Reforma Tributária: impactos e oportunidades para laboratórios e clínicas de Medicina Diagnóstica

Mudanças tributárias inauguram uma nova etapa de adaptação para o setor de saúde, que precisará revisar processos, contratos e sistemas para manter eficiência e competitividade

O sistema tributário brasileiro passa por uma transformação que atinge tanto empresas quanto profissionais de diferentes setores. As mudanças recentes no Imposto de Renda (IR) e a implementação da Reforma Tributária não estão diretamente conectadas, mas fazem parte de um mesmo movimento que busca ampliar a transparência, simplificar regras e redistribuir de forma mais equilibrada a carga tributária.

Para o setor de saúde, especialmente laboratórios e clínicas de Medicina Diagnóstica, o momento exige atenção redobrada. As medidas em curso afetam desde a tributação de lucros e dividendos até o funcionamento das operações e contratos, demandando preparo técnico e revisão de processos.

As alterações previstas no Projeto de Lei nº 1.087/25 ampliam a faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês e criam uma alíquota de 10% sobre lucros e dividendos distribuídos a beneficiários residentes no Brasil que recebam mais de R$ 50 mil mensais, ou sobre qualquer valor quando o beneficiário for residente no exterior.

Segundo o advogado tributarista Renato Nunes, essa medida pode impactar diretamente sócios e acionistas de laboratórios e clínicas que operam sob o regime de lucro presumido ou Simples Nacional. “Ainda que não tenha relação direta com a Reforma Tributária, essa mudança compõe um cenário mais amplo, em que será essencial reavaliar estruturas societárias e fluxos de rendimento”, explica.

Já a Lei Complementar nº 214/2025, que institui o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), traz uma das inovações mais significativas das mudanças no regime de tributação do consumo.

Nesse formato, o valor pago ao prestador é dividido automaticamente pela instituição de pagamento (e.g. banco) — uma parte segue para a empresa que forneceu o bem ou serviço e as parcelas correspondentes aos valores de IBS e CBS irão direto ao Comitê Gestor do IBS e à Receita Federal, respectivamente.

“O objetivo é reduzir inadimplência e sonegação, mas o mecanismo exigirá acompanhamento atento. Há algumas modalidades de Split Payment. No que vem sendo denominado Split Payment inteligente, serão segregados valores brutos de IBS e CBS, sem levar em conta eventuais créditos do contribuinte, e eventual excesso deverá ser devolvido em até 3 dias úteis. Isso impactará negativamente o fluxo de caixa das empresas, o que se agravará se a devolução de eventuais excessos não ocorrer no prazo previsto em lei.”, explica Renato.

A Reforma Tributária trará impactos práticos para todo o setor. Além de mudanças na emissão de documentos fiscais — que passam a seguir padrões em desenvolvimento pelo Comitê Gestor do IBS e pela Receita Federal —, haverá necessidade de revisar contratos, atualizar cadastros de produtos, redefinir preços e adequar sistemas de gestão.

Entre as novidades, está a criação de um crédito presumido da CBS para contribuintes que apuram o PIS/COFINS pelo regime cumulativo, caso das empresas de medicina diagnóstica. Esse crédito corresponderá a 9,25% do estoque de insumos existente em 1º de janeiro de 2027, o que poderá representar uma oportunidade concreta de otimização de caixa.

Porém, o cenário não é igual para todos. Entidades filantrópicas, por exemplo, não poderão recuperar o IBS e a CBS pagos em suas aquisições, o que poderá aumentar seus custos, caso não haja negociação com fornecedores.

O novo sistema representa uma virada de lógica na tributação sobre consumo. O IBS e a CBS serão não cumulativos para praticamente todos os contribuintes, permitindo que créditos gerados nas aquisições sejam compensados com os débitos verificados no fornecimento de bens ou serviços.

