Sétima edição do Painel Abramed é lançada durante o FILIS e reforça impacto da Medicina Diagnóstica na Saúde brasileira

O 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS marcou um momento inédito: pela primeira vez, o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, foi apresentado dentro da programação oficial do evento. Esta publicação anual é amplamente aguardada pelo setor e reúne dados estratégicos e atualizados do mercado de medicina diagnóstica. A edição deste ano trouxe, ainda, um capítulo especial sobre Interoperabilidade na Saúde, tema fundamental para o avanço da integração e da eficiência no cuidado em saúde no Brasil.

Na abertura, Milva Pagano, Diretora Executiva da Abramed, celebrou os 15 anos da entidade destacando o papel da Medicina Diagnóstica como eixo estratégico para a Saúde. Ao falar sobre propósito, lembrou que as empresas do setor lidam diariamente com todas as dimensões da vida – medo, dor, envelhecimento, nascimento e esperança – e que essa responsabilidade precisa orientar o futuro.

“O objetivo não é apenas gerar rentabilidade. O propósito é o cuidado na jornada do paciente. Todos nós somos pacientes, e quando estamos nesse papel, nossa perspectiva muda”, afirmou.

Em seguida, César Nomura, Presidente do Conselho de Administração da Abramed, destacou o simbolismo de trazer a publicação ao FILIS e apresentou dados que refletem a força do setor. Segundo ele, os associados concentram 37% da força de trabalho da Medicina Diagnóstica, reunindo 116,2 mil empregos formais e respondendo por 11,1% de todos os postos de trabalho em saúde no Brasil.

A presença também é expressiva em todo o território nacional: as associadas estão em 22 estados, com quase 3 mil postos de coleta e mais de 800 estruturas de apoio em imagem e análises laboratoriais, o que reforça a capilaridade e o alcance do diagnóstico.

O estudo mostra ainda que as associadas são responsáveis por 86,8% de todos os exames realizados na saúde suplementar, consolidando a Medicina Diagnóstica como um dos pilares do sistema de Saúde brasileiro. Esse protagonismo também se reflete na produção científica: em 2024, os associados publicaram 1.971 artigos científicos.

No campo da sustentabilidade, os números evidenciam avanços significativos: redução de 25% no consumo de água, 23% no uso de energia elétrica e 29% na geração de resíduos nos últimos anos. Além disso, 93% dos associados já adotaram coleta seletiva, acompanhada de campanhas de conscientização e treinamentos ambientais.

Outro destaque foi o avanço digital, com um salto de 267% no acesso eletrônico a exames, diminuindo drasticamente o uso de filmes radiológicos e gerando impacto positivo no meio ambiente.

Para Nomura, os resultados revelam que a transformação do setor é fruto de uma construção coletiva. “Muitas vezes com pequenos gestos e atitudes a gente começa a construir pontes, pedra por pedra, que ajudam a mudar o setor. Só com parceria verdadeira conseguimos avançar”, afirmou.

Com esse lançamento, o FILIS consolidou-se como espaço para dar visibilidade a dados estratégicos e reforçou a relevância do Painel Abramed como ferramenta de análise, reflexão e compromisso com um sistema de Saúde mais sustentável, eficiente e centrado no paciente.

A íntegra da publicação está disponível no site da Abramed, com dados completos sobre mercado, empregos, sustentabilidade, interoperabilidade e produção científica: https://abramed.org.br/publicacoes/painel-abramed/painel-abramed-o-dna-do-diagnostico-edicao-7 .

Os caminhos para a interoperabilidade na Saúde

Debate destacou experiências práticas e a convergência público-privada como pilares para ampliar eficiência, qualidade e cuidado centrado no paciente

Uma das principais pautas da 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS), evento promovido anualmente pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed (e realizado no último dia 21 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo-(SP), a interoperabilidade foi também tema do  debate de encerramento do Fórum.

O diálogo que trouxe visões diversas sobre o avanço da transformação digital na saúde contou com a moderação de Ademar Paes Jr., Fundador e CEO da LifesHub, Sócio da Clínica Imagem e Membro do Conselho de Administração da Abramed; e as participações de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI); Carlos Marinelli, Diretor Presidente da Bradesco Saúde; Cesar Higa Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica do Sírio-Libanês e Presidente do Conselho de Administração da Abramed; e Rafael Lucchesi, CEO da Dasa.

