Diagnóstico precoce e inovação em imagem fortalecem o cuidado com a saúde da mulher

No mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, a Abramed reforça o papel da Medicina Diagnóstica na detecção precoce da doença — um avanço que depende tanto de políticas públicas inclusivas quanto do acesso a tecnologias de imagem de alta precisão.

Um estudo conduzido pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e publicado no JAMA Network Open, demonstrou que mulheres que deixaram de realizar mamografias anteriores apresentaram tumores maiores, maior envolvimento linfonodal e menor sobrevida específica. A pesquisa analisou mais de 8,6 mil mulheres e mostrou que aquelas que não compareceram ao rastreamento anterior tinham 1,5 vez mais chance de tumores acima de 20 mm e quase cinco vezes mais risco de metástase à distância. O estudo reforça a importância da regularidade dos exames para evitar atrasos no diagnóstico e aumentar as chances de cura.

No Brasil, o câncer de mama segue como o de maior incidência entre as mulheres, com 73,6 mil novos casos estimados em 2025, segundo o Ministério da Saúde e o INCA. Apesar de o SUS ter realizado 4 milhões de mamografias em 2024, a cobertura nacional ainda é de apenas 24% das mulheres elegíveis — bem abaixo da meta de 70% recomendada pela Organização Mundial da Saúde.

Para reverter esse cenário, o Ministério da Saúde ampliou o acesso à mamografia no SUS para mulheres a partir dos 40 anos, mesmo sem sintomas da doença. Essa faixa etária representa 23% dos casos de câncer de mama e agora poderá realizar o exame sob demanda, em decisão compartilhada com o profissional de saúde. A medida integra o programa Agora Tem Especialistas, que prevê unidades móveis em 22 estados, aquisição de equipamentos de biópsia e imagem de última geração e a incorporação de novos medicamentos para o tratamento do câncer de mama avançado.

“Garantir o acesso regular aos exames de imagem e investir nas tecnologias mais avançadas é essencial para que o diagnóstico precoce deixe de ser exceção e se torne regra no cuidado à saúde da mulher”, afirma Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed.

O diagnóstico por imagem — especialmente por meio da mamografia digital e da tomossíntese 3D — é decisivo para identificar lesões em estágios iniciais, quando o tratamento é mais eficaz e menos invasivo. Para a Abramed, ampliar o rastreamento e investir em inovação diagnóstica são passos complementares para transformar o Outubro Rosa em um movimento permanente de cuidado e prevenção.

Global Forum discute inovação e cuidado em meio a desafios econômicos da Saúde Suplementar

Durante evento, líderes do setor alertam para pressões estruturais e defenderam uma transformação baseada em tecnologia, valorização profissional e centralidade de pacientes

Em sua sétima edição, o Global Forum Fronteiras da Saúde — organizado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida — foi sediado em Brasília, reuniu especialistas de todo o país em busca de caminhos de transformação da saúde, tanto na esfera pública quanto na privada.

Entre os debates de maior destaque, o painel “Saúde Suplementar: Dores e Soluções para Construir a Sustentabilidade Necessária” contou com a participação de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed; Edivaldo Bazilio, Diretor Executivo do Saúde Global; Helena Maria Romcy, Presidente da Associação Brasileira dos Enfermeiros Auditores; e Helaine Capucho, Diretora de Acesso da Interfarma.

Abordando desde o aumento de custos e a consequente pressão sobre as operadoras até o equilíbrio entre inovação e viabilidade financeira, o painel teve como propósito discutir os desafios econômicos e estruturais do ecossistema privado e apontar soluções para a sustentabilidade do setor. Os participantes reforçaram o papel dos diferentes atores da Saúde Suplementar na construção de estratégias integradas que beneficiem pacientes, empresas e profissionais.

Milva Pagano destacou que o uso da inovação deve estar diretamente alinhado à redução de gargalos e desperdícios, com foco em uma jornada de cuidados que coloque o paciente no centro.

“Tomando a Inteligência Artificial como exemplo, precisamos ter em mente que a IA é uma ferramenta e, como toda ferramenta, pode ser usada para o bem ou para o mal. Para que seu propósito seja positivo, ela deve ser direcionada para reduzir desperdícios e melhorar a jornada do paciente — nunca para excluir ou substituir o olhar humano”.

Ao falar sobre gargalos e desperdícios, Edivaldo Bazilio apresentou um panorama detalhado da Saúde Suplementar, hoje sob forte pressão econômica. Segundo o executivo, o sistema passou de 1.700 para cerca de 600 operadoras nos últimos 20 anos, enquanto as margens seguem mínimas ou negativas, especialmente em tratamentos oncológicos e de infusão.

A pressão se agrava com glosas médias de 15%, inadimplência e contratos defasados, que não acompanham a inflação médica, já corrigida 50% abaixo do ritmo de incorporação de novas tecnologias. Bazilio também destacou que o ciclo de depreciação de equipamentos caiu de 10–15 anos para apenas 2–3, dificultando o retorno sobre investimento.

“As margens da saúde hoje são margens de varejo. Para superar esses desafios, é preciso desromantizar o setor. A área da Saúde é um negócio com missão, mas que também precisa de equilíbrio econômico para sobreviver”, sintetizou.

Complementando o diagnóstico, Helena Maria Romcy defendeu que os modelos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) precisam ganhar dinamismo, acompanhando o ritmo das inovações.

