Alta inesperada de Influenza em setembro acende alerta para reforço da prevenção

Crescimento de casos reforçam a importância da vacinação, testagem precoce e vigilância integrada

Tradicionalmente associada ao outono e ao inverno, a gripe voltou a registrar aumento significativo de casos em setembro. Dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), que reúne associados responsáveis por mais de 85% dos exames realizados na Saúde Suplementar, mostram que a positividade para Influenza alcançou o maior patamar desde junho, revertendo a tendência de baixa observada no meio do ano. A média móvel de cinco semanas confirma essa retomada de alta.

A Covid-19 também segue em patamares preocupantes. Após atingir pico na semana epidemiológica 35 (24 a 30 de agosto), a positividade recuou levemente, mas permanece elevada — os maiores índices desde março. A média móvel sinaliza que a circulação do vírus continua intensa, reforçando a necessidade de manter estratégias de monitoramento e contenção.

O comportamento dos vírus respiratórios neste período fora de época reforça a importância de ampliar a cobertura vacinal e estimular a testagem precoce, sobretudo entre os grupos prioritários, como idosos, gestantes, crianças e pessoas com comorbidades.

Já no caso da Dengue, o cenário é distinto: os índices permanecem estáveis nas últimas semanas, com positividade entre 13% e 17% — os menores do ano. Ainda assim, o acompanhamento laboratorial segue fundamental, já que a proximidade do período mais quente e chuvoso tende a favorecer a proliferação do mosquito transmissor e pode modificar rapidamente o quadro epidemiológico.

Monitoramento integrado e dados estratégicos

Os dados analisados pela Abramed são extraídos da plataforma METRICARE, desenvolvida em parceria com a Controllab, e refletem o compromisso da entidade com o monitoramento contínuo e qualificado de indicadores de saúde. A ferramenta permite acompanhar, em tempo real, o comportamento de diversos agentes infecciosos e apoiar ações públicas e privadas de enfrentamento às epidemias sazonais.

Importante destacar que os exames realizados pelas associadas da Abramed alimentam diretamente a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS/DATASUS), contribuindo com o sistema de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde. Essa articulação é fundamental para compreender a evolução das doenças respiratórias no país e embasar políticas públicas que protejam a população.ntos e desdobramentos da proposta, que busca consolidar o diagnóstico laboratorial como pilar estruturante da atenção à saúde no país.

Painel no CBPCML 25 debate a Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL) e os impactos para o setor de saúde

Evento destaca protagonismo do diagnóstico e mobilização inédita de entidades em torno da proposta de política pública.

Durante o primeiro dia do 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica Medicina Laboratorial (CBPCML), realizado no Rio de Janeiro, entre 16 e 19 de setembro, foi promovido o painel “Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL): O que é e quais os impactos para a Medicina Diagnóstica”. A atividade reuniu representantes de conselhos profissionais, sociedades científicas, associações para discutir os objetivos, fundamentos e desdobramentos da proposta, que busca consolidar o diagnóstico laboratorial como pilar estruturante da atenção à saúde no país.

O painel, moderado por Wilson Shcolnik, Diretor de Relações Institucionais da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), contou com a participação de Carlos Felipe Garcia, Presidente da Federação Brasileira de Laboratórios de Análises Clínicas (FEBRALAC); Fúlvio Facco, Presidente da Câmara Brasileira de Diagnóstico laboratorial (CBDL);  Lenira da Silva Costa, Vice-Presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF); Marco Antonio Zonta, Conselheiro no Conselho Federal de Biomedicina (CFBM); Maria Elizabeth Lopes, Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC); e Milva Pagano, Diretora-Executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

Abrindo as apresentações, a presidente da SBAC contextualizou o que é a Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial, o surgimento da proposta e ressaltou que a iniciativa parte do reconhecimento da importância estratégica dos exames laboratoriais em toda a jornada do cuidado. Ela explicou que a PNDL é uma proposta de política de Estado, e não apenas de governo, e que sua construção leva em conta dispositivos já previstos na Lei 8.080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

“A política propõe a integração dos serviços laboratoriais — como análises clínicas e toxicológicas — aos diferentes níveis de atenção, desde a atenção primária até os cuidados de alta complexidade, garantindo qualidade, acesso e segurança assistencial”, afirmou Maria Elizabeth.

Ainda segundo ela, mais de 95% dos exames realizados pelo SUS são executados por prestadores da rede complementar, o que reforça o papel essencial dos laboratórios privados no sistema de saúde pública. “O laboratório não entrega apenas um papel. Ele entrega saúde. É preciso compreender o laudo como parte de um processo complexo, que sustenta decisões clínicas e impacta diretamente a vida do paciente”, completou.

Na sequência, Lenira da Silva Costa, trouxe à discussão a perspectiva do setor público. Ela destacou que a PNDL pode ser uma ferramenta importante para fortalecer laboratórios locais, ampliar a capilaridade do SUS, melhorar indicadores de saúde pública e reduzir desigualdades regionais. “Ao garantir acesso qualificado e equitativo aos exames laboratoriais, inclusive em regiões remotas, conseguimos antecipar diagnósticos, evitar hospitalizações desnecessárias e apoiar a vigilância em saúde com mais eficiência”, explicou.

Do ponto de vista da indústria, Fúlvio Facco, ressaltou o impacto positivo da proposta para a sustentabilidade e a inovação no setor. Segundo ele, a criação de uma política nacional pode oferecer previsibilidade, segurança regulatória e equilíbrio concorrencial. “A PNDL representa um passo essencial para reduzir os riscos inerentes ao processo de inovação. É o pontapé que faltava para estruturar o mercado de forma mais sólida”, declarou.

Representando as empresas de Medicina Diagnóstica, Milva Pagano reforçou a ideia de que o diagnóstico não pode ser encarado apenas como uma etapa do tratamento da doença, mas como parte integrante da jornada de vida da pessoa.

“O diagnóstico acompanha o indivíduo desde a concepção até o fim da vida. Por isso, não podemos mais aceitar sermos invisíveis. Somos um pilar fundamental da saúde”, afirmou. Ela também fez um alerta sobre a fragmentação do setor e defendeu que a política traga uma atuação mais integrada entre os setores público e privado. “A PNDL não é uma solução mágica, mas pode ser um dos passos para uma maior integração, que poderá ser potencializada com a interoperabilidade que também reduzirá desperdícios, corrigindo ineficiências, com mais qualidade e segurança para o paciente”, completou.