Muitas vezes visto como um desafio tecnológico, os debatedores foram convergentes em reforçar o papel da interoperabilidade como um vetor para a geração de valor real para pacientes, médicos, gestores e profissionais de Saúde em geral, destacando ainda sua importância na integração dos sistemas público e privado de saúde para reduzir desigualdades e construir soluções de escala nacional.

Do conceito à prática: múltiplas visões

Abrindo o debate, Ademar Paes Jr. ressaltou que a interoperabilidade gera múltiplos benefícios e potencializa a função da Medicina Diagnóstica na jornada de cuidado dos pacientes, frisando ainda que a visão sobre o tema deve ir além das discussões sobre custo tecnológico.

“Interoperabilidade não é apenas troca de informação. Cada vez que o dado gerado por um exame é utilizado por mais um profissional, a gente está amortizando o custo desse exame, está gerando valor para o sistema e dando mais segurança para o paciente, mais eficiência e qualidade para a Saúde em geral”, afirmou.

Ele reforçou, nesse sentido, que a mudança necessária não é apenas tecnológica, mas cultural, de modo que seja possível uma convergência efetiva entre os setores público e privado, por meio da padronização de dados e processos.

Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, destacou o Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital, voltado a medir a evolução de hospitais e gestores em sete dimensões (conectividade, infraestrutura, avaliação, monitoramento, formação, educação permanente e pessoas), apontando os desafios, mas também caminhos para a digitalização da Saúde:

Segundo a secretária, a criação da SEIDIGI já traduz uma mudança de paradigma aprendida no pós-pandemia, quando três grandes lições foram incorporadas: a transformação digital, o fortalecimento do complexo econômico da Saúde e a dimensão ambiental. Para ela, apesar de ser um desafio imenso, também há uma grande oportunidade para se pensar a transformação digital do setor no Brasil.

“A velocidade da transformação digital nos coloca sempre em defasagem, mas é importante não se prender só na falta de orçamento. Precisamos saber priorizar, buscar parcerias e fazer os projetos da melhor forma, entendendo que temos uma janela de oportunidade que demanda ações estruturantes. Os desafios culturais, de financiamento e técnicos vão sempre existir, mas eles não podem nos paralisar”, apontou a secretária.

Concordando com essa visão, Carlos Marinelli, diretor-presidente da Bradesco Saúde, trouxe a perspectiva das operadoras e a necessidade de tratar interoperabilidade como estratégia de valor de longo prazo.

“A pergunta não é se dá para fazer, é como fazer, visando o bem-estar e a resolutividade do cuidado com o paciente. E resolutividade é oferecer o melhor atendimento e a melhor assistência, e a interoperabilidade oferece a camada que potencializa esses benefícios por meio da troca de informações e padrões que integram os Sistemas de Saúde”, apontou o executivo.

 “A sustentabilidade do sistema será uma consequência, uma externalidade positiva da busca pelo melhor atendimento e pela integração dos dados”, completou.

Marinelli destacou ainda que, só na Bradesco Saúde, são realizados anualmente cerca de 108 milhões de exames e 172 milhões de procedimentos em uma rede de 23 mil médicos.

Rafael Lucchesi, CEO da Dasa, por sua vez, contou que, após mais de uma década de investimento pesado, a empresa conseguiu integrar 98% dos seus 450 milhões de exames anuais, mostrando que, apesar do esforço e do custo, o potencial de ganho é exponencial.

Ele apresentou um exemplo concreto dos ganhos da integração digital a partir da interoperabilidade na Saúde:

“Tivemos um caso em que, graças a um algoritmo preditivo, conseguimos identificar uma patologia em apenas duas a três horas. Se tivéssemos esperado o laudo completo, que só sairia no dia seguinte, o paciente teria corrido uma maratona e colocado sua vida em risco. Essa integração de dados salvou a vida dele”.

Já Cesar Nomura, diretor de Medicina Diagnóstica do Sírio-Libanês, enfatizou a necessidade de uma mudança de postura do ecossistema como um todo para um real avanço da interoperabilidade:

“Se a gente não abrir mão de preconceitos, não adianta ter tecnologia. É uma mudança de cultura que não se faz do dia para a noite”.

Ele ressaltou que áreas como radiologia e laboratório já utilizam linguagens padronizadas, como DICOM e LOINC, o que mostra que a interoperabilidade é possível de forma prática se houver vontade do setor. E concluiu reforçando a interdependência entre os setores: “O público e o privado são vasos comunicantes. Não vai dar para um player se dar muito bem e o outro não. Nós temos que evoluir juntos.”

