Infraestrutura, regulação e cultura digital para telessaúde foram temas do terceiro encontro da série #DiálogosDigitais Abramed
9 de setembro de 2020
A saúde é um dos setores que mais se apoiam na inovação
tecnológica para prover atendimentos de qualidade e melhorar tanto as ações de
prevenção quanto os prognósticos dos pacientes. Em um país continental como o
Brasil, onde o acesso se dá de formas diferentes e por muitas vezes se mostra
complexo, a telessaúde exerce papel indispensável e isso se tornou ainda mais
claro durante a pandemia de COVID-19. Tratando sobre cuidado à distância, o
terceiro encontro do #DiálogosDigitais Abramed reuniu, na noite de 8 de
setembro, Eduardo Cordioli, presidente da Saúde Digital Brasil; Ricardo Santos,
business development Brasil & Latin America da Cisco Systems; e Sami Foguel,
CEO da Alliar Médicos à Frente em um bate-papo moderado por Claudia Cohn, membro
do Conselho de Administração da Abramed e diretora-executiva da Dasa.
Nos últimos meses, enquanto o novo coronavírus se espalhava pelo
mundo impondo restrições à locomoção e ações de distanciamento social, o Brasil
aprovou a telemedicina em caráter emergencial para garantir o acesso da
população à saúde evitando aglomerações desnecessárias. E esse foi um gatilho
infeliz, porém relevante.
“E quando pensamos em saúde digital não nos restringimos às
áreas hospitalar e de diagnóstico. A cadeia inteira é impactada por essa
tecnologia que já vinha trilhando um importante caminho alternativo para que a
medicina fosse exercida”, comentou Claudia Cohn ao abrir o debate enfatizando
ser muito relevante que o encontro reunisse executivos de diferentes áreas
produtivas da saúde.
Para Ricardo Santos, da Cisco Systems, o resultado da
liberação da telemedicina foi positivo. “Uma das coisas que ficaram claras foi
que a telessaúde se provou viável. Parecia que precisávamos ter um cataclisma,
algo forte, para quebrar a inércia que segurava a América Latina. Ainda bem que
tivemos essa regulamentação emergencial. Pena que por uma razão tão triste que
foi a COVID-19”, declarou.
E no pós-pandemia? Daremos passos para trás? Os
especialistas que debatiam no terceiro episódio do #DiálogosDigitais concordaram
que essa não é uma possibilidade. “O que observo no pós-crise é uma busca maior
por esses serviços”, comentou Foguel. Segundo o executivo, a iDr – plataforma digital
da Alliar Médicos à Frente que permite a criação de franquias de centro de
diagnóstico totalmente automatizado e com operação remota – praticamente dobrou
o número de contratos nos últimos seis meses.
Cultura digital
Cordioli acredita que “saúde digital é uma forma da medicina
estar constantemente quando, como e onde o paciente quiser”, o que naturalmente
leva à adesão por parte da população. Porém, o executivo reforça que o mais
importante para ampliar essa cultura digital é que a tecnologia só ganha
reconhecimento quando gera valor para o usuário.
Mesmo vivenciando uma fase de adaptação, a telemedicina aprovada durante a pandemia gerou esse valor. “Apesar de a COVID-19 ter sido um motivo difícil ela contribuiu para um aprendizado contínuo tanto do médico que ainda não tinha experiência no uso das ferramentas, quanto do paciente que aprendeu em qual momento poderia fazer uma interlocução digital ou se precisaria de uma consulta presencial”, comentou Claudia.
Dar, a esse paciente, a chance de escolher qual plataforma
vai utilizar pode ser um caminho muito profícuo também evidenciado na crise do
novo coronavírus. “Quanto mais complexo e importante for o assunto, mais o
paciente pode requisitar o contato presencial. Quanto mais simples e
corriqueiro, mais deve buscar o atendimento remoto, que se mostra suficiente”,
comentou Foguel.
