InovaHC apresenta case de integração de dados e firma memorando de intenções com a Abramed

Projeto do Hospital das Clínicas inspira modelo nacional de integração de dados e reforça acordo firmado no 9º FILIS

Integrar dados clínicos no Brasil é uma das maiores barreiras para melhorar a eficiência do sistema de saúde e a jornada de cuidado do paciente. A fragmentação das informações na medicina diagnóstica resulta em redundância de exames, dificuldade na continuidade de tratamentos e risco de falhas diagnósticas, que podem aumentar custos e comprometer a segurança da população.

O InovaHC, hub de inovação do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), decidiu enfrentar esse desafio transformando uma dificuldade prática em um dos cases mais relevantes de interoperabilidade no país.

Durante o 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), Marco Bego, Diretor Executivo do Instituto de Radiologia (InRad), compartilhou como o projeto nasceu de um problema concreto: levar telediagnóstico e teleconsulta a regiões remotas, como a Amazônia e o Xingu. Nessas localidades, quando um paciente precisava ser encaminhado a um centro de referência, muitas vezes após longas horas de viagem, os dados de seus exames não o acompanhavam. O atendimento precisava recomeçar do zero, atrasando diagnósticos e aumentando os riscos clínicos.

Foi a partir dessa constatação que a equipe passou a investigar soluções de interoperabilidade, inspirando-se em benchmarks internacionais e em setores como o financeiro e de telecomunicações, onde a troca de dados já é consolidada. “A interoperabilidade em Saúde é tão transformadora para o setor quanto foi o open banking para o segmento financeiro”, destacou Bego.

O modelo desenvolvido pelo InovaHC é baseado em lógica transacional: os dados permanecem em seus sistemas de origem e só são compartilhados quando necessário, com autorização do paciente. Essa arquitetura evita a criação de grandes bases centralizadas, reduz custos de armazenamento e garante maior segurança da informação.

O projeto também prevê que a troca seja tratada como ativo estratégico — e não apenas como custo —, sustentada por governança, compliance e padrões globais como o Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR), que é usado para a troca de informação em Saúde, além de integração nativa à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).

Para viabilizar essa troca, a plataforma foi estruturada de forma modular, com APIs que permitem escalabilidade e a conexão entre laboratórios, ambulatórios, hospitais e diferentes especialidades médicas. A equipe também considerou a criação de um “marketplace de serviços”, no qual instituições com maior maturidade tecnológica poderiam oferecer infraestrutura de interoperabilidade a parceiros que ainda não possuíam capacidade de integração direta.

Segundo Bego, outro aprendizado fundamental foi adotar modelos já validados em outros setores. Assim como acontece nas câmaras de compensação financeiras, a proposta é que a interoperabilidade em Saúde funcione como um “cartório digital”: recebe os dados, autentica e entrega ao destinatário autorizado, sem manter cópias ou manipular informações. Essa lógica garante rastreabilidade, soberania dos dados e um custo transacional equivalente ao de uma operação financeira cotidiana, como um pagamento por cartão de crédito.

Os resultados do piloto no Hospital das Clínicas já demonstram ganhos expressivos. Pacientes passaram a ter um histórico único e contínuo, acessível a diferentes profissionais, reduzindo a duplicidade de exames, aumentando a precisão diagnóstica e diminuindo falhas clínicas. Do ponto de vista institucional, houve ganhos operacionais relevantes, com menos retrabalho, menor custo administrativo e maior eficiência no uso dos recursos. Além disso, o modelo abre caminho para pesquisas avançadas e desenvolvimento de soluções em inteligência artificial aplicadas à Saúde.

“O dado isolado é apenas um número; o dado integrado gera inteligência que salva vidas”, resumiu Bego.

A apresentação no FILIS também marcou um passo institucional decisivo. Durante o Fórum, foi assinado o Memorando de Intenções entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI) do Ministério da Saúde, a Abramed e o HCFMUSP, por meio do InovaHC. O acordo prevê a implementação da plataforma OpenCare como projeto piloto para integrar dados do setor privado à RNDS, fomentando cooperação técnico-científica e garantindo privacidade, segurança e conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Para Giovanni Guido Cerri, presidente dos Conselhos do InRad e do InovaHC, interoperabilidade é mais do que inovação tecnológica: “É sair de uma Saúde fragmentada e reativa para um cuidado contínuo, integrado e centrado no paciente”. Já Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, destacou: “A interoperabilidade é fundamental para integrar e fortalecer a Saúde Suplementar e o SUS, consolidando o compromisso com a inovação, a qualidade e a segurança do paciente”.