Valor em saúde e convergência de esforços

O debate mostrou que a interoperabilidade só irá se consolidar como instrumento de valor clínico, eficiência e segurança se entendida como prioridade estratégica, com agenda e orçamento dedicados. Para Marinelli, o setor está “muito próximo de vencer a arrebentação” e transformar a interoperabilidade em realidade concreta.

Já Ana Estela alertou que existe uma janela de oportunidade que precisa ser aproveitada agora, sob risco de o país não conseguir dar o salto necessário. Ela lembrou ainda que o Brasil tem uma vantagem única em relação a outros países: um sistema nacional como o SUS, que pode ser a base para acelerar a escala dessa transformação.

A convergência das falas evidenciou que o futuro da interoperabilidade depende da união entre público e privado e que o paciente deve estar no centro desse movimento.

Ao reunir diferentes visões, o FILIS evidenciou que a transformação digital na saúde brasileira só terá êxito se traduzida em benefício direto ao paciente. Nesse caminho, a interoperabilidade deixa de ser custo tecnológico para se tornar alicerce de sustentabilidade e resiliência do Sistema de Saúde.

Case SEIDIGI: parceria entre Abramed e Ministério da Saúde gera resultados concretos e impulsiona avanço da interoperabilidade

Acordo firmado na edição passada do FILIS se consolida com 204 exames já interoperáveis e amplia a digitalização do Sistema de Saúde

O 9º Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS) mostrou, mais uma vez, como a colaboração entre os setores público e privado é capaz de acelerar transformações estruturantes no sistema de saúde brasileiro.

Um dos destaques foi a apresentação de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde (SEIDIGI), que detalhou os avanços do acordo de cooperação firmado entre o Ministério e a Abramed em 2024 para a padronização e integração de dados de exames.

O case de interoperabilidade laboratorial já produz resultados tangíveis, com impacto direto para pacientes, profissionais e gestores das redes pública e privada.

Do acordo à prática: interoperabilidade laboratorial em expansão

Assinado no 8º FILIS, o acordo consolidou a construção de um modelo informacional comum para exames laboratoriais, representando um importante passo para que se supere a histórica fragmentação do sistema de saúde nacional. Segundo Ana Estela, esse foi um marco na padronização de dados tanto para o setor público quanto para o suplementar: “Pela primeira vez, público e privado falam a mesma língua em interoperabilidade laboratorial”, explicou a Secretária do SEIDIGI.

O trabalho começou com um esforço de harmonização entre a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e diferentes padrões utilizados pelos laboratórios. No início do projeto, foi realizada a tradução dos códigos LOINC (padrão internacional de codificação) dos exames constantes na Lista Nacional de Notificação Compulsória, seguida da revisão do modelo de resultados laboratoriais (REL) da RNDS.

Como resultado, 204 exames já foram incorporados ao modelo, com destaque para os relacionados às arboviroses – dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A segunda etapa do processo incluiu mais 87 exames, cobrindo febre do Nilo e mayaro, além da integração futura de exames voltados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

A Secretária destacou o impacto desse avanço na vida do cidadão:

“Como ganho direto dessa cooperação, um aspecto bastante interessante é a harmonização de terminologias laboratoriais. Na rede de laboratórios do setor público, o modelo LOINC não era utilizado, então não havia possibilidade de interoperabilidade efetiva. Agora, com a padronização, a gente pode oferecer todos os resultados para os pacientes na Rede Nacional de Dados em Saúde que podem ser acessados, em tempo real, pelos pacientes”, comentou Ana Estela.

O acesso, por sua vez, é feito via Meu SUS Digital, enquanto profissionais de Saúde contam com a integração no SUS Digital Profissional, garantindo continuidade do cuidado aos pacientes. O próximo passo é a federalização dos dados, permitindo que estados e municípios também integrem seus sistemas a esse modelo padronizado. Segundo a Secretária, o processo já está sendo levado à Comissão Intergestores Tripartite (CIT), ampliando o alcance nacional da iniciativa.

Uma agenda mais ampla para a saúde digital

O avanço da interoperabilidade se insere em um movimento mais amplo de transformação digital liderado pelo Ministério da Saúde. Ana Estela Haddad ressaltou que a agenda inclui o fortalecimento da telessaúde, com a publicação de editais que abrem espaço tanto para serviços públicos quanto privados. Estão previstas, nesse sentido, modalidades como teleconsulta, telediagnóstico, teleinterconsulta e telerregulação, com notificações automáticas para pacientes em fila.