Um ponto que as empresas de medicina deverão ter atenção diz respeito à exclusão do PIS/COFINS, a partir de 1 de janeiro de 2027, dos valores das compras e contratações. Ele exemplifica: “Um contrato de software de R$ 1.000,00, sujeito hoje a 3,65% de PIS e COFINS, poderá ser revisado, a partir de 1 de janeiro de 2027 para R$ 963,50, valor sobre o qual incidirá apenas a CBS. Essa adequação poderá, a um só tempo, reduzir o valor da despesa, assim como reduzir o desembolso de caixa com a CBS, racional este que também poderá ser adotado quando o IBS começar a substituir o ICMS e o ISS”.

O advogado lembra que a governança tributária será um dos pontos mais sensíveis do novo modelo. Os créditos de IBS e CBS só serão reconhecidos após o efetivo pagamento dentro das modalidades previstas em lei.

“Se o Split Payment for adotado em larga escala, isso trará segurança quanto à regularidade dos recolhimentos. Caso contrário, as empresas precisarão acompanhar de perto cada contratação”, explica.

Por isso, será fundamental investir em sistemas de controle integrados, capazes de monitorar créditos e débitos junto ao Comitê Gestor e à Receita Federal, garantindo transparência e evitando perda de créditos.

A Abramed acompanha as discussões da Reforma desde o início, em diálogo constante com o Governo Federal e o Congresso Nacional. O objetivo é assegurar um tratamento tributário adequado à saúde e manter o equilíbrio da carga tributária para o setor.

“O trabalho das entidades representativas tem sido essencial para garantir que as particularidades da medicina diagnóstica sejam reconhecidas e preservadas, como foi o caso do regime diferenciado ao setor, consistente na redução em 60% das alíquotas do IBS e da CBS”, reforça. Renato.

Para laboratórios e clínicas, preparar-se desde já é o que fará a diferença entre transformar as mudanças em oportunidades ou em aumento de custos e distorções de preço.  A transição pode ser complexa, mas, com informação, organização e diálogo, também pode abrir caminho para um sistema mais justo e eficiente.

Diagnóstico precoce e inovação em imagem fortalecem o cuidado com a saúde da mulher

No mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, a Abramed reforça o papel da Medicina Diagnóstica na detecção precoce da doença — um avanço que depende tanto de políticas públicas inclusivas quanto do acesso a tecnologias de imagem de alta precisão.

Um estudo conduzido pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e publicado no JAMA Network Open, demonstrou que mulheres que deixaram de realizar mamografias anteriores apresentaram tumores maiores, maior envolvimento linfonodal e menor sobrevida específica. A pesquisa analisou mais de 8,6 mil mulheres e mostrou que aquelas que não compareceram ao rastreamento anterior tinham 1,5 vez mais chance de tumores acima de 20 mm e quase cinco vezes mais risco de metástase à distância. O estudo reforça a importância da regularidade dos exames para evitar atrasos no diagnóstico e aumentar as chances de cura.

No Brasil, o câncer de mama segue como o de maior incidência entre as mulheres, com 73,6 mil novos casos estimados em 2025, segundo o Ministério da Saúde e o INCA. Apesar de o SUS ter realizado 4 milhões de mamografias em 2024, a cobertura nacional ainda é de apenas 24% das mulheres elegíveis — bem abaixo da meta de 70% recomendada pela Organização Mundial da Saúde.

Para reverter esse cenário, o Ministério da Saúde ampliou o acesso à mamografia no SUS para mulheres a partir dos 40 anos, mesmo sem sintomas da doença. Essa faixa etária representa 23% dos casos de câncer de mama e agora poderá realizar o exame sob demanda, em decisão compartilhada com o profissional de saúde. A medida integra o programa Agora Tem Especialistas, que prevê unidades móveis em 22 estados, aquisição de equipamentos de biópsia e imagem de última geração e a incorporação de novos medicamentos para o tratamento do câncer de mama avançado.

“Garantir o acesso regular aos exames de imagem e investir nas tecnologias mais avançadas é essencial para que o diagnóstico precoce deixe de ser exceção e se torne regra no cuidado à saúde da mulher”, afirma Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed.

O diagnóstico por imagem — especialmente por meio da mamografia digital e da tomossíntese 3D — é decisivo para identificar lesões em estágios iniciais, quando o tratamento é mais eficaz e menos invasivo. Para a Abramed, ampliar o rastreamento e investir em inovação diagnóstica são passos complementares para transformar o Outubro Rosa em um movimento permanente de cuidado e prevenção.

