Wilson Shcolnik fala sobre os desafios da medicina diagnóstica para a sustentabilidade do sistema de saúde privada

Apresentação ocorreu durante primeiro dia do 22º Congresso Internacional Unidas, em Atibaia (SP)

25 de Outubro de 2019

A sustentabilidade do sistema de saúde privada no Brasil foi o tema do primeiro painel do 22º Congresso Internacional Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde) – A Importância das Autogestões na Transformação do Setor de Saúde do Brasil, evento que ocorreu em 24 de outubro, no Hotel Bourbon, Atibaia (SP), e contou com a participação do presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik. Em sua apresentação ele falou sobre os desafios no contexto da medicina diagnóstica, que estão relacionados à incorporação do que tem valor no sistema; ao monitoramento do desempenho das empresas; à contenção de desperdícios; à saúde digital; às novas formas de remuneração; e as questões éticas. 

“Os impactos na subutilização são enormes, mas o compartilhamento de informações no sistema fragmentado que temos hoje precisa ser superado, e isso só acontecerá com a interoperabilidade”, disse Shcolnik. O presidente falou também sobre os modelos de remuneração diferentes do fee for service – cujo pagamento é feito por procedimento – e sobre a medicina especializada: “A medicina personalizada é a realidade, e precisamos lidar com essa integração de dados para oferecer uma racionalidade no cuidado médico focado em cada pessoa”. 

Em seguida foi a vez do presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), Leandro Fonseca da Silva, falar sobre a sustentabilidade do mercado de saúde suplementar. “O mercado cresceu 50% desde o início da regulação, ou marco regulatório. Nesse mesmo período, a população brasileira cresceu 20%. Ou seja, tivemos uma inclusão real no sistema de saúde suplementar”, acrescentou. 

Ele também comentou sobre a necessidade de integração entre o setor público e o privado. “Claro que o modelo que nos trouxe até aqui não é o mesmo que vai nos levar para o futuro, porque estamos tendo uma grande evolução tecnológica. Temos que pensar como um sistema único, sobretudo como integrar esses sistemas para que a população tenha uma saúde melhor.”

“Não temos um cuidado com o resultado. A saúde hoje está fragmentada, e isso é reforçado pelo fee for service. A ANS quer que a operadora faça gestão de saúde populacional”, completa Leandro Fonseca. 

Para finalizar, Bruno Toldo, médico e diretor médico da unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também abordou os desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde privado no Brasil, o cenário da saúde suplementar e os altos custos do sistema. 

O presidente da Unidas, Anderson Mandes, conta que essa edição do evento teve o maior número de filiadas e participantes de todos os congressos da entidade, bem como falou sobre o futuro: “Revimos as crenças e os valores que permeiam a nossa instituição e construímos um planejamento estratégico que vai criar uma entidade mais forte. Compartilhamento e colaboração farão parte da Unidas do futuro”, finaliza.

Primeiro Congresso Nacional de Executivos da Saúde discutiu transformação do sistema de saúde

Evento tratou de como o trabalho colaborativo entre players pode evitar colapso no sistema de saúde

16 de outubro de 2019

“O novo executivo da saúde: lideranças para evitar o colapso” foi tema de debate do Congresso Nacional de Executivos da Saúde (CONEXs). O evento, realizado pelo Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) no dia 15 de outubro, em São Paulo, contou com a presença do presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik; de membros do Conselho, Lídia Abdlala e Claudia Cohn; e da diretora executiva da entidade, Priscilla Franklim Martins.

“Temos aqui mais uma oportunidade de unir integrantes de toda a cadeia da saúde, em prol da discussão de soluções possíveis que possam transformar nosso sistema de saúde e a Abramed não poderia deixar de participar deste momento”, salientou Shcolnik durante o evento.

O aumento das despesas com tratamentos de saúde, os modelos de remuneração, o uso da tecnologia e as divergências, os prós e os contras do Sistema Único de Saúde (SUS) e do setor privado foram alguns dos temas abordados no debate “Colapso, fato ou narrativa”, que teve a participação de Claudia Cohn na discussão. Para ela, que também é conselheira do CBEXs, a forma mais adequada de evitar o colapso e transformar essa narrativa também é “partir para a prática”. “Existem prioridades, e colaboração é o primeiro ponto. Precisamos deixar de olhar cada um para o seu umbigo. O setor caminhou nesse sentido, mas está longe do que precisa”, completando que, além da colaboração, é preciso que haja integração. “A jornada do paciente não é a hora em que ele está no hospital ou no laboratório. É quando ele acorda”, destacando a importância de modelos e processos que tratem de prevenção. “Temos que cuidar da saúde, e não da doença”, explicou.

Junto a ela nesta discussão estiveram o CEO da Amil, Daniel Coudry, o diretor-presidente da Central Nacional da Unimed, Alexandre Ruschi e a professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Lígia Bahia.

Para Coudry, a área da saúde vive um momento de completa reinvenção, focado em empoderamento de pacientes, direitos e deveres. “Olham muito para os direitos e pouco para os deveres. O avanço concreto depende do alinhamento entre os players. É preciso olhar para o coletivo; o direito coletivo tem que prevalecer sobre o individual. Precisamos de um desenvolvimento colaborativo”, defendeu. 

Alinhado a esse discurso, Alexandre Ruschi, afirmou que a evolução da saúde privada precisa sair do campo teórico para o prático. “Não há dúvidas do grande avanço que foi o SUS, mas a sociedade brasileira não soube cobrar e orientar o sistema público de saúde”, lamentando o contingenciamento de recursos públicos que a saúde sofreu nos últimos anos. Crítica do atual modelo assistencial, Lígia Bahia exigiu mais transparência em termos de atuação e em relação a projetos de lei sobre o tema que tramitam no Congresso de maneira secreta. Ela lembrou ainda que há casos de gestão eficiente e ineficiente tanto no SUS quanto nas instituições privadas. “Nós queremos que esse momento seja olhado com responsabilidade. Não adianta dizer que o médico é o corrupto. Existem outras soluções mais inteligentes do que acusar os médicos de conluios”, concluiu.