Para o CEO da Alliar, a ideia de que um novo canal surge
para eliminar o outro é inválida e não ocorreu em nenhum outro setor. Nos
bancos, por exemplo, primeiro vieram as agências, depois os caixas eletrônicos,
depois o call center e, por último, a internet. E mesmo com o advento do acesso
remoto, as agências seguem funcionando com alta atividade. De acordo com essa
visão, será natural, por exemplo, que um paciente prefira fazer um atendimento
virtual com aquele médico que já está acostumado, para seguir com o tratamento
de uma doença crônica. Mas que opte pela consulta presencial quando tiver algo
mais grave e diferente para tratar com uma nova especialidade.
A consolidação dessa cultura também está atrelada a três pilares principais na opinião de Santos: as ferramentas precisam estar sempre disponíveis; precisam ser escaláveis, ou seja, funcionar com a mesma qualidade para um ou para cem mil acessos; e ter segurança. Na opinião do executivo da Cisco Systems, se o paciente tiver uma primeira experiência negativa, ele deixará de utilizar aquele modelo de atendimento.
Nos Estados Unidos, segundo Foguel, já há uma maior
percepção de valor na saúde digital. Por lá, os cidadãos ganham descontos em
suas mensalidades de planos de saúde ao comprovar melhorias como implementação
de exercícios físicos em sua rotina, redução dos índices de saúde alterados, e
realização de checkup periódico. Tudo isso feito, mais uma vez, pela
tecnologia, visto que já contamos com inúmeros gadgets e tecnologias vestíveis
capazes de monitorar e compartilhar essas informações.
Infraestrutura e regulação
Algumas das preocupações que surgem quando se pensa em
telessaúde estão nos debates sobre a infraestrutura necessária para
implementação dos sistemas e a falta de regulamentação.
Para Cordioli, saúde é para todos, mesmo em um país
continental como o Brasil. E a tecnologia se faz presente para que seja
possível cumprir esse objetivo. “Cabe uma Europa ocidental inteira dentro do
nosso país e só vamos conseguir entregar saúde de forma democrática usando a
tecnologia”, comentou.
Santos explicou que já existem modelos alternativos.
“Podemos trabalhar com 3G, satélite, rádio ou rede. Temos uma série de
tecnologias que estão aí para serem utilizadas”, disse. Paralelamente, reforçou
que não adianta ter a tecnologia se não houver políticas públicas que permitam
a utilização e aplicação delas. “Não adianta querer implementar a telessaúde em
um município ainda sem energia elétrica. Por isso temos que acompanhar a infraestrutura
disponível de vários aspectos diferentes e tudo tem que evoluir nessa mesma
velocidade acelerada”.
Sobre regulamentação, todos concordam ser um caminho
extremamente necessário. “O ambiente de falta de regulação criou incerteza e
insegurança”, disse Cordioli.
Para encerrar o debate, Priscilla Franklim Martins,
diretora-executiva da Abramed, ganhou a palavra e trouxe uma pergunta elaborada
pelo presidente do Conselho de Administração da entidade, Wilson Shcolnik,
sobre quais as principais necessidades para a implementação plena da
telessaúde.
Para Cordioli, regulação é o ponto nevrálgico. “Sem
regulação, não temos nada”. Em contrapartida, Foguel reforça a importância do
poder público atuar em parceria com o poder privado em um modelo de saúde
unificado e que preze pelo acesso à população; Santos enfatizou a
essencialidade da infraestrutura; e Claudia encerrou pedindo colaboração entre
todos os elos da cadeia para que a telemedicina se torne a cada dia mais viável
e abrangente.
O bate-papo completo deste episódio está disponível no canal
do YouTube da Abramed (clique AQUI para assistir).
A próxima edição do #DialogosDigitais será realizada dia 22
de setembro, ao vivo, das 18h às 19h30, com o tema “Experiência na jornada do
paciente”. Entre os convidados confirmados para o bate-papo estão Adriano
Caldas, general manager da Guerbet do Brasil; Luiz Natel, CEO do Grupo
Oncoclínicas; e Maria Alice Rocha, diretora-executiva de Pessoas e Experiências
do Cliente da BP. A moderação será feita por Ademar Paes Junior, membro do
Conselho de Administração da Abramed e sócio médico radiologista da Clínica
Imagem. Fique de olho nas redes sociais da Abramed para se inscrever e
participar.