Global Forum discute inovação e cuidado em meio a desafios econômicos da Saúde Suplementar

Durante evento, líderes do setor alertam para pressões estruturais e defenderam uma transformação baseada em tecnologia, valorização profissional e centralidade de pacientes

Em sua sétima edição, o Global Forum Fronteiras da Saúde — organizado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida — foi sediado em Brasília, reuniu especialistas de todo o país em busca de caminhos de transformação da saúde, tanto na esfera pública quanto na privada.

Entre os debates de maior destaque, o painel “Saúde Suplementar: Dores e Soluções para Construir a Sustentabilidade Necessária” contou com a participação de Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed; Edivaldo Bazilio, Diretor Executivo do Saúde Global; Helena Maria Romcy, Presidente da Associação Brasileira dos Enfermeiros Auditores; e Helaine Capucho, Diretora de Acesso da Interfarma.

Abordando desde o aumento de custos e a consequente pressão sobre as operadoras até o equilíbrio entre inovação e viabilidade financeira, o painel teve como propósito discutir os desafios econômicos e estruturais do ecossistema privado e apontar soluções para a sustentabilidade do setor. Os participantes reforçaram o papel dos diferentes atores da Saúde Suplementar na construção de estratégias integradas que beneficiem pacientes, empresas e profissionais.

Milva Pagano destacou que o uso da inovação deve estar diretamente alinhado à redução de gargalos e desperdícios, com foco em uma jornada de cuidados que coloque o paciente no centro.

“Tomando a Inteligência Artificial como exemplo, precisamos ter em mente que a IA é uma ferramenta e, como toda ferramenta, pode ser usada para o bem ou para o mal. Para que seu propósito seja positivo, ela deve ser direcionada para reduzir desperdícios e melhorar a jornada do paciente — nunca para excluir ou substituir o olhar humano”.

Ao falar sobre gargalos e desperdícios, Edivaldo Bazilio apresentou um panorama detalhado da Saúde Suplementar, hoje sob forte pressão econômica. Segundo o executivo, o sistema passou de 1.700 para cerca de 600 operadoras nos últimos 20 anos, enquanto as margens seguem mínimas ou negativas, especialmente em tratamentos oncológicos e de infusão.

A pressão se agrava com glosas médias de 15%, inadimplência e contratos defasados, que não acompanham a inflação médica, já corrigida 50% abaixo do ritmo de incorporação de novas tecnologias. Bazilio também destacou que o ciclo de depreciação de equipamentos caiu de 10–15 anos para apenas 2–3, dificultando o retorno sobre investimento.

“As margens da saúde hoje são margens de varejo. Para superar esses desafios, é preciso desromantizar o setor. A área da Saúde é um negócio com missão, mas que também precisa de equilíbrio econômico para sobreviver”, sintetizou.

Complementando o diagnóstico, Helena Maria Romcy defendeu que os modelos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) precisam ganhar dinamismo, acompanhando o ritmo das inovações.

“Por que não olhar o processo de ATS de avaliação de tecnologias? E por que não inovarmos em nossos processos? A inovação, sem uma abertura para que se aprenda a lidar com a tecnologia, passa a ser um problema — e deixamos de explorar seu potencial em exames, diagnósticos e na jornada do paciente como um todo”, provocou.

A discussão também abordou o papel dos profissionais e a qualidade do atendimento médico, questões diretamente afetadas pela fragmentação e pela pressão financeira do sistema.
Helaine Capucho, ao focar na gestão do cuidado e na formação médica, criticou a perda da essência humanista da profissão: “O que mais incomoda as pessoas não é esperar por um médico, é o médico não olhar para elas. A saúde não pode perder a essência do cuidado”.