O case do InovaHC mostra que a interoperabilidade não é um conceito abstrato, mas uma prática já em curso, capaz de transformar a Medicina Diagnóstica e a Saúde como um todo. Com baixo custo e ativos estratégicos, o projeto pavimenta o caminho para um modelo nacional de Open Health, aproximando o SUS e a Saúde Suplementar em benefício direto dos pacientes.

Líderes do setor debatem o papel da qualidade para a eficiência no Sistema de Saúde

Dados, interoperabilidade e gestão contínua foram apontados como base para garantia valor clínico aos pacientes

A importância da qualidade para a eficiência do sistema de saúde esteve no centro de um debate de alto nível durante a 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS).

Moderado por Wilson Shcolnik, membro do Conselho de Administração da Abramed e Gerente de Relações Institucionais do Grupo Fleury, a discussão reuniu Jeane Tsutsui (CEO do Grupo Fleury), Anderson Mendes (CEO da Rede Total Care), Marcos Queiroz (diretor de Medicina Diagnóstica no Hospital Israelita Albert Einstein) e o ex-ministro da Saúde e Consultor Senior na Teich Gestão em Saúde, Nelson Teich.

Com perspectivas distintas, mas complementares, os debatedores destacaram que o verdadeiro avanço da saúde depende da integração de práticas clínicas, da gestão inteligente de dados e do foco em resultados para o paciente, ressaltando ainda que a interoperabilidade e a qualidade diagnóstica são eixos decisivos para a sustentabilidade do setor.

Qualidade e eficiência caminham juntas

Jeane Tsutsui reforçou que a busca por eficiência só é possível quando ancorada na gestão da qualidade. “Não basta entregar o resultado, ele precisa responder a uma pergunta clínica e orientar uma decisão”, afirmou. Segundo ela, o Grupo Fleury tem trilhado uma longa caminhada nesse sentido, combinando padronização de processos e otimização de recursos.

“Esse é justamente nosso papel: ir além da qualidade e da eficiência interna para olhar para todo o sistema de saúde. A gente tem trabalhado muito em difundir a visão do processo diagnóstico, pois sabemos que 70% das decisões médicas são baseadas em um exame. A qualidade, a precisão e a rapidez com que esse diagnóstico é feito influenciam diretamente nos resultados”, acrescentou.

Dentro dessa jornada, a CEO destacou números importantes: quase 100 mil assessorias médicas para discussão de casos complexos, o processamento de 335 milhões de exames e investimentos expressivos em inovação. Jeane comentou ainda que o Grupo destina 6,4% da receita líquida anual a investimentos, sendo metade em tecnologia, e ressaltou que, graças a esse esforço e ao de outras organizações, a medicina diagnóstica ampliou o acesso e cresceu em escala no Brasil.

Dados, interoperabilidade e cultura tecnológica

Para Anderson Mendes, o maior desafio está na integração de dados. “Todo mundo quer gerar dados, mas a questão é: o que fazer com eles? Um dado sem ação é irrelevante”, pontuou. Ele explicou que a Amil estruturou uma interoperabilidade de informações entre hospitais, laboratórios e parceiros credenciados, permitindo acesso em tempo real e com forte auditoria de resultados a partir de um centro de comando estratégico.

Essa cultura tecnológica, segundo ele, é decisiva para garantir mais agilidade, precisão e qualidade na medicina diagnóstica. Anderson lembrou ainda que a inteligência artificial não deve ser confundida com simples automação. “Não dá pra falar de dados e qualidade hoje sem olhar para a Inteligência Artificial (IA). A IA é a base da predição e temos grandes referenciais no mundo que servem de exemplo, como a China e Israel. Todo dado, para orientar decisões qualitativas, precisa ser filtrado, e a inteligência artificial cumpre uma função central para esse objetivo. Mas, para que tudo isso seja possível, é preciso entender onde se quer chegar e compreender que IA é diferente de automação e muito mais profunda do que o ChatGPT.”

