profissional, mas também em advocacy, buscando a melhoria contínua do setor, em estreita relação com entidades governamentais, como ANVISA e ANS”, declarou.

Na sequência, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, reafirmou que as conquistas do setor só são possíveis por meio de uma atuação conjunta, especialmente em um setor tão regulado e fragmentado como o da saúde. “Por isso, as entidades precisam dar exemplo dessa integração para que seja possível gerar os resultados necessários aos beneficiários, que somos todos nós”, disse.

Com moderação de Marcos Queiroz, diretor de Medicina Diagnóstica no Albert Einstein e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, o painel contou com a participação de Cibele Carvalho, presidente do CBR; Marina Viana, diretora-executiva Brasil da GE HealthCare; e Felipe Kitamura, diretor médico na Bunkerhill Health.

“Diante de todas as transformações que estão acontecendo no sistema de saúde como um todo e na radiologia, debater o papel do radiologista no futuro é fundamental, considerando que, nos últimos anos, a procura pela especialidade diminuiu, principalmente devido ao desenvolvimento da Inteligência Artificial”, começou Queiroz.

Nesse ponto, Cibele mencionou um tema preocupante: o medo dos jovens colegas em relação à radiologia, que muitas vezes começa dentro das próprias faculdades de medicina. Ela relatou um episódio em que três acadêmicos a procuraram após uma palestra em um grande hospital, questionando sobre a profissão após ouvirem de professores que a IA ocuparia o lugar dos radiologistas.

“É triste ver jovens sendo desencorajados a seguir um caminho que pode ser gratificante e é essencial para a medicina. A IA é uma aliada, não uma ameaça, capaz de melhorar os processos e esclarecer dúvidas diagnósticas. Apesar dos avanços na tecnologia, ainda não houve estudos que demonstrem sua superioridade em relação à capacidade humana”, disse.

Segundo Marina, da GE HealthCare, a redução da disponibilidade de profissionais qualificados no mercado de trabalho gerou uma pressão nos radiologistas que já estão em atuação. “Antes, a cobrança era por precisão, agora, além disso, exige-se volumetria, ou seja, fazer muito mais. A IA veio para ajudar, tirando do profissional as atividades que não agregam valor ao diagnóstico”, disse.

Por exemplo, a GE desenvolveu uma ferramenta que melhora significativamente a produtividade e a qualidade das imagens, sendo o radiologista o responsável pela interpretação. “Essa é uma área em que a IA não pode substituir a expertise humana.”

Marina explicou que a indústria médica nunca desenvolve nada isoladamente, sempre conta com o feedback e a expertise dos profissionais da área médica. “Todas as soluções são concebidas com o objetivo de auxiliar na melhoria do diagnóstico e na tomada de decisões clínicas. O desafio crítico para os radiologistas é adaptar-se à IA e utilizá-la como uma ferramenta para aprimorar o cuidado ao paciente”, adicionou.

Para Kitamura, o conhecimento técnico sempre fez a diferença na prática médica. Agora, a máquina só está ampliando o acesso às informações. “Nosso papel como profissionais de saúde não é aprender a programar e desenvolver o algoritmo, mas precisamos entender muito bem como essas ferramentas funcionam. Aos poucos vamos nos atualizando e logo a IA estará no nosso dia a dia, ajudando a exercer uma atividade cada vez melhor”, expôs.

Sobre o alto investimento demandado para implantar soluções com tecnologia de ponta, Marina disse que essa barreira está sendo superada. Embora o custo inicial possa não ser baixo, os benefícios ao longo do tempo são substanciais, como redução de energia elétrica e de outros recursos, colaborando também para um ecossistema sustentável. No caso da falta de capital para o investimento inicial, é importante buscar novos modelos de negócios, com financiamento diferenciado e opção de locação.

Além disso, manter a tecnologia atualizada também é essencial para a sustentabilidade. “Hoje, os equipamentos são passíveis de atualização, o que representa economia para todo o sistema. A tecnologia precisa gerar redução de custos e aumentar a produtividade. De que adianta se ela não for acessível ao longo do tempo?”, expôs.

Voltando para a questão do mercado de trabalho e as chances de empregabilidade, Kitamura disse ser essencial desenvolver outras habilidades importantes. “Precisamos nos manter atualizados através de cursos e eventos em que são abordados temas emergentes, incluindo tecnologia e aspectos profissionais. Isso deve ser parte integrante do compromisso contínuo que sempre caracterizou a profissão médica”, disse.

Segundo ele, é crucial estudar áreas como marketing, finanças e gestão, mesmo que o profissional não esteja diretamente envolvido com elas. “Não é suficiente fazer o diagnóstico mais preciso a qualquer custo. Devemos considerar o valor e o tempo demandados, compreender os problemas e saber como resolvê-los. Não podemos simplesmente buscar onde encaixar a tecnologia, mas entender seu papel”, declarou.

Outro tópico debatido foi em relação ao Ato Médico. Queiroz comentou que outras profissões tentam invadi-lo e que a tendência é essa situação aumentar. Ele prevê que um dia vai chegar uma pressão para que um relatório feito por IA possa ser liberado sem a intervenção de um médico.