“Por que não olhar o processo de ATS de avaliação de tecnologias? E por que não inovarmos em nossos processos? A inovação, sem uma abertura para que se aprenda a lidar com a tecnologia, passa a ser um problema — e deixamos de explorar seu potencial em exames, diagnósticos e na jornada do paciente como um todo”, provocou.

A discussão também abordou o papel dos profissionais e a qualidade do atendimento médico, questões diretamente afetadas pela fragmentação e pela pressão financeira do sistema.
Helaine Capucho, ao focar na gestão do cuidado e na formação médica, criticou a perda da essência humanista da profissão: “O que mais incomoda as pessoas não é esperar por um médico, é o médico não olhar para elas. A saúde não pode perder a essência do cuidado”.

Concordando com essa perspectiva, Milva Pagano destacou que a desvalorização profissional precariza a consulta médica, compromete a anamnese e afeta a qualidade do diagnóstico. Conforme ela pontuou: “Se o paciente não estiver realmente no centro, estamos todos no lugar errado. A inovação precisa ser acompanhada por empatia e responsabilidade. Os problemas aqui apontados são bem-vindos, porque eles nos tiram da zona de conforto”.

O debate deixou claro que sustentabilidade e humanização precisam caminhar juntas.
Para os participantes, o futuro da Saúde Suplementar depende de uma mudança de mentalidade que uma inovação tecnológica, equilíbrio econômico e valorização das pessoas.

Novas tecnologias vs. Acesso dos pacientes

Durante o evento, Milva Pagano também participou do painel . O debate foi moderado por Marlene Oliveira, fundadora e Presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, e contou com participação de Rodrigo Cruz, Diretor Executivo de policy da MSD Brasil, Artur Brito, Líder de Acesso Público da Novartis,
Humberto Izidoro, CEO da VARIAN América Latina e Anderson Fernandes, Gerente de Acesso ao Mercado da Strattner.

A Abramed reforça, com sua participação no Global Forum, o compromisso de promover debates francos e colaborativos sobre o futuro do setor, estimulando a integração entre os diferentes elos da cadeia, a governança de dados e a humanização do cuidado como bases de um sistema mais eficiente, inclusivo e sustentável.

No-show em exames: como boas práticas de gestão de agendamento ajudam a enfrentar esse desafio?

Taxa de ausência em laboratórios associados à Abramed cai para 13,5% em 2024 com processos estruturados e uso em escala de sistemas integrados.

O não comparecimento de pacientes aos exames — conhecido no setor de saúde como no-show — continua sendo um dos principais desafios para a eficiência da Medicina Diagnóstica. Cada ausência representa ociosidade de equipamentos, desperdício de insumos e aumento de custos, além de sobrecarregar agendas de técnicos, médicos e demais profissionais.

No contexto do sistema de saúde, o no-show compromete a agilidade dos resultados, atrasa diagnósticos e impacta negativamente a jornada de cuidado. Um estudo realizado na Grande São Paulo e divulgado pela Medicina S/A em 2024 apontou que clínicas privadas perdem, em média, R$ 144 mil por ano com o absenteísmo em agendamentos.

Esse cenário, no entanto, vem sendo transformado pelo avanço da tecnologia, pela adoção de processos estruturados de gestão e pela conscientização dos pacientes sobre a importância do comparecimento para a sustentabilidade do setor.

De acordo com a 7ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, a taxa média de no-show entre os laboratórios associados caiu de 15,3% em 2023 para 13,5% em 2024. O resultado reflete o engajamento crescente das instituições no monitoramento de indicadores de comparecimento, na adoção de práticas gerenciais eficientes e no fortalecimento da comunicação com os pacientes. 

A redução das ausências está diretamente relacionada à implementação de sistemas integrados de agendamento, que permitem redistribuir vagas em tempo hábil e otimizar a capacidade operacional. Segundo o Painel Abramed, 94,7% dos associados já utilizam sistemas que integram logística de agendamento, recepção e triagem — pilares essenciais para a eficiência em saúde. 

Essas plataformas, combinadas a lembretes digitais via SMS, e-mail, WhatsApp e aplicativos próprios, proporcionam uma comunicação mais próxima e personalizada. Além disso, a confirmação ativa de presença tem reduzido ausências não justificadas e aumentado a previsibilidade das agendas. Segundo Marcos Queiroz, Líder do Comitê de Diagnóstico por Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed, essas ações, principalmente em exames de alto custo como a Ressonância Magnética, podem fazer a diferença na viabilização do investimento em um novo equipamento. “Infelizmente ainda existe um aspecto cultural no nosso país que faz com que, mesmo com o uso de todas as ferramentas tecnológicas de confirmação, ainda tenhamos índices de no-show acima de 10%”, explica.

Outro avanço é o uso de algorítimos de análise de dados para acompanhar indicadores de comparecimento e satisfação. O Painel mostra que 89,5% dos associados já investem em soluções de Business Intelligence (BI), o que permite identificar padrões e aplicar ajustes rápidos — como priorizar pacientes com histórico de presença e facilitar reagendamentos.

Esse conjunto de práticas contribui para reduzir desperdícios e tornar o fluxo de atendimento mais ágil e sustentável para todo o setor.

