A importância da acreditação para estabelecimentos de medicina diagnóstica

Método de avaliação e certificação busca promover a qualidade e a segurança da assistência. Abramed explica os principais programas de acreditação voltados para laboratórios e clínicas de imagem

A Sociedade Internacional para a Qualidade do Cuidado em Saúde (The International Society of Quality in Health – ISQa, na sigla em inglês) define acreditação como o processo de revisão em pares de autoavaliação e externa que é utilizado pelas organizações de saúde e de assistência social visando avaliar, de maneira precisa, os seus níveis de performance em relação aos padrões estabelecidos com intuito de implementar formas de melhorar continuamente o sistema de saúde. Trata-se de uma ferramenta de gestão que busca garantir o aprimoramento dos processos de uma instituição do setor, entre elas as de medicina diagnóstica.

“É um método de avaliação e certificação que busca, por meio de padrões e requisitos previamente definidos, promover a qualidade e a segurança da assistência no setor de saúde. Surgiu como uma necessidade de estas instituições comprovarem que executam as melhores práticas de suas áreas de atuação”, ressalta o diretor de Acreditação e Qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) – biênio 2022/23 –, Guilherme Ferreira de Oliveira.

Entre os benefícios e as vantagens da acreditação para as instituições de saúde, em especial voltados para a medicina diagnóstica, Oliveira elenca:

  • aumentar a eficiência, reduzindo desperdício/retrabalho e, consequentemente, os custos;
  • assegurar a validade e a confiabilidade dos resultados emitidos pelo seu laboratório;
  • comprovar a seriedade, a competência e o profissionalismo do seu laboratório;
  • aumentar a segurança para os pacientes, bem como para os profissionais;
  • assegurar a aceitabilidade dos resultados emitidos pelo seu laboratório, dispensando as repetições desnecessárias e onerosas;
  • obter posição diferenciada nos veículos de divulgação de operadoras de planos de saúde (convênios), segundo o Programa de Qualificação de Prestadores de Serviço da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);
  • assegurar aos clientes mais qualidade, melhor atendimento e mais satisfação;
  • contribuir para a defesa no caso de acusações infundadas de má prática; e
  • aumentar o poder de negociação na contratualização com compradores de serviço.

Para a coordenadora de Qualidade do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Cássia Manfredini, as instituições de saúde, diferentemente de outros segmentos, lidam com vidas o tempo todo. Por isso, as acreditações nacionais e internacionais, em geral, determinam padrões que visam à segurança do paciente, desviando-se de erros evitáveis. Contudo, para radiologia e diagnóstico por imagem, era necessário um posicionamento mais específico que englobasse precisamente as exigências desse segmento.

Pensando nisso, o CBR se posicionou e se capacitou para criar diretrizes capazes de contemplar essas necessidades. Com o auxílio de especialistas e técnicos da área, foram desenvolvidos e revisados padrões de qualidade e segurança que abrangem todo o processo desde o agendamento, a realização e a entrega dos exames até os aspectos legais vinculados ao segmento.

Assim, foi criado o Programa de Acreditação e Diagnóstico por Imagem (Padi), cuja importância está relacionada principalmente aos ganhos internos, tanto financeiros quanto de qualidade dos processos de exames e equipes capacitadas e preparadas. A obtenção de um sistema de gestão eficiente é um dos primeiros passos para alcançar esse reconhecimento.

“A integração dos processos internos resulta em rapidez no atendimento, na gestão eficiente dos insumos e maior qualidade nos resultados de exames. O maior legado que um serviço de saúde tem para com a sociedade é sua reputação e o fortalecimento da sua marca. Portanto, o serviço de diagnóstico por imagem que conquistar os padrões de qualidade e excelência do Padi, além de demonstrar comprometimento com a segurança de seus pacientes, consequentemente conquista a qualidade e eficiência de seus processos, gerando maior credibilidade e fortalecendo seu respeito e sua imagem positiva perante clientes, fornecedores, colaboradores e sociedade”, explica Cássia.

Segundo Oliveira, a acreditação fornece aos clientes dos laboratórios uma evidência concreta da sua preocupação com a qualidade dos exames oferecidos. Isso é importante, pois, frequentemente, as pessoas não têm conhecimentos técnicos suficientes que lhes permitam determinar se um estabelecimento opera em nível satisfatório. A SBPC/ML chancela que realizar seus exames em laboratórios acreditados pelo Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (Palc) representa segurança na obtenção de resultados precisos para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.

A representante do CBR reitera que, para o paciente/usuário dos serviços de saúde, a qualidade no atendimento é um fator primordial. Além disso, esperam-se profissionais capacitados e processos de trabalho menos complexos, que assegurem agendamento ágil e entrega de exames precisos. Para que isso aconteça, os serviços precisam trabalhar na melhoria constante dos processos de atendimento, da qualidade na assistência e da realização dos exames, bem como na segurança dos pacientes e profissionais.

“Serviços de diagnóstico por imagem acreditados pelo CBR passam por avaliações periódicas, em que devem demonstrar evidências do cumprimento dos padrões de segurança e qualidade, o que eleva a credibilidade para a escolha da realização de exames pelos pacientes/usuários. Os programas de qualidade do Colégio têm um diferencial comparado às outras acreditações no mundo, em que é realizada a avaliação técnica da qualidade dos exames por médicos especialistas. Esse processo garante que as clínicas acreditadas pelo CBR realizem exames de alta qualidade”, salienta Cássia.

Para conseguir a acreditação dos programas de qualidade do CBR, entre eles o Padi, a clínica de diagnóstico por imagem deve atender às exigências técnicas de qualidade de exames e cumprir os padrões de qualidade e segurança, que passarão por uma cuidadosa avaliação, para aferição completa e atestamento do nível de serviço prestado. É importante ressaltar que os programas de qualidade do CBR não são voltados para fiscalização de cumprimento de normas e legislação, mas visa proporcionar um referencial de qualidade para pacientes e serviços em diagnóstico por imagem, públicos ou privados.

Por sua vez, o laboratório clínico que desejar ser acreditado pela SBPC/ML deve estudar a versão atualizada da norma Palc e adequar seu sistema de garantia da qualidade aos critérios ali descritos. Quando estiver seguro de que está adequado, deve inscrever-se no programa e solicitar a auditoria externa de acreditação. Em data acordada, os auditores comparecerão ao laboratório e farão a auditoria. No caso de serem encontradas inadequações (não conformidades), o laboratório tem um prazo para corrigi-las. Concluída com êxito a etapa de correções, o estabelecimento recebe o certificado de acreditação. De acordo com Oliveira, periodicamente serão realizadas auditorias de acompanhamento para verificar a manutenção do Sistema de Garantia da Qualidade.

“A organização acreditada estabelece uma série de rotinas com o objetivo de garantir a manutenção do Sistema de Garantia da Qualidade. Este processo deve gerar evidências não só da manutenção como da melhoria dele. As rotinas incluem programa de indicadores e benchmarking, avaliações internas e externas, mapeamento e gestão de riscos, entre outros. Já as entidades acreditadoras têm canais de ouvidoria que recebem denúncias, que são prontamente investigadas, a respeito de supostas más práticas dos estabelecimentos acreditados. A acreditação é suspensa quando a entidade é reprovada nas auditorias externas, descumpre o regulamento do programa ou ocorre a comprovação de más práticas”, explica Oliveira.

Os programas de qualidade do CBR também contam com manutenção periódica para acompanhar a sustentabilidade da certificação. Os serviços certificados devem manter as boas práticas estabelecidas pelos programas. O Padi exige a realização de auditorias internas anualmente. Além disso, de acordo com Cássia, o Padi realiza uma auditoria educativa, por meio da qual auxilia as instituições acreditadas a tratar de forma efetiva seus eventos e não conformidades.

“Os serviços prestados pelas empresas associadas à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) têm a qualidade assegurada por meio de diversos processos de acreditação e certificação, entre elas o Padi e o Palc. Ser um estabelecimento acreditado é um critério de elegibilidade para ser um associado. A melhoria contínua da qualidade dos serviços de medicina diagnóstica pode ser alcançada por meio de processos de acreditação e certificação, entre outros processos de avaliações objetivas e imparciais”, enfatiza a diretora-executiva da Associação, Milva Pagano.