Para Cibele, o que mais incomoda não é tanto o fato de a IA eventualmente superar o diagnóstico humano, mas sim a questão mercadológica envolvida. “Quando falamos de telerradiologia, por exemplo, a definição remete à prática exercida à distância. No entanto, temos observado situações em que isso não se aplica, como hospitais que dispensam seu corpo clínico para aderir a serviços terceirizados de transmissão. A medicina está se tornando um negócio, e precisamos ter cautela com isso”, salientou.

De acordo com Cibele, nunca se discutiu tanto sobre qualidade na medicina e, paradoxalmente, nunca os radiologistas foram tão cobrados para entregar essa qualidade por um valor tão baixo. “O Ato Médico precisa ser cada vez mais defendido, a máquina não pode substituir o profissional, pois isso vai impactar a sustentabilidade do sistema”, declarou.

Para ela, o momento é desafiador. “Estamos testemunhando um aumento alarmante de faculdades que oferecem uma formação questionável. Recebemos denúncias de médicos sem a devida especialização, e é um desafio lidar com a evasão desses profissionais. Somos ameaçados o tempo todo no exercício de nossa profissão.”

Ao final do painel, Queiroz concluiu enfatizando novamente a relevância da parceria entre sociedades médicas, indústria e academia. “Somente dessa forma é possível praticar uma medicina de excelência. O futuro da medicina global depende da habilidade de trabalhar em conjunto com a Inteligência Artificial”, expôs.

Abramed integra webinário da Shift sobre perspectivas para a medicina diagnóstica

Evento demonstrou que as expectativas para 2024 são positivas, com a continuidade da colaboração entre as entidades setoriais e o crescimento do uso da inteligência artificial

Para fazer uma retrospectiva de 2023 e discutir as tendências que conduzirão o setor de medicina diagnóstica em 2024, a Shift, especializada em Tecnologia da Informação (TI) para o segmento, convidou Wilson Shcolnik, presidente do Conselho da Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), para integrar o webinário “Transformando a saúde dos negócios e das pessoas”, também com participação de Fábio Brazão, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), e Maria Elizabeth Menezes, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). O evento foi realizado no dia 28 de novembro, sob a moderação de Marcelo Lorencin, CEO e fundador da Shift, parceira institucional da Abramed.

Os palestrantes reforçaram a importância da medicina diagnóstica no setor de saúde, lembrando que cerca de 70% das decisões médicas se baseiam em resultados de exames laboratoriais. E esse valor ficou ainda mais evidente durante a pandemia. Segundo dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, as associadas realizaram mais de 720 milhões de exames de diagnóstico em 2022, um aumento de 9,5% em relação a 2021.

“Nosso setor está em crescimento e vai continuar assim por uma série de razões. Estou otimista, embora ainda tenhamos muitos desafios a enfrentar. O grande fator positivo neste ano que se encerra foi a união das entidades, de uma maneira nunca vista antes. Com isso, nos tornamos fortes para defender os interesses do setor diante de tantas ameaças que encontramos no ambiente externo, seja em assuntos regulatórios, como a RDC 786/2023, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seja em assuntos de mercado, já que muitos laboratórios também atendem a área privada”, disse Shcolnik.

Ele frisou que o foco da RDC era o funcionamento dos laboratórios clínicos, mas, por uma série de contingências, gastou-se muita energia na discussão sobre exames realizados fora do laboratório clínico. “Na minha opinião, conseguimos bons resultados, pois os critérios para realização desses exames são muito rígidos. Compete a cada um de nós fiscalizar como eles estão sendo feitos nas farmácias, afinal, não podemos submeter as pessoas a qualquer tipo de risco”, complementou.

Ainda referente à RDC 786/2023, Shcolnik apontou várias conquistas relacionadas à tecnologia da informação. Antes, não havia autorização legal para a liberação automática de exames, embora todos os laboratórios utilizem essa ferramenta. Agora, a questão está prevista na regulamentação. Outra conquista foi a assinatura dos laudos, que não precisa mais ser certificada, simplificando o processo.

Shcolnik participou recentemente de uma reunião na Anvisa, mas a agência revelou não ter condições de informar um cronograma para discutir e promover ainda mais alterações já identificadas na nova RDC. “Nós da Abramed temos discutido algumas iniciativas no futuro para nos proteger e oferecer aos pacientes as melhores práticas, com resultados de exames confiáveis”, acrescentou.

Lorencin reforçou que a evolução da RDC é importante, desde que não traga impacto negativo e autorize o uso da automação para garantir o equilíbrio do setor e, ao mesmo tempo, a segurança do paciente. “Isso é o que preconiza a questão da assinatura em termos de autenticidade e integridade dos dados, sem aumentar os custos na cadeia produtiva de medicina diagnóstica. Isso também foi um trabalho em conjunto”, destacou.

Essa união entre as entidades também resultou na campanha inédita de valorização do laboratório, chamada “Eu confio no Laboratório”, demonstrando preocupação com a saúde do paciente após alteração na RDC. O objetivo é conscientizar a população sobre a importância de buscar resultados de exames em locais adequados, garantindo a qualidade dos resultados.