Marco Antonio Zonta foi direto ao resumir o papel do diagnóstico: “Tudo começa e termina no laboratório”. Já Carlos Felipe Garcia, destacou o ambiente de colaboração que se formou em torno da PNDL e o impacto direto da proposta sobre os laboratórios de pequeno e médio porte. “Talvez nunca tenhamos visto tanta união entre as entidades do setor como agora. A política nasce desse esforço conjunto e representa uma oportunidade concreta de avançar”, afirmou.

Ele também apontou os desafios enfrentados por laboratórios que prestam serviços ao SUS, como a necessidade de maior organização, previsibilidade e valorização. “A PNDL pode ser um passo importante para promover mais equilíbrio, sustentabilidade e reconhecimento para esses prestadores, que são fundamentais para o funcionamento do sistema.”

Ao final do painel, Wilson Shcolnik reforçou o apoio da SBPC/ML à iniciativa e destacou o momento histórico vivido pelo setor. “Estamos diante de uma oportunidade real de reposicionar o diagnóstico como eixo estruturante da saúde no Brasil. Acreditamos na PNDL e esperamos em breve poder comemorar sua efetiva implementação como política pública.”

Inteligência Artificial e Radiologia no Brasil: no CBR25, especialistas apontam caminhos para equilibrar inovação, sustentabilidade e regulação no setor

Equilíbrio entre tecnologia, regulação e sustentabilidade marca debate sobre os rumos da Inteligência Artificial na radiologia brasileira

A aplicação da Inteligência Artificial (IA) no campo radiológico e no setor de Medicina Diagnóstica esteve no centro de um importante debate realizado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) no 4º Simpósio de Qualidade e Gestão de Clínicas, que ocorreu durante o CBR25 (Congresso Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem), em Curitiba, no último dia 19 de setembro. O painel reuniu representantes da indústria, gestores e lideranças médicas para analisar oportunidades, riscos e o futuro do radiodiagnóstico frente às inovações tecnológicas que estão transformando o contexto clínico e o ambiente de saúde brasileiro e global.

Com abertura e boas-vindas de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, o Painel contou com a participação de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed; Cesar Higa Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês e Presidente do Conselho de Administração da Abramed; João Paulo Souza, General Manager da GE HealthCare Brasil; e  Marcos Queiroz, Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Israelita Albert Einstein e Membro do Conselho de Administração da Abramed.

Milva Pagano destacou os propósitos da Abramed e a importância da parceria histórica do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, reforçando também alguns dos temas centrais do painel. Segundo ela, a evolução do setor diagnóstico como um todo depende do tripé confiança, segurança e sustentabilidade.

“Os debates em nosso segmento sempre circundam a necessidade da ampliação do acesso à Saúde para a população. Esse ponto é fundamental, mas não dá para discutir acesso sem falar em qualidade e segurança. A missão da Abramed, nesse sentido, é conectar nossos associados para impulsionar práticas que promovam confiança, sustentabilidade e inovação, sempre olhando para a jornada do paciente”, afirmou.

Milva também lembrou a importância da cooperação setorial para o fortalecimento do segmento diagnóstico: mesmo empresas concorrentes no mercado unem esforços dentro da Abramed para fortalecer a qualificação de todo o ecossistema.

A Inteligência Artificial e a Radiologia no Brasil: cenário e tendências

Representando a indústria, João Paulo Souza, da GE HealthCare Brasil, ressaltou o crescimento exponencial da IA aplicada à radiologia: “Em 2024, havia cerca de 900 dispositivos com infraestrutura de IA aprovados pelo FDA (Federal Drug Administration), dos quais quase 700 voltados para a radiologia. É uma aceleração de investimentos enorme em todo o mundo, em um espaço de tempo muito curto”.

Segundo ele, o verdadeiro desafio hoje para a consolidação da IA na Medicina Diagnóstica não é gerar dados, mas estruturá-los e contextualizá-los para que tragam valor real ao paciente – ponto que dialoga de modo direto com os esforços da Abramed em prol da interoperabilidade informacional na Saúde. Nesse processo, Souza frisou que o letramento digital é fundamental para reduzir frustrações e acelerar a adoção consciente da tecnologia.

O executivo destacou ainda a estratégia da GE de desenvolver soluções locais, citando como exemplo um software de embolização prostática criado no Brasil em parceria com a FMUSP e hoje reconhecido mundialmente. “Não adianta tentarmos trazer soluções que são desenvolvidas para o exterior sem as devidas formatações para o mercado brasileiro. Esse entendimento de nosso contexto de saúde é indispensável e ajuda as companhias a investir de maneira mais assertiva. Temos de adotar tecnologias de modo inteligente, considerando a nossa realidade local”, pontuou.

Essa ênfase na adaptação ao contexto nacional conecta-se diretamente à percepção de que a radiologia, por suas características técnicas e estruturais, é um terreno naturalmente fértil para a incorporação de inovações.

Em sua exposição, Ademar Paes Jr. listou fatores que tornam o segmento de imagem um campo propício ao desenvolvimento de soluções baseadas em IA: uso de padrões interoperáveis (como o DICOM), maturidade dos algoritmos de imagem, ambiente intensivo em capital e volume crescente de publicações científicas.

“O mito da garagem é bacana, mas o que constrói grandes empresas são publicações científicas, áreas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e investimentos consistentes que impulsionam ecossistemas de inovação maduro. A radiologia tem um grande papel nesse universo por ser uma via agregadora que conecta hospitais, ambulatórios e pacientes. Ou seja: estamos falando de um terreno fértil para a IA e outras inovações”, explicou.

Para o sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed, a atual revolução do setor não está mais no hardware, mas no software. “Nós vivemos revoluções com o raio X, a ultrassonografia, a tomografia, a ressonância magnética e o PET-CT. Agora, a revolução da nossa geração é o software. A IA será o motor que vai permitir levar a radiologia para populações que hoje ainda não têm acesso. Seu potencial, nesse sentido, é desenvolvimento civilizatório”, completou.