Sobre o Padi

O Padi surgiu em 2014 para beneficiar pacientes em todo o país, por meio do incentivo à qualidade crescente da prática médica na área e para oferecer aos serviços uma referência em acreditação construída a partir da credibilidade e do conhecimento do CBR. Desde 2017, os padrões da acreditação Padi são reconhecidos internacionalmente pela ISQua, mantendo-o entre as melhores acreditadoras mundiais. Presente em mais de 100 países, em cinco continentes, a ISQua é a única sociedade no mundo que chancela padrões voltados para a acreditação em saúde, reconhecendo-os internacionalmente.

“Queremos qualificar nacionalmente os serviços, públicos ou privados, que aderirem voluntariamente ao programa, por meio de avaliações, criteriosas e imparciais, do cumprimento de requisitos mínimos de qualidade, segurança e sustentabilidade. O CBR acredita que, para atingir a excelência em serviços em diagnóstico por imagem, é necessário aliar a gestão e a técnica”, afirma o presidente do Colégio – gestão 2021/22 –, Valdair Muglia.

O Padi se aplica a todos os serviços de diagnóstico por imagem: radiologia; mamografia; tomografia computadorizada; densitometria óssea; ressonância magnética; ecografia; medicina nuclear e telerradiologia. Seus princípios foram desenvolvidos com base na trajetória do paciente, envolvendo todas as etapas do exame de diagnóstico por imagem, do agendamento ao recebimento do laudo, passando pelo exame propriamente dito, focando sempre na segurança do paciente.

“Com a chancela da ISQua, os serviços acreditados Padi demonstram que estão adequados às melhores práticas mundiais. O primeiro foco é a segurança do paciente e a qualidade crescente na prática médica. Assim, a gente consegue oferecer serviços de referência que apresentam credibilidade. Tudo por meio da experiência acumulada de 30 anos de programas de qualidade do CBR”, fala o coordenador da Comissão de Acreditação em Diagnóstico por Imagem (Cadi) do CBR, Ruy Guimarães.

Sobre o Palc

A SBPC/ML mantém, desde 1998, seu Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos, reconhecido pela ANS e certificado pela ISQua. O Palc foi criado como iniciativa de uma sociedade científica de médicos, especialistas em Patologia Clínica, para promover a qualidade dos laboratórios brasileiros, a exemplo de outros países, e de maneira independente (sem vinculação governamental).

O Palc se aplica a laboratórios clínicos, ou seja, laboratórios que analisam material biológico humano. Não se aplica a laboratórios veterinários e de anatomia patológica.

“Outro diferencial muito importante da norma Palc é sua constante atualização. O programa existe há 24 anos e a norma vigente foi publicada em 2021, representando a sua sétima versão. Ele é atualizado periodicamente levando em consideração a legislação, os regulamentos e as normas similares internacionalmente aceitas. Representa, dessa forma, o estado da arte do laboratório clínico”, evidencia Oliveira.

Ecossistemas de saúde: vantagens e desvantagens

Por Ana Carolina Navarrete*

Não é novidade que o mercado de saúde é fragmentado, e uma das principais discussões atuais se dá em torno da formação dos chamados ecossistemas, seja por movimentos de verticalização (termo usualmente empregado para se referir a processos em que operadoras passam a ser elas próprias donas da rede de atendimento), quanto de concentração (em que prestadores passam a também intermediar esquemas de pagamento por carteiras mutualistas).

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) não tem posição contrária ou favorável a determinado modelo de negócio ou outro. Nosso foco é na qualidade e no direito à saúde do usuário, o que passa pela busca do desfecho último ser a saúde dele. Assim, se estamos falando de um plano com livre escolha, com acesso exclusivo pela rede credenciada ou referenciada, ou de um plano verticalizado, nossa avaliação se direciona à qualidade desse atendimento.

Importante ressaltar que cada modelo de negócio tem suas vantagens e desvantagens, dependendo da perspectiva, por isso precisa de atenções diferentes da reguladora.

No caso da verticalização, estamos diante de uma estratégia para alcançar vantagens de redução de custos através da criação de redes próprias de atendimento. Contudo, um ponto de atenção que achamos que precisa estar no horizonte de quem atua ou regula esse mercado é a proximidade de interesses contrapostos ou os conflitos de agência, para usar o termo da literatura econômica – “quem prescreve não olha a conta” –, o que pode gerar altos custos.

Entretanto, há casos brasileiros que demonstram os riscos de conciliação desses interesses em torno de um agente só. Quando tratamos de modelos verticalizados, quem prescreve responde diretamente a quem paga a conta, o que pode, sim, gerar decisões ruins para o desfecho de saúde, prejudicando a qualidade. É o que vimos, por exemplo, com operadoras verticalizadas, que, a pretexto de pensar em soluções para a desospitalização, optaram por usar, em seus protocolos de atendimento, medicamentos comprovadamente ineficazes para tratar a covid-19.

Possivelmente estamos falando de outros motores, além do econômico, para a prescrição de cloroquina, mas esses casos demonstraram a lacuna que temos na hora de controlar problemas sérios de assistência médica de baixíssima qualidade. O que ficou bastante claro na “CPI da Covid”, foi um grande conflito negativo de competência sobre quem deveria ter fiscalizado, evitado e punido operadoras que se valeram do “óbito também é alta”.

Já no segundo caso, da concentração de mercados da saúde, em que hospitais passam a ser eles mesmos donos de operadoras de planos de saúde ou healthtechs – startups que trabalham com soluções tecnológicas para a saúde – há uma reflexão que precisa ser feita sobre o poder de mercado que essas empresas podem exercer. Se de um lado é possível um maior controle sobre a estrutura de custos, de outro tem-se maior dominância de mercado, com repercussões para o ambiente concorrencial que precisam ser devidamente endereçadas pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Além disso, há muita promessa de que esses ecossistemas possam aglutinar informação e capacidade de gestão que signifique economia para consumidores e precisamos ser realistas sobre o que é fato e o que é expectativa. É raro ver ganhos de eficiência com boa gestão serem diretamente repassados para o consumidor pelas políticas de preço e reajuste.

O episódio do reajuste negativo dos planos individuais ilustra bem a situação. As economias consideráveis que o mercado experimentou com a pandemia em 2020 foram refletidas para planos individuais uma vez que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determina o reajuste máximo dessas carteiras e monitora a variação das despesas médico-hospitalares desse mercado. Já as carteiras coletivas, de regulação mais livre, tiveram reajustes positivos e alguns até bem elevados. Desobrigadas de reajustar de acordo com uma regulação específica, os ganhos de 2020 não foram repassados ao consumidor dos planos coletivos.

Uma última discussão ainda afeita aos ecossistemas diz respeito à promessa de uso intensivo de tecnologia. O Idec vem identificando a necessidade de aprofundar seu monitoramento e atuação no tema da saúde digital desde 2019, especialmente no que concerne ao uso de dados de usuários para precificar de maneira discriminatória – o chamado health score. Em 2020, os Programas de Saúde e de Telecomunicações e Direitos Digitais criaram uma interface para possibilitar uma atuação mais integrada e interdisciplinar. Esse é um reconhecimento de que a digitalização de serviços de saúde é uma tendência irreversível, que se agrega aos demais debates que esse setor vem travando.

Startups de saúde são mais um agente econômico que chega neste mercado, demandando, sem dúvida, uma atenção específica de reguladores. Ao mesmo tempo em que esses serviços, baseados no uso de dados de consumidores, podem ser positivamente utilizados, por exemplo, para prevenção de doenças, por outro, eles podem permitir que empresas tracem perfis de usuários sobre os quais estes saibam muito pouco, ou cobrar preços mais elevados de alguns, de acordo com as condições de saúde. Se endereçar a estes riscos requer não apenas a atuação da ANS, mas também da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

E nesse sentido, é importante ressaltar como a regulação não é entrave para o crescimento da saúde suplementar, mas sim peça-chave para o equilíbrio desse mercado. Crescer aumentando iniquidades em saúde, a partir de modelos que exploram, porém não entregam valor ao usuário e às comunidades, é inviabilizar o projeto que a Constituição destinou à iniciativa privada em saúde – perseguir o interesse público.

