“O Brasil precisa escalonar suas prioridades”, diz Cláudia Cohn

Presidente do Conselho da Abramed esteve em debate sobre o futuro do setor no Welcome Saúde, evento realizado dia 29 de janeiro em São Paulo

30 de Janeiro de 2019

A presidente do Conselho da Abramed, Cláudia Cohn, foi uma das convidadas pelo Grupo Mídia para participar da mesa redonda “Construindo o futuro da saúde: O papel dos protagonistas do setor diante dos novos tempos da política brasileira”, debate realizado durante o Welcome Saúde dia 29 de janeiro em São Paulo.

Na ocasião, um dos pontos defendidos por Cláudia foi a necessidade do Brasil olhar para seus próprios desafios definindo quais são os mais imprescindíveis para o momento em que estamos vivendo. “Precisamos entender, por exemplo, que algumas regiões brasileiras precisam de missionários, e não de grandes estruturas hospitalares. O Brasil tem a obrigação de escalonar suas prioridades”, apontou relembrando que é papel dos gestores de saúde trabalhar nessa definição de metas e objetivos.

Quando questionada por Alceu Alves, vice-presidente da MV, que moderava o debate sobre o que conversaria com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, caso o encontrasse em um elevador, Cláudia mais uma vez reforçou a necessidade da priorização. “Além de pedir a ele para ouvir todos os setores de forma rápida e prática, pediria que soubesse priorizar, pois não será capaz de resolver de imediato 50 anos de problemas. E priorizar o paciente e o que traz reais benefícios à população como, por exemplo, a promoção da saúde no âmbito da educação”, complementou.

Debatendo a necessidade de investir em gestão e novos modelos de remuneração, a presidente da Abramed elogiou o SUS e destacou que devemos preservar o que foi construído de positivo. “A iniciativa público-privada já é um consenso e o que precisamos é formatá-la para que possa ser trabalhada sem afetar a inteligência do SUS que é, talvez, o sistema mais inteligente para uma territorialidade tão grande no Brasil, capaz de abranger desde a atenção primária até a alta complexidade”, pontuou.

Citando publicação do Instituto Coalisão Saúde (ICOS) sobre modelos de pagamento baseados em valor como uma fonte de sugestões, Cláudia falou sobre a dinâmica de remuneração que afeta negativamente o sistema. “O Estado precisa lucrar para economizar e prover resultados ao mesmo tempo em que as empresas precisam do lucro para sobreviver ao capitalismo. A grande questão é que todos temos que ganhar com a saúde, mas não às custas de não atender e sim por atender melhor”, definiu.

Para ela, é importante apostarmos no modelo de remuneração por resultados tanto no setor público quanto no setor privado. O que envolve, inclusive, as entidades filantrópicas que devem ser cobradas também para oferecer sempre um atendimento de qualidade.

Ao lado de Cláudia e de Alceu na mesa de debates estiveram Luiz Aramicy, presidente da FBH (Federação Brasileira de Hospitais); Franco Pallamolla, presidente da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios); Mauro Junqueira, do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde); e Rodrigo Lopes, CEO do Hospital Leforte.

Passando por inúmeras transformações, setor precisa da união para alcançar objetivos

Confira a entrevista com o doutor Emerson Gasparetto, vice-presidente do  DASA que fala sobre a importância das parcerias para a evolução do setor

Janeiro de 2019

Vice-presidente do DASA, doutor Emerson Gasparetto enfatiza a importância da união do setor para que todos os processos de transformação que estão sendo vivenciados possam alcançar melhorias reais e significativas. Segundo o especialista, em termos de inovação, a saúde brasileira ainda está engatinhando se comparada a outros segmentos como o da aviação e é preciso investir em melhorias tecnológicas que tragam, de forma mais efetiva, facilidades para o corpo médico, que não deve se dedicar mais ao computador do que ao paciente.

