Hepatites Virais: Brasil quer diagnosticar 90% dos casos até 2030. Como avançar?

Julho marca o mês de conscientização sobre as hepatites virais — infecções silenciosas, muitas vezes assintomáticas, que podem evoluir para cirrose e câncer hepático. Nos últimos anos, o Brasil intensificou sua mobilização sobre o tema e assumiu, junto à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de eliminar as hepatites como problema de saúde pública até o fim da década.

Para apoiar esse objetivo, o Governo federal lançou o Guia de Eliminação de Hepatites Virais, que propõe uma resposta nacional integrada, com foco em testagem, tratamento e prevenção, especialmente em populações vulnerabilizadas.

A meta é ambiciosa: diagnosticar 90% dos casos, tratar ao menos 80% das pessoas diagnosticadas e reduzir em 65% a mortalidade pela doença. Isso exige uma articulação efetiva entre diferentes esferas do sistema de saúde.

Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de incidência da hepatite A subiu 325% entre 2022 e 2024 — sendo 54,5% apenas no último ano. Os casos concentram-se em homens de 20 a 39 anos, com maior incidência nas capitais do Sul e Sudeste. O perfil da doença mudou: menos transmissão na infância e mais associação a relações sexuais desprotegidas.

Em contrapartida, a vacinação infantil contra hepatite A tem mostrado impacto positivo. Entre 2014 e 2024, a incidência entre crianças de 0 a 9 anos caiu 99,9%, evidenciando a força da imunização como política pública e apontando caminhos para ampliar a cobertura em outras faixas etárias.

Hoje, os principais obstáculos estão no combate às desigualdades de acesso e na organização das redes de cuidado em contextos de vulnerabilidade. A hepatite B, por exemplo, ainda é comumente transmitida de mãe para filho durante o parto ou a amamentação, exigindo qualificação do pré-natal. Já a hepatite C segue avançando entre adultos.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais causam cerca de 1,4 milhão de mortes por ano, entre infecções agudas, câncer hepático e cirrose.

Apesar dos avanços, o diagnóstico precoce ainda é um dos principais desafios. “O acesso à testagem é fundamental para que os médicos possam identificar os pacientes que já estão imunes, os que estão em curso de uma infecção aguda e aqueles que apresentam quadros crônicos de hepatites e necessitam de tratamento e acompanhamento. Para isto os testes diagnósticos são fundamentais, sejam eles sorológicos (para hepatites A, B ou C) utilizados como triagem;  ou moleculares, que são mais úteis na confirmação diagnóstica e seguimento dos pacientes que iniciaram tratamento específico”, explica Carlos Eduardo Ferreira, Líder do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed.

Para ele, neste cenário de ampliação da testagem para a população brasileira, a iniciativa privada da Medicina Diagnóstica pode se unir com o setor público para buscar parcerias que permitam que os pacientes possam ter um maior acesso ao exame.

Além do rastreamento e da testagem, é essencial fortalecer o papel dos serviços diagnósticos no mapeamento da doença e no apoio à decisão clínica. Interoperabilidade entre sistemas, qualificação das informações e capilaridade dos laboratórios são pontos-chave para respostas ágeis, sobretudo em surtos ou em áreas com baixa cobertura.

Neste Julho Amarelo, a Abramed reafirma seu compromisso com a saúde preventiva e com o acesso a exames de qualidade, contribuindo para o alcance das metas de eliminação das hepatites virais no Brasil.