*Ana Carolina Navarrete é coordenadora do Programa de Saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

Fortalecimento do SUS e aumento do financiamento da saúde estão entre as prioridades do próximo governo do Brasil

Evento realizado conjuntamente por Abramed, ABIMO, AMB, ComSaude/Fiesp e SindHosp reuniu assessores de Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet. Wilson Shcolnik questionou sobre a oferta de serviços de saúde em farmácias

Na semana que antecede o primeiro turno das eleições gerais no Brasil, algumas das principais entidades de saúde do país promoveram, em 27 de setembro, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o evento “Diálogos com assessores de saúde dos presidenciáveis” para apresentação das propostas dos candidatos à presidência da República para o setor. Participaram Nelson Marconi, pelo candidato Ciro Gomes (PDT); João Gabbardo, pela candidata Simone Tebet (MDB); e o Senador Humberto Costa, pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os representantes do candidato Jair Bolsonaro (PL) não apresentaram justificativa à organização para a ausência no debate.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) esteve à frente da iniciativa, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Comitê da Cadeia Produtiva de Saúde e Biotecnologia da Fiesp (ComSaude/Fiesp), e o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp).

Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed, destacou que o evento foi muito importante por reunir assessores de três candidaturas muito representativas, com ideias convergentes e que mostraram conhecer com profundidade os problemas dos sistemas de saúde brasileiros e as oportunidades necessárias para elevar a qualidade da assistência prestada.

“Os maiores beneficiários serão os brasileiros e as brasileiras, que hoje, em sua maioria, dependem do sistema público. Lucram também todos os componentes da cadeia de saúde que estiveram aqui nesse evento representados e que confirmaram a importância do papel de cada um para mudarmos para esse novo patamar a assistência à saúde em nosso país. Acredito que o setor de medicina diagnóstica, especificamente, se representou aqui colocando de alguma maneira as nossas expectativas e a nossa esperança de que algo melhor venha para o nosso país”, disse Shcolnik.

Ao lado dele, compuseram a mesa o diretor titular do ComSaude/Fiesp, Ruy Baumer; o presidente do SindHosp, Francisco Balestrin; o superintendente da ABIMO, Paulo Henrique Fraccaro; e o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes.

O representante do candidato Ciro Gomes iniciou as apresentações ressaltando que, quando se fala de política de saúde, é necessário pensar no resgate do Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecido mundialmente e que tem sido, infelizmente, bastante desestruturado.

“Esse é um princípio básico do nosso programa de governo: fortalecer o SUS. Também gostaria de ressaltar que na pandemia o atendimento do SUS foi muito direcionado para a covid-19 e por isso existe agora uma série de procedimentos e uma fila de atendimentos de diagnósticos que precisam ser equacionados. Para isso, precisamos fazer um esforço concentrado, juntando setores público e privado, para zerar essa fila”, expôs Marconi.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) também foi abordado por ele. Segundo Gabbardo, a cobertura vacinal no Brasil já vinha perdendo amplitude mesmo antes da pandemia e os índices só pioraram, trazendo o risco de reaparecimento de doenças há muito erradicadas no país, sendo esse um dos pontos de atenção caso Ciro Gomes seja eleito.

Marconi evidenciou a falta de medicamentos como outra questão séria. “E tem tudo a ver com o complexo industrial da Saúde, que precisa ser recuperado”, afirmou. Segundo ele, o programa Farmácia Popular é um importante instrumento, por oferecer medicamentos essenciais para a saúde preventiva, como os que controlam a pressão arterial e a diabetes. “Para não aumentar a fila do SUS, precisamos fortalecer a Farmácia Popular”, disse o assessor, defendendo um sistema centralizado de compra de medicamentos de alta complexidade.

Por sua vez, o assessor de Simone Tebet elencou como prioridade número um de quem assumir o Ministério da Saúde o resgate da credibilidade do SUS, cuja falta de comando durante a pandemia foi um desastre. De acordo com Gabbardo, a governança do sistema precisa ser restabelecida.

“Também queria destacar o que considero um ponto mais difícil e relevante ao qual teremos que demandar mais atenção, que é a questão do acesso, que sempre foi uma dificuldade do SUS”, ressaltou Gabbardo, complementando que, entre os utentes do SUS, a avaliação é sempre muito mais positiva do que negativa e que as pesquisas apontam que a maioria daqueles que avaliam mal o sistema não o utiliza. 

“Isso acontece porque o problema do SUS é a dificuldade de acesso. As pessoas não conseguem marcar o procedimento, demoram a ser atendidas, entram numa fila de espera que nem sempre é transparente ou clara e não sabem quando vão ser chamadas”, disse o representante de Simone Tebet.

O incentivo para que hospitais tenham interesse em realizar os procedimentos foi outro ponto de atenção lembrado por Gabbardo. “Precisamos aumentar o financiamento e criar incentivos financeiros, assim como revisar a tabela de procedimentos”, frisou.

Representando o candidato Lula, Costa explicou que o PT elaborou um programa de governo, segundo ele, mais bem caracterizado como diretrizes de programa de governo a partir dos partidos que integram a frente que sustenta a candidatura do ex-presidente.

“Criamos uma plataforma em que todo mundo podia apresentar sugestões. Incorporamos algumas ideias e aquelas que não incorporamos até agora serão encaminhadas à futura equipe de transição. Queremos resgatar o diálogo. Hoje, o Ministério da Saúde é uma estrutura fechada, onde se substituiu o federalismo de colaboração por uma espécie de federalismo de conflito. Não há diálogo com os setores público e privado e queremos restabelecer isso. Também propusemos um conjunto de ações para a área da saúde e a primeira delas, condição sine qua non para se fazer qualquer coisa, é exatamente a questão do financiamento”, afirmou Costa.

De acordo com o Senador, o futuro governo de Lula atuará sob a perspectiva de que a saúde não é meramente gasto, e sim um investimento importante para geração de melhor qualidade de vida, sendo também investimento econômico, porque é um segmento com destacada participação no PIB do país, bem como na geração de empregos formais.

“É uma área que, mediante estímulos não tão grandes, conseguirá dar uma contribuição importante para o processo de retomada do crescimento e do desenvolvimento econômico do nosso país. Por isso, estamos colocando como grande prioridade o fortalecimento do complexo industrial e econômico da saúde”, garantiu Costa.

Em tempo, Costa ainda pontuou que se pretende substituir mecanismos de controle fiscal que estão superados, citando a Emenda Constitucional 95, que retirou R$ 37 bilhões da área da saúde entre 2018 até 2022. “Vamos trabalhar para fazer essa recomposição e acabar com o orçamento secreto, para o qual estão bloqueados R$ 10 bilhões só no ano que vem”, afirmou.

Abramed questiona sobre a oferta de serviços de saúde em farmácias

Com a palavra, o presidente do Conselho de Administração da Abramed parabenizou os assessores pelo amplo conhecimento que demonstraram dos problemas do sistema de saúde e ressaltou que a entidade tem associados que prestam serviços na área laboratorial e também em radiologia e diagnóstico por imagem, muitos deles atendendo a clientela do SUS, contratados por prefeituras. Na sequência, comentou que o problema da tabela de procedimentos coloca em risco, sobretudo, a qualidade dos serviços oferecidos, sendo este, portanto, um ponto que se espera ser corrigido durante o mandato do novo presidente.