Outro pilar desse movimento é o programa Agora Tem Especialistas, lançado em 2024, que busca reduzir o tempo de espera por exames e atendimentos especializados. O modelo de financiamento, baseado na Oferta de Cuidado Integrado (OCI), prevê pagamento apenas após o diagnóstico completo (em até 30 dias para câncer e 60 dias para outros agravos). A iniciativa conta também com a utilização da infraestrutura privada para complementar a rede pública.

A secretária foi enfática sobre o potencial dessa jornada de interoperabilidade: “Estamos transformando filas em fluxos digitais inteligentes, reduzindo tempo de espera e melhorando a resolutividade do SUS”.

Dentro desse contexto, já podem ser observados outros avanços importantes, como a integração inédita de dados da ANS à RNDS, a caderneta digital da criança – já com mais de 1,2 milhão de acessos – e o planejamento da linha de cuidado digital do câncer, com suporte de telediagnóstico.

É importante salientar ainda que todo esse processo pode aumentar a efetividade do Sistema de Saúde e da Medicina Diagnóstica como um todo, contribuindo, inclusive, para a redução de óbitos e melhoria direta da qualidade de vida dos pacientes – segundo dados do Governo Federal, por exemplo, o país ainda tem, em média, 370 mil óbitos relacionados a atrasos de diagnóstico em doenças não transmissíveis.

Impacto estratégico

O case apresentado no FILIS 2025 reforça o papel do Fórum como catalisador de mudanças, conectando inovação tecnológica, políticas públicas e a capacidade operacional e técnica do setor privado. Acima de tudo, como bem afirmou Ana Estela Haddad, “não se trata apenas de digitalizar processos, mas de melhorar a vida dos pacientes”.

Com esse movimento, o Brasil avança muitas casas rumo a uma Saúde digital realmente integrada e demonstra, mais uma vez, como o setor privado pode e deve atuar enquanto um parceiro indispensável do SUS.

Afinal de contas, em um Sistema de Saúde em que dados circulam de forma segura e ágil, será possível fortalecer continuamente a equidade e a qualidade do cuidado aos pacientes em todas as regiões do país.

InovaHC apresenta case de integração de dados e firma memorando de intenções com a Abramed

Projeto do Hospital das Clínicas inspira modelo nacional de integração de dados e reforça acordo firmado no 9º FILIS

Integrar dados clínicos no Brasil é uma das maiores barreiras para melhorar a eficiência do sistema de saúde e a jornada de cuidado do paciente. A fragmentação das informações na medicina diagnóstica resulta em redundância de exames, dificuldade na continuidade de tratamentos e risco de falhas diagnósticas, que podem aumentar custos e comprometer a segurança da população.

O InovaHC, hub de inovação do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), decidiu enfrentar esse desafio transformando uma dificuldade prática em um dos cases mais relevantes de interoperabilidade no país.

Durante o 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), Marco Bego, Diretor Executivo do Instituto de Radiologia (InRad), compartilhou como o projeto nasceu de um problema concreto: levar telediagnóstico e teleconsulta a regiões remotas, como a Amazônia e o Xingu. Nessas localidades, quando um paciente precisava ser encaminhado a um centro de referência, muitas vezes após longas horas de viagem, os dados de seus exames não o acompanhavam. O atendimento precisava recomeçar do zero, atrasando diagnósticos e aumentando os riscos clínicos.

Foi a partir dessa constatação que a equipe passou a investigar soluções de interoperabilidade, inspirando-se em benchmarks internacionais e em setores como o financeiro e de telecomunicações, onde a troca de dados já é consolidada. “A interoperabilidade em Saúde é tão transformadora para o setor quanto foi o open banking para o segmento financeiro”, destacou Bego.

O modelo desenvolvido pelo InovaHC é baseado em lógica transacional: os dados permanecem em seus sistemas de origem e só são compartilhados quando necessário, com autorização do paciente. Essa arquitetura evita a criação de grandes bases centralizadas, reduz custos de armazenamento e garante maior segurança da informação.

O projeto também prevê que a troca seja tratada como ativo estratégico — e não apenas como custo —, sustentada por governança, compliance e padrões globais como o Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR), que é usado para a troca de informação em Saúde, além de integração nativa à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).

Para viabilizar essa troca, a plataforma foi estruturada de forma modular, com APIs que permitem escalabilidade e a conexão entre laboratórios, ambulatórios, hospitais e diferentes especialidades médicas. A equipe também considerou a criação de um “marketplace de serviços”, no qual instituições com maior maturidade tecnológica poderiam oferecer infraestrutura de interoperabilidade a parceiros que ainda não possuíam capacidade de integração direta.