De acordo com Brazão, o local que vai realizar o exame fora do laboratório clínico – que já tem essa expertise – precisa montar um programa de garantia da qualidade, para fazer gestão de equipamento, gestão de risco e gestão de pessoas. “O investimento nesses locais deve ser fiscalizado”, ressaltou.

Fazendo uma comparação com outros países, Maria Elizabeth compartilhou sua experiência em um evento na Guatemala, que reuniu representantes da América Latina, América Central e República Dominicana. O Brasil é o único país com poucas barreiras sobre exames realizados fora de laboratório. “Mesmo nos Estados Unidos, onde cada estado tem sua legislação, não é tão aberto assim, com a preconização da assistência primária através de farmácia e inteligência artificial para alguns exames. Por outro lado, a América Latina está preocupada com a qualificação de laboratórios”, disse.

Maria Elizabeth também contou que só no Brasil há o farmacêutico generalista, o que coloca em risco a vida dos laboratórios. “Esse generalista não tem competência para fazer os exames, fornecer os resultados para o paciente e fazer o encaminhamento correto. Existem alguns cursos preparatórios, mas não são desenvolvidos pelas sociedades científicas”, apontou.

O impulso da tecnologia

“A tecnologia é a base de qualquer negócio, mas é preciso que as empresas tenham maturidade para poder capturar o seu valor”, disse Lorencin. “Quanto mais madura uma organização está perante seus processos, mais consegue capturar resultados da tecnologia, que vão desde a automação total até diferenciais competitivos”, comentou o CEO da Shift.

Para Brazão, os laboratórios precisam de um sistema que ajude desde o cadastro até a liberação dos resultados, passando pelas três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica, com foco na segurança. “Com o avanço da tecnologia, vemos o crescimento da telemedicina, que aumenta o acesso e gera resultado de forma mais rápida. Vivemos o momento dos quatro ‘p’: prevenção, participação, previsão e personalização”, disse.

Ele citou outras tecnologias promissoras, como a genômica, a metagenômica e a espectrometria de massa. Nesse ponto, destacou a união também entre laboratórios menores para unir tecnologias e realizar exames em parceria. “É importante se apegar à tecnologia na automação e na qualidade, para que os clientes tenham confiança em seu trabalho”, comentou Brazão.

Por sua vez, Shcolnik citou outras inovações. A radiologia já utiliza reconhecimento de imagem com grandes benefícios para os pacientes. “O olho humano não consegue ver essas imagens, mas a inteligência artificial as identifica e envia alertas para que os médicos possam priorizar a análise dessas imagens e tecer suas conclusões”, explica.

Na área de laboratórios clínicos, acrescentou o reconhecimento de imagem em hematologia e até em parasitologia. Segundo ele, a inteligência artificial elevará a importância dos exames para as decisões clínicas de 70% para quase 90%. “Na literatura internacional já há definições do uso da IA para melhoria de processos em laboratórios, para identificação de novos valores de referência populacionais, para indicações de exames em cada situação clínica e sobretudo para auxílio na interpretação. A IA conseguirá unir todos esses dados e transformá-los em informações muito valiosas. Esse é um futuro que se aponta”, explicou Shcolnik.

Maria Elizabeth também acredita no aumento da importância dos exames laboratoriais. Segundo ela, o crescimento é impulsionado pela miniaturização de plataformas, permitindo que até mesmo laboratórios de menor porte realizem exames em suas próprias instalações.

A presidente da SBAC explicou que as plataformas reduziram os erros, desde a fase pré-analítica até a emissão do laudo. Nas mais compactas, há a possibilidade de personalização para atender às necessidades específicas dos pequenos laboratórios, possibilitando a realização de exames individualizados. Essa abordagem não apenas melhora a precisão dos resultados, mas também oferece maior flexibilidade operacional.

Ela lembra, no entanto, que os dados no Brasil não estão centralizados, o que é fundamental para trabalhar predição e prevenção. “A Shift pode ajudar nisso em parceria com as entidades. Há vários trabalhos sendo realizados no Brasil que necessitam de integração. Precisamos de um lugar para estocar dados e permitir a análise”, acrescentou.

Maria Elizabeth ressalta, ainda, que a IA não vai substituir o cérebro humano. “Quanto mais nos capacitarmos, menos seremos substituídos. A proximidade com o paciente será de extrema importância. Depois da tecnologia, vai voltar a era da humanização. O tratamento humanizado vai se sobrepor à tecnologia”, expôs.

De forma geral, as perspectivas para 2024 são positivas para o setor de medicina diagnóstica, com a continuidade da colaboração entre as entidades para atingir as demandas do setor e com o crescimento do uso da inteligência artificial, ajudando os laboratórios a atenderem à população com mais precisão e rapidez.

Inteligência artificial e 5G pautaram a participação da Abramed no Global Summit APM 2023

Cesar Nomura, VP do Conselho de Administração da entidade, falou sobre “Conectividade na saúde e seus impactos na Medicina Diagnóstica”

A interseção entre conectividade e métodos de diagnóstico no contexto atual da tecnologia é fortemente impulsionada pela inteligência artificial (IA). Ela é empregada na análise de grandes conjuntos de dados clínicos, imagens médicas e informações genéticas, auxiliando os profissionais na identificação precoce de doenças, tomada de decisões mais informadas e personalização de tratamentos.