AUTORIDADES ESTIVERAM PRESENTES NA ABERTURA 

A abertura do Conexs recebeu autoridades da esfera governamental e regulatória. Entre os temas citados na cerimônia e de forma geral abordados ao longo do dia estiveram os desafios para com o envelhecimento da população, financiamento, modelo de gestão e legislação do segmento, além da formação de profissionais da área e da inteligência artificial, com tecnologias para teleatendimento e medicina remota.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leandro Fonseca, destacou a importância de iniciativas que incentivem a troca de ideias em um dos setores mais pujantes da economia. “Somos responsáveis por 9% do PIB e empregamos mais que a construção. A ANS está com a agenda e o diálogo abertos sobre proteção regulatória. Estamos dispostos a ouvir críticas, sugestões e participar do debate. Todo líder deve estar aberto a isso”, pontuou.

“Temos projetos de inteligência artificial pensando em mudar a realidade deste país, mas esse é um desafio de todos nós”, afirmou o secretário de Assistência Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco de Assis Figueiredo, que destacou avanços no aumento de vagas de emergência e na redução de custos dos hospitais que adotaram a metodologia lean de gestão. “Já são 60 hospitais e estamos indo para cem nos próximos meses”, contabilizou. 

Em nível estadual, o secretário de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, destacou mazelas e êxitos da saúde paulista, como o número dos casos de dengue e sarampo entre os problemas e os avanços conquistados no diagnóstico de melanomas por meio do projeto de teledermato desenvolvido em Catanduva, no interior do estado. Germann criticou ainda a divisão de despesas entre as três esferas públicas. “Há distorção, porque o município traz sob sua responsabilidade 30% dos gastos com saúde. A discussão da divisão de gestão municipal, estadual e federal pode trazer evolução para área da saúde”, disse. 

Para ajudar na solução desse e de outros impasses, o deputado federal Pedro Westiphalem (PP-RS), destacou a importância das reformas políticas. “Temos obrigação de superar as ideologias e usar a razão, cumprir a agenda e a pauta econômica. A reforma tributária nos atinge diretamente. É importante que as reformas sejam feitas”, lembrou o deputado, que é ginecologista e cirurgião vascular e representou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM- RJ).

O Conexs contou ainda com as apresentações de nomes interacionais, como do global chairman da KPMG International, Mark Britnell e do presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço.

“Um desafio que enfrentamos diariamente em nosso setor é a oportunidade de diálogo entre todos os players, e um evento como esse, que coloca todo mundo para falar, torna-se um ambiente de fomento à saúde, aos debates e que reúne, oportunamente, os líderes de agora e do futuro”, reforça Priscilla, diretora executiva da Abramed. 

De acordo com o presidente do CBEXs, Francisco Balestrin, o congresso integrou pessoas que compartilham o mesmo propósito, de servir e liderar mudanças em prol de uma saúde melhor. “São homens e mulheres com larga força de serviços prestados ao setor público e empresarial no mundo e no Brasil”.

4º FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde destaca a importância da união do setor Compartilhe

Na abertura, Claudia Cohn e Francisco de Assis Figueiredo abordaram os desafios da medicina diagnóstica

02 de Setembro de 2019

Durante a abertura, Claudia Cohn, presidente do Conselho de Administração da Abramed 2016-2019,destacou a contribuição do evento para a saúde do país. “Hoje, temos aqui pessoas se dedicando a aprender, discutir, trocar experiências, ensinar e sair daqui com as mãos e a mente mais aptas a melhorar a saúde do brasileiro. A saúde não é pública, tampouco é privada. Não é só do médico, do farmacêutico, do biomédico ou de quem trabalha com diagnóstico. Ela é de todos nós. Tudo o que foi programado para o FILIS é para que possamos pensar na saúde mais integrada”, disse.

Francisco de Assis Figueiredo, secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, por sua vez, destacou em seu discurso a importância da união dos setores e os desafios da medicina diagnóstica. “Juntos aqui, Abramed, Anvisa, ANS e o SUS, temos a capacidade de entregar uma saúde melhor para os brasileiros”, ressaltou, afirmando que o governo precisa trabalhar em parceria com o segmento privado de medicina diagnóstica para atenção primária e secundária no SUS.

“Se falarmos em escala, a medicina diagnóstica tem, hoje, as maiores expertisespor atendimento. Além disso, se falarmos em evitar desperdícios, vocês também têm experiência”, enalteceu o secretário.

Para a CEO da Abramed, Priscilla Franklim Martins, receber o Ministério da Saúde na abertura do evento reforça a importância que a medicina diagnóstica tem na cadeia produtiva da saúde. “A Abramed tem exercido um papel importante na liderança de discussões com seus associados e com todos os elos desta engrenagem, na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável do setor como um todo, não somente na área privada”, diz. “Influenciar a melhoria da saúde no Brasil é o nosso propósito e esse evento tangibiliza o nosso trabalho”, afirma a CEO.

Inovação traz melhorias no serviço oferecido ao paciente | pauta 4º FILIS

Influências e gargalos das novas tecnologias na saúde foram pauta do painel “Impacto das inovações setoriais” no 4º FILIS

2 de Setembro de 2019

A inovação é uma temática imprescindível a um setor como o de saúde, que caminha em busca de melhorias, tanto para garantir a total segurança dos pacientes quanto para prover uma gestão mais eficiente e sua sustentabilidade.