Segundo Bego, outro aprendizado fundamental foi adotar modelos já validados em outros setores. Assim como acontece nas câmaras de compensação financeiras, a proposta é que a interoperabilidade em Saúde funcione como um “cartório digital”: recebe os dados, autentica e entrega ao destinatário autorizado, sem manter cópias ou manipular informações. Essa lógica garante rastreabilidade, soberania dos dados e um custo transacional equivalente ao de uma operação financeira cotidiana, como um pagamento por cartão de crédito.

Os resultados do piloto no Hospital das Clínicas já demonstram ganhos expressivos. Pacientes passaram a ter um histórico único e contínuo, acessível a diferentes profissionais, reduzindo a duplicidade de exames, aumentando a precisão diagnóstica e diminuindo falhas clínicas. Do ponto de vista institucional, houve ganhos operacionais relevantes, com menos retrabalho, menor custo administrativo e maior eficiência no uso dos recursos. Além disso, o modelo abre caminho para pesquisas avançadas e desenvolvimento de soluções em inteligência artificial aplicadas à Saúde.

“O dado isolado é apenas um número; o dado integrado gera inteligência que salva vidas”, resumiu Bego.

A apresentação no FILIS também marcou um passo institucional decisivo. Durante o Fórum, foi assinado o Memorando de Intenções entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) do Ministério da Saúde, a Abramed e o HCFMUSP, por meio do InovaHC. O acordo prevê a implementação da plataforma OpenCare como projeto piloto para integrar dados do setor privado à RNDS, fomentando cooperação técnico-científica e garantindo privacidade, segurança e conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Para Giovanni Guido Cerri, presidente dos Conselhos do InRad e do InovaHC, interoperabilidade é mais do que inovação tecnológica: “É sair de uma Saúde fragmentada e reativa para um cuidado contínuo, integrado e centrado no paciente”. Já Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, destacou: “A interoperabilidade é fundamental para integrar e fortalecer a Saúde Suplementar e o SUS, consolidando o compromisso com a inovação, a qualidade e a segurança do paciente”.

O case do InovaHC mostra que a interoperabilidade não é um conceito abstrato, mas uma prática já em curso, capaz de transformar a Medicina Diagnóstica e a Saúde como um todo. Com baixo custo e ativos estratégicos, o projeto pavimenta o caminho para um modelo nacional de Open Health, aproximando o SUS e a Saúde Suplementar em benefício direto dos pacientes.

Líderes do setor debatem o papel da qualidade para a eficiência no Sistema de Saúde

Dados, interoperabilidade e gestão contínua foram apontados como base para garantia valor clínico aos pacientes

A importância da qualidade para a eficiência do sistema de saúde esteve no centro de um debate de alto nível durante a 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS).

Moderado por Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed e Gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury, a discussão reuniu Jeane Tsutsui (CEO do Grupo Fleury), Anderson Mendes (CEO da Rede Total Care), Marcos Queiroz (diretor de Medicina Diagnóstica no Hospital Israelita Albert Einstein) e o ex-ministro da Saúde e Consultor Senior na Teich Gestão em Saúde, Nelson Teich.

Com perspectivas distintas, mas complementares, os debatedores destacaram que o verdadeiro avanço da saúde depende da integração de práticas clínicas, da gestão inteligente de dados e do foco em resultados para o paciente, ressaltando ainda que a interoperabilidade e a qualidade diagnóstica são eixos decisivos para a sustentabilidade do setor.

Qualidade e eficiência caminham juntas

Jeane Tsutsui reforçou que a busca por eficiência só é possível quando ancorada na gestão da qualidade. “Não basta entregar o resultado, ele precisa responder a uma pergunta clínica e orientar uma decisão”, afirmou. Segundo ela, o Grupo Fleury tem trilhado uma longa caminhada nesse sentido, combinando padronização de processos e otimização de recursos.

“Esse é justamente nosso papel: ir além da qualidade e da eficiência interna para olhar para todo o sistema de saúde. A gente tem trabalhado muito em difundir a visão do processo diagnóstico, pois sabemos que 70% das decisões médicas são baseadas em um exame. A qualidade, a precisão e a rapidez com que esse diagnóstico é feito influenciam diretamente nos resultados”, acrescentou.

Dentro dessa jornada, a CEO destacou números importantes: quase 100 mil assessorias médicas para discussão de casos complexos, o processamento de 335 milhões de exames e investimentos expressivos em inovação. Jeane comentou ainda que o Grupo destina 6,4% da receita líquida anual a investimentos, sendo metade em tecnologia, e ressaltou que, graças a esse esforço e ao de outras organizações, a medicina diagnóstica ampliou o acesso e cresceu em escala no Brasil.