Certificações e governança clínica

O papel da governança é fundamental para garantir processos de qualidade padronizados e, assim, impulsionar a eficiência. Marcos Queiroz mostrou como o Einstein vem utilizando algoritmos preditivos para prever patologias em check-ups e, internamente, para mapear vulnerabilidades sociais de colaboradores — integrando saúde clínica e determinantes sociais.

Ele destacou também o papel das certificações, que são ferramentas importantes, mas não garantem eficiência por si só. “A certificação revela o compromisso de uma organização com a excelência técnica e com uma cultura de aprendizagem. Mas, embora fundamental, ela não garante eficiência. É preciso que haja um sistema de gestão da qualidade e de governança com foco na melhoria contínua. Em conjunto, esses são os verdadeiros pilares da eficiência”, defendeu.

Nesse sentido, ressaltou a importância da governança clínica para avaliar a pertinência dos exames e reduzir desperdícios. O Einstein conseguiu, por exemplo, diminuir de 14% para 7% o número de pedidos de baixa pertinência, gerando economia e sustentabilidade. “Qualidade sem eficiência é ruim; eficiência sem qualidade é inaceitável”, enfatizou.

Planejamento e priorização

Nelson Teich alertou para o risco de confundir eficiência operacional com qualidade no cuidado em saúde. “Informação não é feita simplesmente para gerar conhecimento, é feita para gerar ação”, ressaltou. Para ele, a discussão deve sempre partir de duas perguntas centrais: que problema se busca resolver e o que acontece com o paciente após o diagnóstico.

Teich destacou ainda que o setor subestima o custo e a complexidade de se obter um dado de qualidade e defendeu a necessidade de planejamento e priorização. “É preciso definir quais prioridades você vai ter para interoperar, porque senão você vai querer interoperar tudo. Além disso, sem planejamento e estratégia adequada, os projetos não conseguem avançar em larga escala.”

Segundo ele, o ideal não é ter uma grande quantidade de dados, mas sim capacidade de analisá-los e contar com inteligência treinada para acompanhar casos e entender os impactos das intervenções. “Todo modelo matemático tem a chance de dar errado. Ele não foi feito para prever o futuro, mas para ajudar na tomada de decisão. Não podemos ser enganados pela precisão de um número impreciso”, concluiu.

Caminhos para a sustentabilidade

O debate deixou claro que qualidade e eficiência são dimensões complementares de um sistema de saúde sustentável. Seja pela integração diagnóstica, pela interoperabilidade de dados em tempo real, pela governança clínica ou pela valorização do olhar humano, os participantes reforçaram que o futuro do setor depende da capacidade de gerar valor concreto para os pacientes.

Nelson Teich defende integração, diagnóstico precoce e foco em valor ao paciente durante sua participação no 9º FILIS

Com a temática “O futuro do diagnóstico e a segurança do paciente”, ex-ministro da Saúde destacou que o Brasil convive com fragmentação e desigualdade no atendimento à população

Com base em sua experiência no setor público e privado, o ex-ministro da Saúde e oncologista Nelson Teich trouxe uma visão ampla, crítica e propositiva acerca do modelo implementado no Brasil durante a sua participação no 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). O evento promovido anualmente pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica – Abramed foi realizado no último dia 21 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo (SP).

A partir de uma análise fundamentada em dados e experiências internacionais, Teich chamou a atenção para os desafios de acesso, fragmentação e baixa integração no atendimento à população, afirmando a urgência de repensarmos o sistema de Saúde nacional a partir dos pilares do diagnóstico precoce, regionalização, acompanhamento dos desfechos clínicos e do uso inteligente da inovação.

 Para ele, a desigualdade no acesso e a ausência de uma visão sistêmica são barreiras centrais para a construção de um modelo baseado em valor, afetando, inclusive, a Saúde Suplementar, que também enfrenta gargalos importantes de integração.

“O Brasil tem um sistema fragmentado, desigual e com grande iniquidade. A gente comemora promessa quando deveria comemorar entrega.”, afirmou.  “A Saúde Suplementar não é desenhada para atuar como um sistema e a ANS, atualmente, não a direciona nesse sentido. O que temos é um conjunto de instituições, algumas vezes com objetivos distintos”.