Associado à Abramed, o DASA é a maior empresa de medicina diagnóstica do Brasil e da América Latina, contando com mais de 700 unidades de atendimento e realizando mais de 250 milhões de exames ao ano. Confira a entrevista completa de Gasparetto à Abramed em foco.

Abramed em foco: Integrando a liderança do DASA, quais os desafios que enxerga para a medicina diagnóstica brasileira em 2019?

Emerson Gasparetto: Vejo a revolução do sistema como um grande desafio não só da medicina diagnóstica, mas de todo o setor de saúde, por gerar uma maior necessidade de ampliarmos a eficiência fazendo sempre mais com menos. E o caminho para atingirmos essa meta está muito direcionado à inovação.

Abramed em foco: Então acredita que o fortalecimento do setor está diretamente atrelado à inovação tecnológica?

Emerson Gasparetto: Sim. Seja inovando naquilo que a gente faz, seja inovando em como a gente faz por meio de novas tecnologias, novos produtos e novos modelos de parcerias com nossos clientes, sempre baseados em performance e valor. Atrelado a isso, ao mesmo tempo que temos uma população que está envelhecendo, temos de pensar na população jovem. Toda essa transformação deve colocar o paciente no centro da atenção. Promover essa transformação digital é o nosso segundo desafio.

O que consigo notar é que estamos ainda muito atrás de outros setores, como a aviação, em que já temos muito mais informação correndo na tela dos celulares. Na saúde, ainda dependemos muito mais do fator humano e de uma ampla digitalização. Não podemos dizer que a tecnologia resolverá o problema; ela será apenas o meio condutor. Na saúde, a tecnologia vem trazendo ainda mais desafios do que facilidades para os médicos, por exemplo. Passando grande parte de tempo em frente ao computador, esses profissionais acabam deixando de olhar para o paciente. É preciso trazer tecnologias que facilitem a vida dos médicos e, assim, a vida dos pacientes de forma a realmente agregar valor.

Abramed em foco: O setor de diagnóstico brasileiro ainda vivenciará grandes fusões e aquisições neste ano de 2019?

Emerson Gasparetto: Acredito que o mercado vai voltar a crescer e essa é uma tendência que seguirá na mesma toada, talvez até de forma mais acelerada do que vimos nos últimos dois anos.

Abramed em foco: Na sua visão, qual a importância de a Abramed ser uma associação que reúne todos os players do setor, desde grandes hospitais até pequenos laboratórios?

Emerson Gasparetto: As palavras de ordem nesse novo momento em que vivemos são colaboração, parceria e união. Não será a empresa A ou a empresa B que resolverá nossos gargalos. Será a união de forças e fatores. E a Abramed é crucial em um momento em que grandes empresas do setor no Brasil estão trabalhando juntas em prol de melhorias. Esse é o modelo do futuro. O modelo das parcerias. Além disso, passamos por mudanças, reformas e, conforme essa conta da saúde – que já está pesada – aumenta, será importante contar com uma entidade que nos represente junto ao governo para que possamos obter medidas realmente efetivas tanto para o nosso meio quanto para o paciente. E com a Abramed sinto que estamos muito bem representados.

Abramed em foco: E o que o DASA espera da Abramed como associação para vencer todos os desafios do segmento?

Emerson Gasparetto: Não vejo a Abramed fazendo algo especialmente para o DASA. Vamos colaborar com as demais empresas do setor para que nossos interesses em comum sejam trabalhados e nossos objetivos, atingidos. É muito mais pela parceria. Esperamos que a Abramed ajude o setor como um todo para que possamos passar por esse período desafiador que ficará ainda mais desafiador nos próximos anos por conta de toda essa transformação que estamos promovendo.