Concordando com essa perspectiva, Milva Pagano destacou que a desvalorização profissional precariza a consulta médica, compromete a anamnese e afeta a qualidade do diagnóstico. Conforme ela pontuou: “Se o paciente não estiver realmente no centro, estamos todos no lugar errado. A inovação precisa ser acompanhada por empatia e responsabilidade. Os problemas aqui apontados são bem-vindos, porque eles nos tiram da zona de conforto”.

O debate deixou claro que sustentabilidade e humanização precisam caminhar juntas.
Para os participantes, o futuro da Saúde Suplementar depende de uma mudança de mentalidade que uma inovação tecnológica, equilíbrio econômico e valorização das pessoas.

Novas tecnologias vs. Acesso dos pacientes

Durante o evento, Milva Pagano também participou do painel . O debate foi moderado por Marlene Oliveira, fundadora e Presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, e contou com participação de Rodrigo Cruz, Diretor Executivo de policy da MSD Brasil, Artur Brito, Líder de Acesso Público da Novartis,
Humberto Izidoro, CEO da VARIAN América Latina e Anderson Fernandes, Gerente de Acesso ao Mercado da Strattner.

A Abramed reforça, com sua participação no Global Forum, o compromisso de promover debates francos e colaborativos sobre o futuro do setor, estimulando a integração entre os diferentes elos da cadeia, a governança de dados e a humanização do cuidado como bases de um sistema mais eficiente, inclusivo e sustentável.

CONAHP 2025: uso de Inteligência Artificial potencializa o setor, mas exige equilíbrio entre eficiência e sustentabilidade financeira

Com participação de Cesar Nomura, Presidente do Conselho de Administração da Abramed, debate sobre avanços da IA na medicina aponta perspectivas para o futuro de exames e tratamentos

A digitalização da saúde e o potencial da Inteligência Artificial (IA) para impulsionar diagnósticos, tratamentos e o desenvolvimento de fármacos foram o foco de um importante debate realizado durante o Congresso Nacional de Hospitais Privados (CONAHP) 2025. O painel reuniu especialistas para discutir como a tecnologia está transformando o dia a dia de profissionais e áreas como a Medicina Diagnóstica e a Patologia Clínica.

O encontro contou com a participação de Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed e diretor de Medicina Diagnóstica do Hospital Sírio-Libanês; Fernando Soares, chefe do Departamento de Patologia Anatômica da Rede D’Or São Luiz; e Priscila Cruzatti, especialista em Inovação e Saúde Digital do Google. A moderação foi conduzida por Carlos Pedrotti, presidente da Saúde Digital Brasil (SDB).

Ao longo do painel, os especialistas destacaram o potencial disruptivo da IA, com ênfase na busca por sustentabilidade financeira para o uso de soluções eficazes e na importância da integração entre dados, diagnósticos e profissionais, fortalecendo os ecossistemas digitais na saúde.

A radiologia foi citada como uma das áreas que mais incorporou algoritmos de IA, com foco em segurança e qualidade na prática clínica. Cesar Nomura apontou que há mais de vinte anos o reconhecimento de voz já era utilizado nos Estados Unidos em rotinas radiológicas.

Nomura destacou também que a IA traz ganhos expressivos de produtividade e eficiência para a Medicina Diagnóstica, especialmente na ressonância magnética.

“Na ressonância magnética, o uso de algoritmos de IA permitiu um ganho de produtividade entre 25% e 30%. Antes, estávamos acostumados a exames longos, de 15, 20, até 30 minutos. Hoje, conseguimos qualidade de imagem em muito menos tempo, gerando eficiência e reduzindo custos para os laboratórios.”

Ele reforçou, ainda, que o debate sobre tecnologia precisa incluir o aspecto financeiro, como forma de demonstrar a viabilidade e o retorno sobre o investimento em soluções inovadoras.

“Quando se fala em sustentabilidade, é importante lembrar da sustentabilidade financeira. O financiamento dessas tecnologias não é baixo, mas compensa”, afirmou. Segundo Nomura, isso se deve à redução no consumo de energia e ao melhor aproveitamento das máquinas. Além disso, o uso de IA traz mais segurança aos pacientes. “Na tomografia computadorizada, por exemplo, a IA já contribuiu para uma redução de cerca de um terço na dose de radiação em comparação com dez anos atrás”, frisou o presidente da Abramed.

