Comitê de RH da Abramed debate impactos da NR-01 e atuação técnica do setor junto ao Governo

No dia 25 de junho, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) realizou um encontro do Comitê de Recursos Humanos para aprofundar as implicações da nova redação da NR-01, que passará a exigir das empresas a gestão de riscos psicossociais.


Mediado pela Líder do Comitê de RH da Abramed e Gerente de Saúde Corporativa do Grupo Fleury Lucilene Costa, o debate reuniu especialistas jurídicos, médicos e lideranças institucionais para discutir os impactos clínicos, regulatórios, financeiros e operacionais da norma no setor da Saúde e construir, de forma coletiva, uma proposta técnica a ser encaminhada ao Ministério do Trabalho.


A programação começou com apresentação da advogada trabalhista Daniela Bernardo, que apresentou os marcos da revisão da NR-01, ressaltando sua convergência com diretrizes da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a urgência de o setor da Saúde se posicionar proativamente. Também reforçou o papel do sistema sindical como agente de influência: “Se o setor da Saúde se unir, podemos levar nossas pautas com mais força e ver nossas particularidades realmente acolhidas”.


Roberta Pardo, do Balera Advogados, mostrou um panorama detalhado dos impactos financeiros decorrentes da concessão de benefícios acidentários por doenças de natureza mental e comportamental — que, embora hoje representem cerca de 3% dos casos, já apresentam tendência de alta nos registros da Previdência.

“A inclusão dos riscos sicossociais na NR-01 pode contribuir para o aumento do reconhecimento de nexos técnicos pelo perito do INSS, elevando o número de benefícios acidentários e,
consequentemente, os custos das empresas com o FAP (Fator Acidentário de Prevenção)”, explicou.


A advogada detalhou o funcionamento do FAP (Fator Acidentário de Prevenção), que pode impactar diretamente o RAT ajustado (Risco Ambiental do Trabalho) e elevar os custos previdenciários de 0,5% até 6% da folha de pagamento. “Estamos falando de cifras milionárias que podem saltar com o aumento índice de FAP. É um tema que exige atenção técnica e atuação integrada entre jurídico, SESMT, RH e liderança”, defendeu.


De acordo com Roberta, embora o mapeamento dos riscos psicossociais passe a ser obrigatório, isso não implica, por si só, o reconhecimento automático do nexo: “Precisamos manter firme nossa estratégia de investigação, contestação de benefícios e impugnação de nexo. Mas, com a formalização desses riscos em documentos oficiais, ganhamos um novo grau de responsabilidade e de exposição”.


Representando a visão clínica, o médico Laio Meira, coordenador do Programa de Saúde Mental do Grupo Fleury, trouxe à discussão as dificuldades práticas no monitoramento contínuo dos fatores psicossociais, principalmente em empresas de médio e pequeno porte.


Na visão de Lucilene Costa, é fundamental entender como as altas lideranças têm se envolvido com o tema. “Além de provocar o Governo, precisamos provocar nossos CEOs. Eles sabem o que isso representa em termos de impacto na folha? Estamos falando de milhões. É nosso papel técnico traduzir esse impacto em dados e levá-lo para o board”, pontuou.


A Diretora Executiva da Abramed, Milva Pagano, destacou que os riscos psicossociais não se restringem a acidentes pontuais, mas a processos contínuos e invisíveis que impactam diretamente o bem-estar e a produtividade dos colaboradores. “Estamos falando de lideranças nocivas, de síndrome do pânico, de pressões que não vêm apenas do ambiente profissional, mas que podem encontrar ali o estopim”, pontuou.


Para Milva, o setor da Saúde deve assumir uma posição propositiva, compartilhando suas boas práticas com outros segmentos. “Temos que mostrar o que já fazemos, evidenciar os resultados e apoiar outros setores na estruturação de ações similares”.


Ela ainda reforçou que o custo do cuidado não pode ser absorvido apenas pelo setor privado e que a construção de um posicionamento técnico robusto é fundamental para evitar distorções na regulamentação: “Se a gente ficar só esperando vir o manual, vai vir torto. Precisamos nos antecipar e apresentar soluções”, concluiu.


“Não se trata de se isentar do cuidado com o colaborador, mas de construir um histórico sólido, com dados e ações registradas, que possibilite contestar tecnicamente eventuais nexo-causais. O governo exige prova documental, e cabe a nós, como setor, estruturar essa evidência com responsabilidade e estratégia”, completou a Líder do Comitê de RH da Abramed.