Boas práticas e o papel institucional da Abramed

Além dos investimentos tecnológicos, o setor tem ampliado ações de educação dos pacientes, reforçando a importância de comparecer aos exames e avisar previamente sobre imprevistos.

Para a Abramed, o avanço observado é resultado da cooperação entre os associados e da disseminação de boas práticas. A entidade atua como articuladora de iniciativas de benchmarking, promovendo a troca de experiências e incentivando o uso da tecnologia como catalisadora de eficiência operacional, sempre aliada à gestão de pessoas.

Ao estimular o uso racional de recursos e a otimização de processos, a Abramed contribui para um modelo de saúde diagnóstica mais acessível, resolutivo e centrado na qualidade do atendimento aos pacientes.

Da reação à prevenção: como a Medicina Diagnóstica pode apoiar a fiscalização sanitária e proteger a saúde pública?

Por Carlos Ferreira, líder do Comitê de Análises Clínicas da Abramed.

Os recentes episódios de contaminação por metanol, que somaram dezenas de casos confirmados e mais de uma centena de notificações até meados de outubro, são um alerta inequívoco: o Brasil ainda opera sob uma lógica reativa na vigilância sanitária. Em vez de antecipar riscos, seguimos respondendo a crises depois que elas ganham proporções de tragédia. É um padrão que pode custar vidas, recursos e confiança pública.

A tese é simples, mas urgente: enquanto a prevenção não for tratada como um ativo estratégico e sustentada por dados diagnósticos de qualidade, o país continuará vulnerável a emergências que poderiam ter sido evitadas. E é justamente nesse ponto que a Medicina Diagnóstica se mostra um pilar insubstituível — não apenas como área de apoio clínico, mas como infraestrutura crítica de proteção coletiva.

Pouco se fala sobre a dimensão silenciosa do diagnóstico. Nos bastidores dos hospitais e laboratórios, milhares de análises diárias rastreiam diferentes testes clínicos diagnósticos, contaminantes, drogas terapêuticas, drogas de abuso, identificam agentes infecciosos e produzem resultados (dados) que orientam tanto decisões clínicas quanto epidemiológicas. Esses dados, quando integrados e interpretados com qualidade, são a linha de frente da prevenção de doenças e da vigilância sanitária moderna.

O desafio é que a eficácia dessa atuação raramente é visível. Quando um surto é evitado, não há manchete; quando uma contaminação é contida, não há reconhecimento. No entanto, é justamente essa prevenção invisível que evita uma nova tragédia. Estima-se que mais de 20 mil internações por ano poderiam ser evitadas com maior investimento em diagnóstico precoce e atenção primária — uma economia potencial de R$ 400 milhões anuais.

Ver a prevenção diagnóstica como despesa é um equívoco estrutural. Assim como a manutenção preventiva de um edifício garante sua segurança, a vigilância diagnóstica reduz riscos, desperdícios e custos assistenciais futuros. E principalmente garantem a segurança dos pacientes.

O Brasil detém as mais modernas metodologias diagnósticas disponíveis nos maiores centros internacionais — da PCR (Reação Cadeia Polimerase) tradicional e digital, ao Sequenciamento de Última Geração, chegando até na avaliação pela espectrometria de massa (MS).  Falta-nos, contudo, um ecossistema verdadeiramente integrado para que estes recursos possam ser utilizados de forma integrada.

Durante a pandemia de COVID-19, a contribuição do setor privado demonstrou o potencial de capilaridade e agilidade do país. Mas, sem interoperabilidade plena, sem padrões como o LOINC e sem uma Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) consolidada ainda. Os diferentes entes da cadeia, incluindo a Abramed, estão em contato permanente com os órgãos governamentais para que esta integração possa avançar.  Alguns casos de integração já puderam ser apresentados como, por exemplo, os testes de Covid no país. E outros testes estão em processo de integração. Contudo o fluxo de informação ainda continua muito fragmentado. E dados fragmentados são dados inertes.

A vigilância sanitária do futuro depende de dados comparáveis, rastreáveis e governados com qualidade regulatória. A recente RDC nº 978/2025, que atualiza as exigências laboratoriais, é um avanço real nesse sentido, reforçando o papel da regulação como política pública de prevenção. Cumpri-la não é apenas uma obrigação técnica; é um compromisso com a segurança do paciente e com a confiabilidade de todo o sistema.

O próximo salto exige migrar de ações corretivas para intensificação das ações preventivas. A medicina dos 4 Ps — Preventiva, Preditiva, Personalizada e Participativa — já orienta as melhores práticas. Três desses eixos passam diretamente pelo laboratório. A Inteligência Artificial (IA) e a big data já podem ampliar a capacidade de antecipar riscos, desde que a veracidade dos dados e a governança técnica estejam asseguradas. O poder dessas tecnologias só se concretiza quando a informação é confiável, ética e interoperável.

Se há uma lição nos episódios recentes de contaminação, é que reagir já não basta. A vigilância sanitária precisa se antecipar — e o diagnóstico é o instrumento mais propício para isso.

Transformar dados em prevenção é a chave para que o país possa se tornar mais seguro.

A Abramed e seus associados têm um papel decisivo nessa agenda: consolidar padrões, promover interoperabilidade e reafirmar que a qualidade diagnóstica é, antes de tudo, uma forma de governança em saúde pública.