Para Nelson Teich, como resultado, temos um ambiente de saúde com baixo nível informacional que aumenta as barreiras para a atenção primária, a definição de protocolos de tratamento e para o uso de indicadores mais assertivos que permitam medir desfechos clínicos com mais eficiência.

“Gestores deixaram de ser condutores e passaram a ser passageiros do sistema. Isso é um problema, porque é o gestor que tem capacidade de refazer equidade e justiça social. É necessário mapear o caminho do cuidado, do dinheiro e da política para contar com direcionamentos claros.”, apontou Teich, reforçando que não basta ampliar recursos sem organização e foco em qualidade.

Comparativo internacional e o papel da Abramed

Ao comparar o Brasil com outras nações, Teich ressaltou que o problema não é apenas o volume de recursos, mas a forma como eles são utilizados. Enquanto o SUS investe cerca de R$ 2.309 por pessoa e a saúde suplementar R$ 5.465, sistemas como o do Reino Unido chegam a R$ 21.265, e programas públicos norte-americanos, como Medicare e Medicaid, variam entre R$ 45 mil e R$ 75 mil.

De acordo com o ex-ministro: “Vamos ter cada vez menos recursos para melhorar o sistema. Quando há pouco dinheiro e a tecnologia evolui como tem evoluído, não haverá recursos nem para pagar o que funciona. Não é apenas uma questão de gastar menos, é um modelo desorganizado que precisa ser repensado”.

Na prática, esse cenário se traduz em desigualdades complexas em campos decisivos da medicina como o cuidado oncológico. Em São Paulo, dados da Fundação Oncocentro (FOSP) de 2017–2018 mostram que apenas 25,9% das mulheres atendidas pelo SUS são diagnosticadas com câncer de mama nos estágios iniciais (0–I) – quando há mais chances de cura –, enquanto esse índice chega a 53,3% na Saúde Suplementar. Já em estágios avançados (III–IV), a diferença se inverte: 41,5% no SUS contra 17,3% na rede privada.

Para Teich, o tempo do diagnóstico é decisivo para os desfechos, ao passo que os exames devem ser vistos como instrumentos para uma medicina personalizada, com potencial de, cada vez mais, mudar radicalmente a trajetória de doenças graves como o próprio câncer ou Alzheimer.

De acordo com o ex-ministro, o Brasil não pode ter uma solução média ou padrão; tudo precisa ser regionalizado.

Ele destacou ainda o papel da inovação tecnológica, desde a biópsia líquida até o uso de inteligência artificial, mas alertou: “Inovação sem sabedoria é um desastre. É preciso treinar profissionais para usar bem essas ferramentas e interpretar exames com competência”.

Nesse processo, Teich vê a Abramed como peça-chave na consolidação de um modelo de Saúde baseado em evidências. “O papel da Abramed é garantir que testes e exames tenham evidência suficiente de eficácia para justificar sua implementação”, disse. A entidade pode ainda contribuir para a capacitação de profissionais e para a produção de dados que permitam medir resultados de forma consistente.

Um olhar para o futuro

Ao concluir sua participação no 9º FLIS, Nelson Teich deixou um olhar esperançoso para o futuro:

“Em várias áreas e com muito menos recursos, conseguimos entregar resultados semelhantes ao de países desenvolvidos. Isso mostra que há uma oportunidade real de cuidar melhor das pessoas dentro de padrões mundiais de excelência.”

Para ele, esse progresso acontece quando a evolução científica se traduz em impactos concretos a partir da regionalização de soluções e do uso inteligente de recursos limitados, passando pela construção de um sistema que, de fato, coloque o paciente no centro.

Valor em Saúde: palestrante internacional do 9º FILIS mostra como o diagnóstico pode transformar sistemas pressionados por custos

A palestra do médico patologista clínico e líder em Medicina Diagnóstica, Ivan Mojica, trouxe conhecimentos técnicos e provocações aos participantes do 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS. Reconhecido por liderar projetos de transformação em saúde na América Latina, Mojica deixou claro que o laboratório não pode ser visto apenas como executor de testes, mas como protagonista de eficiência, qualidade e sustentabilidade no Sistema de Saúde.