Essas tecnologias já são realidade, como prontuário eletrônico e ultrassom fetal impresso em 3D, bem como instigam cada vez mais a mudança no perfil de atuação dos profissionais. Por isso, elas foram pauta do primeiro painel de discussões do 4º FILIS (Fórum de Lideranças em Saúde), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Roberto Godoy, general manager da Guerbet Brasil, palestrou sobre o tema e destacou que o paciente deve estar no centro das decisões médicas e na sustentabilidade do sistema como um todo. Para ele, é necessário trabalhar o modelo mental das pessoas, a cultura organizacional e o cuidado com o ambiente. Ressaltou ainda a tendência de integração entre exames genéticos, de imagem e tratamento do paciente.

“A medicina de precisão visa tratar a saúde do paciente de maneira exclusiva, levando em conta todo o seu histórico e analisando cada caso individualmente em relação a dados clínicos, genéticos e estilo de vida”, afirmou.

Convidada para fazer parte do time de debatedores, Lídia Abdalla, CEO do Sabin Medicina Diagnóstica, disse que as inovações de impacto são aquelas que conseguem oferecer saúde de qualidade, com acesso, que chegam a todos os lugares, uma vez que o “Brasil tem vários países dentro de um só”. Ela avaliou também que a tecnologia vem trazer melhorias, só que deve contribuir para a eficiência do setor.

“Precisamos ser uma saúde de qualidade não só curativa, mas também preventiva. O paciente está empoderado de informações. Isso se torna um desafio para os centros de diagnóstico. Inovar é incorporar soluções que passem para a medicina personalizada e, ao mesmo tempo, possam trazer redução de custos para a empresa”, explicou.

O debate levantou os desafios da telemedicina no Brasil. Segundo Giovanni Guido Cerri, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Coalizão Saúde, a modalidade vem sendo usada amplamente há pelo menos 15 anos. “Telemedicina representa acesso, e é isso que a população precisa. Nossa preocupação tem que estar ligada à qualidade, por ser um instrumento útil. Todos que trabalham na área têm o direito de reivindicar um conjunto normativo mais favorável às inovações que estimulem o desenvolvimento seguro e sustentável do setor”, disse Cerri.

Leandro Fonseca, diretor-presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), pontuou como a inovação pode ser uma ferramenta para racionalizar recursos. E ratificou a necessidade de mudanças a fim de termos soluções para uma assistência que hoje é fragmentada. “A ANS tem trabalhado no aprimoramento da sua regulação para que possa diminuir custos de transação. Podemos destacar que hoje os ofícios são eletrônicos, não são mais de papel. E vamos avançar mais ainda nesta ANS digital”, afirmou. “No meu ponto de vista, demos um salto qualitativo muito importante na forma como a ANS analisa as novas tecnologias”, finalizou.

Ainda no âmbito das agências reguladoras, quando questionada sobre como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lida com a inovação, Mônica Luz de Carvalho Soares, gerente-geral de Conhecimento, Inovação e Pesquisa, falou sobre a criação do LAB-i VISA, espaço colaborativo da Anvisa para criação e compartilhamento de ideias e práticas – a partir dos pilares disseminar, fomentar, conectar e acelerar –, que surgiu de uma iniciativa implantada em 2016, quando a Agência deu início ao projeto-piloto da Fábrica de Ideias, voltado a promover a cultura de inovação no âmbito do setor público. “A Anvisa tem apenas 20 anos, e a criatividade é um desafio que nos persegue, que no serviço público concorre com a rotina”, afirmou. “Mas sabemos que é necessário inovar e que existe a velocidade da informação que as empresas e as indústrias nos cobram diariamente.”

Para Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, a visão da transformação digital deve ser uma questão muito mais cultural do que tecnológica. “E a vejo sob alguns aspectos, como trazer benefício da informação correta ao paciente, para que ele tenha responsabilidade sobre a própria saúde”, disse. Para ele, regulações são, sim, fundamentais e, no caso da saúde, estabelecem regras importantíssimas para assegurar benefícios aos pacientes e evitar práticas que possam resultar em danos, porém precisam manter-se em sintonia com as transformações do mundo. Como exemplo, ele citou a telemedicina, com seu potencial para vencer barreiras logísticas, ampliando o acesso ao atendimento, agilizando tratamentos e reduzindo custos, transcorrendo bem em países como os Estados Unidos.

Mayana Zatz recebe Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Homenagem é um reconhecimento da Abramed a profissionais que fomentam o desenvolvimento e a melhoria da saúde no Brasil

02 de Setembro de 2019

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld é um reconhecimento a profissionais que estimulam o desenvolvimento e a melhoria da saúde brasileira, e acontece durante o FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde. A vencedora de 2019 foi a bióloga molecular e geneticistaMayana Zatz, que recebeu a premiação das mãos de Priscilla Franklim Martins, CEO da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Mayana é docente do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências de Universidade de São Paulo e exerceu o cargo de Pró-reitora de Pesquisa da universidade de 2005 a 2009. Realiza pesquisas em genética humana, com pioneirismo no campo de doenças neuromusculares. Atualmente, seu laboratório do genoma humano também realiza relevantes pesquisas no campo de células-tronco.

A homenageada foi a fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular e é Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, além de ter publicado centenas de trabalhos científicos e ganhado inúmeros prêmios nacionais e internacionais.

“Quero agradecer à Abramed ao receber esta homenagem. O Dr. Gastão era uma pessoa fantástica e tive o prazer de conhecê-lo. Nós, geneticistas, sempre temos projetos associados à medicina do futuro, sempre com a preocupação de diminuir os custos”, falou Mayana.