Debate da Abramed reforça integração entre IA e atuação humana para o futuro da Medicina Diagnóstica 

Participantes discutiram a jornada de transformação digital da saúde, destacando o papel de uma agenda colaborativa para a preparação de profissionais e empresas

A Reunião Mensal de Associados (RMA) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) de setembro foi realizada na sede do CDB Inteligência Diagnóstica, empresa do Grupo Alliança Saúde, e contou com palestra de Augusto Antunes, Diretor Médico da Axial Inteligência Diagnóstica, e debate “IA na Saúde: estamos prontos para o futuro?”.

A abertura do encontro ficou a cargo de Ricardo Sartim, CEO da Alliança Saúde, e de Cesar Nomura e Milva Pagano, respectivamente Presidente do Conselho de Administração e Diretora Executiva da Abramed. O anfitrião destacou a importância da união entre os associados, da agenda colaborativa e o desejo de estarem mais próximos da entidade. 

Em seu discurso, Milva atualizou os participantes acerca do avanço de pautas centrais ligadas ao planejamento estratégico da Associação e destacou temas como treinamentos sobre a RDC Anvisa 978/25 e a participação da Abramed no Conselho Consultivo do Movimento Empresarial pela Saúde (MeS), criado pela CNI e SESI, por meio de uma contribuição técnica para o uso adequado de exames clínicos. 

Nomura, por sua vez, enfatizou que “levar as reuniões mensais nos associados são uma ação estratégica de integração e valorização do ambiente da Medicina Diagnóstica”.

A palestra “Inteligência Artificial: inovações e impactos na Medicina Diagnóstica”, conduzida pelo Dr. Augusto Antunes, abordou o avanço da IA na radiologia e seu impacto na prática médica. Durante a apresentação, ele fez uma afirmação clara: “Só conseguiremos ser melhores médicos se incorporarmos novas tecnologias na prática clínica.”

O Diretor da Axial detalhou também a importância da radiologia para o desenvolvimento tecnológico da medicina, apontando que quase 50% das soluções médicas em desenvolvimento são voltadas a este segmento, um reflexo do protagonismo da área na inovação e digitalização da saúde. 

No entanto, Antunes ponderou que a maioria dos softwares atuais atua apenas no auxílio à detecção de lesões, enquanto o laudo é, na verdade, o produto central da prática radiológica. Ele questionou se essa abordagem faz sentido, visto que já existem tecnologias capazes de produzir laudos de forma automatizada, contribuindo para uma maior agilidade clínica e apoio à tomada de decisões de médicos.

Dentro do processo de digitalização e diante da demanda de exames, o médico apontou outro desafio:  a falta de profissionais. Cerca de 54% dos radiologistas relatam sintomas de burnout emocional exacerbado pelo fato de que, na medicina, você não pode errar. “Não adianta produzirmos 200 laudos por dia se, em uma falha, podemos impactar negativamente toda a cadeia de tratamento de um paciente”, pontuou.

Por isso, o palestrante defendeu que a tecnologia deve ser integrada ao cotidiano desses profissionais, que seguirão responsáveis pela palavra final, para otimizar o fluxo de trabalho, reduzir o período gasto em atividades burocráticas e aumentar o tempo dedicado à análise de imagens e produção do laudo.

No debate que se seguiu, moderado por Cesar Nomura, Adriana Costa, Diretora da Siemens Healthineers Brasil, Anaterra Oliveira, CIO da Dasa, e Ricardo Sartim convergiram sobre a necessidade de engajamento para uma agenda colaborativa no ecossistema de Medicina Diagnóstica e a importância da adoção da tecnologia com critérios bem estabelecidos para alcançar a eficiência clínica e benefícios reais para pacientes e operações de saúde. 

Adriana Costa lembrou que soluções de IA acompanham a ressonância magnética há décadas, mas que o salto atual ocorre quando se integram dados clínicos e laudos a plataformas que otimizem a jornada do paciente. “A inteligência artificial está incorporada à ressonância há mais de 30 anos, mas o grande salto agora é integrar dados e otimizar toda a jornada do paciente, por meio da interoperabilidade”, disse a Diretora da Siemens Healthineers Brasil. 

Já Anaterra trouxe a perspectiva da Dasa sobre a cultura de dados e o investimento em inovação. Para a executiva, enquanto as indústrias de tecnologia investem cerca de 30% da receita em P&D, o setor de saúde destina percentuais muito menores. “Por isso, não dá para evoluirmos sozinhos. Precisamos compartilhar dados e trabalhar em modelos colaborativos”. Ela também enfatizou que a IA é um meio para aprimorar o trabalho, não para substituir pessoas: “A Inteligência Artificial não veio para atuar no lugar do médico, mas para tornar o trabalho clínico mais eficaz e preciso”, apontou.

Ricardo Sartim encerrou o debate complementando essa perspectiva e defendeu o equilíbrio entre a tecnologia e o propósito de cuidar. Ele destacou que o fator humano e a empatia devem ser preservados: “Investir em treinamentos e processos é, sim, mais custoso do que comprar tecnologia, mas é o que garante valor real para o cuidado”. Para ele, a inovação só faz sentido se mantiver o olhar humano no centro da jornada do paciente.