“Sabemos que uma atenção primária abrangente, baseada na comunidade, consegue resolver quase 90% de todas as necessidades em saúde de um indivíduo ao longo da sua vida. Ela oferece vários serviços que vão desde a promoção e prevenção até o controle de doenças crônicas; cuidados paliativos até reabilitação, ou seja, uma atenção integral próxima do ambiente cotidiano de todas as pessoas, e, como sabemos, tem se mostrado custo-efetiva, pois diminui os gastos totais em saúde e melhora a eficiência, reduzindo, por exemplo, as internações hospitalares. Com a inovação chegando ao setor de saúde, outros segmentos se preparam para oferecer novos serviços, ampliando as suas atividades, como as farmácias (Med per Uomo). Os senhores consideram que essa oferta de serviços em farmácias, que podem incluir a telessaúde, poderá substituir a atenção primária oferecida hoje pelo SUS?”, questionou Shcolnik.

Confira o que disseram os assessores:

“Penso que a farmácia não vai substituir a estratégia de saúde da família, de jeito nenhum. Elas podem contribuir de uma forma muito relevante na dispensação de medicamentos. Acho que a dispensação de medicamentos do SUS pode ser ampliada ao extremo, pode ser distribuída em todas as redes de farmácias e com isso facilitamos a vida das pessoas, que poderão receber medicamentos sem deslocamento e de uma forma mais rápida. Em hipótese alguma acredito que qualquer serviço que possa se implementar em uma farmácia substituirá o programa de saúde da família”, disse João Gabbardo, representando Simone Tebet.

“Entendemos que o SUS é a porta de entrada do ponto de vista da prevenção, do acompanhamento da saúde. A unidade básica de saúde deve estar bem estruturada para poder acompanhar o cidadão, fazer a prevenção com a equipe de saúde da família, para evitar um procedimento mais custoso e para evitar um problema de saúde maior. Esse componente do sistema é essencial para o seu bom funcionamento. Acho que a farmácia não tem como substituir a unidade básica de saúde nessa etapa, mas concordo que ela pode ser uma importante organização para disseminar, fazer com que o medicamento chegue à população”, disse Nelson Marconi, representando Ciro Gomes.

“Não acredito que as farmácias serão esse espaço ou de substituição, ou de acréscimo, eu acho que elas têm um grande papel a cumprir. Por exemplo, tenho certeza de que, se ganharmos a eleição, vamos trabalhar com um programa de Farmácia Popular mais arrojado. Se uma das três razões de gasto privado são os medicamentos, se amplio a oferta gratuitamente ou em modo de copagamento, posso evitar muitas complicações de doenças, permitir melhor acompanhamento e ampliar o acesso das pessoas a medicamentos que originalmente estavam na distribuição direta do SUS. Podemos construir entendimentos que incluam as nossas pretensões de fortalecimento do complexo econômico industrial da saúde. Acho que as farmácias podem cumprir um papel importante”, disse Humberto Costa, representando Luiz Inácio Lula da Silva.

Fórum Permanente do Setor de Saúde em Proteção de Dados e Privacidade é lançado em Brasília

Com participação da Abramed, iniciativa visa debater e fomentar discussões envolvendo privacidade, proteção de dados, inovação e tecnologia para o segmento de saúde, além de desenvolver uma proposta de autorregulação do setor

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), representada pela diretora do Comitê de Proteção de Dados, Rogéria Cruz, participou do lançamento do Fórum Permanente do Setor de Saúde em Proteção de Dados e Privacidade, que aconteceu durante o Congresso “Diálogo Entre os Poderes no Direito da Saúde”, no dia 29 de agosto, no Conselho de Justiça Federal, em Brasília. Trata-se de uma coalizão em caráter permanente composta de associações, federações e confederações representativas do setor de saúde, cuja missão é debater e fomentar os temas envolvendo Privacidade e Proteção de Dados (P&PD), inovação e tecnologia para o segmento, além de preparar a proposta de autorregulação do setor.

Com a Abramed, integram o fórum a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para a Saúde (Abraidi), Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), Associação de Planos Odontológicos (Sinog), Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – Lei 13.709/2018 – trouxe um enorme impacto para o setor de saúde, que utiliza dados sensíveis em seu cotidiano, desde a anamnese, o diagnóstico e a identificação até o tratamento de doenças. Com a pandemia de covid-19, surgiram novos desafios voltados não só à cibersegurança como também às relações trabalhistas. O tema é bastante complexo para todos os atores da cadeia de saúde e, justamente por isso, o diálogo aberto e transparente é fundamental.

Nesse contexto, o objetivo do Fórum é uniformizar os conceitos, os entendimentos, discutir os temas de interesse do setor no que compete à privacidade de dados, bem como para ser um interlocutor qualificado tanto para a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) quanto para o poder legislativo. Ainda, o debate subsidia o segmento de saúde com um modelo de regulação mais homogêneo, único e conforme o que de fato é vivenciado no cotidiano.

“Esse Fórum nasceu da necessidade de o setor de saúde de trabalhar, eventualmente, em uma autorregulação regulada, já que é um segmento muito sensível, que lida com dados sensíveis, e, ao mesmo tempo, traz vários stakeholders, desde o hospital, que presta assistência beira-leito, até as entidades de medicina diagnóstica, como a Abramed; as operadoras, aquelas que trabalham com os dados; e as Santas Casas, que lidam muito com dados públicos. Em determinado momento, entendemos ser necessário tentarmos, em alguns temas críticos, buscar convergir entendimentos”, explica Rogéria.

A diretora do Comitê de Proteção de Dados da Abramed fala que, felizmente, conseguiu-se unir todas as entidades que integram esse Fórum para participar desse conceito, muito bem-recebido, afinal todas sofrem as mesmas dores nesse sentido. Existem questões críticas para discutir conjuntamente, por exemplo, compartilhamento de dados, interoperabilidade, transferência internacional de dados, limite da tutela da saúde, assim como acompanhamento do trabalho da ANPD, que já está se organizando para iniciar os primeiros processos fiscalizatórios.

Rogéria destaca que estão em andamento consultas públicas (CPs) sobre dosimetria e tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes, dois assuntos relevantes na saúde, que exigem atenção. A CP sobre dosimetria quer ouvir os setores sociais para que a ANPD estabeleça parâmetros, regras e critérios claros para a aplicação de sanções administrativas decorrentes de incidentes de segurança. Esta será a primeira contribuição do Fórum, visando contribuir com o órgão, levando-lhe a sensibilidade do segmento de saúde, que trabalha com dados sensíveis, procurando não apenas apoiá-lo, mas tornar-se referência em assuntos relacionados à privacidade e inteligência artificial.

O Fórum é composto de dois Grupos de Trabalho (GTs). Um deles é responsável por police, coordenado pela Abramed. O outro irá compilar todas as discussões para desenvolver um guia de boas práticas. Um primeiro documento, embrionário, foi feito pela CNSaúde, mas o que se quer, agora, é aperfeiçoar esse material, uma vez que a LGPD já está em vigor e permitiu experiências, ou seja, vai ser possível publicar uma versão atualizada desse código.

“O setor de saúde, que engloba medicina diagnóstica (laboratórios), assistência (hospitais) e operadores de saúde têm questões muito parecidas, como o compartilhamento de dados. E sempre surgem dúvidas: o que se pode compartilhar? Qual é o limite do compartilhamento na tutela da saúde? Qual é o conceito de tutela da saúde? São definições que permeiam todo o setor e que, quando definidas, reduzem as incertezas jurídicas. O Fórum discutirá assuntos relevantes e dores de todo o setor”, ressalta a diretora do Comitê de Proteção de Dados da Abramed. De acordo com Rogéria, a ideia é somar onde for possível e atuar de maneira unificada. A expectativa é a convergência entre entidades para oferecer à ANPD um posicionamento do setor de saúde.

Na saúde, os dados estão sendo coletados e manuseados a todo momento e, em razão disso, é importante que o colaborador esteja envolvido em um programa sólido e consistente de privacidade. Rogéria fala que os associados à Abramed sabem da importância de apoiar a conscientização e o treinamento profissional de seus colaboradores, mas também reconhecem que pessoas são falíveis, o que torna ainda mais sensível o tema. Por ser um programa contínuo, investir em treinamento é essencial. 

“As ferramentas são valiosas e agregam valor aos programas, mas o foco deve estar nas pessoas, seja no aculturamento, seja na aplicação dos conceitos, para se identificar no dia a dia as melhorias significativas aos processos”, complementa Rogéria.