Carlos Pedrotti, presidente da Saúde Digital Brasil (SDB), concordou com a observação e destacou a necessidade de “racionalidade econômica” no setor de saúde. “Esse ponto é muito relevante e precisa ser considerado quando falamos da adoção de novas tecnologias para diagnósticos, tratamentos e desenvolvimento de fármacos.”

Nesse contexto, Priscila Cruzatti, especialista em Inovação e Saúde Digital do Google, destacou a mudança de paradigma trazida pelas soluções e serviços em nuvem.

“Hoje, com as tecnologias em nuvem e o modelo ‘as a service’, temos um novo panorama em que se paga apenas pelo que se usa. Isso permite que vivamos o mesmo momento tecnológico dos países mais avançados economicamente. O acesso está mais universal, e essa mudança de paradigma é muito relevante.”

Os especialistas concordaram que as novas infraestruturas tecnológicas, aliadas ao fortalecimento da segurança da informação e da interoperabilidade, permitirão que os profissionais de saúde concentrem esforços em questões mais estratégicas e no cuidado ao paciente. Segundo os painelistas, a IA pode inclusive acelerar o desenvolvimento de medicamentos, abrindo novas perspectivas de acessibilidade em tratamentos.

Facilitando e potencializando o trabalho humano

Refletindo sobre o avanço das soluções baseadas em IA, Cesar Nomura fez um apelo aos desenvolvedores de novas tecnologias para a saúde:

“Se eu pudesse deixar um recado aos desenvolvedores, diria que a prioridade precisa ser melhorar a vida do radiologista. Se a tecnologia aumenta a carga de trabalho, não estamos ganhando tempo com o paciente. Já conseguimos acelerar a execução dos exames, mas a produtividade dos laudos ainda precisa melhorar. O futuro exige investir mais em modelos que realmente facilitem o dia a dia do profissional.”

Ele mencionou que o potencial de ganho de produtividade com a IA é enorme, citando hospitais na China que realizam cerca de 6 mil tomografias por dia graças aos investimentos em inovação.

Fernando Soares, da Rede D’Or São Luiz, destacou que o próximo passo do uso de IA na patologia envolve justamente a organização da rotina dos profissionais.

“Eu produzo 9 mil lâminas por dia — preciso que o computador organize isso. Essa automatização está se tornando mais acessível. Assim, a digitalização da área avança com a patologia computacional, partindo agora para o uso da IA na interpretação de exames e na rotina laboratorial”, comentou o médico.

“Não existe bala de prata. A implementação tecnológica precisa ser simples, automatizada e bem parametrizada. O foco deve ser sempre facilitar a vida do médico”, concluiu o presidente do Conselho de Administração da Abramed.

No-show em exames: como boas práticas de gestão de agendamento ajudam a enfrentar esse desafio?

Taxa de ausência em laboratórios associados à Abramed cai para 13,5% em 2024 com processos estruturados e uso em escala de sistemas integrados.

O não comparecimento de pacientes aos exames — conhecido no setor de saúde como no-show — continua sendo um dos principais desafios para a eficiência da Medicina Diagnóstica. Cada ausência representa ociosidade de equipamentos, desperdício de insumos e aumento de custos, além de sobrecarregar agendas de técnicos, médicos e demais profissionais.

No contexto do sistema de saúde, o no-show compromete a agilidade dos resultados, atrasa diagnósticos e impacta negativamente a jornada de cuidado. Um estudo realizado na Grande São Paulo e divulgado pela Medicina S/A em 2024 apontou que clínicas privadas perdem, em média, R$ 144 mil por ano com o absenteísmo em agendamentos.

Esse cenário, no entanto, vem sendo transformado pelo avanço da tecnologia, pela adoção de processos estruturados de gestão e pela conscientização dos pacientes sobre a importância do comparecimento para a sustentabilidade do setor.

De acordo com a 7ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, a taxa média de no-show entre os laboratórios associados caiu de 15,3% em 2023 para 13,5% em 2024. O resultado reflete o engajamento crescente das instituições no monitoramento de indicadores de comparecimento, na adoção de práticas gerenciais eficientes e no fortalecimento da comunicação com os pacientes. 

