Pandemia do século – O legado do novo coronavírus

Agindo com rapidez e eficiência, laboratórios mostram que Brasil tem um setor de medicina diagnóstica forte

3 de dezembro de 2020

No ano em que a Abramed completou uma década de existência, o mundo foi atingido pela pandemia do novo coronavírus. O cenário colocou a prova todo o setor de saúde e trouxe protagonismo ao segmento de medicina diagnóstica principalmente após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar que o melhor caminho para contenção da doença era “testar, testar e testar”. Apesar de um panorama triste – até o fechamento dessa matéria o Brasil já contabilizava mais de 174 mil mortos devido à infecção – foram muitos os aprendizados.

Nenhum país do mundo estava preparado para enfrentar essa situação, mas a agilidade com que o setor de medicina diagnóstica do Brasil reagiu foi digna de aplausos. “Assim que o primeiro caso foi confirmado no nosso país, rapidamente os laboratórios privados começaram a desenvolver in house os kits de RT-PCR para que tivéssemos a chance de diagnosticar com agilidade as pessoas infectadas”, comenta Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Associação. Evidenciando a atuação expressiva desse conjunto de empresas privadas no enfrentamento ao coronavírus, até o início de outubro, as associadas à Abramed tinham realizado 6,2 milhões de testes de COVID-19, o que representa 41% do total de exames no período no país.

A capacidade de tomar decisões certeiras e rápidas foi posta a prova. “Com um vírus altamente agressivo à solta, foram se formando grupos de trabalho e forças-tarefas. Assim conseguimos dar uma resposta tática mesmo com a interrogação sobre o fluxo da doença”, comenta Ademar Paes Junior, membro do Conselho de Administração da Abramed, lembrando que o mundo tinha de combater um inimigo desconhecido.

A forte atuação conjunta entre os principais players do segmento de diagnóstico foi essencial para o melhor curso do enfrentamento da pandemia. Além do teste em massa contribuir para o isolamento dos infectados, também foi essencial para a sequência das ações. “A medicina diagnóstica teve papel vital para a confirmação diagnóstica, o monitoramento da disseminação do vírus e para orientar os rumos das terapias, ações fundamentais para que as populações e as economias tivessem a oportunidade de sobrevivência”, explica Leandro Figueira, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Para Junior, diante de tantos desafios vencidos – e outros tantos a vencer –, a medicina diagnóstica brasileira segue se fortalecendo durante a pandemia, visto que a alta necessidade de diagnóstico da COVID-19 trouxe luz ao setor. “A sociedade percebeu a relevância do diagnóstico e essa percepção é um dos legados da crise”, diz.

E o trabalho segue em alta velocidade desde o início de março, já que desafios continuam a surgir. “Além de processar com eficiência os testes RT-PCR, a rede privada saiu em busca de alternativas: trabalhou no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de testes sorológicos, capazes de reconhecer os anticorpos e, assim, apontar quem já foi exposto ao novo coronavírus; criou outros métodos para diagnóstico na fase ativa da doença como o teste de protêomica que, diferentemente do RT-PCR que identifica o RNA do vírus, é capaz de detectar a proteína do vírus, uma ótima alternativa por ser mais estável e permitir a análise de amostras com qualidade mesmo após maior tempo da coleta; elaborou testes genéticos capazes de detectar o vírus em larga escala; e lançou novos testes moleculares que, feitos através da saliva dos pacientes, entregam resultados em apenas uma hora”, complementa a diretora-executiva.

Para César Nomura, membro do Conselho de Administração da Abramed e diretor de medicina diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês, a cultura nacional – por muitas vezes criticada – contribuiu positivamente para o combate à pandemia. “O brasileiro está acostumado a lidar com dificuldades, a se virar para resolver seus problemas. Apesar de todos os empecilhos que tivemos, pelo menos na medicina diagnóstica conseguimos prestar atendimento suficiente dentro das nossas possibilidades”, comenta.