Dados, interoperabilidade e cultura tecnológica

Para Anderson Mendes, o maior desafio está na integração de dados. “Todo mundo quer gerar dados, mas a questão é: o que fazer com eles? Um dado sem ação é irrelevante”, pontuou. Ele explicou que a Amil estruturou uma interoperabilidade de informações entre hospitais, laboratórios e parceiros credenciados, permitindo acesso em tempo real e com forte auditoria de resultados a partir de um centro de comando estratégico.

Essa cultura tecnológica, segundo ele, é decisiva para garantir mais agilidade, precisão e qualidade na medicina diagnóstica. Anderson lembrou ainda que a inteligência artificial não deve ser confundida com simples automação. “Não dá pra falar de dados e qualidade hoje sem olhar para a Inteligência Artificial (IA). A IA é a base da predição e temos grandes referenciais no mundo que servem de exemplo, como a China e Israel. Todo dado, para orientar decisões qualitativas, precisa ser filtrado, e a inteligência artificial cumpre uma função central para esse objetivo. Mas, para que tudo isso seja possível, é preciso entender onde se quer chegar e compreender que IA é diferente de automação e muito mais profunda do que o ChatGPT.”

Certificações e governança clínica

O papel da governança é fundamental para garantir processos de qualidade padronizados e, assim, impulsionar a eficiência. Marcos Queiroz mostrou como o Einstein vem utilizando algoritmos preditivos para prever patologias em check-ups e, internamente, para mapear vulnerabilidades sociais de colaboradores — integrando saúde clínica e determinantes sociais.

Ele destacou também o papel das certificações, que são ferramentas importantes, mas não garantem eficiência por si só. “A certificação revela o compromisso de uma organização com a excelência técnica e com uma cultura de aprendizagem. Mas, embora fundamental, ela não garante eficiência. É preciso que haja um sistema de gestão da qualidade e de governança com foco na melhoria contínua. Em conjunto, esses são os verdadeiros pilares da eficiência”, defendeu.

Nesse sentido, ressaltou a importância da governança clínica para avaliar a pertinência dos exames e reduzir desperdícios. O Einstein conseguiu, por exemplo, diminuir de 14% para 7% o número de pedidos de baixa pertinência, gerando economia e sustentabilidade. “Qualidade sem eficiência é ruim; eficiência sem qualidade é inaceitável”, enfatizou.

Planejamento e priorização

Nelson Teich alertou para o risco de confundir eficiência operacional com qualidade no cuidado em saúde. “Informação não é feita simplesmente para gerar conhecimento, é feita para gerar ação”, ressaltou. Para ele, a discussão deve sempre partir de duas perguntas centrais: que problema se busca resolver e o que acontece com o paciente após o diagnóstico.

Teich destacou ainda que o setor subestima o custo e a complexidade de se obter um dado de qualidade e defendeu a necessidade de planejamento e priorização. “É preciso definir quais prioridades você vai ter para interoperar, porque senão você vai querer interoperar tudo. Além disso, sem planejamento e estratégia adequada, os projetos não conseguem avançar em larga escala.”

Segundo ele, o ideal não é ter uma grande quantidade de dados, mas sim capacidade de analisá-los e contar com inteligência treinada para acompanhar casos e entender os impactos das intervenções. “Todo modelo matemático tem a chance de dar errado. Ele não foi feito para prever o futuro, mas para ajudar na tomada de decisão. Não podemos ser enganados pela precisão de um número impreciso”, concluiu.

Caminhos para a sustentabilidade

O debate deixou claro que qualidade e eficiência são dimensões complementares de um sistema de saúde sustentável. Seja pela integração diagnóstica, pela interoperabilidade de dados em tempo real, pela governança clínica ou pela valorização do olhar humano, os participantes reforçaram que o futuro do setor depende da capacidade de gerar valor concreto para os pacientes.

Nelson Teich defende integração, diagnóstico precoce e foco em valor ao paciente durante sua participação no 9º FILIS

Com a temática “O futuro do diagnóstico e a segurança do paciente”, ex-ministro da Saúde destacou que o Brasil convive com fragmentação e desigualdade no atendimento à população

Com base em sua experiência no setor público e privado, o ex-ministro da Saúde e oncologista Nelson Teich trouxe uma visão ampla, crítica e propositiva acerca do modelo implementado no Brasil durante a sua participação no 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). O evento promovido anualmente pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed foi realizado no último dia 21 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo (SP).