Aproveito a oportunidade para parabenizar a Cláudia Cohn, o Conrado e a Priscilla, junto a toda a diretoria da Abramed, que totalmente dedicados atuam de forma que conseguimos observar a evolução dos resultados da entidade. A associação tem tido um progresso bastante evidente ano a ano. E não basta termos a Abramed. Precisamos contar com esses representantes e, nesse ponto, a diretoria tem feito um trabalho brilhante.

Associados Abramed recebem representante do Ministério da Saúde

Tecnologia, financiamento, informação e parcerias foram pauta da reunião que ocorreu na sede da entidade dia 12 de fevereiro

14 de fevereiro de 2019

A Abramed recebeu na manhã do dia 12 de fevereiro o secretário de Atenção à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde (MS), Francisco de Assis Figueiredo. Graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Figueiredo é especialista em Administração Hospitalar e tem MBA Executivo em Gestão de Organizações Hospitalares e Sistemas de Saúde. Atua há mais de 20 anos no setor e tem larga experiência em Gestão Hospitalar.

Recebido pela presidente do Conselho da Abramed, Cláudia Cohn; pelo vice-presidente, Conrado Cavalcanti; e por representantes das empresas associadas, o secretário compareceu à Associação com o intuito de ouvir sobre a atuação da entidade e de apresentar suas perspectivas para a área da medicina diagnóstica.

“Essa foi a nossa primeira reunião do ano e queríamos fazer dela um momento muito especial, de conhecimento e troca de informações”, afirmou Cláudia na abertura, frisando que além dos membros das empresas, estavam ali presentes representantes das sociedades médicas como Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC) e Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), nas pessoas de Wilson Shcolnik, Conrado Cavalcanti e Ademar Paes Junior.

A importância dessa interação com o Ministério, segundo a presidente, está em todos os presentes compreenderem que não se deve falar em saúde pública e em saúde privada de forma separada: “Principalmente porque precisamos entender em que podemos contribuir para a melhoria do atendimento como um todo”.

De fato, Francisco afirmou que considera a medicina diagnóstica fundamental dentro de qualquer política de governo e que o diálogo estabelecido com o setor privado é um marco importante, ressaltando, inclusive, a necessidade de ampliação desse diálogo com as agências reguladoras, pois toda a cadeia está interligada e é afetada pela regulação.

O representante do Ministério da Saúde falou a respeito de sua trajetória e da atual situação da pasta. Este ano, dos 130 bilhões do orçamento da Saúde, 72 bilhões passam pela sua secretaria, sendo por volta de 50 milhões destinados à média e alta complexidade e 20 milhões à atenção primária. O secretário explicou que quando assumiu, em 2016, o seu maior desafio era a falta de pagamento por parte do Ministério aos seus prestadores e que resgatar a credibilidade junto ao mercado e com todos os segmentos do sistema público foi sua meta.

“Naqueles primeiros seis meses economizamos um bilhão de reais”, disse explicando que o segundo passo foi regularizar as habilitações de serviços. “Nossas ações fizeram com que o segmento desse uma resposta importante e os indicadores mostram hoje melhoria da assistência em todos os sentidos no tocante à esfera Federal”, afirmou lembrando que a Constituição determina que as três esferas de governo – federal, estadual e municipal – gerem a receita necessária para custear as despesas do SUS. “Mas temos estados e municípios em situações sustentáveis e isso causa o problema”, continuou Figueiredo.

Atenção básica

Há algum tempo o Ministério da Saúde reforça a importância da atenção básica e, dentro desse tema, Cláudia Cohn enfatizou a medicina diagnóstica de qualidade como aliada: “A prevenção de doenças mais graves passa por exames diagnósticos feitos de forma correta, no tempo correto, para evitar a alta complexidade”, opinou. Francisco concorda. Para ele há um hiato muito grande entre o pedido médico e a efetividade dos exames.

Nesse sentido, o representante do Ministério da Saúde convocou a Abramed a colaborar com a otimização do sistema: “Quero pegar uma região e fazer um desenho dela para que nós pensemos juntos nos principais problemas e definamos os melhores caminhos”.