Já Cesar Nomura, alertou para os impactos do marco regulatório da IA, atualmente em discussão no Congresso Nacional. Para ele, é fundamental que o setor de saúde participe ativamente desse debate para garantir que a legislação não limite inovações.
 “A radiologia é a área que mais incorporou IA no mundo. Temos que ser protagonistas para discutir esse tema no âmbito regulatório, pois, dependendo de como o marco for aprovado, ele pode se tornar um limitador para a incorporação de novas tecnologias. A legislação precisa acompanhar as mudanças e a Abramed tem participado ativamente dessas discussões”, afirmou.

Nomura também chamou atenção para a lacuna de formação técnica em ciência de dados aplicada à saúde no Brasil: “Se eu pudesse investir em algo hoje, investiria em formar técnicos em ciência de dados em saúde. Esse é o elo que falta para transformar a IA em prática clínica segura e eficiente”.

Convergências e futuro

Ao longo da discussão, os painelistas convergiram em alguns pontos centrais. Segundo eles, a adoção de IA precisa equilibrar benefícios clínicos, eficiência operacional e sustentabilidade financeira. Para tanto, a interoperabilidade de dados é pré-condição para que os algoritmos entreguem resultados efetivos.

Do ponto de vista regulatório, o marco de IA deve ser construído com participação ativa do setor de Medicina Diagnóstica, garantindo segurança na aplicação, mas sem a criação de barreiras para a tecnologia. E, em todo esse contexto, a formação profissional é decisiva para que a tecnologia seja incorporada de maneira ética e responsável.

O debate reforçou a percepção de que a Inteligência Artificial já é uma realidade incontornável para o segmento radiológico, mas que seu potencial só será plenamente alcançado com planejamento estratégico, capacitação profissional e regulação adequada. Entre expectativas e desafios, os painelistas concordaram, por fim, que a IA será uma aliada essencial para ampliar acesso, qualidade e sustentabilidade na radiologia brasileira.

A nova fronteira dos exames: da confirmação à predição

De ferramenta confirmatória a instrumento de antecipação, testes laboratoriais podem ter impacto direto na sobrevida, na sustentabilidade do sistema de saúde e no avanço da medicina personalizada.

Os exames laboratoriais têm assumido um papel que vai além da confirmação de diagnósticos. Da predição de riscos ao suporte na definição de tratamentos, passando pela consolidação dos modelos de medicina personalizada, os testes clínicos vêm se tornando estratégicos na jornada de cuidados – sobretudo na dimensão preventiva.

Como explica o patologista clínico e líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed, Dr. Alex Galoro, esse movimento integra um processo histórico na gestão da Saúde no Brasil.
 “Embora sejam reconhecidos principalmente como diagnósticos, alguns exames já são usados há muito tempo para rastreio, estratificação de risco, seleção de tratamento e monitoramento”, aponta.

Entre os exemplos mais conhecidos estão os testes de triagem neonatal (o teste do pezinho), as dosagens de colesterol e triglicérides para avaliação de risco cardiovascular, os antibiogramas para orientar a escolha de antibióticos, além da hemoglobina glicada e de testes para monitoramento de drogas terapêuticas.

Com o avanço das metodologias laboratoriais, o exame deixa de ser apenas confirmatório e se torna ferramenta de medicina preditiva. Esse movimento é impulsionado pelo maior conhecimento sobre biomarcadores – indicadores de estados fisiológicos – e pela redução de custos dos testes genéticos, que ampliaram a investigação clínica e a própria Medicina Diagnóstica.

Esse avanço traz impactos diretos em doenças complexas como o câncer, um dos maiores desafios globais de Saúde. Segundo a OMS, até 2050 o mundo poderá registrar 35 milhões de novos casos. Nesse cenário, a predição é fundamental para aumentar a sobrevida.

“A detecção precoce, com testes que permitem identificar o câncer ainda em estágio inicial, aumenta significativamente as taxas de sobrevida. Nos tipos mais comuns, como próstata e mama, a sobrevida em 5 anos chega a 99% quando detectados precocemente, mas cai para 31% e 29%, respectivamente, nos casos de metástase à distância”, destaca Galoro.

Além do ganho clínico, há benefícios econômicos: estudos mostram que o fortalecimento da atenção primária pode reduzir em cerca de 5% as internações e gerar economia aproximada de R$ 400 milhões ao sistema de saúde brasileiro.

Novas fronteiras e responsabilidades

Esse novo olhar abre espaço para conceitos como a medicina de precisão, que se apoia em informações mais assertivas para triagem, diagnóstico e tratamento. Também cresce o interesse pela análise de microbioma, baseada na hipótese de que os microrganismos do intestino influenciam a digestão, a absorção de nutrientes, o metabolismo, a imunidade e até a saúde mental – por meio do eixo cérebro-intestinal e da liberação de neurotransmissores relacionados ao humor.

Outro campo em expansão é o estudo de perfis e marcadores genéticos. Como ressalta Galoro, os avanços da biologia molecular “oferecem uma visão detalhada dos diferentes processos metabólicos e fisiológicos do organismo humano”.

A promessa da predição, no entanto, deve caminhar com responsabilidade clínica, evidências robustas e ética.
 “Exames nunca são perfeitos. Sempre podem gerar resultados falso-positivos ou falso-negativos, por isso não podem ser interpretados isoladamente. A má interpretação pode levar a diagnósticos incorretos, riscos aos pacientes e aumento de custos no sistema de saúde”, alerta o especialista.

No campo regulatório, Galoro lembra que as normas e marcos legais são fundamentais para garantir segurança e ética, mas ainda apresentam limitações e podem ser burlados – o que reforça a necessidade de monitoramento constante e validação rigorosa.

Outro desafio é garantir equidade em países desiguais como o Brasil. “O equilíbrio entre acesso, custo e equidade depende não apenas do preço dos exames, mas também do financiamento adequado, tanto no sistema público quanto no privado. Embora a equidade plena seja difícil de alcançar, ampliar o acesso passa necessariamente pela redução dos custos das metodologias e pelo fortalecimento do financiamento da Saúde”, explica.