“Para a Abramed, é uma imensa honra resgatar a memória do Dr. Gastão com esta singela homenagem e relembrar com carinho características marcantes do nosso amigo e eterno inspirador”, lembrou Priscilla, ressaltando que alguns dos traços de personalidade do Dr. Gastão servem de parâmetro para que a entidade escolha quem vai receber o prêmio. “Este ano, quatro características foram sobressalentes: perseverança, conhecimento técnico-científico, caráter visionário e, exatamente como o Dr. Gastão, fazer história no mercado diagnóstico”, reforçou a CEO da Abramed.

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld é uma homenagem a este renomado profissional do setor de medicina diagnóstica, que faleceu em março de 2018, após décadas de empenho em tornar o segmento de diagnóstico mais unido.

Tecnologia de ponta e procedimentos de saúde foram assuntos do 4º FILIS

Shafi Ahmed, um dos principais influenciadores mundiais em saúde digital e realidade virtual, abordou o tema “Transformando a saúde”

02 de Setembro de 2019

O mundo passa pela quarta revolução industrial e vive a “época mais empolgante da biomedicina”. Esse é a ótica de Shafi Ahmed, cirurgião oncológico dos hospitais The Royal London e St. Bartholomew, professor das universidades Bradford e Singularity, e um dos principais influenciadores mundiais em saúde digital e realidade virtual. Sua palestra encerrou o 4º FILIS – Fórum Internacional de Lideranças da Saúde, evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Em 2014, usando o Google Glass, Ahmed removeu um câncer de um paciente sob os olhares de centenas de universitários, em mais de 100 países. À medida que as perguntas surgiam na lente do seu Glass, ele respondia às dúvidas como se as pessoas que o questionavam estivessem ao seu lado. O procedimento transmitido ao vivo, em realidade virtual, tornou-se um novo paradigma de aprendizagem. Além disso, o cirurgião alcançou vários reconhecimentos relevantes da indústria, incluindo o Future NHS Award e o Webit International Award de Melhor Uso de Inovação Digital em Saúde.

No FILIS, ele ressaltou que o dinheiro disponível no mundo é escasso e que é preciso estabelecer metas sustentáveis para os novos desafios tecnológicos. “Precisamos mudar os currículos das universidades e ensinar os médicos a serem empreendedores. As inovações vão ocorrer em um ritmo mais acelerado e os centros de ensino precisam acompanhar. Estamos mais conectados do que nunca”, reforçou.

Para o médico, as altas tecnologias de baixo custo estarão cada vez mais acessíveis. “Sou consultor de cirurgias que ocorrem em diferentes lugares do mundo: Londres, Índia, Estados Unidos. Eu não vou a esses lugares, mas a tecnologia me leva até eles”, afirmou Ahmed, que deve lançar um novo livro em novembro sobre o tema.

Entre os exemplos de lugares que estão passando por transformação tecnológica na área da saúde, ele citou Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. “É um país rico e pequeno, com apenas três milhões de habitantes. Lá existem cerca de 50 hospitais e estão todos conectados por meio de tecnologia de ponta”, afirma, lembrando que o país investiu US$ 5,5 bilhões no sistema de saúde.

Ao final da palestra, o presidente do Conselho de Administração da Abramed 2019-2022, Wilson Shcolnik, encerrou o evento fazendo um balanço do evento e seus principais destaques. E aproveitou para convidar a todos para o 5° FILIS, que tem data marcada para o dia 28 de agosto de 2020.

Medicina diagnóstica é fundamental no ciclo de cuidados

Com a participação de palestrantes internacionais, painel discutiu assuntos relacionados à aplicação da tecnologia na melhoria do atendimento

02 de Setembro de 2019

Debater a relevância da medicina diagnóstica dentro de uma cadeia de saúde complexa foi um dos focos da 4ª edição do FILIS – Fórum de Lideranças da Saúde, evento realizado pela Abramed, no dia 30 de agosto, em São Paulo. Como macrotema, o 4º FILIS trouxe a “Medicina Diagnóstica: mais valor para um sistema de saúde em transformação” e mesclando experiências nacionais e internacionais, o painel “O papel da Medicina Diagnóstica e a sua participação no ciclo de cuidados” discutiu assuntos relacionados à aplicação da tecnologia na melhoria do atendimento – e consequentemente em melhores desfechos clínicos – sem abrir mão da humanização do sistema.

Entre os palestrantes internacionais, Khosrow Shotorbani, CEO Lab 2.0 Strategic Services e presidente do Projeto Santa Fe Foundation, mostrou que exames laboratoriais podem contribuir para a estratificação de riscos em diferentes fases da assistência ou do cuidado em saúde. O Projeto Santa Fé foi lançado com o intuito de discutir novas fronteiras que definirão a avaliação econômica futura e a colocação de serviços de diagnóstico.

Shotorbani demonstrou que exames custam muito pouco em relação ao que podem trazer de benefícios. “A cada US$ 1 dólar gasto na saúde, US$ 0,03 vão para diagnóstico e 70% dessas informações são usadas para as decisões clínicas. Logo, se uma decisão clínica custa três centavos, o custo deveria reduzir em pelo menos 30%”, detalhou.

Para o CEO, é preciso que a medicina diagnóstica “tome o seu lugar à mesa”. “Informamos ao profissional de saúde o que vem pela frente. Fazemos uma estratificação dos riscos e o que vai acontecer. Um laboratório clínico pode fazer muito, desde conectar o paciente ao gestor de saúde, até ajudar a criar um modelo de saúde do futuro. Qual o nosso papel nesses 97 centavos de dólar?”, questionou.