Essa sinergia entre IA e métodos diagnósticos é otimizada pela implementação da tecnologia 5G, que vem crescendo no Brasil. Sua capacidade de transmitir dados em altas velocidades e com baixa latência é um fator determinante para a eficácia das aplicações de IA na medicina diagnóstica.

O tema foi abordado por Cesar Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, durante o Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, realizado de 20 a 22 de novembro, em São Paulo. Ele apresentou a palestra “Conectividade na saúde e seus impactos na Medicina Diagnóstica”, no Painel Nacional Soluções em Saúde Digital e Telessaúde.

Como exemplo do uso dessas tecnologias, Nomura lembrou que, durante a pandemia, cientistas do Hospital das Clínicas de São Paulo desenvolveram uma plataforma de IA, chamada RadVid19, para identificar casos de Covid-19 em tomografias. Algoritmos eram aplicados às imagens enviadas para a nuvem, disponibilizando os resultados em apenas 10 minutos. A solução foi criada em apenas um mês e meio, abrangendo 50 hospitais, que processaram 27 mil tomografias, gerando uma das maiores bases de exames de tomografia de Covid-19 do mundo.

Apesar do sucesso, segundo Nomura, a quantidade de tomografias processadas, considerando o tamanho do Brasil, poderia ter sido ainda mais expressiva se houvesse maior colaboração com o governo, o que destaca o potencial de expansão e impacto positivo desse tipo de ferramenta.

Atualmente, o 5G é considerado uma das tecnologias de conectividade que mais impactam a saúde, oferecendo rapidez, baixa latência e alta confiabilidade, estando presente em quase todos os lugares. “A conectividade avançada, como o 5G, permite integrar equipamentos como ultrassom, endoscópios, dermatoscópios, raios-x, entre outros, a centros de referência remotos, com médicos especialistas, permitindo o diagnóstico remoto através de imagens transmitidas em tempo real”, explicou.

O advento da tecnologia 5G promete revolucionar o telediagnóstico, especialmente em regiões com poucos serviços disponíveis. Na dermatologia, por exemplo, diversos algoritmos de inteligência artificial proporcionam informações mais detalhadas do que um diagnóstico realizado por um clínico geral ou profissionais menos experientes nessas localizações.

O potencial transformador é evidente ao considerar as taxas de mortalidade em comunidades afastadas, afetadas pela escassez de serviços de saúde. Oferecer um serviço de pré-natal ou ultrassom, com um especialista à distância, pode ajudar a melhorar a saúde pública no Brasil.

Já existem iniciativas em andamento, como a realização de ressonância e tomografia à distância por diversos grupos no país, como o InovaHC – Centro de Inovação do Hospital das Clínicas, permitindo fazer exames em locais sem especialistas, gerando ganhos de escala, aumento na qualidade e na produção, além de redução de custos.

Outro exemplo é o projeto OpenCare5G, criado por um grupo de empresas de diferentes setores e o Hospital das Clínicas da USP, que visa criar uma rede privativa de 5G, oferecer o telediagnóstico em áreas remotas e desenvolver novas habilidades, empoderando a força de trabalho local, induzindo novos pesquisadores no âmbito de telecom e telediagnóstico.

Nomura explicou que o caso inicial do projeto OpenCare5G envolveu um ultrassom portátil conectado via 5G a um centro de referência médico. Um agente de saúde local com treinamento básico opera o dispositivo e um médico especializado localizado remotamente orienta o agente local, salva imagens e fornece o diagnóstico. Tudo em tempo real.

Segundo ele, o verdadeiro avanço só é alcançável através da colaboração entre entidades públicas, privadas, academias e indústrias. “Ao unir esforços para idealizar e implementar soluções inovadoras, podemos maximizar os resultados, fazendo mais com menos em benefício da saúde da população”, disse.

Debate

Na sequência, o vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed participou de um debate sobre “Soluções em Saúde Digital e Telesaúde” com participação de Cleidson Cavalcante, pesquisador em IoMT | UTI Respiratória do InCor HC/FMUSP, e Felipe Cabral, gerente médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento.

Uma das discussões foi sobre barreiras na implantação de ferramentas de interação à distância entre os profissionais de saúde. Para Cabral, a primeira delas pode ser a tecnológica, mas não é a principal. “A questão humana é um grande desafio, ou seja, o próprio médico querer uma segunda opinião de outro. Essa relação precisa ser de parceria, é importante trabalhar isso”, disse.

Nomura concordou, mas, para Cavalcante, a experiência foi diferente. No momento de dificuldade durante a pandemia, no caso da teleUTI geral adulto, houve uma grande necessidade de buscar outros profissionais. Ele lembrou, ainda, que na área de Terapia Intensiva é comum a discussão entre pares. “Além disso, quando os dados são entregues em tempo real, ou seja, quando os dois lados estão com acesso às mesmas informações, é importante já deixar combinado que aquele cujo sistema primeiro identificar alguma ocorrência deverá entrar em contato com o plantonista”, explicou.