A questão das PPPs e da baixa remuneração

Entrando na temática da parceria público-privada (PPP), Francisco considera que existem poucas PPPs no país e que o Brasil precisa de uma saúde descentralizada.

“O Ministério deve ampliar as suas parcerias com a rede privada, com aqueles que praticam a boa medicina, e com auditorias para não haver falhas ou fraudes. Não vejo um caminho melhor para atender a população que tanto necessita”, acredita Juliano Esteves Viana, sócio proprietário da Omnimagem, de Fortaleza. “O Ministério não teria que gastar com toda a estrutura. Nós já temos a estrutura e podemos atender”, completa.

Ficou claro que há intenção da pasta em ter cada vez mais o setor privado de medicina diagnóstica como parceiro, porém, essa operacionalização cabe aos municípios e aos estados, sendo regulados pelas PPPs editadas em âmbito Federal. “É de competência do gestor municipal ou estadual definir qual é o melhor parceiro que permitirá a entrega ideal”, salientou.

Nesse sentido, Cláudia reforçou que o setor pode colaborar com o Ministério na orientação tanto da criação do fluxo quanto da formação das parcerias, garantido, entre outros ganhos, mais acesso e mais desfechos de qualidade. “Não podemos dar um tomógrafo para um município de 50 mil habitantes, mas podemos contratar alguém que possa contribuir com essa realização na região”, afirmou.

A remuneração, porém, é o principal gargalo para que isso efetivamente funcione para todos os elos da cadeia. O baixo repasse e a não atualização da tabela SUS foram temas amplamente discutidos. Nesse momento, Francisco reiterou que o SUS remunera uma parte da tabela e que existem os incentivos estaduais e municipais. E foi categórico ao afirmar que o Ministério nunca conseguirá custear 100% dos procedimentos. “Não estou dizendo que remunera bem”, afirmou. “Mas é preciso atuar com eficiência e escala.”

Os problemas resultantes dessa questão foram expressados pelos presentes. Viana, da Omnimagem, explicou que atender ao SUS nos parâmetros atuais faz com que as operadoras queiram regular para baixo os seus valores.

A falta de reajuste, segundo Wilson, reflete até mesmo na qualidade do serviço: “No mundo real os insumos aumentam, usamos materiais importados em muitos exames, então é simples de entender que a qualidade vai ser afetada”, ressaltou. “E isso também tem a ver com desperdício porque o exame que saiu errado por conta de um insumo com baixa qualidade vai ser repetido.”

A questão do desperdício

Por falar em desperdício, o representante do Ministério da Saúde elencou esse como um grande gargalo causado principalmente por duplicidade de consultas, exames e até mesmo de medicamentos entregues. Nesse momento coube falar da importância do Painel Abramed na desmistificação do fato amplamente disseminado de que cerca de 30% dos exames não são retirados pelos pacientes. O estudo da Associação comprova que o desperdício em exames realizados (3,5%) é bem menor do que se falava.

A importância da informação e da tecnologia

Ponto passivo em toda a reunião foi a importância da integração das informações na saúde brasileira. Francisco afirmou que o Ministério da Saúde tem dificuldade na obtenção de dados, ainda que em sua gestão tenha havido grande progresso nesse sentido graças a implementação de uma Sala de Comando de onde ele consegue enxergar o Brasil de forma online, com número de leitos e de cirurgias filtrados por região desde 2012. Mas, ainda existem gargalos, principalmente na área diagnóstica. O Ministério não sabe, por exemplo, quantos exames são feitos ambulatoriamente no país. “Sem ter informação como é que eu decido políticas? Como eu penso no futuro?”, questiona.