“Para utilizar os exames de forma segura e responsável, é essencial investir em estudos bem estruturados que tragam evidências científicas sobre o desempenho de cada teste. Só assim será possível integrar a inovação sem abrir mão da ética e da segurança”, conclui o líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

NR-1 e riscos psicossociais: por que a Saúde precisa assumir o protagonismo?

Por Lucilene Costa, Líder do Comitê de Recursos Humanos da Abramed

A recente atualização da NR-1, que incluiu a obrigatoriedade de mapear riscos psicossociais nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR), trouxe para o setor de saúde uma responsabilidade que vai além do cumprimento regulatório. Estamos falando de fatores do ambiente de trabalho que afetam diretamente a saúde mental, como excesso de jornada, sobrecarga emocional e pressão constante. E, no caso dos hospitais, laboratórios e serviços de diagnóstico — ambientes naturalmente intensos —, não podemos ser coadjuvantes na construção das soluções que vão definir como essa norma será aplicada.

O prazo de adequação, inicialmente previsto para junho deste ano, foi prorrogado para 2026. Mas, como costumo dizer, esse é apenas um “respiro curto”, reflexo de um cenário confuso, marcado por informações desencontradas, disputas de interpretação e ofertas precipitadas de soluções.

Esse tempo extra é, na verdade, um chamado à ação e deve ser visto pelo que realmente é: uma oportunidade para organizar dados, estruturar processos e apresentar evidências que retratem a realidade do setor.

Ao contrário de outras áreas, lidamos diariamente com jornadas intensas, contato com sofrimento humano e decisões críticas em tempo real. Sabemos na prática o que significa risco psicossocial. Temos, portanto, legitimidade — e também dever — de assumir o protagonismo e conduzir esse debate.

As consequências da omissão são conhecidas e custosas. Estão nos indicadores previdenciários (FAP e RAT), em potenciais ações regressivas do INSS, em passivos trabalhistas. Traduzindo: milhões de reais em custos adicionais para empresas que já vivem sob pressão. E, sobretudo, estão no bem-estar dos profissionais — porque equipes fragilizadas e absenteísmo crescente comprometem, no fim das contas, a segurança do paciente.

É por isso que a NR-1 não deve ser vista como burocracia. Mapear riscos psicossociais com consistência técnica, envolver equipes multidisciplinares e propor caminhos são passos indispensáveis para mostrar que a saúde não só cumpre normas, mas contribui para aperfeiçoá-las.

Na Abramed, já estamos nesse caminho: promovendo treinamentos, articulando com parceiros e levando ao Ministério do Trabalho as particularidades do setor. Mas nenhuma entidade consegue sozinha. É hora de cada instituição colocar o tema no topo da agenda.

Porque, quando o assunto é saúde, não há setor mais preparado para liderar essa discussão. Esse protagonismo não é apenas sobre cumprir uma exigência legal: é sobre garantir sustentabilidade e qualidade na assistência que o Brasil precisa.

Como os exames podem apoiar no diagnóstico da ansiedade e da depressão?

Campanhas como o Setembro Amarelo reforçam a importância do cuidado contínuo com a saúde mental, promovendo a conscientização sobre prevenção, tratamento adequado e qualidade de vida.

Ansiedade e depressão estão entre os maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 300 milhões de pessoas sofram de depressão — hoje a principal causa de incapacidade laboral. No Brasil, estudos epidemiológicos apontam prevalência de sintomas depressivos em 15,5% da população ao longo da vida, enquanto a ansiedade atinge mais de 18 milhões de brasileiros, quase 10% dos habitantes do país.

Nesse contexto, campanhas como o Setembro Amarelo assumem papel essencial ao ampliar a visibilidade sobre a importância de cuidar da saúde mental e conscientizar a população em relação à necessidade do acompanhamento contínuo e tratamento adequado para reduzir o impacto dos transtornos mentais na qualidade de vida das pessoas, evitando desfechos mais graves.

O papel emergente dos exames laboratoriais

Tradicionalmente, a identificação de transtornos ocorre a partir da avaliação clínica, baseada em anamnese, critérios diagnósticos e observação de sintomas. Contudo, esse processo, muitas vezes subjetivo, enfrenta desafios como a sobreposição de comorbidades e a influência de fatores sociais e ambientais.

Nos últimos anos, a pesquisa científica tem explorado biomarcadores hormonais, metabólicos, genéticos e inflamatórios que podem oferecer apoio adicional ao olhar clínico. A proposta não é substituir a avaliação psiquiátrica ou psicológica, mas sim complementá-la, trazendo mais precisão, personalização e monitoramento contínuo.

Estudos recentes reforçam essa tendência. Pesquisadores da Universidade de Newcastle avaliaram dados genéticos, bioquímicos e psiquiátricos de quase 1 milhão de pessoas e identificaram correlações entre níveis de glóbulos brancos, substâncias inflamatórias no sangue e risco de depressão — parâmetros que podem ser detectados em análises laboratoriais. Outro exemplo vem da Universidade de Illinois Chicago, em parceria com outras instituições, que identificou em plaquetas humanas um biomarcador capaz de indicar a presença de depressão e auxiliar no acompanhamento da resposta a medicamentos psiquiátricos.

Além desses achados, diferentes grupos de pesquisa investigam marcadores inflamatórios, hormonais e metabólicos, que podem apoiar tanto no diagnóstico quanto no monitoramento da evolução clínica. Embora ainda não estejam incorporados à prática de rotina, esses estudos reforçam o potencial dos serviços diagnósticos como ferramenta complementar no cuidado com a saúde mental.

Quando integrados, os exames laboratoriais podem reduzir a subjetividade das análises, identificar predisposições antes do agravamento dos sintomas, monitorar com maior precisão a resposta aos tratamentos e ainda relacionar saúde mental e física, considerando comorbidades como diabetes, doenças cardiovasculares ou alterações metabólicas. Essa integração contribui para um cuidado mais individualizado e assertivo, trazendo benefícios tanto para médicos quanto para pacientes.

Limites e cuidados necessários

Apesar dos avanços, é preciso reconhecer limitações. Muitos marcadores apresentam grande variação entre indivíduos, influenciados por fatores como alimentação, estresse cotidiano e uso de medicamentos. Além disso, a sensibilidade e a especificidade dos testes ainda não permitem que sejam usados isoladamente como ferramenta diagnóstica.