A saúde é um segmento muito assimétrico no Brasil, com estabelecimentos que apresentam realidades muito distintas. Existem instituições que ainda estão longe de possuir suporte tecnológico para se adequar às exigências da LGPD. Por isso, o Fórum deseja se tornar um interlocutor qualificado, a fim de contribuir para temas sensíveis que envolvem a saúde promovendo união no setor.

“Este foi o primeiro ponto que tentamos tratar, as diferenças existentes no Brasil. Por isso, temos conosco a FBH, as Santas Casas, por exemplo, justamente com o intuito de inseri-las nessa discussão e sermos apresentados a essas outras realidades. Queremos propor soluções, alternativas, sugestões que busquem contemplar a saúde como um todo e em todas as suas particularidades”, sentencia Rogéria.

Abramed integra nova gestão do Instituto Coalizão Saúde

Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Administração do ICOS, fala da importância da medicina diagnóstica como um dos pilares de sustentabilidade da assistência ao paciente

O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, agora integra o Conselho de Administração do Instituto Coalizão Saúde (ICOS) – Gestão 2022-2025, entidade formada por representantes da cadeia produtiva do setor da saúde que tem um importante papel no fortalecimento de políticas e processos para melhorar o ecossistema de saúde no Brasil, promovendo discussões propositivas, trabalhando em inovações e soluções para os principais desafios e engajando toda a cadeia produtiva. O novo corpo diretivo, que inclui ainda os Conselhos Fiscal e Consultivo, foi eleito, em assembleia extraordinária, no final do mês de junho.

De forma inédita, criou-se o cargo de presidente institucional, para o qual foi indicado o ex-presidente do Conselho de Administração, Claudio Lottenberg, que segue contribuindo para a instituição, participando das reuniões do Conselho de Administração e atuando junto ao novo presidente, Giovanni Guido Cerri, na representatividade e multiplicação das propostas do ICOS.

“A Abramed é uma entidade relativamente jovem, e eu fiz parte da sua criação. Atualmente, a medicina diagnóstica é um dos pilares de sustentabilidade da assistência ao paciente, é um setor enorme e mostrou o seu valor na pandemia de covid-19, a sua importância na estratégia para diagnosticar e mostrar os caminhos para o atendimento aos pacientes, seja na área laboratorial, seja na radiologia. Trata-se de uma associação que representa um setor realmente estratégico na saúde. A Abramed está muito bem contemplada nesta diretoria. Wilson mostrou grande interesse em participar ativamente e trazer propostas dentro da nossa agenda ao longo dos próximos anos”, fala Cerri.

O presidente do Conselho de Administração do ICOS ressalta que, durante a pandemia, a Abramed teve participação muito importante na discussão de temas relevantes para contribuir no enfrentamento e no atendimento aos pacientes. Em diversas ocasiões, esteve com o ICOS para tratar sobre a relevância dos exames de diagnóstico. Cerri destaca os encontros que tiveram com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para evitar uma judicialização desnecessária.

“Discutimos essa pauta com o Ministério Público do Estado de São Paulo e também com o próprio Governo do Estado, sempre com a participação da Abramed, visando facilitar o acesso aos exames diagnósticos pela população em geral. A Abramed participou com o ICOS de diversas iniciativas importantes ao longo da pandemia, sempre com o intuito de garantir à população uma assistência ágil e um diagnóstico rápido da covid-19”, salienta Cerri.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Abramed, a nova gestão do ICOS marca uma nova fase para o Instituto, tendo à frente Giovanni Guido Cerri. “A Abramed está representada no Conselho de Administração do ICOS, agora com uma nova presidência, o professor Cerri, um radiologista bastante conhecido, com uma trajetória política muito relevante. Ele já foi Secretário de Saúde em São Paulo, é professor titular de Radiologia e Diagnóstico por Imagem na Universidade de São Paulo, e vem com novas ideias, entendendo que o ciclo passado não estava atendendo a muitos associados. Diante disso, ele pretende reverter esse quadro dando mais oportunidades e destaque a várias das entidades representadas ali. O ICOS tem uma importância política, que nós já evidenciamos a partir de vários encontros realizados, com acesso a muitas autoridades”, ressalta Shcolnik.

Gargalos na saúde

Cerri lembra o subfinanciamento do setor de saúde como um dos principais gargalos que inviabilizam o aumento do acesso. No sistema privado, o financiamento chega a 55%, porém reúne apenas 25% dos usuários, em contrapartida aos 75% dos pacientes que dependem, exclusivamente, do Sistema Único de Saúde (SUS). Como o Brasil é um país de renda per capita relativamente baixa, segundo o presidente do Conselho de Administração do ICOS, os investimentos do PIB em saúde acabam sendo insuficientes para atender de forma adequada a população.

“E o que temos que fazer? Temos que buscar, primeiro, que esses recursos sejam utilizados adequadamente, que não haja desperdício, e para isso a gestão é muito importante. A segunda questão é aprimorar o uso e a incorporação da tecnologia, que durante algumas décadas sempre representaram um impacto de aumento de custo e não contribuíram nessa equação de capacidade limitada de investimentos. Temos, atualmente, a saúde digital, por exemplo, que pode gerar redução de custos, melhoria de acesso e redução da desigualdade, levando especialistas para onde não existem, a fim de ajudar a regular o sistema, e permitir o acesso de populações em locais remotos, ou seja, a utilização da tecnologia é uma alavanca para essa redução de desigualdade e melhoria de acesso à saúde”, explica Cerri.

União para o fortalecimento do setor

Desde sua criação, em 2015, o ICOS assumiu o compromisso de ser uma instituição propositiva de políticas inovadoras para a saúde do país. Sua atuação ao longo desses sete anos tem sido pautada por grandes realizações, promovendo o diálogo com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em busca de soluções efetivas para os desafios do setor. O Instituto também atua juntamente com as organizações associadas, desenvolvendo conteúdos e publicando títulos fundamentais para entender e desenvolver os diferentes aspectos da cadeia produtiva de saúde e a realização de fóruns de discussão, sempre com a participação de acadêmicos, especialistas e grandes lideranças, congregando os diversos agentes do segmento.

“No ICOS, temos representantes do setor de medicina diagnóstica, dos hospitais, das operadoras, das indústrias farmacêutica e eletromédica, isto é, temos um universo do segmento produtivo de saúde, que, embora tenha seus embates, compreende a necessidade que temos de construir uma agenda estratégica de interesse comum, com assuntos prioritários, com ações que fortaleçam tanto o SUS como a saúde suplementar”, destaca Cerri.

Confira os nomes que compõem os conselhos do ICOS (2022-2025)

Conselho de Administração:

Presidente: Giovanni Guido Cerri (FFMUSP)

Vice-presidente: Claudia Alice Cohn (Dasa)

Elizabeth de Carvalhães (Interfarma)

Fernando Silveira Filho (Abimed)

Francisco Balestrin (Sindhosp)

Henrique S. S. Neves (Anahp)

Omar Abujamra Júnior (Unimed do Brasil)

Ruy Salvari Baumer (Sinaemo)

Wilson Shcolnik (Abramed)

Presidente institucional:

Claudio Luiz Lottenberg

Conselho Fiscal:

Mirócles Campos Veras Neto (CMB)

Nelson Augusto Mussolini (Sindusfarma)

Renato Casarotti (Abramge)

Conselho Consultivo:

Fernando Ganem (HSL)

Guilherme Freire (Sanofi)

Lídia Abdalla (Sabin)

Manoel Peres (Fenasaúde)

Sérgio Dilamar (Abraidi)

Sidney Klajner (Hospital Israelita Albert Einstein)

Diretora executiva:

Denise Eloi

Entidades promovem encontro com assessores dos presidenciáveis para debater propostas para a saúde

Evento realizado conjuntamente por Abramed, ABIMO, AMB, ComSaude Fiesp e SindHosp acontece no dia 27 de setembro, em São Paulo

No próximo dia 2 de outubro, será realizado o primeiro turno das eleições gerais no Brasil e, para entender o que pretende o próximo governante da nação, entidades do setor de saúde realizam, no dia 27 de setembro, às 9h, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o evento “Diálogos com assessores de saúde dos presidenciáveis” para apresentação das propostas dos candidatos à Presidência da República na área da saúde.