Falando de conectividade e da necessidade da interoperabilidade total de dados na saúde, foi levada à mesa a importância da elaboração de regras para compartilhamento nacional de dados – citando a Lei Geral de Proteção de Dados recentemente aprovada – e também do uso da telemedicina – recentemente aprovada – como fatos que não devem mais ser contestados e sim discutidos e regularizados. “Essa é uma tendência que deve ser seguida, ainda que com algumas melhorias”, comentou Claudia. A Abramed promoverá junto a parceiros um workshop sobre o tema.

Especialidades médicas

Foi abordada ainda a qualificação da formação médica nas universidades com foco na importância do diagnóstico e orientando ao uso racional de procedimentos. Representantes da Abramed citaram que a falta de anatomopatologistas e de patologistas clínicos tem aumentado e esse vai ser um problema para a saúde como um todo no futuro, caso não seja trabalhado. “Uma nova especialidade deve ser criada, mas isso depende do Ministério da Educação”, explicou o vice-presidente da Abramed, Conrado Cavalcanti. “Entrará a figura do especialista em diagnóstico, que vai saber direcionar se devem ser feitos mais exames, por exemplo.”

O último assunto colocado foi referente a Lei da Enfermagem, que para a Abramed atinge tanto o setor público quanto o privado por se tratar de uma alteração insustentável na carga horária dos profissionais de enfermagem. Em ambos os temas, Figueiredo pediu que a entidade produzisse um posicionamento, mas afirmou que concorda que as mudanças não devem levar em conta apenas uma categoria e que todos os impactos na cadeia devem ser medidos.

Lição de casa e agenda positiva

A visita de Francisco a Abramed foi considerada extremamente profícua pelos presentes. Temos de longa data uma ideia de que Brasília é uma celeuma onde nada se resolve”, disse Alberto Duarte, responsável pelo laboratório de medicina diagnóstica do hospital HCOr, de São Paulo. “Foi muito bom para nós entendermos que temos no Ministério uma pessoa com a visão que ele colocou.”

Para Cláudia, o encontro foi extremamente rico e gerou muita lição de casa para fazer, com pautas para serem trabalhadas e direcionadas ao Ministério. “A representatividade tem que vir da união e da maturidade para podermos chegar ao Ministério de forma efetiva, para buscar resultados práticos”, disse ela. “Estamos claramente tomando atitudes e promovendo atividades nesse sentido”, comemorou.

Contribuição sindical reforça coletividade do setor

Desde a entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017 o desconto da contribuição sindical deixou de ser obrigatório; pagamento amplia poder coletivo

Janeiro de 2019

Uma das definições da Reforma Trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017 pela Lei nº 13.467, foi a queda da obrigatoriedade da contribuição sindical. Com a reforma, que promoveu alterações em mais de 100 artigos da CLT, o desconto para financiamento dos sindicatos passou a ser opcional tanto para empresas quanto para colaboradores. Antigamente os trabalhadores arcavam com o desconto anual em folha de um valor equivalente a um dia de salário. Para as empresas, o imposto também era obrigatório e era calculado de uma forma diferente, visto que era definido um percentual sobre o valor da empresa.

Na época, a mudança foi amplamente questionada pelas entidades sindicais que chegaram a acusar a alteração de ser anticonstitucional gerando discussões no Supremo Tribunal Federal. Dentre as alegações dos sindicatos estavam o fato de que a contribuição sindical representa 80% da receita das entidades, o que acabaria por inviabilizar a atuação das mesmas. Hoje, o trabalhador paga o imposto sindical apenas se quiser e, para isso, precisa autorizar expressamente a cobrança.

Para Angelica Dente de Menezes, gerente de remuneração, benefícios e RT do Grupo Fleury e coordenadora do GT de RH da Abramed, do ponto de vista corporativo, a decisão se a empresa vai ou não contribuir com o sindicato patronal deve ser tomada no momento da construção da estratégia de negociação do ano vigente. “Acredito que o pagamento fortalece a estrutura dos sindicatos e o resultado desse fortalecimento está nas negociações positivas para o setor de saúde”, comenta.