A partir de uma análise fundamentada em dados e experiências internacionais, Teich chamou a atenção para os desafios de acesso, fragmentação e baixa integração no atendimento à população, afirmando a urgência de repensarmos o sistema de Saúde nacional a partir dos pilares do diagnóstico precoce, regionalização, acompanhamento dos desfechos clínicos e do uso inteligente da inovação.

 Para ele, a desigualdade no acesso e a ausência de uma visão sistêmica são barreiras centrais para a construção de um modelo baseado em valor, afetando, inclusive, a Saúde Suplementar, que também enfrenta gargalos importantes de integração.

“O Brasil tem um sistema fragmentado, desigual e com grande iniquidade. A gente comemora promessa quando deveria comemorar entrega.”, afirmou.  “A Saúde Suplementar não é desenhada para atuar como um sistema e a ANS, atualmente, não a direciona nesse sentido. O que temos é um conjunto de instituições, algumas vezes com objetivos distintos”.

Para Nelson Teich, como resultado, temos um ambiente de saúde com baixo nível informacional que aumenta as barreiras para a atenção primária, a definição de protocolos de tratamento e para o uso de indicadores mais assertivos que permitam medir desfechos clínicos com mais eficiência.

“Gestores deixaram de ser condutores e passaram a ser passageiros do sistema. Isso é um problema, porque é o gestor que tem capacidade de refazer equidade e justiça social. É necessário mapear o caminho do cuidado, do dinheiro e da política para contar com direcionamentos claros.”, apontou Teich, reforçando que não basta ampliar recursos sem organização e foco em qualidade.

Comparativo internacional e o papel da Abramed

Ao comparar o Brasil com outras nações, Teich ressaltou que o problema não é apenas o volume de recursos, mas a forma como eles são utilizados. Enquanto o SUS investe cerca de R$ 2.309 por pessoa e a saúde suplementar R$ 5.465, sistemas como o do Reino Unido chegam a R$ 21.265, e programas públicos norte-americanos, como Medicare e Medicaid, variam entre R$ 45 mil e R$ 75 mil.

De acordo com o ex-ministro: “Vamos ter cada vez menos recursos para melhorar o sistema. Quando há pouco dinheiro e a tecnologia evolui como tem evoluído, não haverá recursos nem para pagar o que funciona. Não é apenas uma questão de gastar menos, é um modelo desorganizado que precisa ser repensado”.

Na prática, esse cenário se traduz em desigualdades complexas em campos decisivos da medicina como o cuidado oncológico. Em São Paulo, dados da Fundação Oncocentro (FOSP) de 2017–2018 mostram que apenas 25,9% das mulheres atendidas pelo SUS são diagnosticadas com câncer de mama nos estágios iniciais (0–I) – quando há mais chances de cura –, enquanto esse índice chega a 53,3% na Saúde Suplementar. Já em estágios avançados (III–IV), a diferença se inverte: 41,5% no SUS contra 17,3% na rede privada.

Para Teich, o tempo do diagnóstico é decisivo para os desfechos, ao passo que os exames devem ser vistos como instrumentos para uma medicina personalizada, com potencial de, cada vez mais, mudar radicalmente a trajetória de doenças graves como o próprio câncer ou Alzheimer.

De acordo com o ex-ministro, o Brasil não pode ter uma solução média ou padrão; tudo precisa ser regionalizado.

Ele destacou ainda o papel da inovação tecnológica, desde a biópsia líquida até o uso de inteligência artificial, mas alertou: “Inovação sem sabedoria é um desastre. É preciso treinar profissionais para usar bem essas ferramentas e interpretar exames com competência”.

Nesse processo, Teich vê a Abramed como peça-chave na consolidação de um modelo de Saúde baseado em evidências. “O papel da Abramed é garantir que testes e exames tenham evidência suficiente de eficácia para justificar sua implementação”, disse. A entidade pode ainda contribuir para a capacitação de profissionais e para a produção de dados que permitam medir resultados de forma consistente.

Um olhar para o futuro

Ao concluir sua participação no 9º FLIS, Nelson Teich deixou um olhar esperançoso para o futuro:

“Em várias áreas e com muito menos recursos, conseguimos entregar resultados semelhantes ao de países desenvolvidos. Isso mostra que há uma oportunidade real de cuidar melhor das pessoas dentro de padrões mundiais de excelência.”