O painel recebeu também John Mattison, CMIO e Strategy Advisor da Kaiser Permanente, principal plano de saúde dos Estados Unidos, que mostrou várias aplicações e novos conhecimentos de genômica que vão modificar a assistência à saúde, destacando diagnóstico, tratamento do câncer e o que acontece na medicina personalizada: “O futuro já está aqui. Treinamos como repensar e atender os pacientes de maneira digital”.

Após as palestras, o debate contou com a presença de Gustavo Fernandes, Oncologista e Vice-presidente de Relações Nacionais e Internacionais da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica; Paulo Chapchap, Diretor-Geral do Hospital Sírio-Libanês; Roberto Santoro, CEO do Hermes Pardini, e Robson Miguel, Diretor de Serviços Profissionais LATAM e Canadá da Abbott Diagnostics. Discutiu-se a importância do cuidado pessoal com educação médica, bem como a necessidade de redução de desperdícios no setor.

Chapchap falou da necessidade de uma equipe de especialistas em diagnóstico dentro de um hospital, ajudando médicos a tomar decisões em situações clínicas distintas. “Se o médico tem mais informações sobre o paciente, ele vai pedir os exames que são realmente necessários. Temos vários gaps(lacunas) de diagnósticos em um hospital. Precisamos da integração entre patologia, radiologia clínica e medicina nuclear com os médicos clínicos”, afirmou, ressaltando que a consciência social do médico é fundamental. “E a consciência de valor para economizar em saúde populacional é fazer mais por aquele indivíduo que está na frente dele. A medicina está cada vez mais personalizada”, frisou.

Gustavo Fernandes lembrou da expectativa dos pacientes no consultório sobre a realização de exames e que o médico precisa de tempo para explicar o que pode ser útil. “Precisamos trazer o médico e o paciente para a prevenção através da educação, para que o especialista compreenda a pertinência daquilo que ele está pedindo”, considerou.

Reafirmando a urgência da necessidade do uso racional de recursos e a integração entre prestadores de serviços e operadoras de plano de saúde no Brasil, Roberto Santoro, CEO do Hermes Pardini, ressaltou que é preciso trazer o desfecho clínico para ma realidade da operadora. “E remunerar o médico a partir disso”, completou.

A ideia foi corroborada por Robson Miguel, da Abbot Diagnostics: “Esse processo de engajamento é onde acreditamos que vamos conseguir extrair melhores resultados”.

Healthtechs brasileiras apresentam soluções tecnológicas para saúde no 4° FILIS

CUCOhealth, GlucoGear e Neoprospecta participaram do painel “Healthtechs: transformando o acesso à saúde”

02 de Setembro de 2019

As healthtechs – empresas com propostas inovadoras e disruptivas na área da saúde – têm mudado, em todo o mundo, a maneira com que muitos pacientes vêm interagindo com os serviços de saúde.

Três startups brasileiras apresentaram suas soluções para o mercado durante o 4º FILIS (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde), evento promovido pela Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), que aconteceu em São Paulo, dia 30 de agosto. Entre os cases apresentados estavam um aplicativo para engajar os pacientes em tratamentos médicos, outro que ajuda a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia se comporta, e o diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos.

A CEO e fundadora da CUCOhealth, Lívia Cunha, foi a primeira a apresentar sua solução. Fundada em 2015, a healthtech trouxe para o mercado um aplicativo gratuito de engajamento de pacientes em tratamentos médicos. Funciona como um enfermeiro digital na vida dos pacientes em tempo integral, oferecendo conteúdo segmentado para educá-los sobre a condição crônica, alertas para lembrança dos compromissos de saúde como medicamentos e medições, além de trabalhar com gamificação para beneficiar os pacientes mais engajados.

Lívia ressaltou que a empresa ajuda os pacientes a aderirem ao tratamento médico, uma vez que a cada 100 diagnósticos, somente 20 voltam na farmácia para comprar remédios. “A não adesão gera mais custos na saúde. Nós trabalhamos com hospitais e temos o paciente no centro do processo”, afirmou. A empresa atende mais de 100 mil pessoas no Brasil e outros países da América Latina, além de Estados Unidos e Alemanha.

Já o fundador e CEO da GlucoGear, Yuri Matsumoto – startup que utiliza inteligência artificial para controle do diabetes – apresentou a estratégia da empresa de oferecer tecnologias preditivas como informações para bomba de insulina. Segundo o empresário, foram desenvolvidos algoritmos para produção de canetas inteligentes de insulina com um ecossistema integrado a outras empresas para garantir um sistema 100% autônomo para as pessoas com diabetes.

Seu primeiro produto é um aplicativo chamado GlucoTrends, que tem como objetivo ajudar pacientes a controlar o diabetes e entender melhor como a glicemia deles se comporta. “Utilizando inteligência artificial, a tecnologia consegue prever a curva glicêmica futura de cada usuário e alertar para possíveis eventos de hipo ou hiperglicemia, bem como recomendar ações preventivas”, disse. “Além disso, oferece um histórico digital de glicemia, medicamentos administrados, calculadora de insulina, tabela de alimentos com contagem nutricional e registro de atividades físicas com estimativa de consumo energético.” O aplicativo traz ainda conteúdo publicado por experts em diabetes para orientar os usuários sobre os desafios do dia a dia, e também uma interação social para que usuários encontrem outros com perfil similar para compartilhar momentos, experiências e suporte emocional.

A Neoprospecta foi a última startup a se apresentar no 4º FILIS. O CEO Luiz Felipe Oliveira iniciou ressaltando que o corpo humano produz milhões de bactérias a partir do intestino e que a solução da empresa é realizar testes para saber se a microbiota do paciente está ligada à situação diagnosticada. Isso acontece através do diagnóstico microbiológico digital, que utiliza marcadores genéticos para a identificação de micro-organismos, utilizando como base as novas tecnologias de sequenciamento de DNA em larga escala. “Trabalhamos a estratégia B2B com principais players do mercado, como Dasa e Albert Einstein”, afirmou Oliveira.