A redução das ausências está diretamente relacionada à implementação de sistemas integrados de agendamento, que permitem redistribuir vagas em tempo hábil e otimizar a capacidade operacional. Segundo o Painel Abramed, 94,7% dos associados já utilizam sistemas que integram logística de agendamento, recepção e triagem — pilares essenciais para a eficiência em saúde. 

Essas plataformas, combinadas a lembretes digitais via SMS, e-mail, WhatsApp e aplicativos próprios, proporcionam uma comunicação mais próxima e personalizada. Além disso, a confirmação ativa de presença tem reduzido ausências não justificadas e aumentado a previsibilidade das agendas. Segundo Marcos Queiroz, Líder do Comitê de Diagnóstico por Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed, essas ações, principalmente em exames de alto custo como a Ressonância Magnética, podem fazer a diferença na viabilização do investimento em um novo equipamento. “Infelizmente ainda existe um aspecto cultural no nosso país que faz com que, mesmo com o uso de todas as ferramentas tecnológicas de confirmação, ainda tenhamos índices de no-show acima de 10%”, explica.

Outro avanço é o uso de algorítimos de análise de dados para acompanhar indicadores de comparecimento e satisfação. O Painel mostra que 89,5% dos associados já investem em soluções de Business Intelligence (BI), o que permite identificar padrões e aplicar ajustes rápidos — como priorizar pacientes com histórico de presença e facilitar reagendamentos.

Esse conjunto de práticas contribui para reduzir desperdícios e tornar o fluxo de atendimento mais ágil e sustentável para todo o setor.

Boas práticas e o papel institucional da Abramed

Além dos investimentos tecnológicos, o setor tem ampliado ações de educação dos pacientes, reforçando a importância de comparecer aos exames e avisar previamente sobre imprevistos.

Para a Abramed, o avanço observado é resultado da cooperação entre os associados e da disseminação de boas práticas. A entidade atua como articuladora de iniciativas de benchmarking, promovendo a troca de experiências e incentivando o uso da tecnologia como catalisadora de eficiência operacional, sempre aliada à gestão de pessoas.

Ao estimular o uso racional de recursos e a otimização de processos, a Abramed contribui para um modelo de saúde diagnóstica mais acessível, resolutivo e centrado na qualidade do atendimento aos pacientes.

Da reação à prevenção: como a Medicina Diagnóstica pode apoiar a fiscalização sanitária e proteger a saúde pública?

Por Carlos Ferreira, líder do Comitê de Análises Clínicas da Abramed.

Os recentes episódios de contaminação por metanol, que somaram dezenas de casos confirmados e mais de uma centena de notificações até meados de outubro, são um alerta inequívoco: o Brasil ainda opera sob uma lógica reativa na vigilância sanitária. Em vez de antecipar riscos, seguimos respondendo a crises depois que elas ganham proporções de tragédia. É um padrão que pode custar vidas, recursos e confiança pública.

A tese é simples, mas urgente: enquanto a prevenção não for tratada como um ativo estratégico e sustentada por dados diagnósticos de qualidade, o país continuará vulnerável a emergências que poderiam ter sido evitadas. E é justamente nesse ponto que a Medicina Diagnóstica se mostra um pilar insubstituível — não apenas como área de apoio clínico, mas como infraestrutura crítica de proteção coletiva.

Pouco se fala sobre a dimensão silenciosa do diagnóstico. Nos bastidores dos hospitais e laboratórios, milhares de análises diárias rastreiam diferentes testes clínicos diagnósticos, contaminantes, drogas terapêuticas, drogas de abuso, identificam agentes infecciosos e produzem resultados (dados) que orientam tanto decisões clínicas quanto epidemiológicas. Esses dados, quando integrados e interpretados com qualidade, são a linha de frente da prevenção de doenças e da vigilância sanitária moderna.