Sobre a sustentabilidade da adoção de modelos conectados no Brasil, Nomura considera que é importante fazer primeiro a “lição de casa”. “Precisamos de integração entre as instituições de saúde e uma política de saúde pública por região”, destacou.

A respeito do uso da tecnologia na promoção de saúde, os participantes consideraram que é preciso comprometimento para conectar a população aos sistemas das instituições. As pessoas necessitam ser monitoradas e acessadas antes de desenvolverem a doença, evitando uma internação e as chances de complicação em seu quadro de saúde, além de reduzir os custos do sistema. A prevenção é o futuro e há ferramentas que podem contribuir nesse monitoramento.

“Se não nos prepararmos para as mudanças tecnológicas, seremos atropelados ou vamos acabar aceitando o que vier. O uso de aplicativos e tudo que vem de saúde digital é um caminho sem volta, mas é preciso dosar o que utilizar, porque nenhuma tecnologia é capaz de substituir o profissional humano”, salientou Nomura.

Abramed protagoniza debate sobre transformação digital no CBR23

Painel realizado pela entidade mostrou o panorama do mercado e abordou os desafios e os impactos da digitalização na saúde 

Para levar conhecimento, promover o networking e incentivar o debate de temas relevantes ao setor, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) marcou presença no 52º Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, o CBR23, que aconteceu de 12 a 14 de outubro, no Rio de Janeiro.

Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, fez a abertura do Painel que trouxe como tema central a “Transformação Digital na Medicina Diagnóstica”, no dia 14 de outubro, além da apresentação institucional da entidade. A programação contou com palestra de Ademar Paes Jr, diretor da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed, sobre o “Panorama do mercado de Medicina Diagnóstica”, mostrando dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico; e palestra sobre “Desafios e impactos da digitalização na saúde”, com Adriano Tachibana, gerente médico imagem do Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, Luciana Dias, CEO da Transduson, apresentou um case sobre as tecnologias aplicadas na empresa, que se destaca pela digitalização.

Após as palestras, um debate sobre o tema central foi conduzido por Milva, abordando assuntos como ética, mudança de cultura, segurança de dados e o futuro da medicina diagnóstica. Os participantes frisaram que a evolução está acontecendo, portanto, é preciso se adaptar. 

No mesmo dia, o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnick, a convite do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), participou da programação, palestrando sobre o cenário atual dos prestadores do Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico, tratando da atuação da defesa profissional.

Desafios e avanços da digitalização

O debate “Transformação Digital na Medicina Diagnóstica” rendeu insights valiosos. “Quando tratamos de tecnologia, falamos de ética, legitimidade das informações e governança. No entanto, ainda enfrentamos desafios significativos envolvendo cibersegurança e proteção de dados. Portanto, é fundamental identificar indicadores para mensurar os processos de transmissão de dados”, disse Milva.

Ademar complementou que esses indicadores estão sob a responsabilidade das empresas e, geralmente, são impulsionados por seus departamentos internos. Ao implementar um serviço de tecnologia em uma organização que já possui estrutura em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), é necessário cumprir uma série de requisitos. “No entanto, a questão vai além de legitimação e segurança; precisamos evoluir para outros temas, como o direito de propriedade sobre os dados e considerações éticas em relação à utilização dessas informações.”

Segundo Ademar, cada vez que um indivíduo disponibiliza seus dados, ele perde a rastreabilidade sobre seu uso. “A ausência desse controle não é necessariamente prejudicial – na era analógica também não havia –, mas precisamos evoluir e criar ferramentas de controle”, reforçou.

Melhorias na eficiência 

Tachibana compartilhou que o Hospital Israelita Albert Einstein melhorou significativamente sua eficiência por meio da transformação digital, abrangendo áreas como agendamento, operações diárias e engajamento dos pacientes. “Notamos que a digitalização tem alcançado uma grande parte de nossos clientes, e isso resulta em melhorias tanto na eficiência como no crescimento da instituição, além de reduzir custos. Essa redução foi fundamental para mantermos nossas operações com as mesmas características”, expôs. 

Contudo, ele reconheceu que houve um impacto considerável no número de glosas no balanço da instituição, algo que não era um problema no passado, mas que passou a fazer parte da rotina. “Embora busquemos constantemente aumentar a eficiência e a produtividade, enfrentamos penalizações em outras áreas”, disse.

Ele lembrou que a implementação de inteligência artificial para melhorar a produtividade dos médicos ou a interpretação de exames de forma mais eficiente ainda não é uma realidade, devido a questões éticas. Segundo Tachibana, é preocupante que os médicos estejam entrando em um ciclo descendente e os radiologistas estejam sob crescente pressão. Uma pesquisa da Medscape feita nos Estados Unidos indicou que um terço dos radiologistas sofre de burnout, o que é alarmante.

“Apesar das preocupações, tentamos encarar esse cenário com otimismo, acreditando que o sistema se ajustará com o tempo. No entanto, se não tivéssemos adotado rotinas digitais com custos mais controlados, estaríamos em desvantagem”, disse.