Alta inesperada de Influenza em setembro acende alerta para reforço da prevenção

Crescimento de casos reforçam a importância da vacinação, testagem precoce e vigilância integrada

Tradicionalmente associada ao outono e ao inverno, a gripe voltou a registrar aumento significativo de casos em setembro. Dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que reúne associados responsáveis por mais de 85% dos exames realizados na Saúde Suplementar, mostram que a positividade para Influenza alcançou o maior patamar desde junho, revertendo a tendência de baixa observada no meio do ano. A média móvel de cinco semanas confirma essa retomada de alta.

A Covid-19 também segue em patamares preocupantes. Após atingir pico na semana epidemiológica 35 (24 a 30 de agosto), a positividade recuou levemente, mas permanece elevada — os maiores índices desde março. A média móvel sinaliza que a circulação do vírus continua intensa, reforçando a necessidade de manter estratégias de monitoramento e contenção.

O comportamento dos vírus respiratórios neste período fora de época reforça a importância de ampliar a cobertura vacinal e estimular a testagem precoce, sobretudo entre os grupos prioritários, como idosos, gestantes, crianças e pessoas com comorbidades.

Já no caso da Dengue, o cenário é distinto: os índices permanecem estáveis nas últimas semanas, com positividade entre 13% e 17% — os menores do ano. Ainda assim, o acompanhamento laboratorial segue fundamental, já que a proximidade do período mais quente e chuvoso tende a favorecer a proliferação do mosquito transmissor e pode modificar rapidamente o quadro epidemiológico.

Monitoramento integrado e dados estratégicos

Os dados analisados pela Abramed são extraídos da plataforma METRICARE, desenvolvida em parceria com a Controllab, e refletem o compromisso da entidade com o monitoramento contínuo e qualificado de indicadores de saúde. A ferramenta permite acompanhar, em tempo real, o comportamento de diversos agentes infecciosos e apoiar ações públicas e privadas de enfrentamento às epidemias sazonais.

Importante destacar que os exames realizados pelas associadas da Abramed alimentam diretamente a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo com o sistema de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde. Essa articulação é fundamental para compreender a evolução das doenças respiratórias no país e embasar políticas públicas que protejam a população.ntos e desdobramentos da proposta, que busca consolidar o diagnóstico laboratorial como pilar estruturante da atenção à saúde no país.

Painel no CBPCML 25 debate a Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL) e os impactos para o setor de saúde

Evento destaca protagonismo do diagnóstico e mobilização inédita de entidades em torno da proposta de política pública.

Durante o primeiro dia do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica Medicina Laboratorial (CBPCML), realizado no Rio de Janeiro, entre 16 e 19 de setembro, foi promovido o painel “Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL): O que é e quais os impactos para a Medicina Diagnóstica”. A atividade reuniu representantes de conselhos profissionais, sociedades científicas, associações para discutir os objetivos, fundamentos e desdobramentos da proposta, que busca consolidar o diagnóstico laboratorial como pilar estruturante da atenção à saúde no país.

O painel, moderado por Wilson Shcolnik, Diretor de Relações Institucionais da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), contou com a participação de Carlos Felipe Garcia, Presidente da Federação Brasileira de Laboratórios de Análises Clínicas (FEBRALAC); Fúlvio Facco, Presidente da Câmara Brasileira de Diagnóstico laboratorial (CBDL);  Lenira da Silva Costa, Vice-Presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF); Marco Antonio Zonta, Conselheiro no Conselho Federal de Biomedicina (CFBM); Maria Elizabeth Menezes, Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC); e Milva Pagano, Diretora-Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Abrindo as apresentações, a presidente da SBAC contextualizou o que é a Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial, o surgimento da proposta e ressaltou que a iniciativa parte do reconhecimento da importância estratégica dos exames laboratoriais em toda a jornada do cuidado. Ela explicou que a PNDL é uma proposta de política de Estado, e não apenas de governo, e que sua construção leva em conta dispositivos já previstos na Lei 8.080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

“A política propõe a integração dos serviços laboratoriais — como análises clínicas e toxicológicas — aos diferentes níveis de atenção, desde a atenção primária até os cuidados de alta complexidade, garantindo qualidade, acesso e segurança assistencial”, afirmou Maria Elizabeth.

Ainda segundo ela, mais de 95% dos exames realizados pelo SUS são executados por prestadores da rede complementar, o que reforça o papel essencial dos laboratórios privados no sistema de saúde pública. “O laboratório não entrega apenas um papel. Ele entrega saúde. É preciso compreender o laudo como parte de um processo complexo, que sustenta decisões clínicas e impacta diretamente a vida do paciente”, completou.

Na sequência, Lenira da Silva Costa, trouxe à discussão a perspectiva do setor público. Ela destacou que a PNDL pode ser uma ferramenta importante para fortalecer laboratórios locais, ampliar a capilaridade do SUS, melhorar indicadores de saúde pública e reduzir desigualdades regionais. “Ao garantir acesso qualificado e equitativo aos exames laboratoriais, inclusive em regiões remotas, conseguimos antecipar diagnósticos, evitar hospitalizações desnecessárias e apoiar a vigilância em saúde com mais eficiência”, explicou.

Do ponto de vista da indústria, Fúlvio Facco, ressaltou o impacto positivo da proposta para a sustentabilidade e a inovação no setor. Segundo ele, a criação de uma política nacional pode oferecer previsibilidade, segurança regulatória e equilíbrio concorrencial. “A PNDL representa um passo essencial para reduzir os riscos inerentes ao processo de inovação. É o pontapé que faltava para estruturar o mercado de forma mais sólida”, declarou.