Segundo ele, esse pipeline tecnológico possui duas etapas principais: a laboratorial, que compreende a purificação e extração do DNA, o preparo molecular da amostra e o sequenciamento do DNA; as etapas computacionais, que consistem em análises de bioinformática; e a implementação dos dados na plataforma de visualização.

Após a apresentação das healthtechs, Antônio Vergara, CEO da Roche Diagnóstica Brasil; iniciou o debate ressaltando que a contribuição das startups é bem-vinda, uma vez que traz interação com modelos de negócios inovadores. “Essa cooperação entre healthtechs e grandes empresas é importante, pois o setor de saúde está em constante busca de melhorias, seja para garantir a segurança dos pacientes quanto para prover uma gestão mais eficiente e sustentável”.

Pedro de Godoy Bueno, presidente da Dasa, mencionou que as grandes empresas têm processos mais lentos e atuações em diversas áreas, enquanto as startups conseguem mirar em um problema específico. “Essa cooperação é um caminho sem volta”, afirmou. “Trazer cultura de startup para dentro das empresas é um desafio. Temos várias que funcionam dentro da Dasa, e essa parceria é importante para nós e para elas também, já que é uma possibilidade de escalar. Unir é o caminho”, defendeu.

Para convergir com as grandes e garantir as parcerias, as healthtechs precisam ter, segundo ele, persistência, ciclo comercial largo e defensor interno dentro das grandes empresas. Bueno defendeu também que o capital precisa migrar para onde há mais retorno e lembra que os médicos não estão 100% prontos para o que está vindo.

Durante a discussão, Rodrigo Aguiar, Diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), lembrou que a Agência precisa tratar a inovação dentro da regulação, porém sem inibir os avanços. “Se conseguirmos não atrapalhar, já ajudamos, uma vez que a regulação é muitas vezes a antítese da inovação”, afirmou. Dessa forma, ele considera que é papel também da ANS fomentar o ambiente para novas healthtechs. “Queremos que floresçam a inovação e novas plataformas de cuidado. Temos que evitar as más práticas, sem brecar as novas”, resumiu.

Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury, reforçou que as soluções oferecidas precisam estar casadas com as intenções do médico. Ele avalia, no entanto, que o momento atual oferece muitos recursos, mas não novas ideias. “Temos o big data, mas não a big idea. Há ideias muito segmentadas, que não são escaláveis”, provocou.

Renato Buselli, head LATAM da Siemens Healthineers, indicou que há verbas disponíveis no fundo de pensão do governo federal e que vivemos um momento de transformação cultural. “Precisamos de novas práticas para construir essa história de transformação”, avaliou. Ele indica, ainda, que as novas empresas devem buscar inovações disruptivas, mas também adaptar soluções que já existem, contribuindo para a evolução do mercado.

Implementação de lei de proteção de dados é urgente, avaliam especialistas participantes do 4° Filis

Painel “Quais as mudanças a LGPD trará para o setor da saúde?” trouxe exemplo da lei europeia e debateu a importância da regulação para o Brasil

02 de Setembro de 2019

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é a primeira normatização específica sobre o assunto no Brasil. Entrando em vigor a partir de 14 de agosto de 2020, ela deverá proporcionar maior transparência, segurança e confiabilidade para todos os atores da cadeia de saúde e usuários dos serviços do setor, abrindo ainda mais espaço para a inovação.

A LGPD acolhe regras constantes no Marco Civil da Internet, no Código de Defesa do Consumidor e em outras normativas precedentes inspiradas na lei de proteção de dados europeia, a GDPR (General Data Protection Regulation). Para contar a experiência nesses outros países, o 4º Filis (Fórum Internacional de Lideranças da Saúde) trouxe o palestrante internacional Vicenzo Salvatore, professor de Direito da União Europeia na Università degli studi dell’Insubria.

A lei de proteção de dados da União Europeia foi aprovada em maio de 2016 e teve dois anos para implementação. Apesar de ser recente, tem abordagem antiga, uma vez que havia diretivas desde 1995, agora regulamentadas sob o formato de legislação. “Quando a GDPR foi apresentada, o parlamento europeu fez várias emendas”, contou Salvatore, classificando o processo como lento. Para ele, “a lei veio tarde”, mas agora caminha no sentido certo, após 140 mil reclamações e pedidos de esclarecimentos.

A regulamentação prevê ainda um conselho de proteção de dados que estabelece normas, por exemplo, para como são feitos estudos clínicos, além de litígios e privacidade por projetos. “Há condução de avaliação de risco e adoção de medidas específicas para determinadas operações de dados, para aplicar as informações que estão disponíveis”, explicou.

Um exemplo de caso real citado pelo especialista é de um paciente que operou o quadril, cujas informações são disponibilizadas para a empresa que fabrica produtos ortopédicos. “O mapeamento desses dados é repassado para contribuir para que a empresa possa atender esse tipo de paciente da melhor forma”, exemplificou.

Há ainda discussão sobre por quanto tempo esse tipo de dado será armazenado e quem poderá ter acesso a ele. Hoje, a Europa usa como padrão geral cinco anos.

No Brasil, as empresas terão que se adaptar à lei de dados em menos de um ano, como ressaltou o presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética, Sandro Süffert, em sua palestra no 4º Filis. “A mensagem é de urgência para que elas acelerem seus processos.”

Ele ainda falou sobre segurança de dados, ressaltando que cada vez é preciso mais sofisticação para hackear acessos. “A globalização ajuda para o bem e para o mal, uma vez que há contribuição entre decodificadores de processos de vários países nessas invasões”, completou. Quando ocorre a invasão e há vazamento de dados, levam-se em média 350 dias para as empresas descobrirem e começarem a tomar atitudes – prazo considerado extenso para conseguir dar respostas.