Para ela, caso as empresas optem por deixar de contribuir, o cenário pode sofrer uma perda significativa. “Teremos sindicatos patronais enfraquecidos e com pouca representatividade. Isso nos levará a negociar diretamente com os sindicatos dos trabalhadores, o que trará negociações menos produtivas para o setor, que perde a força da coletividade”, explica.

Quanto a relação entre empresa e colaborador no esclarecimento deste ponto, é preciso que as companhias trabalhem com isenção e transparência. “O pagamento da contribuição sindical deve ser opcional tanto por parte da empresa quanto por parte do empregado. O valor, pago de forma voluntária, deve estar lastreado no reconhecimento pelo trabalho realizado e pelas conquistas trazidas pelas negociações para ambas as partes”, esclarece reforçando que não é papel da empresa incentivar de forma positiva ou negativa a adesão. “Essa é uma relação que os empregados devem ter diretamente com os sindicatos. E a autorização de desconto da contribuição deve estar baseada no sentimento de representatividade do colaborador com a entidade sindical”, finaliza.

Setor de saúde deve estar atento à reforma fiscal

Tema tem sido amplamente questionado; novo governo afirma que trabalhará na desoneração da folha de pagamento

14 de janeiro de 2019

O setor de saúde deve permanecer atento à reforma fiscal que vem sendo amplamente mencionada pelo novo governo de Jair Bolsonaro e pelos economistas em suas análises e perspectivas. Dentro da questão, dois assuntos precisam estar nas discussões de todos os players da saúde: a desoneração da folha de pagamento e a simplificação de tributos.

No dia 10 de janeiro, a mídia divulgou posicionamento do secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, favorável à desoneração da folha de pagamento. No pronunciamento, o secretário inclusive apontou a questão como uma das prioridades do novo governo afirmando que a desoneração foi feita em cima de demandas setoriais e que é preciso torná-la mais abrangente.

Hoje, há a substituição da contribuição previdenciária patronal pela incidência de tributo sobre faturamento e a ideia da proposta é desonerar a folha de salários como um todo, o que envolverá não somente as contribuições previdenciárias, mas também imposto de renda, por exemplo.

Para Fábio Ferreira Cunha, que é coordenador da Câmara Jurídica da Abramed e diretor jurídico e de compliance do Grupo DASA, esse ponto ainda está nebuloso para o setor de saúde. “O segmento de saúde conta com a compensação. Então, se essa mudança irá ou não nos favorecer dependerá do texto que será aprovado. Seria precipitado analisarmos, agora, se essa alteração será vantajosa ou não para a saúde brasileira”, comenta explicando que a utilização de créditos permitida ao setor é proveitosa e que, no caso de uma universalização da desoneração, pode ser que esse direito seja eliminado.

Outro tema que está integrado à provável reforma fiscal diz respeito à simplificação tributária. A questão, que está fortalecida na pauta do setor desde 2017, promete interferir positivamente inclusive na competitividade do país no mercado externo. Mudar o modelo de cobrança de tributos, tornando-o mais assertivo e menos complexo, é uma das vias diretas para garantia do desenvolvimento econômico do país e, consequentemente, da saúde.

Na primeira quinzena do ano, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da economia Paulo Guedes estiveram reunidos com o deputado Luiz Carlos Hauly, relator da reforma tributária. A PEC 293/2004, que foi aprovada por uma comissão especial da Câmara dos Deputados em dezembro, sugere a extinção de oito tributos federais, um estadual e um municipal e cria, no lugar deles, dois tributos sobre bens e serviços. Agora o texto deve ser analisado pelo plenário da Câmara e, depois, pelo Senado.

“A desburocratização é um ponto muito positivo para o nosso setor e estamos até otimistas com essa possibilidade que pode ser bastante produtiva, desde que não retire, da saúde, as proteções já existentes. Além de desburocratizar os tributos, simplificações nas regulações da Anvisa e da ANS também podem surgir como pontos positivos para o ano de 2019”, finaliza Cunha.

