Durante evento, líderes do setor alertam para pressões estruturais e defenderam uma transformação baseada em tecnologia, valorização profissional e centralidade de pacientes
Em sua sétima edição, o Global Forum Fronteiras da Saúde — organizado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida — foi sediado em Brasília, reuniu especialistas de todo o país em busca de caminhos de transformação da saúde, tanto na esfera pública quanto na privada.
Entre os debates de maior destaque, o painel “Saúde Suplementar: Dores e Soluções para Construir a Sustentabilidade Necessária” contou com a participação de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed; Edivaldo Bazilio, Diretor Executivo do Saúde Global; Helena Maria Romcy, Presidente da Associação Brasileira dos Enfermeiros Auditores; e Helaine Capucho, Diretora de Acesso da Interfarma.
Abordando desde o aumento de custos e a consequente pressão sobre as operadoras até o equilíbrio entre inovação e viabilidade financeira, o painel teve como propósito discutir os desafios econômicos e estruturais do ecossistema privado e apontar soluções para a sustentabilidade do setor. Os participantes reforçaram o papel dos diferentes atores da Saúde Suplementar na construção de estratégias integradas que beneficiem pacientes, empresas e profissionais.
Milva Pagano destacou que o uso da inovação deve estar diretamente alinhado à redução de gargalos e desperdícios, com foco em uma jornada de cuidados que coloque o paciente no centro.
“Tomando a Inteligência Artificial como exemplo, precisamos ter em mente que a IA é uma ferramenta e, como toda ferramenta, pode ser usada para o bem ou para o mal. Para que seu propósito seja positivo, ela deve ser direcionada para reduzir desperdícios e melhorar a jornada do paciente — nunca para excluir ou substituir o olhar humano”.
Ao falar sobre gargalos e desperdícios, Edivaldo Bazilio apresentou um panorama detalhado da Saúde Suplementar, hoje sob forte pressão econômica. Segundo o executivo, o sistema passou de 1.700 para cerca de 600 operadoras nos últimos 20 anos, enquanto as margens seguem mínimas ou negativas, especialmente em tratamentos oncológicos e de infusão.
A pressão se agrava com glosas médias de 15%, inadimplência e contratos defasados, que não acompanham a inflação médica, já corrigida 50% abaixo do ritmo de incorporação de novas tecnologias. Bazilio também destacou que o ciclo de depreciação de equipamentos caiu de 10–15 anos para apenas 2–3, dificultando o retorno sobre investimento.
“As margens da saúde hoje são margens de varejo. Para superar esses desafios, é preciso desromantizar o setor. A área da Saúde é um negócio com missão, mas que também precisa de equilíbrio econômico para sobreviver”, sintetizou.
Complementando o diagnóstico, Helena Maria Romcy defendeu que os modelos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) precisam ganhar dinamismo, acompanhando o ritmo das inovações.
“Por que não olhar o processo de ATS de avaliação de tecnologias? E por que não inovarmos em nossos processos? A inovação, sem uma abertura para que se aprenda a lidar com a tecnologia, passa a ser um problema — e deixamos de explorar seu potencial em exames, diagnósticos e na jornada do paciente como um todo”, provocou.
A discussão também abordou o papel dos profissionais e a qualidade do atendimento médico, questões diretamente afetadas pela fragmentação e pela pressão financeira do sistema.
Helaine Capucho, ao focar na gestão do cuidado e na formação médica, criticou a perda da essência humanista da profissão: “O que mais incomoda as pessoas não é esperar por um médico, é o médico não olhar para elas. A saúde não pode perder a essência do cuidado”.
Concordando com essa perspectiva, Milva Pagano destacou que a desvalorização profissional precariza a consulta médica, compromete a anamnese e afeta a qualidade do diagnóstico. Conforme ela pontuou: “Se o paciente não estiver realmente no centro, estamos todos no lugar errado. A inovação precisa ser acompanhada por empatia e responsabilidade. Os problemas aqui apontados são bem-vindos, porque eles nos tiram da zona de conforto”.
O debate deixou claro que sustentabilidade e humanização precisam caminhar juntas.
Para os participantes, o futuro da Saúde Suplementar depende de uma mudança de mentalidade que uma inovação tecnológica, equilíbrio econômico e valorização das pessoas.
Novas tecnologias vs. Acesso dos pacientes

Durante o evento, Milva Pagano também participou do painel . O debate foi moderado por Marlene Oliveira, fundadora e Presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, e contou com participação de Rodrigo Cruz, Diretor Executivo de policy da MSD Brasil, Artur Brito, Líder de Acesso Público da Novartis,
Humberto Izidoro, CEO da VARIAN América Latina e Anderson Fernandes, Gerente de Acesso ao Mercado da Strattner.
A Abramed reforça, com sua participação no Global Forum, o compromisso de promover debates francos e colaborativos sobre o futuro do setor, estimulando a integração entre os diferentes elos da cadeia, a governança de dados e a humanização do cuidado como bases de um sistema mais eficiente, inclusivo e sustentável.