Moderado por Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, encontro virtual promovido pela Saúde Business contou com executivos da Dasa, do Fleury e da Seegene
02 de julho de 2020
Os testes para diagnóstico da COVID-19 seguem como pauta constante dos debates em saúde por fundamentarem as estratégias para controle da pandemia no mundo. A fim de esclarecer um pouco mais o atual cenário do Brasil, a Saúde Business, da Informa Markets, realizou o webinar “Medicina Diagnóstica e os próximos passos em testagem”. Com moderação de Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o encontro virtual recebeu Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa; Guilherme Ambar, diretor da Seegene, líder mundial em diagnóstico molecular; e Jeane Tsutsui, diretora-executiva de Negócios do Grupo Fleury.
Para Priscilla, o setor de medicina diagnóstica tem se mostrado protagonista nesta crise de saúde. “Muitas vezes fomos negligenciados como parte do sistema e, agora, a pandemia colocou um holofote sobre o segmento de diagnóstico e todos, inclusive a população geral, conseguem enxergar nosso valor”, declarou.
A executiva também reforçou que a ampliação do diálogo entre todos os atores da complexa cadeia de saúde ficará como um legado positivo da crise. “Essa foi a primeira vez que eu vi, realmente, um movimento para que juntos pudéssemos propor uma solução rápida que enxergasse que a engrenagem precisa continuar rodando e que o desfalque de um elo a faz paralisar”, relatou.
A relevância desse diálogo aberto mencionada por Priscilla durante o webinar, ficou clara na fala de Ambar ao apontar alguns dos principais desafios da Seegene para distribuir os kits de testes RT-PCR pelo país. “Ficou aparente que o Brasil não tem produção nacional de produtos e insumos para a medicina diagnóstica, sendo totalmente dependente das importações. Mesmo os laboratórios que tinham suas soluções desenvolvidas in house careciam de insumos importados”, pontuou sobre a corrida internacional por kits de diagnóstico que desencadeou uma escassez em todos os continentes. “Quando os insumos começaram faltar fomos atrás de parceiros no Brasil que pudessem nos fornecer esses insumos. E, assim, fomos validando novos produtos”, complementou.
Segundo Ambar a demanda brasileira, com quase 210 milhões de habitantes, foi tão relevante na cadeia global que chegou a ser responsável por 50% das vendas da Seegene no globo. E, então, encontrar aliados para a produção foi estratégico. “Não vamos conseguir abraçar o mundo, então precisamos nos cercar de parceiros que possam nos auxiliar”, disse.
Um dos questionamentos feitos por Priscilla durante o debate foi como as empresas trabalharam para gerir esse momento inédito e inesperado. Para Gasparetto, da Dasa, a criação de um comitê de crise foi extremamente estratégica e relevante para que o grupo conseguisse vencer os desafios impostos pela pandemia.
“Criar esse comitê foi o que fez o jogo mudar. Montamos um time com muita sinergia para lidar com um cenário onde tudo muda o tempo todo e o que soa correto hoje, pode não ser mais amanhã. Por isso a necessidade de pessoas com bom senso de urgência”, declarou reforçando que nesse momento era importante ter, no comando, gestores que diante do medo não se retraiam, mas tomavam ações rápidas.
A tensão e o receio foram apontados, por Gasparetto, como alguns dos principais desafios enfrentados pela sua equipe. Para vencer o medo, a Dasa apostou em excelência técnica e em uma relação próxima e transparente com seus colaboradores e pacientes. “Ficou claro que o conhecimento técnico era muito importante e que somente por meio da conversa conseguíramos fazer a diferença”, disse.
O que há de novidades?
O Grupo Fleury anunciou recentemente uma nova metodologia para diagnóstico da COVID-19 na fase ativa, e Jeane aproveitou a oportunidade para explicar esse modelo de teste e suas vantagens diante dos outros formatos já em uso. Nomeado teste de proteômica e apresentado em 26 de maio, o exame é capaz de detectar a presença de proteína do vírus em amostras nasofaríngeas dos pacientes potencialmente infectados, sendo indicado para o início da contaminação, assim como o teste molecular RT-PCR que é o padrão ouro para diagnóstico da doença.
“A diferença do teste de proteômica é que enquanto o RNA do vírus, detectável pelo RT-PCR, vai degradando ao longo do tempo, a proteína tem mais estabilidade. Considerando que vivemos em um país continental onde as amostras são colhidas em uma região e analisadas em outra, essa estabilidade soa importante pois conseguimos os mesmos resultados em amostras advindas de diferentes locais sem a necessidade da conservação em gelo seco”, explicou a executiva.
Essa busca constante por melhorias e por tecnologias que ampliam o acesso da população aos exames de diagnóstico da COVID-19 também tem sido uma preocupação da Seegene. Segundo Ambar, a marca conseguiu trabalhar os kits de RT-PCR e, agora, conquistaram 72 horas de estabilidade do RNA do vírus mesmo em temperatura ambiente, o que facilita o transporte das amostras.
Capacidade de testagem nacional
Mesmo com todo o empenho, o Brasil ainda tem um dos piores índices de testagem no mundo. “A OMS diz que países que estão com uma testagem ampla devem ter a taxa de positividade mantida em 5%, o que significaria que estamos testando suficientemente a população. No Brasil, essa porcentagem chega a 36,6%, de acordo com detalhamento da John Hopkins University. Onde estamos errando?”, provocou a diretora-executiva da Abramed.
Para Jeane, do Grupo Fleury, há empatia e solidariedade no setor, que se mobiliza para aumentar a capacidade de testagem no país. “São iniciativas que, em conjunto, nos levarão a testar mais. Porém há políticas públicas e ações do Ministério da Saúde que precisam ser adequadamente endereçadas. Acredito cada vez mais que precisamos estar juntos buscando soluções”, declarou.
Gasparetto, da Dasa, acredita que as parcerias público-privadas (PPPs) são indispensáveis. “O Brasil é gigantesco e sabíamos que o comportamento do novo coronavírus seria diferente em cada região. A testagem é extremamente estratégica e o governo tem estrutura mínima para assumir o desafio da testagem em massa. Sem dúvidas essas parcerias serão necessárias. Não haverá testagem em grande volume se não forem as PPPs”, disse enfatizando que se refere ao exame padrão ouro e não aos testes rápidos que vêm apresentando baixa confiabilidade e grande número de resultados falso positivo e falso negativo.
O webinar promovido pela Saúde Business, da Informa Markets, está disponível em seu canal no Youtube. Clique AQUI para acessar.