Representando as empresas de Medicina Diagnóstica, Milva Pagano reforçou a ideia de que o diagnóstico não pode ser encarado apenas como uma etapa do tratamento da doença, mas como parte integrante da jornada de vida da pessoa.

“O diagnóstico acompanha o indivíduo desde a concepção até o fim da vida. Por isso, não podemos mais aceitar sermos invisíveis. Somos um pilar fundamental da saúde”, afirmou. Ela também fez um alerta sobre a fragmentação do setor e defendeu que a política traga uma atuação mais integrada entre os setores público e privado. “A PNDL não é uma solução mágica, mas pode ser um dos passos para uma maior integração, que poderá ser potencializada com a interoperabilidade que também reduzirá desperdícios, corrigindo ineficiências, com mais qualidade e segurança para o paciente”, completou.

Marco Antonio Zonta foi direto ao resumir o papel do diagnóstico: “Tudo começa e termina no laboratório”. Já Carlos Felipe Garcia, destacou o ambiente de colaboração que se formou em torno da PNDL e o impacto direto da proposta sobre os laboratórios de pequeno e médio porte. “Talvez nunca tenhamos visto tanta união entre as entidades do setor como agora. A política nasce desse esforço conjunto e representa uma oportunidade concreta de avançar”, afirmou.

Ele também apontou os desafios enfrentados por laboratórios que prestam serviços ao SUS, como a necessidade de maior organização, previsibilidade e valorização. “A PNDL pode ser um passo importante para promover mais equilíbrio, sustentabilidade e reconhecimento para esses prestadores, que são fundamentais para o funcionamento do sistema.”

Ao final do painel, Wilson Shcolnik reforçou o apoio da SBPC/ML à iniciativa e destacou o momento histórico vivido pelo setor. “Estamos diante de uma oportunidade real de reposicionar o diagnóstico como eixo estruturante da saúde no Brasil. Acreditamos na PNDL e esperamos em breve poder comemorar sua efetiva implementação como política pública.”

Inteligência Artificial e Radiologia no Brasil: no CBR25, especialistas apontam caminhos para equilibrar inovação, sustentabilidade e regulação no setor

Equilíbrio entre tecnologia, regulação e sustentabilidade marca debate sobre os rumos da Inteligência Artificial na radiologia brasileira

A aplicação da Inteligência Artificial (IA) no campo radiológico e no setor de Medicina Diagnóstica esteve no centro de um importante debate realizado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) no 4º Simpósio de Qualidade e Gestão de Clínicas, que ocorreu durante o CBR25 (Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem), em Curitiba, no último dia 19 de setembro. O painel reuniu representantes da indústria, gestores e lideranças médicas para analisar oportunidades, riscos e o futuro do radiodiagnóstico frente às inovações tecnológicas que estão transformando o contexto clínico e o ambiente de saúde brasileiro e global.

Com abertura e boas-vindas de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, o Painel contou com a participação de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed; Cesar Higa Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e Presidente do Conselho de Administração da Abramed; João Paulo Souza, General Manager da GE HealthCare Brasil; e  Marcos Queiroz, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein e Membro do Conselho de Administração da Abramed.

Milva Pagano destacou os propósitos da Abramed e a importância da parceria histórica do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, reforçando também alguns dos temas centrais do painel. Segundo ela, a evolução do setor diagnóstico como um todo depende do tripé confiança, segurança e sustentabilidade.

“Os debates em nosso segmento sempre circundam a necessidade da ampliação do acesso à Saúde para a população. Esse ponto é fundamental, mas não dá para discutir acesso sem falar em qualidade e segurança. A missão da Abramed, nesse sentido, é conectar nossos associados para impulsionar práticas que promovam confiança, sustentabilidade e inovação, sempre olhando para a jornada do paciente”, afirmou.

Milva também lembrou a importância da cooperação setorial para o fortalecimento do segmento diagnóstico: mesmo empresas concorrentes no mercado unem esforços dentro da Abramed para fortalecer a qualificação de todo o ecossistema.

A Inteligência Artificial e a Radiologia no Brasil: cenário e tendências

Representando a indústria, João Paulo Souza, da GE HealthCare Brasil, ressaltou o crescimento exponencial da IA aplicada à radiologia: “Em 2024, havia cerca de 900 dispositivos com infraestrutura de IA aprovados pelo FDA (Federal Drug Administration), dos quais quase 700 voltados para a radiologia. É uma aceleração de investimentos enorme em todo o mundo, em um espaço de tempo muito curto”.

Segundo ele, o verdadeiro desafio hoje para a consolidação da IA na Medicina Diagnóstica não é gerar dados, mas estruturá-los e contextualizá-los para que tragam valor real ao paciente – ponto que dialoga de modo direto com os esforços da Abramed em prol da interoperabilidade informacional na Saúde. Nesse processo, Souza frisou que o letramento digital é fundamental para reduzir frustrações e acelerar a adoção consciente da tecnologia.