Confirmados até o momento estão Dr. Nelson Marconi, pelo candidato Ciro Gomes (PDT); o Dr. João Gabbardo, pela candidata Simone Tebet (MDB); e o Senador Humberto Costa, pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A iniciativa é uma organização em conjunto da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), a Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (ABIMO), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Comitê da Cadeia Produtiva de Saúde e Biotecnologia da Fiesp (ComSaude/Fiesp), e o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp).

Clique AQUI para se inscrever gratuitamente.

Serviço:

Data: 27 de setembro de 2022

Horário: das 9h às 12h

Local: Edifício Fiesp: Avenida Paulista, nº 1313, 15º andar – Espaço Nobre, São Paulo/SP

Inovação digital: símbolo de uma revolução humanizada do atendimento ao paciente. O papel da indústria.

Por Tommaso Montemurno*

A pandemia de covid-19 acelerou o processo de transformação digital na saúde, algo para o qual estávamos nos preparando e já tínhamos à disposição as tecnologias necessárias, mas que ainda sofria por algumas resistências e preconceitos. Como consequência disso, percebeu-se, de um lado, uma maior oferta de ferramentas digitais para o cuidado de nossos pacientes e, do outro, uma maior aceitação na adoção dessas ferramentas por parte deles e das estruturas sanitárias.

Precisamos destacar que a maioria das tecnologias que estão surgindo e sendo implementadas visam a melhor assistência ao ser humano. Isso envolve diagnóstico, tratamento e monitoramento remoto – uma série de ferramentas e de informações que irão colaborar com o cuidado individualizado e contribuir com a antecipação das necessidades.

Trata-se de uma mudança de paradigma: estamos passando de um modelo onde o cuidado é concentrado no atendimento à doença para um modelo focado em prevenção para garantir a saúde de cada pessoa. As novas ferramentas digitais viabilizam um maio foco no indivíduo e na sua singularidade, ao longo de toda a jornada de saúde.

A indústria também precisou se adaptar para compreender as demandas e estabelecer a sua atuação nesse novo cenário, para suportar a digitalização desse segmento.

Como representante da indústria de diagnostico, a reflexão que faço começa pela ótica de como estamos nos posicionando diante dessa mudança do sistema. Em muitos casos, a indústria traz inovações; em outros, colabora com a entrega de um elemento facilitador. Assim, o nosso papel é criar e personalizar alternativas para disponibilizar aos nossos clientes prestadores de serviços sanitários as melhores soluções em prol da nova realidade do sistema.

A indústria tem uma responsabilidade relacionada com a sustentabilidade de todo o setor. As novas tecnologias digitais nos permitem implantar soluções que aumentam a eficiência, otimizando as operações de hospitais, clínicas e demais estabelecimentos de saúde, viabilizando a disponibilidade de mais recursos e a redução dos custos de provisão de serviços. A nós cabe fornecer soluções que sejam sempre mais eficientes para que o custo final do atendimento ao cliente, aquele que garantirá a saúde do cidadão, seja o menor possível.

Quando nos referimos à responsabilidade da indústria no ecossistema de saúde, em outras palavras, falamos do nosso papel em prover soluções tecnológicas, informáticas e modelos de negócio que otimizem o uso dos nossos produtos, reduzindo o desperdício e otimizando a base de custos.

Além da sustentabilidade, há o viés do conhecimento. Na indústria, temos hoje a possibilidade de intensificar a divulgação de informações sobre os nossos produtos e das melhores práticas médicas. Durante a pandemia, tivemos uma profusão de lives de treinamentos, discussões e fóruns online; agora vivenciamos um momento em que podemos alavancar todas as tecnologias utilizadas durante a crise pandêmica, otimizando-as para entregar mais facilidade, maior eficácia e conhecimento para os nossos clientes.

Não podemos esquecer a responsabilidade na pesquisa e desenvolvimento de novas soluções e no aprimoramento das existentes. A indústria precisa estar envolvida nesse processo, tendo à disposição ferramentas de networking e de trabalho colaborativo, que permitem acelerar os processos de aprimoramento e lançamento de produtos bem como aumentar a eficácia dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Tudo isso nos ajudará a entregar produtos e atendimento de maior qualidade.

Muito se tem discutido, por exemplo, sobre o potencial da Web 3.0 na saúde, com os conceitos de realidade virtual e aumentada e, potencialmente do metaverso, que vêm trazendo a possibilidade de uma extensão da realidade que conseguiremos agregar informações e conexões. Com essas inovações digitais, podemos combinar dados que recriam situações teóricas na prática. Essa complexidade nos permite testar nossos produtos e nossas soluções, no que chamamos de hiper-realidade – situações que podem acontecer e que conseguimos levar ao extremo para compreender a sua previsibilidade. Com isso, certamente, temos um cenário em que somos mais eficazes nos testes dos nossos produtos.

A tecnologia está ajudando os profissionais a reduzir a carga de trabalho em atividades de menor valor agregado, liberando a capacidade do sistema de saúde para conseguir se dedicar mais ao paciente, garantindo um atendimento mais próximo, uma medicina mais humanizada, com foco acentuado nas relações humanas, com maior eficácia e rapidez.

O caminho, apesar de acelerado, não é simples e apresenta algumas barreiras que precisaremos ultrapassar.

Dentre as barreiras para a implementação do cuidado temos, principalmente, as barreiras culturais.  Isso é algo que exige amadurecermos para que a tecnologia seja vista como um código, e não como um complemento da interação humana. Com ela, agilizamos e otimizamos processos que antes desviavam a atenção do foco principal, as pessoas. Além disso, liberamos, também, capacidade para que os prestadores de serviços e operadores de saúde, dediquem mais tempo às pessoas.

Soma-se a essas barreiras as necessidades de investimento tecnológico. Infelizmente, vivemos em um país desigual em muitos aspectos, inclusive no acesso à tecnologia, que é diferente entre as regiões, e precisamos lutar para derrubar isso. Não podemos ter um Brasil com velocidades diferentes de acesso à internet. Conseguiremos grande valor à população quando dermos a ela acesso tecnológico igualitário. Dessa forma, poderemos explorar o enorme potencial da saúde digital, propiciando atendimento de qualidade e humanizado em todo território, levando o cuidado às regiões mais remotas, com profissionais capacitados para atender da melhor maneira possível.

Não tenho dúvidas de que a tecnologia nos ajudará a ficarmos mais próximos dos nossos pacientes, atentando às suas exigências individuais.

Esse é o um paradoxo que a tecnologia permite: de um lado, ela padroniza o atendimento e, ao mesmo tempo, possibilita customizá-lo para cada ser humano, aprimorando técnicas para cada situação, de acordo com o histórico da pessoa, considerando sua situação física e psicológica naquele momento.

O próximo futuro nos reserva muitas oportunidades de aprimorar o serviço às pessoas, aumentando a proximidade e a interação, reduzindo os custos e potencializando o acesso a saúde. Por isso vejo a inovação digital como um grande símbolo de uma revolução humanizada do atendimento.

*Tommaso Montemurno é Country Manager da Bracco Imaging do Brasil

Em Congresso Alliar, presidente do Conselho de Administração da Abramed palestrou sobre o mercado de saúde no país

Wilson Shcolnik ressaltou o papel da entidade, apontando também desafios e oportunidades do setor

Para apresentar o panorama do mercado de saúde no Brasil, Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foi convidado a palestrar no primeiro Congresso Alliar – Alliados para Gerar Valor. Realizado no dia 19 de agosto, de forma on-line e gratuita. O evento é uma iniciativa do Grupo Alliar, um dos maiores players de medicina diagnóstica do país.

Shcolnik começou ressaltando o papel da Abramed, cujas associadas realizam cerca de 60% do volume de exames na saúde suplementar no Brasil. Ele também mostrou a importância do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, publicação anual que traz um panorama do setor de medicina diagnóstica nacional, consolidando indicadores que contribuem para a visibilidade do setor e a tomada de decisões nas instituições. 