Segundo ele, 70% das decisões clínicas dependem de exames, mas 97% dos dados produzidos permanecem sem uso. Essa lacuna, afirmou, representa desperdício e uma oportunidade perdida de gerar valor. “Valor é resultado em Saúde alcançado por cada dólar investido”, destacou, ecoando a definição clássica de Michael Porter.

Mojica explicou que o conceito de valor em Saúde só se concretiza quando há eficiência em toda a jornada diagnóstica – da coleta ao impacto clínico. “Estamos perdendo a oportunidade de diagnosticar cedo, o que gera custos maiores e mais sofrimento para o paciente”, alertou.

Entre os obstáculos, citou a escassez de mão de obra qualificada — com déficit global estimado em 10 milhões de profissionais da Saúde até 2030 — e a ineficiência operacional, já que técnicos de laboratório chegam a gastar até 90 minutos por dia em tarefas manuais. Além disso, chamou atenção para a fragmentação: dados dispersos e não estruturados tornam quase impossível extrair inteligência clínica deles, mesmo em organizações avançadas.

Casos práticos: quando o diagnóstico faz diferença

Para exemplificar, Mojica trouxe casos concretos em que a Medicina Diagnóstica transformou o curso clínico e econômico do tratamento. Em pacientes de diálise, por exemplo, mostrou que o déficit de ferro, frequentemente negligenciado, leva à resistência ao uso de eritropoetina (EPO), uma terapia de alto custo. Corrigir o ferro antes da prescrição da EPO revelou-se uma estratégia mais custo-efetiva, capaz de melhorar os níveis de hemoglobina e, ao mesmo tempo, reduzir gastos desnecessários.

Em seguida, apresentou dados preocupantes sobre a doença renal crônica na Colômbia: entre mais de seis milhões de pacientes hipertensos e diabéticos, cerca de quatro milhões não completaram o protocolo diagnóstico — a hipertensão e o diabetes são os principais fatores de risco para doença renal crônica

O resultado é que, a cada ano, surgem mais de 200 mil novos casos, sendo que 57% já chegam em estágios avançados (3, 4 ou 5). Para Mojica, essa falha de detecção precoce facilita a progressão silenciosa da doença e não apenas sobrecarrega os hospitais com internações mais caras, mas compromete também a expectativa e a qualidade de vida da população. 

Por fim, compartilhou um exemplo no manejo do infarto agudo do miocárdio. O uso de troponinas de alta sensibilidade em fluxogramas clínicos permite descartar infarto com valor preditivo negativo de 99% e confirmar casos com valor preditivo positivo de 75%. Ao enviar esses resultados em tempo real diretamente ao médico – até por aplicativos de mensagem – é possível acelerar decisões, reduzir internações desnecessárias e salvar vidas. “O laboratório precisa entregar a informação certa, no momento certo, para apoiar a decisão clínica”, reforçou.

O patologista também projetou as tendências para a próxima década: digitalização, Big Data, inteligência artificial, colaboração público-privada e maior empoderamento do paciente. Segundo ele, essas forças precisam caminhar juntas para garantir equidade de acesso, sustentabilidade e descentralização seletiva dos serviços.

“O diagnóstico é o maior hub de dados clínicos. Se continuarmos a usar apenas uma fração desse potencial, perderemos a chance de transformar a Saúde”, afirmou Mojica.

A visão apresentada dialoga diretamente com os pilares estratégicos da Abramed – interoperabilidade, qualidade, sustentabilidade e valor. Ao mostrar que laboratórios podem e devem liderar a eficiência dos Sistemas de Saúde, Mojica reforçou a mensagem de que o setor de diagnóstico precisa assumir um papel central, unindo tecnologia, dados e protocolos clínicos para entregar resultados consistentes para pacientes e gestores.