O desafio é que a eficácia dessa atuação raramente é visível. Quando um surto é evitado, não há manchete; quando uma contaminação é contida, não há reconhecimento. No entanto, é justamente essa prevenção invisível que evita uma nova tragédia. Estima-se que mais de 20 mil internações por ano poderiam ser evitadas com maior investimento em diagnóstico precoce e atenção primária — uma economia potencial de R$ 400 milhões anuais.

Ver a prevenção diagnóstica como despesa é um equívoco estrutural. Assim como a manutenção preventiva de um edifício garante sua segurança, a vigilância diagnóstica reduz riscos, desperdícios e custos assistenciais futuros. E principalmente garantem a segurança dos pacientes.

O Brasil detém as mais modernas metodologias diagnósticas disponíveis nos maiores centros internacionais — da PCR (Reação Cadeia Polimerase) tradicional e digital, ao Sequenciamento de Última Geração, chegando até na avaliação pela espectrometria de massa (MS).  Falta-nos, contudo, um ecossistema verdadeiramente integrado para que estes recursos possam ser utilizados de forma integrada.

Durante a pandemia de COVID-19, a contribuição do setor privado demonstrou o potencial de capilaridade e agilidade do país. Mas, sem interoperabilidade plena, sem padrões como o LOINC e sem uma Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) consolidada ainda. Os diferentes entes da cadeia, incluindo a Abramed, estão em contato permanente com os órgãos governamentais para que esta integração possa avançar.  Alguns casos de integração já puderam ser apresentados como, por exemplo, os testes de Covid no país. E outros testes estão em processo de integração. Contudo o fluxo de informação ainda continua muito fragmentado. E dados fragmentados são dados inertes.

A vigilância sanitária do futuro depende de dados comparáveis, rastreáveis e governados com qualidade regulatória. A recente RDC nº 978/2025, que atualiza as exigências laboratoriais, é um avanço real nesse sentido, reforçando o papel da regulação como política pública de prevenção. Cumpri-la não é apenas uma obrigação técnica; é um compromisso com a segurança do paciente e com a confiabilidade de todo o sistema.

O próximo salto exige migrar de ações corretivas para intensificação das ações preventivas. A medicina dos 4 Ps — Preventiva, Preditiva, Personalizada e Participativa — já orienta as melhores práticas. Três desses eixos passam diretamente pelo laboratório. A Inteligência Artificial (IA) e a big data já podem ampliar a capacidade de antecipar riscos, desde que a veracidade dos dados e a governança técnica estejam asseguradas. O poder dessas tecnologias só se concretiza quando a informação é confiável, ética e interoperável.

Se há uma lição nos episódios recentes de contaminação, é que reagir já não basta. A vigilância sanitária precisa se antecipar — e o diagnóstico é o instrumento mais propício para isso.

Transformar dados em prevenção é a chave para que o país possa se tornar mais seguro.

A Abramed e seus associados têm um papel decisivo nessa agenda: consolidar padrões, promover interoperabilidade e reafirmar que a qualidade diagnóstica é, antes de tudo, uma forma de governança em saúde pública.

RMA – Debate reforça integração entre IA e atuação humana para o futuro da Medicina Diagnóstica 

Participantes discutiram a jornada de transformação digital da saúde, destacando o papel de uma agenda colaborativa para a preparação de profissionais e empresas

A Reunião Mensal de Associados (RMA) da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) de setembro foi realizada na sede do CDB Inteligência Diagnóstica, empresa do Grupo Alliança Saúde, e contou com palestra de Augusto Antunes, Diretor Médico da Axial Inteligência Diagnóstica, e debate “IA na Saúde: estamos prontos para o futuro?”.

A abertura do encontro ficou a cargo de Ricardo Sartim, CEO da Alliança Saúde, e de Cesar Nomura e Milva Pagano, respectivamente Presidente e Diretora Executiva da Abramed. O anfitrião destacou a importância da união entre os associados, da agenda colaborativa e o desejo de estarem mais próximos da entidade. 