O executivo destacou ainda a estratégia da GE de desenvolver soluções locais, citando como exemplo um software de embolização prostática criado no Brasil em parceria com a FMUSP e hoje reconhecido mundialmente. “Não adianta tentarmos trazer soluções que são desenvolvidas para o exterior sem as devidas formatações para o mercado brasileiro. Esse entendimento de nosso contexto de saúde é indispensável e ajuda as companhias a investir de maneira mais assertiva. Temos de adotar tecnologias de modo inteligente, considerando a nossa realidade local”, pontuou.

Essa ênfase na adaptação ao contexto nacional conecta-se diretamente à percepção de que a radiologia, por suas características técnicas e estruturais, é um terreno naturalmente fértil para a incorporação de inovações.

Em sua exposição, Ademar Paes Jr. listou fatores que tornam o segmento de imagem um campo propício ao desenvolvimento de soluções baseadas em IA: uso de padrões interoperáveis (como o DICOM), maturidade dos algoritmos de imagem, ambiente intensivo em capital e volume crescente de publicações científicas.

“O mito da garagem é bacana, mas o que constrói grandes empresas são publicações científicas, áreas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e investimentos consistentes que impulsionam ecossistemas de inovação maduro. A radiologia tem um grande papel nesse universo por ser uma via agregadora que conecta hospitais, ambulatórios e pacientes. Ou seja: estamos falando de um terreno fértil para a IA e outras inovações”, explicou.

Para o sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed, a atual revolução do setor não está mais no hardware, mas no software. “Nós vivemos revoluções com o raio X, a ultrassonografia, a tomografia, a ressonância magnética e o PET-CT. Agora, a revolução da nossa geração é o software. A IA será o motor que vai permitir levar a radiologia para populações que hoje ainda não têm acesso. Seu potencial, nesse sentido, é desenvolvimento civilizatório”, completou.

Já Cesar Nomura, alertou para os impactos do marco regulatório da IA, atualmente em discussão no Congresso Nacional. Para ele, é fundamental que o setor de saúde participe ativamente desse debate para garantir que a legislação não limite inovações.
 “A radiologia é a área que mais incorporou IA no mundo. Temos que ser protagonistas para discutir esse tema no âmbito regulatório, pois, dependendo de como o marco for aprovado, ele pode se tornar um limitador para a incorporação de novas tecnologias. A legislação precisa acompanhar as mudanças e a Abramed tem participado ativamente dessas discussões”, afirmou.

Nomura também chamou atenção para a lacuna de formação técnica em ciência de dados aplicada à saúde no Brasil: “Se eu pudesse investir em algo hoje, investiria em formar técnicos em ciência de dados em saúde. Esse é o elo que falta para transformar a IA em prática clínica segura e eficiente”.

Convergências e futuro

Ao longo da discussão, os painelistas convergiram em alguns pontos centrais. Segundo eles, a adoção de IA precisa equilibrar benefícios clínicos, eficiência operacional e sustentabilidade financeira. Para tanto, a interoperabilidade de dados é pré-condição para que os algoritmos entreguem resultados efetivos.

Do ponto de vista regulatório, o marco de IA deve ser construído com participação ativa do setor de Medicina Diagnóstica, garantindo segurança na aplicação, mas sem a criação de barreiras para a tecnologia. E, em todo esse contexto, a formação profissional é decisiva para que a tecnologia seja incorporada de maneira ética e responsável.

O debate reforçou a percepção de que a Inteligência Artificial já é uma realidade incontornável para o segmento radiológico, mas que seu potencial só será plenamente alcançado com planejamento estratégico, capacitação profissional e regulação adequada. Entre expectativas e desafios, os painelistas concordaram, por fim, que a IA será uma aliada essencial para ampliar acesso, qualidade e sustentabilidade na radiologia brasileira.

A nova fronteira dos exames: da confirmação à predição

De ferramenta confirmatória a instrumento de antecipação, testes laboratoriais podem ter impacto direto na sobrevida, na sustentabilidade do sistema de saúde e no avanço da medicina personalizada.

Os exames laboratoriais têm assumido um papel que vai além da confirmação de diagnósticos. Da predição de riscos ao suporte na definição de tratamentos, passando pela consolidação dos modelos de medicina personalizada, os testes clínicos vêm se tornando estratégicos na jornada de cuidados – sobretudo na dimensão preventiva.

Como explica o patologista clínico e líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed, Dr. Alex Galoro, esse movimento integra um processo histórico na gestão da Saúde no Brasil.
 “Embora sejam reconhecidos principalmente como diagnósticos, alguns exames já são usados há muito tempo para rastreio, estratificação de risco, seleção de tratamento e monitoramento”, aponta.

Entre os exemplos mais conhecidos estão os testes de triagem neonatal (o teste do pezinho), as dosagens de colesterol e triglicérides para avaliação de risco cardiovascular, os antibiogramas para orientar a escolha de antibióticos, além da hemoglobina glicada e de testes para monitoramento de drogas terapêuticas.

Com o avanço das metodologias laboratoriais, o exame deixa de ser apenas confirmatório e se torna ferramenta de medicina preditiva. Esse movimento é impulsionado pelo maior conhecimento sobre biomarcadores – indicadores de estados fisiológicos – e pela redução de custos dos testes genéticos, que ampliaram a investigação clínica e a própria Medicina Diagnóstica.

Esse avanço traz impactos diretos em doenças complexas como o câncer, um dos maiores desafios globais de Saúde. Segundo a OMS, até 2050 o mundo poderá registrar 35 milhões de novos casos. Nesse cenário, a predição é fundamental para aumentar a sobrevida.