Por sua vez, Luciana contou que a Transduson experimentou melhorias significativas graças à transformação digital. Como exemplo, citou que a experiência do paciente começa com o check-in digital, e as autorizações para exames são obtidas em segundos devido ao uso de robôs. 

Antes da implementação de melhorias, o índice de glosa estava em torno de 2% e, em alguns meses, chegou a 10%. Para enfrentar esse desafio, a empresa contratou programas de robôs, padronizou os motivos de glosas e, com isso, o tempo de resposta diminuiu de dias para horas. “Embora o investimento inicial tenha sido alto, melhorou muito esse retorno. Conseguimos reduzir o índice de glosa de volta para 2%”, expôs.

Custos

A transformação digital mudou completamente os custos de saúde. Ademar explicou que existem três principais fatores que contribuem para o aumento dos gastos. Em primeiro, a inflação inerente aos serviços, como ajustes em serviços de lavanderia, hotelaria e contratos de manutenção. Em segundo, a incorporação de novas tecnologias, como novos medicamentos ou exames. Em terceiro, o aumento da utilização desses serviços pelos beneficiários. 

Disparadamente, o terceiro fator é o mais significativo. O acesso à informação está incentivando as pessoas a consumirem mais serviços de saúde e a se engajarem em medidas preventivas. No entanto, o mundo ainda está se adaptando a essa mudança. “A transformação digital é um fator muito relevante, e agora enfrentamos o desafio de utilizar essa transformação para reduzir custos e tornar o sistema mais inteligente e eficiente de forma assertiva. A inovação não é uma prioridade se não há agenda e orçamento direcionados a ela”, ressaltou.

De acordo com Ademar, a tendência é ampliar o acesso à saúde a todos, e não haverá recursos financeiros suficientes se não houver incorporação tecnológica. 

Cultura

Na Transduson, a digitalização dos resultados de exames reduziu os custos em 50%, no entanto, Luciana disse que os pacientes com mais de 50 anos ainda preferem receber os resultados em papel, muitas vezes sem compreender os custos envolvidos e as implicações relacionadas a ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa).

Para ela, a transição cultural para a digitalização é um processo gradual e desafiador. “Poucos aceitam essa transformação digital, 60% dos pacientes ainda preferem fazer agendamentos por telefone, poucos adotam o uso de aplicativos e o WhatsApp”, apontou.

Segundo Tachibana, é preciso criar um caminho para que cada pessoa continue a utilizar o serviço. “É importante entender que elas têm suas próprias necessidades. Algumas requerem explicações detalhadas ou um processo diferenciado, preferindo ainda o analógico”. Ele contou que o Hospital Israelita Albert Einstein, inicialmente, buscou personificar os perfis de usuários, para auxiliar a compreender as particularidades de cada um. 

Ademar lembrou que a compra de filmes para a impressão de exames tem diminuído, portanto, a adaptação é uma questão de tempo. Mas declarou ser fundamental reconhecer as diferenças entre os perfis do público. Por exemplo, o perfil de um idoso com alta renda é diferente do de um idoso com baixa renda, assim como o perfil de um jovem com alta renda é distinto do de um jovem com baixa renda.

“Enfrentamos diversos desafios nesse processo de transformação, mas precisamos começar, pois não há mais como retroceder. Manter processos conservadores não é viável. A necessidade de aumentar a produção e a capacidade limitada exigirão que sejam realizados mais exames com menos recursos. A transformação digital precisa implementar mecanismos para melhorar a performance, senão, haverá 100% de radiologistas com burnout”, alertou.

Como vai ser o futuro?

Segundo Ademar, a transformação digital traz uma tendência de inversão de lógica no point of care. O tradicional é o paciente ter alguma dúvida, marcar consulta, o médico solicitar os exames e o paciente retornar com o resultado. É um processo que envolve paciente, médico, exames e médico novamente.

Através da tecnologia, isso se inverteu. O paciente primeiramente se educa sobre sua condição, estabelece uma rotina de testes diagnósticos e procura o médico apenas quando detecta alguma alteração. Na Virginia, Estados Unidos, alguns planos de saúde já adotaram esse modelo com grupos específicos, como pacientes com diabetes ou hipertensão. Em vez de realizar consultas a cada seis meses, eles fazem apenas exames diagnósticos e consultas uma vez por ano ou a cada dois anos. 

“Precisamos estar abertos a uma mudança cultural. Às vezes, a luta não está em resistir à mudança, mas em manter a relevância do processo. A chave da medicina diagnóstica está em sermos mais eficientes, organizados, entregarmos mais valor, fazermos um controle mais preciso, sem erros, com segurança e qualidade”, disse Tachibana.

Segundo Luciana, a evolução não tem volta e envolve maior eficiência, qualidade das imagens, rapidez na entrega de resultados, atendimento personalizado ao paciente e telemedicina. Tudo com conforto. “Precisamos mudar nossa cultura e avançar, pois a tecnologia é uma ferramenta que potencializa os processos e reduz os custos”, salientou.

