Healthtechs brasileiras apresentam soluções tecnológicas para saúde no 4° FILIS

CUCOhealth, GlucoGear e Neoprospecta participaram do painel “Healthtechs: transformando o acesso à saúde”

As healthtechs – empresas com propostas inovadoras e disruptivas na área da saúde – têm mudado, em todo o mundo, a maneira com que muitos pacientes vêm interagindo com os serviços de saúde.

Três startups brasileiras apresentaram suas soluções para o mercado durante o 4º FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), que aconteceu em São Paulo, dia 30 de agosto. Entre os cases apresentados estavam um aplicativo para engajar os pacientes em tratamentos médicos, outro que ajuda a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia se comporta, e o diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos.

A CEO e fundadora da CUCOhealth, Lívia Cunha, foi a primeira a apresentar sua solução. Fundada em 2015, a healthtech trouxe para o mercado um aplicativo gratuito de engajamento de pacientes em tratamentos médicos. Funciona como um enfermeiro digital na vida dos pacientes em tempo integral, oferecendo conteúdo segmentado para educá-los sobre a condição crônica, alertas para lembrança dos compromissos de saúde como medicamentos e medições, além de trabalhar com gamificação para beneficiar os pacientes mais engajados.

Lívia ressaltou que a empresa ajuda os pacientes a aderirem ao tratamento médico, uma vez que a cada 100 diagnósticos, somente 20 voltam na farmácia para comprar remédios. “A não adesão gera mais custos na saúde. Nós trabalhamos com hospitais e temos o paciente no centro do processo”, afirmou. A empresa atende mais de 100 mil pessoas no Brasil e outros países da América Latina, além de Estados Unidos e Alemanha.

Já o fundador e CEO da GlucoGear, Yuri Matsumoto – startup que utiliza inteligência artificial para controle do diabetes – apresentou a estratégia da empresa de oferecer tecnologias preditivas como informações para bomba de insulina. Segundo o empresário, foram desenvolvidos algoritmos para produção de canetas inteligentes de insulina com um ecossistema integrado a outras empresas para garantir um sistema 100% autônomo para as pessoas com diabetes.

Seu primeiro produto é um aplicativo chamado GlucoTrends, que tem como objetivo ajudar pacientes a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia deles se comporta. “Utilizando inteligência artificial, a tecnologia consegue prever a curva glicêmica futura de cada usuário e alertar para possíveis eventos de hipo ou hiperglicemia, bem como recomendar ações preventivas”, disse. “Além disso, oferece um histórico digital de glicemia, medicamentos administrados, calculadora de insulina, tabela de alimentos com contagem nutricional e registro de atividades físicas com estimativa de consumo energético.” O aplicativo traz ainda conteúdo publicado por experts em diabetes para orientar os usuários sobre os desafios do dia a dia, e também uma interação social para que usuários encontrem outros com perfil similar para compartilhar momentos, experiências e suporte emocional.

A Neoprospecta foi a última startup a se apresentar no 4º FILIS. O CEO Luiz Felipe Oliveira iniciou ressaltando que o corpo humano produz milhões de bactérias a partir do intestino e que a solução da empresa é realizar testes para saber se a microbiota do paciente está ligada à situação diagnosticada. Isso acontece através do diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos, utilizando como base as novas tecnologias de sequenciamento de DNA em larga escala. “Trabalhamos a estratégia B2B com principais players do mercado, como Dasa e Albert Einstein”, afirmou Oliveira.

Segundo ele, esse pipeline tecnológico possui duas etapas principais: a laboratorial, que compreende a purificação e extração do DNA, o preparo molecular da amostra e o sequenciamento do DNA; as etapas computacionais, que consistem em análises de bioinformática; e a implementação dos dados na plataforma de visualização.

Após a apresentação das healthtechs, Antônio Vergara, CEO da Roche Diagnóstica Brasil; iniciou o debate ressaltando que a contribuição das startups é bem-vinda, uma vez que traz interação com modelos de negócios inovadores. “Essa cooperação entre healthtechs e grandes empresas é importante, pois o setor de saúde está em constante busca de melhorias, seja para garantir a segurança dos pacientes quanto para prover uma gestão mais eficiente e sustentável”.

Pedro de Godoy Bueno, presidente da Dasa, mencionou que as grandes empresas têm processos mais lentos e atuações em diversas áreas, enquanto as startups conseguem mirar em um problema específico. “Essa cooperação é um caminho sem volta”, afirmou. “Trazer cultura de startup para dentro das empresas é um desafio. Temos várias que funcionam dentro da Dasa, e essa parceria é importante para nós e para elas também, já que é uma possibilidade de escalar. Unir é o caminho”, defendeu.