Com boas perspectivas para 2019, Brasil permanece em estado de atenção

Especialistas falam sobre o que esperar do primeiro ano de Jair Bolsonaro como presidente e quais pontos merecem cautela

Janeiro de 2019

Depois de uma das eleições mais conturbadas da história, o Brasil se encontra em um período de transição governamental. Sai o presidente Michel Temer e entra o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro. As expectativas sobre como serão os próximos anos – principalmente 2019 – são altas e ainda há muita incerteza sobre como a nova equipe conduzirá temas de fundamental importância para o desenvolvimento do país.

Segundo dados da Pulso Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos entre os dias 3 e 14 de novembro de 2018 para observar o rumo do país, avaliar o presidente e o índice de confiança do consumidor, os indicadores começaram a se alterar logo após a definição das eleições presidenciais: a percepção de rumo certo atingiu 26%, um patamar consideravelmente acima dos obtidos nos últimos três meses (em outubro o indicador era de 8%). Além disso, 54% dos brasileiros têm expectativas positivas ou muito positivas em relação ao governo Bolsonaro.

Para Rubens Sardenberg, economista chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que palestrou em evento promovido pela CBDL mês passado, um governo completamente novo tem seus prós e contras. “Termos muita gente nova trazendo novas ideias é uma vantagem, além do fato de que esse governo tem uma abordagem econômica mais liberal que acredito estar correta. Como desvantagens temos um governo inexperiente no relacionamento com o Congresso Nacional”, pontuou.

Essa mesma positividade é alavancada por Ricardo Amorim, economista, colunista da Revista IstoÉ e um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da Globo News, que marcou presença no encontro anual da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde). No evento, realizado em dezembro para tratar das expectativas de desenvolvimento da saúde brasileira no próximo ano, o especialista afirmou que “o fundo do poço ficou para trás e já temos claros sinais do processo de recuperação”.

Segundo ele, todos os grandes escândalos ocorridos ao longo dos últimos anos fazem com que as perspectivas sejam elevadas para 2019. “Em janeiro de 2017 tivemos a delação do Marcelo Odebrecht. Em maio passamos pela crise do Joesley Batista. Dois meses depois encaramos mais um fim do mundo com os R$51 milhões encontrados no apartamento do Geddel em Salvador (BA). Mesmo depois de tudo isso, o Brasil cresceu quase três vezes mais do que os economistas estavam projetando. E isso me leva a acreditar que para que a atuação política faça com que o país cresça menos é preciso ter algo ainda pior do que todos esses escândalos”, declarou.

Considerando-se otimista, Gonzalo Vecina, que é ex-presidente da Anvisa e esteve junto a Sardenberg no encontro da CBDL, reforça a união como estratégia para garantir resultados positivos. “Não sou eleitor de Jair Bolsonaro, mas ele foi eleito e é nosso presidente. E é para ele que vou trabalhar agora”, declarou enfatizando que ao longo de sua carreira trabalhou lado a lado com políticos de diferentes partidos em busca de soluções e melhorias para a saúde brasileira.

Passando a analisar o que precisa ser mudado dentro do sistema de saúde para que todos os brasileiros tenham acesso a um atendimento de qualidade, a união também se mostra imprescindível. E, neste caso, trata-se da união de todos os players para a consolidação de uma agenda positiva junto ao governo e aos órgãos reguladores. “Está escandalosamente errada a forma como fazemos nossos negócios. E somos nós que temos que achar a solução. Há coisas que o governo não será capaz de fazer pois não sabe como fazer. Nós, que estamos há anos nesse negócio, é que devemos elencar as propostas”, disse Vecina.