Entrando no tema, apontou as principais causas de morte de países de renda média-alta: doenças arteriais coronarianas, derrame cerebral, doença pulmonar obstrutiva crônica, cânceres de traqueia, brônquios e pulmões, infecções do trato respiratório inferior, diabetes mellitus, cardiopatia hipertensiva, mal de Alzheimer e outras demências, câncer de estômago e acidentes rodoviários.

“Muitas dessas doenças precisam ser diagnosticadas com base em informações de exames laboratoriais ou de radiologia e diagnóstico por imagem e, ainda, no caso dos cânceres, por meio de exames de anatomia patológica. Por isso, eles são fundamentais tanto para o diagnóstico quanto para a indicação do tratamento e seu gerenciamento”, ressaltou Shcolnik.

Ele mostrou números da pesquisa IMS Report 2003, apontando que 94% dos dados contidos em prontuários médicos são obtidos de laboratórios clínicos e que entre 60% e 70% das decisões clínicas são baseadas em resultados de exames laboratoriais. Esses exames também influenciam diretrizes e protocolos, que orientam as práticas médicas. “Por fim, 23% de diferentes doenças vêm sendo associadas à medicina personalizada, ou seja, as informações laboratoriais acabam definindo o tratamento e, indiretamente, o custo da assistência à saúde. E isso é uma contribuição positiva do setor”, expôs o presidente do Conselho de Administração da Abramed.

No entanto, como os dados de saúde são obtidos por diferentes dispositivos, surgiu um grande desafio: unificá-los e transformá-los em informações que possam ser úteis para o cuidado ao paciente. A inteligência artificial e o machine learning são dois exemplos de ferramentas inovadoras que vêm sendo usadas nos laboratórios clínicos, na radiologia e no diagnóstico por imagem para apontar as prioridades no tratamento. 

Falando em desafios setoriais, Shcolnik citou a contenção dos desperdícios, pois sabe-se que no mundo todo os recursos disponíveis para o sistema de saúde são insuficientes. “Como empresas de medicina diagnóstica, podemos contribuir fazendo o gerenciamento do uso dos exames, explicando aos médicos em quais situações esses documentos podem ser úteis e em quais não trarão nenhum valor para a assistência à saúde”, disse.

Outro desafio é a incorporação de exames ao sistema de saúde. “Atualmente existem inúmeros marcadores laboratoriais e sofisticados exames de imagem que devem ser disponibilizados à população brasileira. Os órgãos reguladores precisam estar cientes do valor que eles podem trazer para o desfecho assistencial”, comentou Shcolnik.

Também está entre os desafios a participação do setor na discussão sobre novas formas de remuneração. “O modelo utilizado atualmente, baseado no volume de serviços realizados, é considerado inapropriado e vem sendo discutido no mundo todo. Esse modelo é criticado porque acaba estimulando a maior realização de procedimentos. Cabe a nós ajudar a buscar uma melhor forma de remuneração”, apontou.

Shcolnik considera mais um desafio inserir o setor de medicina diagnóstica no movimento mundial de transformação digital, que também chegou à saúde. Exemplos disso são a telemedicina e a terminologia Loinc, que se refere a exames laboratoriais e permite a troca de informações padronizadas e qualificadas.

“Monitorar a qualidade e o desempenho já é um desafio antigo, com grande importância dentro da Abramed, pois as empresas só podem se tornar associadas se estiverem certificadas em relação à sua qualidade”, acrescentou.

Os outros desafios citados foram as questões éticas, que vêm demandando a elaboração de códigos de conduta, e as situações externas exclusivas do país, como a reforma tributária, cuja discussão ainda não amadureceu.

Shcolnik aproveitou para, mais uma vez, comentar informações, referentes aos desperdícios em exames, que não têm nenhuma base científica. “Infelizmente, temos raras oportunidades de nos defendermos. Na verdade, a porcentagem de exames não acessados nos laboratórios por médicos nem por pacientes não é 30%, nem 50%, como divulgado, mas sim menos de 5%, com base em uma pesquisa feita com nossos associados. Claro que esses desperdícios devem ser combatidos, mas os números precisam estar de acordo com a realidade”, expôs.

Também comentou do desafio regulatório, pois é necessário atender às normas tanto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Em relação às oportunidades, Shcolnik apresentou algumas situações em que a Abramed pode atuar. “Como muitos sabem, o sistema de saúde brasileiro é muito fragmentado, na área pública e na área privada. E uma solução é a formação de um ecossistema que possa contar com a participação das empresas de medicina diagnóstica, sendo um dos agentes ou formando um ecossistema próprio para ser oferecido à população”, disse.

Segundo ele, existem muitas vantagens nesse ecossistema, desde conduzir a jornada do paciente até organizar os custos produzidos dentro de cada uma das partes. “Existe oportunidade para redução de custo e produção de escala para gerar economia, portanto é uma iniciativa que precisamos estudar e avaliar.”

Outra informação que levou aos participantes do evento foi a iniciativa do governo brasileiro para integrar dados. Ele citou que dentro do DataSUS há a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que visa à interoperabilidade e à troca de informação, de modo também a trazer economia para o sistema de saúde.

Shcolnik finalizou destacando, ainda, as consolidações, que têm merecido atenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), bem como as oportunidades das parcerias público-privadas, já que os recursos são limitados e demandam soluções criativas para oferecer assistência à população.

O Congresso Alliar contou com apresentação de Isabella Tanure e Gustavo Meirelles, respectivamente conselheira e diretor médico da companhia, e com palestra do presidente do Conselho, Nelson Tanure, sobre o tema “Grupo Alliar – Visão de Futuro”.

Entre os palestrantes também estiveram Claudio Lottenberg, Presidente Institucional do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), que falou sobre as oportunidades e os desafios no setor de saúde; Karla Maciel, Vice-Presidente Administrativa Financeira da Alliar, que abordou o cenário macroeconômico do Brasil; Fabrício Machado, Diretor da Prevent Senior, que enfocou a saúde digital; e Augusto Antunes, Diretor do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Inovação (NEPIA) da Alliar, que discorreu sobre inovação em saúde.

Para análise e reflexão: ressignificando a medicina diagnóstica

Por Roberto Santoro*

A medicina diagnóstica é um importante elo da cadeia de saúde. Suas inovações, por exemplo, aprimoram a assistência e a eficiência do sistema. Não por acaso, o segmento assumiu seu protagonismo durante a pandemia de covid-19, iniciada, no Brasil, em março de 2020. E quando tudo indicava um setor atuando única e exclusivamente sobre o novo coronavírus, o que se viu – e se vê! – é uma evolução constante com o desenvolvimento de novas tecnologias e formas de atendimento para otimizar tanto testes quanto exames indispensáveis ao bem-estar humano.

O segmento é composto de pessoas, infraestrutura, logística, capacidade de produção, pesquisa e desenvolvimento, assim como interface de sistemas. A pandemia o evidenciou, permitindo ampliar sua perspectiva em prol de uma infraestrutura melhor no país. E foi a reação rápida e a adaptação em dar uma resposta eficaz, focada na menor geração possível de danos, que fez a medicina diagnóstica continuar relevante em momentos de crise.

Os resultados de exames laboratoriais apoiam cerca de 70% das decisões médicas e são de grande valia na atenção à saúde. A tendência é que ela continue protagonista. Isso porque o avanço tecnológico e a transformação digital garantem exames e análises cada vez mais precisos e eficientes. Ainda assim, os gastos das operadoras de saúde com medicina diagnóstica, em termos relativos, estão entre os menores, se analisarmos a relevância desse segmento.

Na perspectiva da prevenção, através da atenção primária, a medicina diagnóstica, além do impacto nas decisões médicas, contribui para os custos evitáveis, ou seja, diminuindo a propensão de adoecimento e doenças crônicas e, além disso, a atenção pode ser feita fora de ambientes hospitalares.