Mundo em transformação: clima, envelhecimento e sustentabilidade são pautas de debate no 9º Fórum Internacional de Lideranças em Saúde

Especialistas analisam transição demográfica e mudanças ambientais, reforçando o papel estratégico da Medicina Diagnóstica para o futuro da sociedade

O envelhecimento populacional acelerado e os efeitos crescentes das mudanças climáticas configuram uma combinação que pressiona os sistemas de Saúde no mundo inteiro. A 9ª edição do Fórum Internacional de Lideranças em Saúde (FILIS) reuniu especialistas para discutir como essas duas forças de transformação impõem o desenho de novos paradigmas e estratégias para o setor, ao mesmo tempo em que reforçam o papel da Medicina Diagnóstica como peça-chave para prevenção, sustentabilidade e resiliência social.

O painel com o tema “Do Clima à Saúde: Desafios de um Mundo em Transformação”, contou com a presença de Paulo Saldiva, Médico Patologista, Professor e Pesquisador (FMUSP); Ione Anderson, Associate Partner e Diretora Executiva para Sustentabilidade na EY; e o deputado federal Pedro Westphalen (PP/RS). A moderação foi de Claudia Cohn, Membro do Conselho da Abramed e Diretora de Negócios Dasa e Relações Institucionais, que provocou reflexões sobre como adaptar protocolos médicos diante do envelhecimento acelerado da população, que verá a faixa etária 50+ dobrar até 2050 e o número de pessoas com mais de 90 anos passar de 770 mil para mais de 2,8 milhões em 2050.

O diálogo gerou análises que englobam desde o impacto clínico do envelhecimento até a necessidade de métricas internacionais de sustentabilidade que incorporem a Saúde como eixo central de uma agenda indispensável para o futuro do planeta.

Reescrevendo protocolos e enfrentando riscos

Para Paulo Saldiva, o aumento da longevidade exigirá uma revisão profunda de parâmetros médicos, que hoje não contemplam adequadamente a população de idade mais avançada.

“Estamos envelhecendo rápido e mal preparados. Protocolos médicos precisarão ser reescritos”, alertou Saldiva. “Vamos ter que desenvolver, do ponto de vista da farmacocinética e dos exames laboratoriais, uma nova medicina. O envelhecimento traz vulnerabilidade, inclusive diante de agentes infecciosos, e isso exige estratégias preparadas para a nova realidade”, afirmou.

O médico também chamou atenção para os efeitos das mudanças ambientais, reforçando que eventos climáticos extremos ampliam desigualdades e agravam doenças já presentes, e defendeu que o setor de Saúde precisa dialogar melhor com a sociedade:

“Temos uma quantidade de informações acadêmicas muito importantes, mas é preciso comunicação. Não adianta publicar apenas em ecossistemas especializados. É necessário traduzir esse conhecimento e trabalhar com um viés real de políticas públicas para que possamos, de fato, superar desafios”.

Avançando no tópico da sustentabilidade, Ione Anderson trouxe ao debate a perspectiva global das conferências do clima, lembrando que a Saúde não pode ser tratada à margem das discussões ambientais.

“Na COP28, os países concordaram que é preciso saber medir como estamos nos adaptando ao novo contexto climático. A Saúde, nesse sentido, tem um papel decisivo nas discussões da COP30, porque sem ela não conseguimos dar o próximo passo”, afirmou a Diretora Executiva da EY.

Trazendo sua experiência com projetos da EY, Ione Anderson explicou que a sustentabilidade deve ser tratada como base das estratégias de negócio dentro do panorama socioeconômico atual e não como uma obrigação acessória. 

“Ainda há uma resistência muito grande no mercado e entre as pessoas. É importante deixar claro, nesse sentido, que sustentabilidade não é uma ação à parte, é estratégia. Para tanto, precisamos conectar ESG com Saúde e construir indicadores integrados. E aqui a Medicina Diagnóstica é decisiva, no sentido de auxiliar empresas a mapear vulnerabilidades e a planejar políticas de mitigação de riscos”, explicou a executiva.

Para ela, a COP30 será um marco nesse debate, colocando o Brasil em posição de protagonismo nas definições globais.

Já o deputado federal Pedro Westphalen destacou o papel do Legislativo em criar consensos duradouros, mesmo em um ambiente marcado por disputas.

“Vejo com preocupação as pessoas se afastando da vida pública, mas também observo o surgimento de uma nova geração que compreende a importância do debate. Precisamos de instituições renovadas para dar conta de um cenário social em que desafios como o envelhecimento acelerado da população e as mudanças climáticas são uma realidade”.