Para convergir com as grandes e garantir as parcerias, as healthtechs precisam ter, segundo ele, persistência, ciclo comercial largo e defensor interno dentro das grandes empresas. Bueno defendeu também que o capital precisa migrar para onde há mais retorno e lembra que os médicos não estão 100% prontos para o que está vindo.

Durante a discussão, Rodrigo Aguiar, Diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), lembrou que a Agência precisa tratar a inovação dentro da regulação, porém sem inibir os avanços. “Se conseguirmos não atrapalhar, já ajudamos, uma vez que a regulação é muitas vezes a antítese da inovação”, afirmou. Dessa forma, ele considera que é papel também da ANS fomentar o ambiente para novas healthtechs. “Queremos que floresçam a inovação e novas plataformas de cuidado. Temos que evitar as más práticas, sem brecar as novas”, resumiu.

Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury, reforçou que as soluções oferecidas precisam estar casadas com as intenções do médico. Ele avalia, no entanto, que o momento atual oferece muitos recursos, mas não novas ideias. “Temos o big data, mas não a big idea. Há ideias muito segmentadas, que não são escaláveis”, provocou.

Renato Buselli, head LATAM da Siemens Healthineers, indicou que há verbas disponíveis no fundo de pensão do governo federal e que vivemos um momento de transformação cultural. “Precisamos de novas práticas para construir essa história de transformação”, avaliou. Ele indica, ainda, que as novas empresas devem buscar inovações disruptivas, mas também adaptar soluções que já existem, contribuindo para a evolução do mercado.

Entidades debatem os rumos do Brasil para 2020

Evento destacou a importância da união e sustentabilidade para o setor de saúde

06 de dezembro de 2019

A Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), em parceria com Abramed, Abiis, Abimed, Abimo, Abraidi, CNSaúde, Instituto Ética Saúde (IES), Fehoesp, Sbac e SBPC/ML, realizou no dia 5 de dezembro, no auditório do Grupo Fleury, em São Paulo, o encontro “Brasil 2020 – Quebrando barreiras e estabelecendo novos paradigmas para o crescimento sustentável”. Wilson Shcolnik e Claudia Cohn, respectivamente, presidente e membro do Conselho de Administração da Abramed, bem como Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva, estiveram presentes. Líderes de todas as entidades realizadoras também participaram do evento.

Na abertura do encontro, o presidente do Grupo Fleury, Carlos Iwata Marinelli, disse que é o momento de todos do setor unirem-se em um compromisso em prol da saúde. “Vivemos um momento de retomada da atenção à saúde primária e de pacientes cada vez mais participativos. Cabe às lideranças buscar conhecimento para conquistar a sustentabilidade e a excelência do setor. Temos que acreditar que em 2020 viveremos momento melhores.”

Fábio Accury, presidente da CBDL, falou que os tempos são difíceis mais que a troca de experiências pode ajudar na busca por soluções para a saúde. “Os desafios são grandes, principalmente no que se refere ao acesso a novas tecnologias e convergências regulatórias, num cenário político e econômico difícil. Precisamos ser otimistas e entender que juntas, as entidades representantes da saúde são mais fortes, até porque sozinho não se chega a lugar algum.”

A primeira palestra do evento foi do economista, empresário do ramo imobiliário e montanhista Juarez Gustavo Pascoal Soares, 24° brasileiro a atingir o cume do Monte Everest, o topo do mundo, em 2019.  Ele falou sobre “Estresse, auto sabotagem, burnout e superação: do Everest para as empresas”, em que faz uso de suas experiências em escaladas para discutir a importância do planejamento e autoconhecimento para definição de estratégias para ajudar pessoas e empresas.

“Minha atuação junto às companhias, entidades e conselhos é marcada pela busca de convergência entre os interesses dos diversos profissionais que os compõem. Meu trabalho é construir pontes, definir propósitos e estratégicas, estabelecer vínculos de confiança e prevenir danos”, explicou, comentando a importância da tomada de decisão. “Num ambiente de extrema pressão e risco, quando se precisa tomar decisões responsáveis, é necessária autoconfiança na dose certa. Em um ambiente corporativo, por exemplo, onde boa parte das decisões têm consequências significativas, em geral, não se pode ter muita tolerância com desempenhos ruins. Confiar na capacidade de tomar boas escolhas passa pelos nossos dilemas éticos, que nos irão proporcionar resultados mais seguros.”