Outro ponto central é a ética e a regulação. Garantir a privacidade dos dados e evitar riscos de estigmatização dos pacientes são princípios indispensáveis. Também é fundamental que a interpretação dos resultados seja realizada apenas por profissionais qualificados, dentro de protocolos bem estabelecidos.

A incorporação responsável desses testes depende de protocolos alinhados às melhores evidências científicas e de políticas que assegurem qualidade, equidade e acesso. O futuro aponta para a criação de painéis laboratoriais integrados a aplicativos de saúde mental e wearables, capazes de monitorar em tempo real indicadores relevantes para o bem-estar emocional.

Trata-se de uma área em plena expansão, que já apresenta evidências consistentes de que os biomarcadores podem apoiar milhões de pessoas. Eles não substituem o olhar clínico, mas representam um reforço importante na busca por conclusões mais precisas e tratamentos mais eficazes.

A contribuição da Medicina Diagnóstica nessa área está apenas começando a ser explorada. Avanços em biomarcadores, inteligência artificial e análises multiômicas abrem perspectivas otimistas para um futuro em que ansiedade e depressão possam ser identificadas e acompanhadas com maior precisão.

Combinar ciência de qualidade, protocolos bem definidos e acesso responsável é o primeiro passo para transformar dados em cuidado efetivo e salvar vidas.

FILIS 2026 é lançado com convite ao diálogo para a transformação do futuro da Saúde

A 10ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), principal evento da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), foi lançada oficialmente em São Paulo, no Hospital Israelita Albert Einstein, em um encontro que reuniu especialistas do ecossistema de Saúde Suplementar no dia 09 de setembro.

O encontro evidenciou o caráter histórico do FILIS, criado pela Abramed com o intuito de consolidar um espaço de conexão, diálogo e geração de agendas propositivas para o setor, incluindo a integração dos sistemas público e privado e o fomento de consensos em torno de pautas estratégicas que favoreçam o acesso a uma medicina de qualidade para todos.

Na abertura, Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, reforçou que o FILIS se consolidou como espaço de conexão e de construção coletiva para o setor. Ela ressaltou que o evento deixou de ser apenas palco de debates para se tornar ambiente de pactuação de pautas propositivas que precisam se materializar em ações concretas e apresentou alguns destaques da última edição do Fórum e do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, que consolidaram temas como interoperabilidade, ESG e atualização regulatória.

Milva também apresentou a nova proposta de parceria do FILIS, que passa a ser estruturada de forma ainda mais estratégica, com três categorias simplificadas: Liderança, Estratégia e Presença. O modelo, segundo ela, facilita a adesão das empresas e fortalece o relacionamento estratégico de longo prazo com o setor.

No centro do painel, estiveram presentes alguns dos temas que guiarão os debates do FILIS 2026, com destaque para a inteligência artificial e suas aplicações na Saúde, o protagonismo da interoperabilidade de dados como vetor de transformação positiva para desfechos clínicos mais assertivos e ágeis, além das questões regulatórias que cercam esse contexto.

Participaram da discussão Cesar Nomura, Presidente do Conselho de Administração da Abramed e Diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês; Cristóvão Mangueira, Diretor de Medicina Laboratorial do Einstein; Edgar Gil Rizzatti, Presidente da Unidade de Negócios Médico, Técnico, Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury; Leonardo Vedolin, Vice-Presidente Médico e de Operações da Dasa; e Lídia Abdalla, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Abramed e CEO do Grupo Sabin

O lançamento destacou ainda a transformação digital como movimento decisivo para o setor, mas também destacou questões sociais, econômicas e estruturais que desafiam o sistema. Nesse sentido, ficou claro que os avanços dependem não apenas de tecnologia, mas também de integração, olhar humano, diálogo contínuo e postura coletiva do setor, como destacou Cesar Nomura:

“Que nós estejamos juntos discutindo não só a Medicina Diagnóstica, mas o contexto da Saúde como um todo. Juntos somos mais fortes e temos poder de contribuir com as pautas regulatórias que moldarão a jornada do cuidado.”

O potencial (e os limites) da inovação: dos dados à IA

Na discussão sobre as tendências de inovação que trazem novos paradigmas para a prática clínica, a inteligência artificial foi apontada como uma evolução do big data e das soluções de analytics que já provocam impactos em produtividade, eficiência e no desenho de modelos de atenção.

Os debatedores, porém, foram claros: o que se aplica hoje ainda não é uma IA plena. “Ainda não chegamos a uma IA real; o que usamos hoje é big data com esteroides. A verdadeira transformação virá quando avançarmos para a predição clínica”, provocou Cristóvão Mangueira.

Nesse ponto, os debatedores ressaltaram a importância de separar hype de resultados efetivos e reconhecer que há dificuldade em comprovar ROI e sustentabilidade da adoção de IA, sobretudo em modelos de remuneração baseados em custo e volume, e não em desfecho.

Dentre outros pontos, os participantes trouxeram exemplos práticos da aplicação de algoritmos na detecção precoce de nódulos pulmonares. Em case do Grupo Fleury, foi destacado o cruzamento de imagens com dados clínicos a partir do uso de sistemas de inteligência artificial que permitiram diagnósticos mais rápidos, precisos e com maiores taxas de retorno dos pacientes, aumentando as chances de tratamento bem-sucedido.

“Dados são um insumo muito presente para quem trabalha com Medicina Diagnóstica e colocar médicos para trabalhar junto com cientistas de dados pode ser muito virtuoso. No caso dos exames de nódulos pulmonares, por exemplo, tivemos um aumento de 13% para 40% no retorno dos pacientes. Mas é fundamental ter em mente que o engajamento e a coordenação do cuidado continuam sendo função do médico. A tecnologia contribui, mas não resolve sozinha”, explicou Edgar Gil Rizzatti.

“A inteligência artificial já está mudando a maneira como os seres humanos se relacionam com o trabalho, aumentando muito a produtividade dos profissionais. Mas ainda não temos uma IA que possa tomar decisões. O componente humano é fundamental e ele se torna mais eficiente com o desenvolvimento da tecnologia”, disse o Diretor de Medicina Laboratorial do Hospital Israelita Albert Einstein.