Ele ressaltou ainda a necessidade de maior valorização da Medicina Diagnóstica e da integração público-privada na Saúde.

“Políticas de Saúde precisam ser planejadas para a longevidade, e o diagnóstico é a primeira linha dessa preparação, mas, sem uma real integração entre os sistemas público e privado do setor, vamos apenas apagar incêndios em vez de prevenir”, concluiu Westphalen.

Finalizando o painel, Claudia Cohn fez uma provocação sobre o consumo de plásticos, afirmando que a produção global deve saltar de 200 megatoneladas em 1995 para 1.800 em 2050. Diante desse dado alarmante, ela questionou como o setor pode repensar seus pacotes e embalagens para reduzir impactos ambientais, indo além da adoção de novas tecnologias.

A provocação encontrou respostas diretas dos debatedores. Ione Anderson lembrou que ainda há uma grande resistência em associar o impacto do plástico aos benefícios que sua redução traria para o meio ambiente e para a Saúde, e destacou que sustentabilidade pode ser um diferencial estratégico em toda a cadeia.

Já Paulo Saldiva defendeu a criação de indicadores capazes de traduzir o efeito dos poluentes persistentes em desfechos de Saúde e sugeriu um esforço de comunicação nas escolas para modificar atitudes desde cedo. O deputado Pedro Westphalen relacionou o tema às tragédias climáticas recentes e reforçou que cabe ao país fortalecer suas agências reguladoras para transformar essas discussões em políticas públicas consistentes.

Diagnóstico como alicerce da sustentabilidade

O debate demonstrou que, diante de pressões simultâneas do clima e da curva demográfica no Brasil, a sustentabilidade dos Sistemas de Saúde dependerá da capacidade de antecipar riscos e de adotar políticas preventivas. O diagnóstico, ao fornecer dados confiáveis e precoces, posiciona-se como elo estratégico entre ciência, gestão pública e sociedade.

A Medicina Diagnóstica se coloca, assim, não apenas como ferramenta clínica, mas como instrumento de resiliência social. Fomentar essa integração é um dos compromissos da agenda ESG da Abramed, que tem atuado como articuladora entre os players envolvidos nessa temática.

Crise ambiental e Saúde: Paulo Saldiva mostra como o setor pode orientar caminhos diante dos desafios climáticos

Palestrante propõe uma reflexão sobre os desafios da Saúde em tempos de mudanças ambientais.

No 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), realizado em São Paulo, o médico patologista, professor e pesquisador Paulo Saldiva trouxe uma reflexão contundente sobre os desafios da Saúde em tempos de mudanças ambientais.

Ele destacou que o ato de cuidar, marca da nossa espécie desde o início da civilização, é também o que permitiu à humanidade avançar diante das crises. “Não vencemos pela força física, mas pela capacidade de colaborar, cuidar e educar”, afirmou. Segundo Saldiva, a Educação, a Saúde e a própria experiência das crises históricas moldaram a evolução social e tecnológica, mostrando que os momentos de dificuldade são também motores de inovação.

Ao traçar paralelos entre o corpo humano e o corpo urbano, o pesquisador ressaltou que as cidades, assim como os organismos, adoecem e revelam sintomas claros: poluição, sedentarismo compulsório, obesidade, violência no trânsito e desigualdades no acesso ao cuidado. “Hoje, as cidades estão na mesa de autópsia, e a Saúde tem um papel central em diagnosticar, propor terapêuticas e orientar caminhos de sustentabilidade”, observou.

Nesse cenário, o setor assume um papel que vai além da assistência: torna-se também direcionador de políticas públicas. Isso porque, com base em sua capacidade de produzir diagnósticos e cartografar padrões de adoecimento, é possível oferecer dados para a formulação de medidas que enfrentem os impactos das mudanças ambientais e sociais.

“A Saúde não regula o trânsito nem a indústria, mas pode discutir o sofrimento humano e fazer advocacy de boa-fé. Existe uma generosidade intrínseca em cuidar, e esse cuidado pode nortear governos e gestores”, destacou.