Para ele, esse progresso acontece quando a evolução científica se traduz em impactos concretos a partir da regionalização de soluções e do uso inteligente de recursos limitados, passando pela construção de um sistema que, de fato, coloque o paciente no centro.

Valor em Saúde: palestrante internacional do 9º FILIS mostra como o diagnóstico pode transformar sistemas pressionados por custos

A palestra do médico patologista clínico e líder em Medicina Diagnóstica, Ivan Mojica, trouxe conhecimentos técnicos e provocações aos participantes do 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS. Reconhecido por liderar projetos de transformação em saúde na América Latina, Mojica deixou claro que o laboratório não pode ser visto apenas como executor de testes, mas como protagonista de eficiência, qualidade e sustentabilidade no Sistema de Saúde.

Segundo ele, 70% das decisões clínicas dependem de exames, mas 97% dos dados produzidos permanecem sem uso. Essa lacuna, afirmou, representa desperdício e uma oportunidade perdida de gerar valor. “Valor é resultado em Saúde alcançado por cada dólar investido”, destacou, ecoando a definição clássica de Michael Porter.

Mojica explicou que o conceito de valor em Saúde só se concretiza quando há eficiência em toda a jornada diagnóstica – da coleta ao impacto clínico. “Estamos perdendo a oportunidade de diagnosticar cedo, o que gera custos maiores e mais sofrimento para o paciente”, alertou.

Entre os obstáculos, citou a escassez de mão de obra qualificada — com déficit global estimado em 10 milhões de profissionais da Saúde até 2030 — e a ineficiência operacional, já que técnicos de laboratório chegam a gastar até 90 minutos por dia em tarefas manuais. Além disso, chamou atenção para a fragmentação: dados dispersos e não estruturados tornam quase impossível extrair inteligência clínica deles, mesmo em organizações avançadas.

Casos práticos: quando o diagnóstico faz diferença

Para exemplificar, Mojica trouxe casos concretos em que a Medicina Diagnóstica transformou o curso clínico e econômico do tratamento. Em pacientes de diálise, por exemplo, mostrou que o déficit de ferro, frequentemente negligenciado, leva à resistência ao uso de eritropoetina (EPO), uma terapia de alto custo. Corrigir o ferro antes da prescrição da EPO revelou-se uma estratégia mais custo-efetiva, capaz de melhorar os níveis de hemoglobina e, ao mesmo tempo, reduzir gastos desnecessários.

Em seguida, apresentou dados preocupantes sobre a doença renal crônica na Colômbia: entre mais de seis milhões de pacientes hipertensos e diabéticos, cerca de quatro milhões não completaram o protocolo diagnóstico — a hipertensão e o diabetes são os principais fatores de risco para doença renal crônica

O resultado é que, a cada ano, surgem mais de 200 mil novos casos, sendo que 57% já chegam em estágios avançados (3, 4 ou 5). Para Mojica, essa falha de detecção precoce facilita a progressão silenciosa da doença e não apenas sobrecarrega os hospitais com internações mais caras, mas compromete também a expectativa e a qualidade de vida da população. 

Por fim, compartilhou um exemplo no manejo do infarto agudo do miocárdio. O uso de troponinas de alta sensibilidade em fluxogramas clínicos permite descartar infarto com valor preditivo negativo de 99% e confirmar casos com valor preditivo positivo de 75%. Ao enviar esses resultados em tempo real diretamente ao médico – até por aplicativos de mensagem – é possível acelerar decisões, reduzir internações desnecessárias e salvar vidas. “O laboratório precisa entregar a informação certa, no momento certo, para apoiar a decisão clínica”, reforçou.

O patologista também projetou as tendências para a próxima década: digitalização, Big Data, inteligência artificial, colaboração público-privada e maior empoderamento do paciente. Segundo ele, essas forças precisam caminhar juntas para garantir equidade de acesso, sustentabilidade e descentralização seletiva dos serviços.

“O diagnóstico é o maior hub de dados clínicos. Se continuarmos a usar apenas uma fração desse potencial, perderemos a chance de transformar a Saúde”, afirmou Mojica.

A visão apresentada dialoga diretamente com os pilares estratégicos da Abramed – interoperabilidade, qualidade, sustentabilidade e valor. Ao mostrar que laboratórios podem e devem liderar a eficiência dos Sistemas de Saúde, Mojica reforçou a mensagem de que o setor de diagnóstico precisa assumir um papel central, unindo tecnologia, dados e protocolos clínicos para entregar resultados consistentes para pacientes e gestores.