Conectando inovação ao protagonismo do paciente, Lídia Abdalla reforçou que a transformação digital não é apenas promessa, mas realidade que já impacta a vida dos pacientes.

“Com testes digitais e wearables, já conseguimos obter muitas informações de saúde dos indivíduos. Isso já está acontecendo e favorece o autocuidado, uma das bases para a sustentabilidade do sistema”, pontuou.

O painel também abordou o marco regulatório da IA, em tramitação no Congresso. Para Nomura, o desafio é não engessar o setor:

“Mais de 60 PLs em Brasília envolvem Medicina Diagnóstica e 38 podem ter impacto significativo. É nossa obrigação influenciar a discussão legislativa para que a regulação não restrinja a inovação e, ao mesmo tempo, traga segurança ao paciente.”

E trouxe ainda uma reflexão sobre sustentabilidade: se a lógica atual remunera mais o tratamento da doença do que a prevenção, como equilibrar inovação e viabilidade econômica? Para Mangueira, o setor precisa avançar nessa agenda: é essencial criar mecanismos que valorizem a prevenção e a inovação como parte das soluções do sistema, mesmo diante de modelos ainda centrados na doença.

Tech vs. Touch: empatia e letramento digital em debate

No debate, o consenso entre os participantes é de que o letramento digital deve ser tratado como prioridade estratégica, envolvendo desde a formação acadêmica até programas contínuos de atualização profissional por meio, por exemplo, de formações técnicas em ciências de dados aplicadas à Saúde.

Leonardo Vedolin comentou que um dos grandes desafios em provar o potencial dos dados e das soluções de analytics na Medicina Diagnóstica diz respeito ao gap de letramento, por isso, fazer essa pauta avançar nas organizações é decisivo.

Preparar profissionais para lidar com dados e IA de forma crítica e humanizada é condição para reduzir as barreiras de acesso, não comprometer a efetividade da inovação no setor e garantir que a tecnologia seja suporte, e não substituto, da relação médico-paciente. “Quem entrega valor é quem está mais próximo do paciente, e não a tecnologia”, afirmou Vedolin.

Para além da tecnologia, a humanização também foi destaque. Cláudia Cohn, membro do Conselho de Administração da Abramed e CEO do Alta Diagnósticos, alertou para o problema de colocar a empatia em segundo plano:

“Mais de 50% das criações de IA que explodiram recentemente são personagens feitos para conversar com pessoas. Daqui a pouco, teremos mais interações com IA do que com humanos. Como garantir empatia no diagnóstico, quando o médico corre o risco de virar apenas logística?”

O painel deixou claro que não há consenso sobre o tema: se, por um lado, há convergência sobre o papel fundamental do componente humano na tomada de decisões e como ele se torna ainda mais eficiente com o desenvolvimento da tecnologia, por outro, ficou a reflexão de que a empatia já é frágil na prática médica e precisa ser preservada como diferencial para que os profissionais do setor não sejam substituídos pelo “tech”.

O lançamento do FILIS 2026 reafirmou o protagonismo da Abramed na articulação de agendas para o setor e colocou em evidência dilemas centrais em Saúde. As reflexões adiantam que a 10ª edição do Fórum, muito além de um encontro, será um espaço para pactuar caminhos que ajudem a transformar a inovação em valor concreto para pacientes, profissionais e todo o Sistema de Saúde, e que devem orientar o futuro da Medicina Diagnóstica no Brasil.

A 10ª edição do FILIS já tem data marcada – 26 de agosto de 2026.

Sétima edição do Painel Abramed é lançada durante o FILIS e reforça impacto da Medicina Diagnóstica na Saúde brasileira

O 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS marcou um momento inédito: pela primeira vez, o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, foi apresentado dentro da programação oficial do evento. Esta publicação anual é amplamente aguardada pelo setor e reúne dados estratégicos e atualizados do mercado de medicina diagnóstica. A edição deste ano trouxe, ainda, um capítulo especial sobre Interoperabilidade na Saúde, tema fundamental para o avanço da integração e da eficiência no cuidado em saúde no Brasil.

Na abertura, Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, celebrou os 15 anos da entidade destacando o papel da Medicina Diagnóstica como eixo estratégico para a Saúde. Ao falar sobre propósito, lembrou que as empresas do setor lidam diariamente com todas as dimensões da vida – medo, dor, envelhecimento, nascimento e esperança – e que essa responsabilidade precisa orientar o futuro.

“O objetivo não é apenas gerar rentabilidade. O propósito é o cuidado na jornada do paciente. Todos nós somos pacientes, e quando estamos nesse papel, nossa perspectiva muda”, afirmou.

Em seguida, César Nomura, Presidente do Conselho de Administração da Abramed, destacou o simbolismo de trazer a publicação ao FILIS e apresentou dados que refletem a força do setor. Segundo ele, os associados concentram 37% da força de trabalho da Medicina Diagnóstica, reunindo 116,2 mil empregos formais e respondendo por 11,1% de todos os postos de trabalho em saúde no Brasil.

A presença também é expressiva em todo o território nacional: as associadas estão em 22 estados, com quase 3 mil postos de coleta e mais de 800 estruturas de apoio em imagem e análises laboratoriais, o que reforça a capilaridade e o alcance do diagnóstico.

O estudo mostra ainda que as associadas são responsáveis por 86,8% de todos os exames realizados na saúde suplementar, consolidando a Medicina Diagnóstica como um dos pilares do sistema de Saúde brasileiro. Esse protagonismo também se reflete na produção científica: em 2024, os associados publicaram 1.971 artigos científicos.

No campo da sustentabilidade, os números evidenciam avanços significativos: redução de 25% no consumo de água, 23% no uso de energia elétrica e 29% na geração de resíduos nos últimos anos. Além disso, 93% dos associados já adotaram coleta seletiva, acompanhada de campanhas de conscientização e treinamentos ambientais.

Outro destaque foi o avanço digital, com um salto de 267% no acesso eletrônico a exames, diminuindo drasticamente o uso de filmes radiológicos e gerando impacto positivo no meio ambiente.

Para Nomura, os resultados revelam que a transformação do setor é fruto de uma construção coletiva. “Muitas vezes com pequenos gestos e atitudes a gente começa a construir pontes, pedra por pedra, que ajudam a mudar o setor. Só com parceria verdadeira conseguimos avançar”, afirmou.