Soares também disse que ser agente de mudanças significa compartilhar aprendizado, experiências e conhecimento. Nesse ponto, as habilidades emocionais podem ajudar em questões cruciais, como decisões sob pressão, estratégia flexível, performance e mudanças. “Contribuir na maneira como um líder enfrenta os desafios relacionados à mudança, sejam elas desejáveis ou inevitáveis, tendo por princípios o resultado, a segurança e a ética, bem como ajudá-lo a conciliar seus objetivos profissionais e seus sonhos pessoais, é pré-requisito para se alcançar o cume, o topo do reconhecimento pessoal ou profissional”, garantiu.  

Também alertou que é preciso estar preparado para o empoderado, porque é a partir dos medos que superamos as dificuldades e alcançamos o sucesso. “A provação que deixo é: como queremos que nossas empresas sejam lembradas depois dessa jornada?”, concluiu Soares. 

A segunda palestra foi do economista sênior do Banco Mundial, Edson Araújo, sobre “Desafios para sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro – perspectivas do BM”. 

Nos últimos 30 anos, o Brasil fez progressos notáveis na construção e expansão do Sistema Único de Saúde (SUS), que contribuiu para melhorar os resultados de saúde da população, a proteção financeira e reduzir as desigualdades na distribuição e acesso dos recursos de saúde em todo o país, exemplificou Araújo. No entanto, ainda existem desafios para consolidar essas conquistas e responder às pressões existentes e crescentes, como o envelhecimento da população e o crescimento de doenças não transmissíveis. 

Outro ponto destacado pelo economista do BM foi sobre a questões do subfinanciamento relativo do SUS. “Existe consenso de que há escopo claro para alcançar melhores resultados com o nível atual de gastos. O Brasil, como a maioria dos países ao redor do mundo, enfrenta desafios relativos à sustentabilidade do sistema tendo em vista que os gastos em saúde frequentemente aumentam a taxas superiores às taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB). Mantido o padrão atual de crescimento nominal dos gastos, os custos com o SUS chegarão R$ 700 bilhões em 2030.”

 A melhoria da eficiência poderia resultar em ganhos (nominais) de até R$115 bilhões em 2030 (ou aproximadamente R$ 989 bilhões no período). Conquistas essas que, segundo Araújo, poderiam amenizar os impactos e possibilitar a consolidação do sistema. Na opinião dele, para lidar com a expansão necessária na demanda por serviços de saúde, esperada a partir da transição demográfica, o sistema de saúde do Brasil precisa de reformas estratégicas: consolidação da atenção  hospitalar para maximizar escala, qualidade e eficiência; melhorar o desempenho da força de trabalho em saúde, com expansão da oferta de profissionais e a introdução de incentivos para aumentar a produtividade; e integrar melhor os vários níveis de prestação de serviços, por meio de redes integradas de atenção à saúde, incluindo a saúde suplementar. “A experiência dos países que consolidaram seus sistemas de saúde, com reformas periódicas, mostra que a consolidação do SUS depende da capacidade de adotar medidas avançadas para sua modernização”, justificou. 

Na visão de Araújo, para se alcançar mais qualidade, com melhor experiência ao paciente e mais eficiência, com foco nos resultados e melhorar o acesso e a proteção financeira, é preciso fazer reformas de gestão do sistema, de demanda, da oferta e do financiamento. “O sistema de saúde como um todo exigirá um redesenho dos modelos de prestação, gestão e financiamento dos serviços do SUS, assim como melhorar a coordenação com o setor privado, expandir a cobertura e os recursos para a atenção primária em 100% e racionalizar a oferta de serviços ambulatoriais e hospitalares”, finalizou.

Abramed participa de debate sobre certificação digital

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, esteve no eSaúde & PEP 2019, em 2 de dezembro 

05 de dezembro de 2019

A Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis) promoveu o Congresso eSaúde & PEP 2019, entre os dias 2 e 4 de dezembro, em São Paulo, para debater os aspectos práticos de temas como certificação digital, papel dos profissionais da área da saúde na era de transformação digital e diversos aspectos para garantir a segurança dos dados de pacientes com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por meio de discussões com a participação do púbico, além de encontros voltados a médicos, enfermeiros e farmacêuticos envolvidos com saúde digital.