Por fim, Ademar encorajou todos a liderarem a transformação digital em seus ambientes, seja consumindo tecnologia, seja contribuindo para o desenvolvimento de soluções e processos. “A inovação não depende do avanço tecnológico, mas da responsabilidade que assumimos para resolver problemas. Façam parte dessa liderança”, encerrou.

Painel liderado pela Abramed abordou os desafios da gestão em medicina diagnóstica

Com apresentação de cases de sucesso, o evento integrou o I Congresso de Acreditação e Qualidade em Medicina Diagnóstica, do CBR

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) liderou o painel “Desafios da gestão em medicina diagnóstica”, no I Congresso de Acreditação e Qualidade em Medicina Diagnóstica, realizado de 26 a 28 de setembro, durante a Medical Fair Brasil (MFB), em São Paulo.

Organizado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), em parceria com a Abramed, a Associação Brasileira das Clínicas de Diagnóstico por Imagem (ABCDI), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML); e a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), o congresso representou um marco no segmento. 

O painel aconteceu no dia 28 de setembro e foi moderado por Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, que conduziu a sessão de perguntas do público após as apresentações de quatro cases de sucesso, envolvendo desafios e iniciativas em gestão na medicina diagnóstica em diferentes áreas.

Roberto Caldeira Cury, diretor médico-executivo de medicina diagnóstica da Dasa, mostrou as ações implementadas pela rede de laboratórios. Marcos Queiroz, diretor de medicina diagnóstica no Hospital Albert Einstein e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed, compartilhou a experiência do laboratório inserido no complexo hospitalar. Julio Pessotti Neto, diretor de Laboratório Clínico na Hapvida Diagnóstico e NotreLabs, apresentou o case como uma rede verticalizada. E Maria Elizabete Mendes, coordenadora do núcleo de qualidade e sustentabilidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMUSP) – Divisão de Laboratório Central, finalizou com a experiência do setor público.

Gestão em rede de laboratórios

Em 2017, a Dasa deu início à padronização dos fluxos operacionais, para minimizar desvios e assegurar que todos os pacientes recebam um padrão de atendimento consistente. O processo começou com o mapeamento das melhores práticas operacionais de todas as suas 26 marcas e a consolidação desse conhecimento em um modelo de produção, como explicou Cury. 

Esse esforço levou cerca de um ano e meio e, em 2018, a empresa implementou com sucesso o modelo, garantindo uniformidade em todas as marcas e unidades. Em 2019, criou o Núcleo de Operações e Controle para centralização da qualidade, tanto médica quanto operacional, e um modelo de certificação das unidades através de auditoria. Em 2021, estabeleceu núcleos de segurança dos pacientes e, em 2023, vem focando na cultura organizacional.

Cury destacou que a Dasa encoraja a notificação de quase erros, visando proteger vidas e melhorar constantemente os procedimentos. Ele enfatizou a importância da cultura justa para todos os colaboradores, que significa que as pessoas não são punidas por seus erros e falhas, mas as violações não são toleradas.

“Em resumo, ressaltamos a importância da padronização de processos e fluxos, a gestão de indicadores, a cultura organizacional focada na segurança do paciente, a estruturação de auditorias internas e multiplicadores, a conquista de certificações e acreditações nacionais e internacionais, bem como a mensuração da qualidade e a excelência médica, priorizando o paciente e a melhoria contínua”, expôs Cury.

Gestão em complexo hospitalar

Queiroz contou como a gestão de um laboratório de medicina diagnóstica dentro de um hospital é fundamental para o sucesso e a segurança do atendimento médico. Ele defendeu que o investimento em qualidade é essencial e, muitas vezes, a melhor maneira de abordar os gestores é demonstrar que a falta de qualidade pode gerar prejuízos, especialmente quando se trata de prevenir eventos adversos catastróficos. “Ou seja, existe um custo para a não qualidade”, reforçou.

Entre os principais desafios enfrentados na busca pela acreditação, Queiroz citou o baixo engajamento da alta liderança, a falta de uma cultura organizacional voltada para a gestão de riscos, a priorização de investimentos a curto prazo, a dificuldade de alocar recursos humanos qualificados, a falta de dados e o baixo investimento em melhoria contínua e eficiência operacional.

Para vencer esses desafios, o Hospital Albert Einstein implementou um escritório de qualidade, que busca agregar as pessoas no tema qualidade, promovendo a transparência e a segurança. “Há uma tendência de colocar os problemas embaixo do tapete, mas isso é o que de pior pode acontecer. É preciso engajar as pessoas”, expôs.

E para obter sucesso nessa empreitada, é importante inventar formas para que a informação cause realmente impacto. Pensando nisso, o Einstein utiliza a prática “Safety Huddle”, pela qual as principais lideranças se reúnem diariamente, por 10 minutos, para compartilhar informações do dia anterior e prever o dia que começa. Isso cria um ambiente de comunicação aberta e de confiança na liderança. 

Queiroz também enfatizou que é possível ser produtivo e manter a qualidade, e que é papel do gestor demonstrar isso. Ele incentivou o reconhecimento e o engajamento por meio de prêmios de qualidade, além de pequenos gestos, como cafés da manhã com o colaborador destaque. “Aqui no Einstein realizamos de três a quatro eventos de premiação por ano”, contou.