Em seu discurso, Milva atualizou os participantes acerca do avanço de pautas centrais para o planejamento estratégico da Associação até 2030 e destacou temas como treinamentos em torno da RDC 978/25) e a participação da Abramed no Conselho Consultivo do Movimento Empresarial pela Saúde (MeS), criado pela CNI e SESI, por meio de uma contribuição técnica para o uso adequado de exames clínicos. 

Nomura, por sua vez, enfatizou que “levar as reuniões mensais nos associados são uma ação estratégica de integração e valorização do ambiente da Medicina Diagnóstica”.

A palestra “Inteligência Artificial: inovações e impactos na Medicina Diagnóstica”, conduzida pelo Dr. Augusto Antunes, abordou o avanço da IA na radiologia e seu impacto na prática médica. Durante a apresentação, ele fez uma afirmação clara: “Só conseguiremos ser melhores médicos se incorporarmos novas tecnologias na prática clínica.”

O Diretor da Axial detalhou também a importância da radiologia para o desenvolvimento tecnológico da medicina, apontando que quase 50% das soluções médicas em desenvolvimento são voltadas a este segmento, um reflexo do protagonismo da área na inovação e digitalização da saúde. 

No entanto, Antunes ponderou que a maioria dos softwares atuais atua apenas no auxílio à detecção de lesões, enquanto o laudo é, na verdade, o produto central da prática radiológica. Ele questionou se essa abordagem faz sentido, visto que já existem tecnologias capazes de produzir laudos de forma automatizada, contribuindo para uma maior agilidade clínica e apoio à tomada de decisões de médicos.

Dentro do processo de digitalização e diante da demanda de exames, o médico apontou outro desafio:  a falta de profissionais. Cerca de 54% dos radiologistas relatam sintomas de burnout emocional exacerbado pelo fato de que, na medicina, você não pode errar. “Não adianta produzirmos 200 laudos por dia se, em uma falha, podemos impactar negativamente toda a cadeia de tratamento de um paciente”, pontuou.

Por isso, o palestrante defendeu que a tecnologia deve ser integrada ao cotidiano desses profissionais, que seguirão responsáveis pela palavra final, para otimizar o fluxo de trabalho, reduzir o período gasto em atividades burocráticas e aumentar o tempo dedicado à análise de imagens e produção do laudo.

No debate que se seguiu, moderado por Cesar Nomura, Adriana Costa, Diretora da Siemens Healthineers Brasil, Anaterra Oliveira, CIO da Dasa, e Ricardo Sartim convergiram sobre a necessidade de engajamento para uma agenda colaborativa no ecossistema de Medicina Diagnóstica e a importância da adoção da tecnologia com critérios bem estabelecidos para alcançar a eficiência clínica e benefícios reais para pacientes e operações de saúde. 

Adriana Costa lembrou que soluções de IA acompanham a ressonância magnética há décadas, mas que o salto atual ocorre quando se integram dados clínicos e laudos a plataformas que otimizem a jornada do paciente. “A inteligência artificial está incorporada à ressonância há mais de 30 anos, mas o grande salto agora é integrar dados e otimizar toda a jornada do paciente, por meio da interoperabilidade”, disse a Diretora da Siemens Healthineers Brasil. 

Já Anaterra trouxe a perspectiva da Dasa sobre a cultura de dados e o investimento em inovação. Para a executiva, enquanto as indústrias de tecnologia investem cerca de 30% da receita em P&D, o setor de saúde destina percentuais muito menores. “Por isso, não dá para evoluirmos sozinhos. Precisamos compartilhar dados e trabalhar em modelos colaborativos”. Ela também enfatizou que a IA é um meio para aprimorar o trabalho, não para substituir pessoas: “A Inteligência Artificial não veio para atuar no lugar do médico, mas para tornar o trabalho clínico mais eficaz e preciso”, apontou.

Ricardo Sartim encerrou o debate complementando essa perspectiva e defendeu o equilíbrio entre a tecnologia e o propósito de cuidar. Ele destacou que o fator humano e a empatia devem ser preservados: “Investir em treinamentos e processos é, sim, mais custoso do que comprar tecnologia, mas é o que garante valor real para o cuidado”. Para ele, a inovação só faz sentido se mantiver o olhar humano no centro da jornada do paciente.