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, participou do painel “Certificação digital – desafios e alternativas para implantação em laboratórios”, que discutiu as formas de autenticação e assinatura bem como as legislações sobre digitalização dos documentos na saúde. 

Ele comentou que a assinatura com certificação digital nos laudos laboratoriais exigida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 30/2015, foi o que assustou o segmento, pelo fato de a maioria dos laboratórios brasileiros serem de pequeno e médio portes. “O impacto do custo seria grande, e essa exigência seria insuportável economicamente. Mas numa ação conjunta do setor conseguimos que o órgão regulador revogasse essa RDC em 2017.”

Shcolnik informou que fraudes não têm sido registradas em virtude da utilização de sistemas que asseguram a autenticidade da certificação digital. Porém, o que está preocupando o setor é a questão da interoperabilidade dos sistemas de modo a garantir que, apesar de suas particularidades, interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente. “O que vejo é que há uma grande expectativa de que garantir o compartilhamento dos dados entre prestadores de serviços, operadoras e instituições será benéfico aos pacientes e a toda cadeia da saúde, uma vez que evitaria o desperdício de recursos, o que impacta diretamente os custos operacionais no setor..” 

Mas ressalta que, para isso, será necessário que todos do sistema de saúde tornem seus processos mais ágeis e eficientes, usando de soluções que possibilitam uma atuação integrada. “Ainda que a interoperabilidade garanta que mais seja feito com investimentos menores, ainda está longe de ser unanimidade no mercado”, afirmou Shcolnik.

Na visão de Marcelo Botelho, da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), para a interoperabilidade sair do discurso e ir para a prática é preciso que hospitais, laboratórios, clínicas, operadoras e demais agentes de saúde incorporem protocolos e padrões a fim de que todos os sistemas se conversem automaticamente. “Se não houver interoperabilidade, é preciso copiar os dados manualmente, de um sistema a outro, e o padrão é complexo. Pergunto sempre se há interesse que tudo isso e a certificação digital de fato funcionem”, questionou. 

Contundente na questão do compartilhamento de informações, Botelho ainda afirmou que não há dúvidas de que ele trará mais agilidade e qualidade para a saúde brasileira. No entanto, os desafios para que isso se torne algo real são grandes e envolvem questões tecnológicas, legais, econômicas e administrativas. “Para deixar de ser algo incipiente, é necessária uma mudança gradual envolvendo governo, instituições de saúde e empresas”, afirmou. 

Para Carlos Eduardo Ferreira, presidente da SBPC/ML na gestão 2020-2021, o desafio da certificação digital está na garantia da qualidade dos serviços prestados e na questão da interoperabilidade para que de fato seja implementado o prontuário eletrônico do paciente (PEP) em todo o sistema de saúde. “Um dos maiores desafios da transformação digital no Brasil, em todas as instâncias governamentais (federal, estadual e municipal), pode, a partir dos prontuários eletrônicos, ser resolvido com o emprego gradativo, em toda a rede pública, da tecnologia de certificação digital.” 

Já testada em hospitais privados e em alguns públicos, a tecnologia dos prontuários a partir da certificação digital, segundo Ferreira, amplia a percepção de eficiência por parte dos pacientes e profissionais. “Quando pensamos no envelhecimento da população e no natural crescimento demográfico, dar maior celeridade e eficiência às formas de atendimento é sem dúvida uma medida de extrema relevância”, destacou.

O cenário de aumento do custo assistencial, envelhecimento populacional, fragmentação dos serviços de atendimento e ampla difusão de tecnologias de informação, bem como a integração das informações de saúde entre toda a linha de cuidado, para Ruy Ramos, assessor técnico do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), pode propiciar maior valor a todos da cadeia de saúde. Mas, para isso, é preciso reorganizar a área de tecnologias de informação em saúde (TIS). “Reconhecendo a obsolescência das tecnologias empregadas atualmente e os problemas decorrentes do modelo vigente de produção de informações, as instituições precisam buscar modelos, experiências, padrões tecnológicos e de informação que possam ajudar na reformulação da área da saúde e garantir a interoperabilidade no sistema.”

Wilson Shcolnik encerrou o painel afirmando que é preciso surgir uma liderança para tomar a frente das discussões sobre o compartilhamento de informações na saúde e na implantação do prontuário eletrônico. “Na esfera pública, o governo já gastou muito do nosso dinheiro com o PEP. Acredito que na área privada precisa surgir uma liderança para integrar os sistemas, porque se depender unicamente do prestador de serviço não haverá compartilhamento.”