Além de Salvatore e Süffert, também compuseram o debate, discutindo os benefícios e desafios na implementação da lei no Brasil, Fernando Terni, CEO Alliar Médicos à Frente; Patrícia Holland, diretora-executiva da BP Medicina Diagnóstica; e Vera Valente, diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

Süffert lembrou que a informação é importante para saber quais riscos as empresas correm. Ele citou como exemplo a invasão do site do Hospital das Clínicas, noticiada em março deste ano, quando hackers invadiram cinco servidores do complexo. Na ocasião, o HC afirmou que houve tentativa de invasão a seu site, mas a própria estrutura de segurança do hospital impediu o acesso a dados sensíveis da instituição, como informações sobre pacientes, e retirou momentaneamente sua página do ar para garantir a segurança e avaliar detalhadamente a tentativa de ataque. “Essa é a notícia que chegou a todos, mas outros casos ocorreram e não foram noticiados”, salientou, lembrando que não há gasto para adequação, uma vez que o investimento para a implementação da lei se reverterá em redução de prejuízos por parte das empresas no futuro, quando estarão mais protegidas.

Vera Valente ressaltou que a legislação é um “grande avanço”, coloca o Brasil na era da proteção de dados, “mas o sucesso depende de como a lei será regulada e implementada”. Ela lembrou de pesquisa do Serasa apontando que 65% das empresas ainda não estão preparadas, e sugeriu a extensão do prazo para entrar em vigor como uma solução. “Consultas e audiências públicas são importantes”, disse e complementou afirmando que “temos que tomar cuidado para não virar indústria da judicialização, afinal as multas são pesadas”, considerou.

Para Fernando Terni, o governo tem contribuído para a implementação da lei, e a nova regra ainda assusta as empresas por ser desconhecida. “Mas todos sabem da necessidade de efetivação e sabem que precisam trabalhar para isso”, afirmou, emendando que “não há como evitar a aplicação da lei. Ela não pode representar impeditivo para a integração dos dados, que é tão necessária para o setor”.

Patricia Holland mostrou-se otimista com o modo que esses dados podem ser usados para melhorar o atendimento aos próprios usuários. “Em um momento em que o setor discute cada vez mais o empoderamento do paciente e sua efetiva participação no cuidado com a própria saúde, devemos encarar esse desafio como mais uma oportunidade para trazer o paciente para perto das nossas instituições, numa relação mais ética e transparente, com potencial para gerar mais adesão e comprometimento de quem, afinal, é o centro das nossas atenções”, finalizou.

Fórum Abramed de Compliance na Saúde debate ética e integridade durante 13ª Convenção Brasileira de Hospitais

Encontro foi realizado no dia 2 de agosto, em Salvador (BA); Associação apresentou sua atuação na área de compliance e reforçou a importância da integração entre todos os elos da cadeia

05 de Agosto de 2019

m um momento histórico onde a corrupção está diariamente na mídia, fomentar a discussão sobre a importância de programas de compliance dentro do complexo da saúde é indispensável. No dia 2 de agosto, a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) promoveu o Fórum Abramed de Compliance na Saúde. O encontro, realizado na  13ª Convenção Brasileira de Hospitais, reuniu importantes nomes do setor, e apresentou a atuação da Associação na promoção de políticas de ética e integridade, além de debater, a fundo, a relevância da integração entre todos os atores do segmento.

A abertura do fórum foi comandada pela diretora-executiva da Abramed, Priscilla Franklim Martins, que traçou um panorama do setor baseado nos dados publicados pelo Painel Abramed de 2018 (clique AQUI para fazer o download), e que mostram a grande representatividade da medicina diagnóstica dentro do complexo de saúde. A executiva aproveitou a oportunidade para lembrar aos participantes que a versão 2019 do estudo está sendo finalizada e será lançada ainda neste mês de agosto.

Na sequência, o encontro recebeu Matheus Leonel, coordenador do GT de Governança, Ética e Compliance da Abramed, que apresentou a Cartilha de Compliance (clique AQUI para baixar) e a agenda propositiva da Associação. Lembrando que a Abramed é uma entidade jovem – acaba de completar nove anos de atuação –, Leonel apontou como um marco a elaboração do código de conduta em 2017 e a criação de duas estruturas para manter o assunto em pauta: um comitê de ética, com o objetivo de aprovar as políticas e diretrizes de compliance no âmbito da associação, e um grupo de trabalho responsável por recomendar, acompanhar e avaliar o desenvolvimento de ações que visem a disseminação, capacitação e treinamento sobre códigos, normas e questões éticas no setor de medicina diagnóstica.

“Essas ações surgiram para entendermos o que mais precisávamos fazer na busca por um setor com práticas adequadas e com integridade em suas atitudes”, relatou o coordenador enfatizando que é papel da entidade dedicar esforços para que todas as associadas, juntas, ampliem seu nível de conformidade, independentemente de seu porte ou localização geográfica.

Além disso, Leonel apontou a importância dessas discussões não se limitarem à medicina diagnóstica, sendo necessário romper a barreira do segmento para que os efeitos positivos atinjam o paciente final. “Precisamos ir além, pois esse trabalho não surtirá efeito se ficarmos discutindo estritamente dentro dos nossos limites. Devemos mobilizar novas vertentes”, finalizou.