Sobre a diferença de um laboratório dentro de um complexo hospitalar, ele citou a exigência ainda maior para resultados corretos cada vez mais rápidos e a existência de um corpo clínico instalado. Queiroz aproveitou para salientar que a medicina diagnóstica está envolvida nas maiores decisões médicas, sendo responsável por 70% das decisões de um paciente internado.

O diretor defendeu que a área não deve ser vista como apoio, mas uma atividade-chave para o sistema de saúde. “É a medicina diagnóstica que tem dados estruturados, ou seja, é responsável pelas definições de estratégias dentro de uma instituição”, reforçou.

Gestão em rede verticalizada

Pessotti Neto compartilhou o case da NotreDame Intermédica, ressaltando os projetos desenvolvidos pelo grupo, que conta com 271 unidades de atendimento de imagem e análises clínicas, atendendo 67 unidades hospitalares em todo o Brasil.

Um dos projetos está relacionado ao tratamento de pacientes com diabetes. O Brasil é classificado como o sexto país com o maior número de pessoas com essa condição, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes. Para abordar esse desafio, o grupo criou um painel dedicado a esses pacientes, composto por uma equipe de controle dedicada.

Durante o primeiro ano do projeto, foram identificados 1.500 pacientes em alto risco, que receberam monitoramento contínuo. Eles eram convocados para consultas regulares a cada 60 ou 90 dias, quando não retornavam, a equipe ligava agendando o exame. “Com esse grupo, as internações caíram a zero, ninguém teve complicações por diabetes”, apontou Pessotti Neto. 

Outro projeto apresentado envolve a análise do perfil bacteriano de todos os clientes em internação e pronto-atendimento. Esse acompanhamento hospitalar detalhado possibilita a administração de antibióticos logo nas primeiras bactérias identificadas, otimizando significativamente o tratamento.

Gestão no setor público

Maria Elizabete apresentou alguns desafios enfrentados pela instituição e delineou as estratégias adotadas para superá-los. “Tínhamos muitas falhas da comunicação, elevado turnover, entre outros problemas, que levaram a uma desmotivação enorme da equipe. Era como uma areia movediça, com todo mundo afundando sem tomar providências”, explicou. A jornada de transformação teve início em 1995, com a necessidade de se autoconhecer para planejar as ações. 

Para tornar o laboratório uma área de excelência, foi desenvolvida uma política de sistema de gestão, definindo missão, visão e valores. Cada colaborador percebeu o que era importante mudar. A cada dois anos, novas diretrizes estratégicas são lançadas, e avaliações com as lideranças são realizadas.

Um dos desafios do serviço público mencionados por Maria Elizabete é a ausência de “dono”, o que exige uma responsabilização que começa na liderança. “Tivemos de utilizar os recursos disponíveis e valorizar as pessoas, desenvolvendo talentos e trabalhando para que as novas lideranças de tornassem inspiradoras”, contou.

Foram construídas redes estratégias, que gerassem maior motivação e um ambiente de trabalho mais saudável, trazendo segurança para o negócio, resultados e mais resolutividade do ponto de vista técnico. Também foram criadas 14 comissões multidisciplinares, com multiplicadores. Cada uma é uma frente de trabalho que dá apoio ao laboratório, proporcionando colaboração e empoderamento.

Maria Elizabete destacou, ainda, o investimento em boas práticas e a conquista de acreditações. A primeira só veio depois de 10 anos, foi uma etapa superada. Depois a instituição levou quatro anos para conquistar a acreditação internacional do Colégio Americano de Patologistas (CAP).

Já a gestão de equipamentos se tornou um modelo para outros centros, e a segurança da informação foi abordada em colaboração com a equipe de TI, através do mapeamento de riscos para garantir um controle de acesso eficaz que evite ataques de hackers.

Maria Elizabete ressaltou a importância das auditorias internas e externas para garantir a qualidade, enfatizando que essas práticas são mantidas desde 1995 como parte dos esforços contínuos para aprimorar o laboratório. Nesse contexto, enfrentou desafios significativos, mas, com uma abordagem estratégica e colaborativa, conseguiu superá-los e estabelecer-se como uma área de excelência na medicina diagnóstica.

Encerrando, Maria Elizabete disse que o mais importante da missão da FMUSP é poder ensinar. “Essa nova geração de patologistas clínicos saiu do nosso laboratório com conhecimentos básicos em qualidade e boas práticas. Isso nos honra”, comentou.

Papel da Abramed

Ao fim das palestras, Milva apresentou a estrutura da entidade, seus projetos e iniciativas. Em referência ao tema do evento, salientou que a associação tem como missão trazer boas práticas para o setor, promovendo a sustentabilidade através da importância de utilizar o recurso certo no local certo.

“O que mais nos enche de orgulho é trabalhar em união com outras entidades, como o CBR. A defesa de pautas comuns tem um impacto positivo no setor, nas empresas e nos profissionais que nelas trabalham. Não podemos conceber a inovação sem considerar as necessidades das pessoas, pois nada funciona efetivamente se elas não estiverem motivadas e engajadas. Esse comprometimento beneficia todo o sistema”, declarou.