Essa ideia de trabalhar propostas de forma mais consolidada e unificada também é apoiada por Sardenberg. “No setor bancário, criamos um padrão de detalhar ao máximo as propostas que elaboramos. E isso tem funcionado. Todos os temas que abordamos apontamos os problemas e as soluções indicando, inclusive, quais as leis que precisam ser alteradas”, explicou.

Recuperação nacional – O otimismo apontado pelos especialistas consolida-se paralelamente a uma sensação de que é preciso seguir com firmeza nas batalhas do dia a dia. “O primeiro ano deste novo governo será bastante difícil para a sociedade e para o setor de saúde. Mas é importante saber que a melhor maneira de se defender das dificuldades que estão por vir não é saindo do jogo, mas sim jogando melhor. Quem sair, quando retornar terá perdido o rumo. E tenho certeza que o nosso país vai seguir no jogo, pois temos potencial e eu sou um otimista”, declarou Vecina enfatizando que otimista é o sujeito que trabalha pela solução e pessimista aquele que fala que não dará certo e nada faz para melhorar.

Para Amorim, essa cautela é necessária pois não há como ter garantias de como atuará o novo presidente e de como essa equipe vai se comportar quanto às reformas tão importantes para o desenvolvimento da nação.

Analisando a reforma da previdência, por exemplo, o que gera desconfiança são as declarações, segundo o economista. “Primeiramente, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, declarou em palestra nos EUA que talvez não consigam aprovar a reforma da previdência, mas que farão o melhor possível. Na sequência, Onyx Lorenzoni disse que farão a reforma quando der. Posteriormente temos o presidente eleito afirmando que fatiará a reforma. O que me parece é que falta, ao braço político do governo, a compreensão do tamanho e da importância da reforma da previdência”, disse relembrando que a previdência é o maior problema das contas públicas, visto que com o envelhecimento populacional e a inversão da pirâmide etária os gastos não param de crescer.

Concordando com esse posicionamento, Sardenberg questiona se o governo vai, de fato, atacar essa questão. “Nosso orçamento tem 90% de gastos com a previdência, gasto este que cresce automaticamente. Temos um problema conjuntural de natureza estrutural. E é por isso que todo mundo está olhando para nosso presidente questionando se ele vai endereçar a reforma da previdência”, relatou reforçando uma onda positiva. “Eu, particularmente, estou otimista com relação ao que vai acontecer. Temos uma chance muito boa do governo seguir com a reforma, mesmo que não seja a reforma dos sonhos”, disse.

Cenário externo – Mesmo com tantos ajustes internos a serem feitos, o Brasil deve manter-se atento ao cenário externo para evitar que questões mundiais impactem negativamente o desenvolvimento.

Visualizando que os EUA estão prestes a encarar uma nova recessão, Amorim afirma que, na economia, todo processo de expansão gera desequilíbrios que, para serem corrigidos, carecem de uma desaceleração temporária. Com a taxa de desemprego mais baixa das últimas cinco décadas, os norte-americanos sentem dificuldade em contratar, pois há poucos profissionais disponíveis no mercado. Isso faz com que as empresas tenham de oferecer salários cada vez mais elevados para que esses profissionais aceitem propostas de mudanças de emprego.

Como reflexo, há aumento do custo de produção no país somado ao elevado poder de compra. Essa junção de fatores eleva os preços aumentando os índices de inflação. “Se a inflação sobe, junto com ela subirá também a taxa de juros”, explicou.

Acreditando que a nova recessão dos EUA deve chegar no máximo em 2020 e que a China também está desacelerando, o especialista prevê um impacto mundial. “Quando isso acontece a economia do mundo inteiro entra em recessão, o que significa que vamos vender menos para todo o restante do mundo”, pontuou enfatizando que toda essa cadeia econômica levará a uma alta do dólar fazendo com que os produtos importados custem mais caro gerando uma pressão inflacionária no Brasil e, posteriormente, juros mais altos. “É por isso que muito do que me preocupa hoje não está dentro do Brasil”, finalizou.