Com esse lançamento, o FILIS consolidou-se como espaço para dar visibilidade a dados estratégicos e reforçou a relevância do Painel Abramed como ferramenta de análise, reflexão e compromisso com um sistema de Saúde mais sustentável, eficiente e centrado no paciente.

A íntegra da publicação está disponível no site da Abramed, com dados completos sobre mercado, empregos, sustentabilidade, interoperabilidade e produção científica: https://abramed.org.br/publicacoes/painel-abramed/painel-abramed-o-dna-do-diagnostico-edicao-7 .

Os caminhos para a interoperabilidade na Saúde

Debate destacou experiências práticas e a convergência público-privada como pilares para ampliar eficiência, qualidade e cuidado centrado no paciente

Uma das principais pautas da 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS), evento promovido anualmente pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed (e realizado no último dia 21 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo-(SP), a interoperabilidade foi também tema do  debate de encerramento do Fórum.

O diálogo que trouxe visões diversas sobre o avanço da transformação digital na saúde contou com a moderação de Ademar Paes Jr., Fundador e CEO da LifesHub, Sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed; e as participações de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI); Carlos Marinelli, Diretor Presidente da Bradesco Saúde; Cesar Higa Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica do Sírio-Libanês e Presidente do Conselho de Administração da Abramed; e Rafael Lucchesi, CEO da Dasa.

Muitas vezes visto como um desafio tecnológico, os debatedores foram convergentes em reforçar o papel da interoperabilidade como um vetor para a geração de valor real para pacientes, médicos, gestores e profissionais de Saúde em geral, destacando ainda sua importância na integração dos sistemas público e privado de saúde para reduzir desigualdades e construir soluções de escala nacional.

Do conceito à prática: múltiplas visões

Abrindo o debate, Ademar Paes Jr. ressaltou que a interoperabilidade gera múltiplos benefícios e potencializa a função da Medicina Diagnóstica na jornada de cuidado dos pacientes, frisando ainda que a visão sobre o tema deve ir além das discussões sobre custo tecnológico.

“Interoperabilidade não é apenas troca de informação. Cada vez que o dado gerado por um exame é utilizado por mais um profissional, a gente está amortizando o custo desse exame, está gerando valor para o sistema e dando mais segurança para o paciente, mais eficiência e qualidade para a Saúde em geral”, afirmou.

Ele reforçou, nesse sentido, que a mudança necessária não é apenas tecnológica, mas cultural, de modo que seja possível uma convergência efetiva entre os setores público e privado, por meio da padronização de dados e processos.

Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, destacou o Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital, voltado a medir a evolução de hospitais e gestores em sete dimensões (conectividade, infraestrutura, avaliação, monitoramento, formação, educação permanente e pessoas), apontando os desafios, mas também caminhos para a digitalização da Saúde:

Segundo a secretária, a criação da SEIDIGI já traduz uma mudança de paradigma aprendida no pós-pandemia, quando três grandes lições foram incorporadas: a transformação digital, o fortalecimento do complexo econômico da Saúde e a dimensão ambiental. Para ela, apesar de ser um desafio imenso, também há uma grande oportunidade para se pensar a transformação digital do setor no Brasil.

“A velocidade da transformação digital nos coloca sempre em defasagem, mas é importante não se prender só na falta de orçamento. Precisamos saber priorizar, buscar parcerias e fazer os projetos da melhor forma, entendendo que temos uma janela de oportunidade que demanda ações estruturantes. Os desafios culturais, de financiamento e técnicos vão sempre existir, mas eles não podem nos paralisar”, apontou a secretária.

Concordando com essa visão, Carlos Marinelli, diretor-presidente da Bradesco Saúde, trouxe a perspectiva das operadoras e a necessidade de tratar interoperabilidade como estratégia de valor de longo prazo.

“A pergunta não é se dá para fazer, é como fazer, visando o bem-estar e a resolutividade do cuidado com o paciente. E resolutividade é oferecer o melhor atendimento e a melhor assistência, e a interoperabilidade oferece a camada que potencializa esses benefícios por meio da troca de informações e padrões que integram os Sistemas de Saúde”, apontou o executivo.

 “A sustentabilidade do sistema será uma consequência, uma externalidade positiva da busca pelo melhor atendimento e pela integração dos dados”, completou.

Marinelli destacou ainda que, só na Bradesco Saúde, são realizados anualmente cerca de 108 milhões de exames e 172 milhões de procedimentos em uma rede de 23 mil médicos.

Rafael Lucchesi, CEO da Dasa, por sua vez, contou que, após mais de uma década de investimento pesado, a empresa conseguiu integrar 98% dos seus 450 milhões de exames anuais, mostrando que, apesar do esforço e do custo, o potencial de ganho é exponencial.

Ele apresentou um exemplo concreto dos ganhos da integração digital a partir da interoperabilidade na Saúde:

“Tivemos um caso em que, graças a um algoritmo preditivo, conseguimos identificar uma patologia em apenas duas a três horas. Se tivéssemos esperado o laudo completo, que só sairia no dia seguinte, o paciente teria corrido uma maratona e colocado sua vida em risco. Essa integração de dados salvou a vida dele”.

Já Cesar Nomura, diretor de Medicina Diagnóstica do Sírio-Libanês, enfatizou a necessidade de uma mudança de postura do ecossistema como um todo para um real avanço da interoperabilidade:

“Se a gente não abrir mão de preconceitos, não adianta ter tecnologia. É uma mudança de cultura que não se faz do dia para a noite”.

Ele ressaltou que áreas como radiologia e laboratório já utilizam linguagens padronizadas, como DICOM e LOINC, o que mostra que a interoperabilidade é possível de forma prática se houver vontade do setor. E concluiu reforçando a interdependência entre os setores: “O público e o privado são vasos comunicantes. Não vai dar para um player se dar muito bem e o outro não. Nós temos que evoluir juntos.”

Valor em saúde e convergência de esforços

O debate mostrou que a interoperabilidade só irá se consolidar como instrumento de valor clínico, eficiência e segurança se entendida como prioridade estratégica, com agenda e orçamento dedicados. Para Marinelli, o setor está “muito próximo de vencer a arrebentação” e transformar a interoperabilidade em realidade concreta.