Abramed atuante

Nos últimos meses, a Associação teve uma atuação muito forte em defesa da medicina diagnóstica, tanto que ganhou repercussão na grande mídia e foi, por inúmeras vezes, fonte de informação para veículos de peso. Os executivos da entidade concederam diversas entrevistas para as maiores emissoras de televisão como a Rede Globo, Band, CNN e TV Cultura; compartilharam informações e dados com os principais veículos impressos, entre eles Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico e Revista Veja; fizeram aparições em diversas emissoras de rádio e, também, em portais de notícias da Internet.

“Temos trabalhado para melhorar a situação das empresas de diagnóstico no país, sempre olhando para todo o sistema de saúde. Atuamos em muitas frentes e tivemos algumas conquistas: fast tracking de insumos para exames de diagnóstico da COVID-19 pela Anvisa e linhas de crédito concedidas pelo BNDES e Ministério da Economia para laboratórios e clínicas de imagem que tiveram redução expressiva de faturamento com a queda de atendimento durante a pandemia foram algumas delas”, cita Priscilla.

A participação no Programa de Avaliação de Kits de Diagnóstico para SARS-CoV-2 junto à laboratórios públicos e privados e à outras entidades como a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), foi outro caminho profícuo assumido pela Abramed para que o país pudesse vencer os inúmeros desafios que surgiam. “A Abramed foi fundamental para a comunicação e avaliação dos mais variados modelos de exames disponibilizados no mercado zelando, sempre, pela qualidade diagnóstica e a assistência adequada”, pontua Figueira.

Para Junior, esse programa representa a preocupação do setor em prover sempre o melhor atendimento. “Precisamos ficar atentos para nunca colocarmos a população em risco. Podemos sempre estudar outras formas de oferecer os exames, mas mantendo o rigor ético-científico-técnico, já que o acesso perde o valor se a informação gerada por aquele teste não puder ser utilizada com confiança pelo profissional de saúde”, alerta.

Dependência externa

Para Nomura, um dos grandes desafios se instituiu logo no começo da crise: alta dependência do país do mercado externo. “Dependemos de importações tanto para aquisições básicas como máscaras, luvas e medicamentos quanto para necessidades complexas como aparelhos de alta tecnologia, insumos para testes e máquinas diversas”, diz.

Para o executivo, falta estímulo à indústria nacional. “Precisamos desses incentivos para produzir e para a área de pesquisa e desenvolvimento. Temos profissionais capacitados que geram conhecimento, mas muitos desses nossos talentos vão para fora do país”, completa.

União inédita “A saúde é um setor que, historicamente, dialoga pouco. Porém nunca vimos tanta interação positiva entre as diferentes áreas da saúde como observamos nesse momento de crise da COVID-19”, comenta Priscilla. A executiva enfatiza que a pandemia mostrou a necessidade da união para vencer obstáculos e que esse legado deve permanecer. Essa também é a percepção de Junior: “acredito que nunca houve tanta cooperação entre os profissionais de saúde. E falo sobre uma troca intensa, tanto em volume quanto em qualidade”, finaliza.

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Futuro – Os próximos 10 anos da medicina diagnóstica

Tecnologia, prevenção e sustentabilidade do sistema surgem como caminhos para vencer desafios

3 de dezembro de 2020

Qual o futuro da medicina diagnóstica? Para responder à essa pergunta e vislumbrar a próxima década é necessário parar e olhar no retrovisor, observando os inúmeros avanços que se consolidaram entre 2010 e 2020: desenvolvimento da pesquisa genômica movimentando positivamente a medicina personalizada; automação trazendo ganho de escala e eficiência diagnóstica; e telessaúde promovendo acesso à população são apenas alguns exemplos. “Isso sem falar no enorme crescimento do nosso setor neste ano frente à pandemia de COVID-19, que nos obrigou a encontrar oportunidades de desenvolvimento em um momento de grande crise na saúde mundial”, relembra Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

Há um consenso entre as entidades do segmento de que a tecnologia – somada ao conhecimento humano – pautará muitas das soluções que se farão necessárias até 2030. Para entender essa visão, conversamos com a Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).