“A detecção precoce, com testes que permitem identificar o câncer ainda em estágio inicial, aumenta significativamente as taxas de sobrevida. Nos tipos mais comuns, como próstata e mama, a sobrevida em 5 anos chega a 99% quando detectados precocemente, mas cai para 31% e 29%, respectivamente, nos casos de metástase à distância”, destaca Galoro.

Além do ganho clínico, há benefícios econômicos: estudos mostram que o fortalecimento da atenção primária pode reduzir em cerca de 5% as internações e gerar economia aproximada de R$ 400 milhões ao sistema de saúde brasileiro.

Novas fronteiras e responsabilidades

Esse novo olhar abre espaço para conceitos como a medicina de precisão, que se apoia em informações mais assertivas para triagem, diagnóstico e tratamento. Também cresce o interesse pela análise de microbioma, baseada na hipótese de que os microrganismos do intestino influenciam a digestão, a absorção de nutrientes, o metabolismo, a imunidade e até a saúde mental – por meio do eixo cérebro-intestinal e da liberação de neurotransmissores relacionados ao humor.

Outro campo em expansão é o estudo de perfis e marcadores genéticos. Como ressalta Galoro, os avanços da biologia molecular “oferecem uma visão detalhada dos diferentes processos metabólicos e fisiológicos do organismo humano”.

A promessa da predição, no entanto, deve caminhar com responsabilidade clínica, evidências robustas e ética.
 “Exames nunca são perfeitos. Sempre podem gerar resultados falso-positivos ou falso-negativos, por isso não podem ser interpretados isoladamente. A má interpretação pode levar a diagnósticos incorretos, riscos aos pacientes e aumento de custos no sistema de saúde”, alerta o especialista.

No campo regulatório, Galoro lembra que as normas e marcos legais são fundamentais para garantir segurança e ética, mas ainda apresentam limitações e podem ser burlados – o que reforça a necessidade de monitoramento constante e validação rigorosa.

Outro desafio é garantir equidade em países desiguais como o Brasil. “O equilíbrio entre acesso, custo e equidade depende não apenas do preço dos exames, mas também do financiamento adequado, tanto no sistema público quanto no privado. Embora a equidade plena seja difícil de alcançar, ampliar o acesso passa necessariamente pela redução dos custos das metodologias e pelo fortalecimento do financiamento da Saúde”, explica.

“Para utilizar os exames de forma segura e responsável, é essencial investir em estudos bem estruturados que tragam evidências científicas sobre o desempenho de cada teste. Só assim será possível integrar a inovação sem abrir mão da ética e da segurança”, conclui o líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

NR-1 e riscos psicossociais: por que a Saúde precisa assumir o protagonismo?

Por Lucilene Costa, Líder do Comitê de Recursos Humanos da Abramed

A recente atualização da NR-1, que incluiu a obrigatoriedade de mapear riscos psicossociais nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR), trouxe para o setor de saúde uma responsabilidade que vai além do cumprimento regulatório. Estamos falando de fatores do ambiente de trabalho que afetam diretamente a saúde mental, como excesso de jornada, sobrecarga emocional e pressão constante. E, no caso dos hospitais, laboratórios e serviços de diagnóstico — ambientes naturalmente intensos —, não podemos ser coadjuvantes na construção das soluções que vão definir como essa norma será aplicada.

O prazo de adequação, inicialmente previsto para junho deste ano, foi prorrogado para 2026. Mas, como costumo dizer, esse é apenas um “respiro curto”, reflexo de um cenário confuso, marcado por informações desencontradas, disputas de interpretação e ofertas precipitadas de soluções.

Esse tempo extra é, na verdade, um chamado à ação e deve ser visto pelo que realmente é: uma oportunidade para organizar dados, estruturar processos e apresentar evidências que retratem a realidade do setor.

Ao contrário de outras áreas, lidamos diariamente com jornadas intensas, contato com sofrimento humano e decisões críticas em tempo real. Sabemos na prática o que significa risco psicossocial. Temos, portanto, legitimidade — e também dever — de assumir o protagonismo e conduzir esse debate.

As consequências da omissão são conhecidas e custosas. Estão nos indicadores previdenciários (FAP e RAT), em potenciais ações regressivas do INSS, em passivos trabalhistas. Traduzindo: milhões de reais em custos adicionais para empresas que já vivem sob pressão. E, sobretudo, estão no bem-estar dos profissionais — porque equipes fragilizadas e absenteísmo crescente comprometem, no fim das contas, a segurança do paciente.

É por isso que a NR-1 não deve ser vista como burocracia. Mapear riscos psicossociais com consistência técnica, envolver equipes multidisciplinares e propor caminhos são passos indispensáveis para mostrar que a saúde não só cumpre normas, mas contribui para aperfeiçoá-las.

Na Abramed, já estamos nesse caminho: promovendo treinamentos, articulando com parceiros e levando ao Ministério do Trabalho as particularidades do setor. Mas nenhuma entidade consegue sozinha. É hora de cada instituição colocar o tema no topo da agenda.

Porque, quando o assunto é saúde, não há setor mais preparado para liderar essa discussão. Esse protagonismo não é apenas sobre cumprir uma exigência legal: é sobre garantir sustentabilidade e qualidade na assistência que o Brasil precisa.