Mulheres são as mais afetadas por transtornos mentais no trabalho; revisão da NR-1 pode trazer avanços neste cenário

NR-1, medida vem na esteira do crescimento de 68% nos transtornos mentais em um ano;  afastamentos do trabalho bateram recorde e mulheres são maioria

Em alusão ao Mês das Mulheres, é importante destacar um dado preocupante: o Brasil registrou, em 2024, o maior número de afastamentos por transtornos mentais dos últimos dez anos. Foram 472 mil licenças concedidas, um aumento de 68% em relação a 2023 — entre as pessoas impactadas, mulheres representaram 64% dos casos, segundo o Ministério da Previdência Social. 

Fatores como pressão por resultados, jornadas exaustivas, assédio e falta de suporte emocional têm contribuído para o aumento de transtornos como ansiedade, depressão e burnout, especialmente no público feminino, que enfrenta desafios adicionais, como duplas ou triplas jornadas (profissional e doméstica) e desigualdades de gênero, tornando-se mais vulnerável a esses problemas.

“Esse padrão social sobre as mulheres gera sobrecarga. Ao mesmo tempo, elas têm salários menores e são, muitas vezes, as responsáveis financeiras pela casa. Ou seja, ainda tem toda essa pressão, que foi ampliada com toda a crise na pandemia”, explica o psiquiatra Arthur Danila, pesquisador sobre ansiedade na Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o Dr. Paulo R. Leal, membro do Comitê de RH da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e Coordenador Médico do Trabalho no Grupo Fleury, “a manutenção da saúde mental depende tanto de fatores individuais quanto de condições extrínsecas, como aspectos sociais, econômicos e ambientais. No ambiente de trabalho, fatores psicossociais, como gestão organizacional inadequada, assédio e jornadas exaustivas, podem agravar esses transtornos”.

As organizações precisam estar atentas a como esses fatores podem afetar de

maneira distinta homens e mulheres para implementar medidas preventivas e de apoio que levem em conta essas particularidades, condição fundamental para promover um ambiente de trabalho saudável e equitativo para todos.

Novas regras para um ambiente mais saudável

Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), a partir de 26 de maio de 2025 todas as organizações deverão identificar e gerenciar riscos psicossociais no ambiente de trabalho.

Entre as medidas essenciais para as empresas se adequarem à NR-1 e evitarem riscos legais e trabalhistas, será preciso investir em políticas estruturadas de saúde mental e adotar programas de suporte psicológico, criar canais de atendimento para que os funcionários busquem ajuda, revisar metas e práticas de gestão para evitar pressão psicológica desmedida, reduzir cargas excessivas de trabalho e treinar gestores para a escuta ativa, acolhimento e prevenção de conflitos.

O Ministério do Trabalho e Emprego já estabeleceu que, em caso de diagnóstico de doenças mentais decorrentes do ambiente profissional, as empresas que não estiverem em conformidade estarão sujeitas a multas, autuações e indenizações trabalhistas e ações civis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho.

Ações a serem implantadas pelas empresas

Dr. Paulo destaca que a preservação da saúde mental e a sensação de bem-estar são indispensáveis para que todas as pessoas tenham uma vida com qualidade, desenvolvam seu máximo potencial criativo e produtivo, contribuam para o desenvolvimento da sociedade e convivam felizes em família.

De acordo com o médico, para atender às novas exigências da NR-1, as empresas devem implementar políticas de bem-estar e preservação da saúde mental, que incluam medidas de prevenção, identificação precoce e acolhimento dos colaboradores com indícios de sofrimento mental. 

“Adoção de pausas regulares durante o expediente, promoção de atividades que reduzam o estresse, estímulo à prática de atividades físicas e bons hábitos alimentares são essenciais”, afirma.

Além disso, aderir a políticas de trabalho flexível e estabelecer parcerias com profissionais de saúde mental e instituições especializadas pode contribuir para o bem-estar dos colaboradores.

Segundo o especialista, a saúde mental não é apenas uma questão individual, mas um desafio coletivo. Empresas que investirem em bem-estar e qualidade de vida colherão os frutos de um time mais engajado, produtivo e saudável.

“As alterações na NR 1 não são somente uma obrigação legal. São, também, uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a sua capacidade produtiva”, conclui.