A medicina diagnóstica tem ainda uma parte de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) bastante valiosa, com alta velocidade na introdução de novas tecnologias, com custos menores e incorporação rápida. Essa capacidade de criar testes com maior acurácia, faz parte da essência da medicina diagnóstica, isto é, temos cada vez mais novas tecnologias disponibilizadas em menor tempo e com menos gastos.

Segundo o Painel Abramed 2021 – O DNA do Diagnóstico, a medicina diagnóstica é um dos setores que mais evoluem e inovam na busca por tecnologias capazes de aprimorar e melhorar a qualidade dos diagnósticos na área da saúde. O surgimento de tecnologias permite que os exames sejam realizados em grande escala, em menor tempo, com melhor qualidade e precisão, evitando o desperdício e o aumento na escalada dos custos na saúde. 

A publicação já destacou, inclusive, que inúmeros fatores impulsionam o crescimento do setor, entre os quais se destacam a inteligência artificial e os processos digitais para apoiar os diagnósticos, a modernização dos equipamentos e novas tecnologias laboratoriais, a utilização da telemedicina e subespecialidades em larga escala, as inovações na área de genética, a rede integrada de saúde, entre outros.

Entre tantos pontos positivos, a medicina diagnóstica tem ainda a possibilidade de movimentar amostras sem movimentar o paciente. E aqui estamos falando de acesso populacional. Você não precisa movimentar o paciente, você colhe em um local e pode circular por meio de serviços de logística, permitindo que uma parcela maior de pessoas possa realizar seus exames em grandes centros tecnológicos. Aliás, a logística é responsável pela quebra de barreiras, permitindo acesso à tecnologia em áreas remotas do Brasil, cujo território tem dimensões continentais.

E o que falta para a medicina diagnóstica ser cada vez mais valorizada? Ampliar o conhecimento do seu papel, da função dos exames, principalmente laboratoriais e de imagem, nas decisões médicas. Sob a ótica de educação em saúde, suponho que deveria haver maior foco na relevância das unidades de Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia (SADT), porque no Brasil, de acordo com dados de junho de 2021, do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde (CNES/MS), existem 26.545 deles.

É de suma importância o reforço desse tema, com maior intelectualidade relativa nas universidades brasileiras e entidades formadoras de profissionais de saúde. Além disso, é necessário que os próprios governos tenham mais consciência e que entidades, como a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), atuem como fomentadoras de atividades de ensino e pesquisa em medicina laboratorial, justamente para ressaltar o papel da medicina diagnóstica na cadeia de valor da saúde.

Ainda sobre educação médica, precisamos de uma “descomoditização” intelectual. A medicina diagnóstica é um setor com atualizações constantes e por vezes o próprio mercado tem dificuldade de acompanhar, e ao setor cabe incentivar, fomentar e contribuir para que nossos profissionais sejam plenamente capazes de lidar com a evolução constante do segmento.

Veja bem, estamos diante de um dos menores custos para o sistema, cuja importância e grandeza são incontestes, seja no acesso, na atenção primária, no impacto na decisão médica, no custo evitável. Mas como é possível ressignificar a medicina diagnóstica? Um dos passos é a educação em saúde deste tema.

Precisamos que seja destacada a sua importância também na saúde suplementar, por meio de atualizações constantes. Os gastos das operadoras de saúde com medicina diagnóstica são relativamente menores do que outros gastos e de alto impacto para o bem-estar social e na economia em saúde.

*Roberto Santoro é Diretor Presidente do Grupo Pardini, empresa associada à Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)

Até quando garantiremos a sustentabilidade do setor de saúde?

Artigo assinado por Carlos Figueredo*

Os anos pandêmicos foram desafiadores para a saúde e para a medicina diagnóstica. Como sabemos, houve uma queda brusca no número de realização de exames e de terapias para o acompanhamento não só da rotina, mas também de doenças crônicas. Agora, essa demanda está ressurgindo e precisa ser atendida. E, obviamente o setor de medicina diagnóstica anseia muito por fazer isso da melhor maneira possível.

No entanto, não é simplesmente voltar ao que era antes. Ampliar o quadro de colaboradores, comprar mais insumos, aumentar as áreas para melhor atender aos clientes, como se faria em qualquer aumento de demanda anteriormente. O cenário é outro.  Em especial pelo aumento de custos. Garantir a sustentabilidade do setor tem se tornado um desafio.

A pergunta é: a que preço faremos isso? A começar pelo básico:  um frasco de 1 litro de soro, aumentou sete vezes de 2019 para cá. Já no frasco de 15 ml de contraste, esse salto foi de 42%. Lembrando que a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), autorizou um reajuste de 10,89% no preço dos medicamentos em abril. Para exemplificar, no CURA grupo, tivemos nos últimos três anos um incremento de 30% nos custos com Mat/Med.  E, a situação tende a piorar. Estamos vivenciando uma escassez tremenda de falta de insumos no Brasil e esses dois itens fazem parte da lista. Os problemas incluem volume de produção, inflação elevada que aumenta o custo de transporte e alta do dólar, em especial por muitos insumos serem importados.

Mas, não foram somente os insumos – o que já não seria irrelevante.  Estamos ainda sob variação da folha de pagamento, que assim como em muitos setores, é o maior custo da medicina diagnóstica.

Apesar de valorizarmos muito a nossa força de trabalho, olhando novamente para os números do CURA grupo, dá para ter uma boa ideia desse impacto. Em São Paulo, os reajustes por conta dos dissídios coletivos, em 2022, chegaram a 12%; valor muito próximo ao vivenciado em Pato Branco, no Paraná, que foi de 11,95% e por Florianópolis e São José, em Santa Catarina, que foi de 11,08%. Já em Chapecó e na capital do Paraná, Curitiba, esse reajuste foi de 7%.

E, as perspectivas não são de que isso retroceda. Com o Projeto de Lei (PL 2564/2020), que está tramitando nas esferas de aprovação e fixa o piso salarial dos profissionais de enfermagem, a estimativa de aumento dos custos com medicina diagnóstica é de 9,5%, somente com essa categoria.

Outro fator que tem impactado muito nesse aumento de custo são os aluguéis dos imóveis, reajustados por IGP-M ou INPC, índices que tiveram bastantes elevações. Vemos muitas negociações de contratos em andamento, até para que os reajustes sejam por IPCA. O que também não diminui o impacto, já que em abril de 2022, o índice acumulado nos últimos 12 meses foi de 12%. Mais uma vez trazendo para o real, no CURA grupo isso significou um aumento de 33% nos últimos três anos.  Outros recursos importantíssimos também aumentaram. Despendemos 21% a mais com energia elétrica; e, também, houve reajustes na água, por conta da escassez hídrica.

Todas essas oscilações para cima vêm pressionando muito a estrutura de custos, ainda mais em um cenário político e econômico instável. Internamente, a eleição presidencial emerge como um agravante. Já externamente, a Guerra impacta, por exemplo, na cadeia de produção e provoca aumento nos custos de logística e transporte. 

Para apimentar ainda mais essa reflexão, é preciso lembrar, que todos esses reajustes que vivenciamos não foram repassados para os pacientes, apesar de os planos de saúde terem sido reajustados em cerca de 15%, em 2022.

Ou seja, como dizemos no dia a dia: não está fácil para ninguém: nem para os consumidores e muito menos para os prestadores de serviços, que estão pagando a conta da saúde suplementar em sua totalidade.  Afinal, as operadoras não estão na maioria das vezes repassando esse percentual desse reajuste para os prestadores e, mesmo quando fazem pressionam para que a faixa de incremento na remuneração seja de 4% a 5%. 

Em suma, esses números começam a colocar de fato em dúvida sobre até quando conseguiremos manter a sustentabilidade dos nossos negócios e do setor de medicina diagnóstica. Nesse momento, entramos em um alerta vermelho e alguns modelos devem ser repensados. É hora mais do que nunca de debates entre o setor, com o governo, operadoras para que todos juntos possam encontrar um caminho mais sustentável. E isso, sem dúvida depende do diálogo e da união de esforços. Caso contrário, temo que não conseguiremos segurar por muito tempo essa situação.

*Carlos Figueredo é CEO do Cura grupo