Convidado pela Abramed para compor o time de especialistas do fórum, Carlos Eduardo Gouvêa, diretor-executivo do Instituto Ética Saúde (IES), apresentou a entidade, seus objetivos e metas, e reforçou que o setor carece de maturidade ética e transparência em suas relações. “Queremos promover melhores práticas por meio de mecanismos de auto-regulamentação. Visamos difundir e consolidar a cultura da honestidade, além de buscar e promover a concorrência justa e leal, ampliar o acesso à saúde e, ao mesmo tempo, reduzir desperdícios e desvios do sistema”, disse, enfatizando a tecnologia como aliada.

Até o momento, o Instituto recebeu 600 denúncias – que totalizaram 1.500 denunciados – sendo que as principais se referem à concessão de incentivos pessoais, prática lesiva à concorrência, pagamento de taxa de comissionamento vinculada a uso de material, relação entre médico e paciente, e doação de equipamentos para obtenção de vantagem indevida.

O diretor também aproveitou a oportunidade para detalhar o QualIES, programa que visa avaliar o nível de maturidade dos sistemas de integridade das empresas, e que está sendo analisado pela Controladoria-Geral da União (CGU) como atalho para a obtenção do selo Pró-Ética, que pretende conjugar esforços entre os setores público e privado para promover no país um ambiente corporativo mais íntegro, ético e transparente.

Debate – Como os diferentes atores podem contribuir na resolução de conflitos do setor?

Após as apresentações, o Fórum Abramed de Compliance na Saúde promoveu um debate bastante motivador sobre a importância da união dos players para a construção de um ambiente mais transparente e sustentável no país.

Mediada por Esther Flesch, da Flesch Advogados, a discussão recebeu, além de Gouvêa e Leonel, Claudia Cohn, presidente do Conselho de Administração da Abramed; José Guimarães, diretor-regional da Comissão Compliance do Instituto Brasileiro de Ética e Direito Empresarial (IBDEE); Luiz Aramicy Pinto, secretário-executivo da Federação Brasileira de Hospitais (FBH); e Renilson Rehem, presidente do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS).

Ao abrir a sessão, Esther reforçou a amplitude do tema. “Quando falamos em compliance, muitas pessoas pensam basicamente em corrupção, mas não vamos nos limitar a falar sobre isso”, disse ao apontar que o Brasil avançou nos últimos anos, e hoje está em uma fase muito mais madura nesta discussão.

A posição do brasileiro na luta contra a crise de ética também foi destacada pelos debatedores. Segundo Guimarães, há três décadas pouco se falava em compliance. “Hoje o Brasil é o segundo país da América Latina no ranking de combate à corrupção. Perde apenas para o Chile, nação onde o estado investe em integridade e contribui com a implementação de programas de conformidade”, relatou.

Para Rehem, esse aculturamento surgiu, inclusive, de forma bastante abrupta. “Vivemos um momento onde todos são culpados até que se prove o contrário quando, na verdade, deveria ser o inverso: todos são inocentes até que se prove que não. Mas isso faz parte do quadro que estamos vivendo e dessa velocidade em fazermos, em cinco anos, o que os Estados Unidos levaram 30 para fazer”, comentou. Para o especialista, essa fase é revolucionária. “É isso que nos levará a um país melhor”, finalizou.

Assumindo posição provocativa em sua mediação, Esther questionou os debatedores sobre como orientar médicos e profissionais de saúde a respeito das melhores práticas nas relações com todos os outros elementos da cadeia.

De forma bastante direta, Gouvêa pontuou que as entidades podem surgir como um norte às classes profissionais. “A partir do momento em que essas instituições representativas impõem condutas junto a seus associados, empresas, fabricantes, importadores e distribuidores, começam a trilhar um novo caminho e, então, o setor médico passa a buscar alternativas”, declarou.

Segundo Aramicy, muitos dos escândalos envolvendo setores de saúde que ganharam repercussão na última década serviram de lição para uma mudança radical e positiva. “Já passamos situações vergonhosas com médicos que utilizavam próteses que não eram necessárias. Mas isso é passado. Agora temos de incentivar os jovens que estão nos bancos das universidades e em breve serão inseridos no mercado de trabalho. Precisamos seguir essa linha para entrarmos em um ciclo de melhorias na sociedade brasileira”, pontuou.

Para Rehem, é impossível separar a figura do médico de todas as decisões do contexto da saúde. “Não podemos pensar em nenhuma mudança sem envolver os médicos”, declarou. Já Guimarães reforçou que conflitos de interesses são desafios diários, e que é preciso tato para abordagens deste tipo. “São processos longos que exigem persistência e percepção, além de empatia para capturar e valorizar esse médico. Essa valorização deve reforçar as qualidades em vez de apontar defeitos. É a cultura de integração”, afirmou.

Falando sobre a definição de protocolos para melhores práticas clínicas como um dos direcionamentos de programas de conformidade, Claudia enfatizou que isso é uma tendência que não precisará ser imposta. “Cada vez mais os médicos terão, à mão, ferramentas que indicarão os melhores caminhos. E tudo isso, leva a uma sequência de conhecimentos e empoderamento. Dentro do hospital, o médico é um grande defensor da saúde e o gestor, ao meu ver, deve auxiliá-lo a utilizar essas ferramentas. Temos todos que trabalhar juntos”, disse.

LGPD – O debate também abordou a relação de programas de compliance com a nova Lei Geral de Proteção de Dados, que entra em vigor em agosto de 2020. Para Claudia, a legislação é bem-vinda. “A saúde é aberta e temos que aprender que proteger os dados protege, também, pacientes e empresas. O grande ponto está relacionado ao prazo que temos para essa percepção. A Inglaterra levou sete anos aperfeiçoando uma lei deste porte e nós, no Brasil, queremos finalizar em um ano. Entendemos que é preciso estipular um prazo para que não ‘deixemos para amanhã’. Agora, com o prazo mais apertado, todos teremos de correr para amadurecer perante essa novidade”, encerrou.