Já Ana Estela alertou que existe uma janela de oportunidade que precisa ser aproveitada agora, sob risco de o país não conseguir dar o salto necessário. Ela lembrou ainda que o Brasil tem uma vantagem única em relação a outros países: um sistema nacional como o SUS, que pode ser a base para acelerar a escala dessa transformação.

A convergência das falas evidenciou que o futuro da interoperabilidade depende da união entre público e privado e que o paciente deve estar no centro desse movimento.

Ao reunir diferentes visões, o FILIS evidenciou que a transformação digital na saúde brasileira só terá êxito se traduzida em benefício direto ao paciente. Nesse caminho, a interoperabilidade deixa de ser custo tecnológico para se tornar alicerce de sustentabilidade e resiliência do Sistema de Saúde.

Case SEIDIGI: parceria entre Abramed e Ministério da Saúde gera resultados concretos e impulsiona avanço da interoperabilidade

Acordo firmado na edição passada do FILIS se consolida com 204 exames já interoperáveis e amplia a digitalização do Sistema de Saúde

O 9º Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS) mostrou, mais uma vez, como a colaboração entre os setores público e privado é capaz de acelerar transformações estruturantes no sistema de saúde brasileiro.

Um dos destaques foi a apresentação de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde (SEIDIGI), que detalhou os avanços do acordo de cooperação firmado entre o Ministério e a Abramed em 2024 para a padronização e integração de dados de exames.

O case de interoperabilidade laboratorial já produz resultados tangíveis, com impacto direto para pacientes, profissionais e gestores das redes pública e privada.

Do acordo à prática: interoperabilidade laboratorial em expansão

Assinado no 8º FILIS, o acordo consolidou a construção de um modelo informacional comum para exames laboratoriais, representando um importante passo para que se supere a histórica fragmentação do sistema de saúde nacional. Segundo Ana Estela, esse foi um marco na padronização de dados tanto para o setor público quanto para o suplementar: “Pela primeira vez, público e privado falam a mesma língua em interoperabilidade laboratorial”, explicou a Secretária do SEIDIGI.

O trabalho começou com um esforço de harmonização entre a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e diferentes padrões utilizados pelos laboratórios. No início do projeto, foi realizada a tradução dos códigos LOINC (padrão internacional de codificação) dos exames constantes na Lista Nacional de Notificação Compulsória, seguida da revisão do modelo de resultados laboratoriais (REL) da RNDS.

Como resultado, 204 exames já foram incorporados ao modelo, com destaque para os relacionados às arboviroses – dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A segunda etapa do processo incluiu mais 87 exames, cobrindo febre do Nilo e mayaro, além da integração futura de exames voltados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

A Secretária destacou o impacto desse avanço na vida do cidadão:

“Como ganho direto dessa cooperação, um aspecto bastante interessante é a harmonização de terminologias laboratoriais. Na rede de laboratórios do setor público, o modelo LOINC não era utilizado, então não havia possibilidade de interoperabilidade efetiva. Agora, com a padronização, a gente pode oferecer todos os resultados para os pacientes na Rede Nacional de Dados em Saúde que podem ser acessados, em tempo real, pelos pacientes”, comentou Ana Estela.

O acesso, por sua vez, é feito via Meu SUS Digital, enquanto profissionais de Saúde contam com a integração no SUS Digital Profissional, garantindo continuidade do cuidado aos pacientes. O próximo passo é a federalização dos dados, permitindo que estados e municípios também integrem seus sistemas a esse modelo padronizado. Segundo a Secretária, o processo já está sendo levado à Comissão Intergestores Tripartite (CIT), ampliando o alcance nacional da iniciativa.

Uma agenda mais ampla para a saúde digital

O avanço da interoperabilidade se insere em um movimento mais amplo de transformação digital liderado pelo Ministério da Saúde. Ana Estela Haddad ressaltou que a agenda inclui o fortalecimento da telessaúde, com a publicação de editais que abrem espaço tanto para serviços públicos quanto privados. Estão previstas, nesse sentido, modalidades como teleconsulta, telediagnóstico, teleinterconsulta e telerregulação, com notificações automáticas para pacientes em fila.

Outro pilar desse movimento é o programa Agora Tem Especialistas, lançado em 2024, que busca reduzir o tempo de espera por exames e atendimentos especializados. O modelo de financiamento, baseado na Oferta de Cuidado Integrado (OCI), prevê pagamento apenas após o diagnóstico completo (em até 30 dias para câncer e 60 dias para outros agravos). A iniciativa conta também com a utilização da infraestrutura privada para complementar a rede pública.

A secretária foi enfática sobre o potencial dessa jornada de interoperabilidade: “Estamos transformando filas em fluxos digitais inteligentes, reduzindo tempo de espera e melhorando a resolutividade do SUS”.

Dentro desse contexto, já podem ser observados outros avanços importantes, como a integração inédita de dados da ANS à RNDS, a caderneta digital da criança – já com mais de 1,2 milhão de acessos – e o planejamento da linha de cuidado digital do câncer, com suporte de telediagnóstico.

É importante salientar ainda que todo esse processo pode aumentar a efetividade do Sistema de Saúde e da Medicina Diagnóstica como um todo, contribuindo, inclusive, para a redução de óbitos e melhoria direta da qualidade de vida dos pacientes – segundo dados do Governo Federal, por exemplo, o país ainda tem, em média, 370 mil óbitos relacionados a atrasos de diagnóstico em doenças não transmissíveis.

Impacto estratégico

O case apresentado no FILIS 2025 reforça o papel do Fórum como catalisador de mudanças, conectando inovação tecnológica, políticas públicas e a capacidade operacional e técnica do setor privado. Acima de tudo, como bem afirmou Ana Estela Haddad, “não se trata apenas de digitalizar processos, mas de melhorar a vida dos pacientes”.

Com esse movimento, o Brasil avança muitas casas rumo a uma Saúde digital realmente integrada e demonstra, mais uma vez, como o setor privado pode e deve atuar enquanto um parceiro indispensável do SUS.

Afinal de contas, em um Sistema de Saúde em que dados circulam de forma segura e ágil, será possível fortalecer continuamente a equidade e a qualidade do cuidado aos pacientes em todas as regiões do país.