Transformando mercados e indústrias, as inovações tecnológicas também alteram os rumos da medicina diagnóstica e, na opinião de Alair Sarmet Santos, presidente do CBR, para evoluir é preciso observar quais dessas tecnologias são, de fato, eficientes. “Para fazermos frente a esses novos desafios temos de aproveitar as tecnologias digitais exponenciais que podem abrir novas fronteiras para cuidados com a saúde de forma mais efetiva e acessível à população”, declara.

Para isso, integrar as diversas áreas vem se mostrando um caminho profícuo. “A partir do momento em que unimos especialidades como anatomia patológica, patologia clínica, diagnóstico por imagem e métodos endoscópicos, conseguimos gerar informações acuradas e precisas, agregando valor ao diagnóstico e à orientação terapêutica”, diz Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da SBPC/ML.

E quando há uma grande quantidade de dados sendo gerados graças a processos tecnológicos, é preciso dedicar ainda mais atenção à essas informações. “Os resultados liberados através dessas novas tecnologias precisam ser indiscutivelmente confiáveis pois pautarão a evolução do tratamento e até mesmo indicarão a cura”, complementa Luiz Fernando Barcelos, que preside a SBAC.

Mas a tecnologia não é capaz de revolucionar, sozinha, a medicina. O profissional está por trás de todo avanço, garantindo inclusive o aprendizado da máquina e trilhando os padrões que serão interpretados com maestria pela inteligência artificial. A somatória de homem e tecnologia pode pautar a próxima década do diagnóstico no mundo, como cogita Fábio Arcuri, presidente da CBDL: “Não há limites para onde o conhecimento humano poderá nos levar com novos marcadores, metodologias mais sensíveis e específicas, rápidas e remotas”.

Prevenção como degrau à sustentabilidade

Para que todos os avanços imaginados sejam efetivados, o setor de medicina diagnóstica – bem como a saúde como um todo – precisa ser sustentável. Ao longo de 2020, inclusive, a Abramed trabalhou por inúmeras causas que impactam diretamente essa noção de sustentabilidade, atuação que seguirá fortalecida nos próximos anos. “Não há como pensar em progresso sem antes pensar em sustentabilidade. Precisamos garantir o funcionamento dos laboratórios e clínicas de imagem que, espalhados pela imensidão do Brasil, são fundamentais para permitir que a população brasileira tenha acesso a exames que contribuam ao melhor diagnóstico e gerenciamento do tratamento de suas doenças. Para isso sempre trazemos estudos transparentes sobre nossas necessidades e enfatizamos que o nosso setor é essencial para a manutenção da vida e da sociedade”, comenta Shcolnik.

O executivo complementa o raciocínio com um dos assuntos mais debatidos nos últimos anos. “Há uma discussão enorme sobre overuse, ou seja, sobre realização desnecessária de exames gerando desperdício no sistema. Sabemos que isso pode sim existir e precisa ser combatido, porém, ao iniciar esse debate, não podemos deixar de lado a temática do underuse, que faz com que muitas pessoas deixem de realizar exames que poderiam salvar suas vidas”, diz.

Prevenção, inclusive, é uma forte aliada da sustentabilidade. “Sem dúvidas a medicina preventiva, baseada em evidências e por meio da aplicação de algoritmos relevantes, é um dos componentes da resposta à densa equação da sustentabilidade econômica do setor”, comenta Arcuri. Para o executivo, é importante que todos os atores da complexa cadeia de saúde se unam na proposição de um modelo de diagnóstico sustentável que permita a incorporação tecnológica e o melhor desfecho clínico para o paciente.

Lembrando que estamos baseados nos quatro “Ps” da medicina – preventiva, preditiva, personalizada e participatória – Ferreira, da SBPC/ML, reforça que para a tão almejada sustentabilidade, ao mesmo tempo em que é necessário fortalecer o cenário da prevenção no nosso país, é preciso engajar o paciente. “O laboratório e a clínica de imagem contribuem grandiosamente com o diagnóstico precoce, mas sem a participação ativa do paciente no seu próprio cuidado não há qualidade de vida”, finaliza com o pensamento de que todos precisam entender seu papel no ciclo de cuidados para que o setor seja sustentável e próspero.

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