Entre os impactos das mudanças climáticas, ele chamou atenção para dados alarmantes: a cada aumento de cinco graus na temperatura, cresce em cerca de 8% a demanda hospitalar. Esse cenário representa uma perda de aproximadamente 5 bilhões de dólares anuais para o Brasil — um custo que Saldiva diz representar “o imposto que a população paga pelas mudanças climáticas”’.

Além disso, fenômenos como inundações trazem efeitos em cadeia, que vão desde o aumento de infartos até surtos de doenças infecciosas e um crescimento expressivo da demanda por atendimento em saúde mental.

Nesse contexto, o professor reforçou o poder da união entre Saúde e Educação como instrumentos de transformação. Segundo ele, essa parceria é fundamental para induzir mudanças de comportamento — tarefa mais difícil do que o próprio diagnóstico.

O setor já mostrou que isso é possível ao participar ativamente do combate ao cigarro. Da mesma forma, é preciso investir em educação para combater a ignorância. “A ignorância pode ser criativa, mas também pode ser dogmática e opressora. Se a boa informação em saúde promove saúde, a desinformação, por definição, faz o contrário”, alertou.

Saldiva concluiu destacando que a Saúde deve ocupar o centro da agenda pública e institucional, não só como campo de assistência, mas como norteadora de políticas ambientais, urbanas e de bem-estar, e que o setor já demonstra capacidade de superar barreiras tradicionais por meio da cooperação.

“Estamos vendo aqui empresas concorrentes trabalhando juntas, dialogando e trocando informações — e isso não é habitual em outras áreas. Esse talvez seja o maior legado da Saúde: mostrar que é possível avançar coletivamente em prol da vida”, finalizou.

Abramed concede Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld a Pedro Westphalen por contribuição à Saúde e à Medicina Diagnóstica

Deputado federal e médico é reconhecido pelo papel de articulador político em defesa da Saúde em meio à polarização nacional

O deputado federal e médico Pedro Westphalen (PP/RS) foi homenageado com a sétima edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, concedido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), o prêmio é um reconhecimento a profissionais que estimulam o desenvolvimento e a melhoria da saúde brasileira. A entrega ocorreu durante a 7ª edição do prêmio, realizada no 9º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), no Teatro B32, em São Paulo.

Na abertura da solenidade, César Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, destacou o caráter inédito da escolha: pela primeira vez, a honraria não foi concedida a um pesquisador ou professor, mas a um parlamentar. “Vivemos um momento de grande polarização no país. O deputado Pedro Westphalen tem sido uma voz de equilíbrio em Brasília, capaz de unir diferentes players em torno de pautas propositivas em defesa da Saúde. Trata-se de uma atuação discreta, mas decisiva para avanços no setor”, afirmou.

Ao receber a homenagem, Westphalen ressaltou a importância da aproximação da política com a Saúde. “Não trabalhamos pelo reconhecimento, mas pelos resultados. Quando ele acontece, é sinal de que estamos no caminho certo. Nossos propósitos precisam trazer avanços para a sociedade e é ela que deve ganhar com o nosso trabalho”, declarou.

O parlamentar também reforçou a relevância da conexão institucional entre a Abramed e o Congresso Nacional: “O parlamento é a casa do dissenso. Isso não quer dizer ter inimigos, mas debater. Sempre vi nosso segmento afastado da política, mas hoje temos mais de 1.700 projetos em tramitação na Comissão de Saúde que impactam diretamente o setor. Essa aproximação da Abramed com o parlamento é de extrema importância e me enche ainda mais de vontade de trabalhar”,

Com seis mandatos parlamentares e uma carreira igualmente dedicada à medicina, Westphalen destacou que a experiência adquirida amplia sua responsabilidade: “Sempre procurei me preparar para fazer aquilo que fiz. Isso nos dá conhecimento, experiência, e com toda essa bagagem eu não tenho o direito de ficar quieto diante dos desafios da sociedade. Meu compromisso é continuar contribuindo”.

Sobre o Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Criado em 2018, o Prêmio leva o nome do patologista Luiz Gastão Rosenfeld (in memoriam), referência nacional em hematologia e patologia clínica, e membro da Câmara Técnica da Abramed. Já foram homenageados:

-Giovanni Guido Cerri, Presidente dos Conselhos do InRad e do InovaHC, do HCFMUSP e ex-secretário de Estado da Saúde de São Paulo.

-Jarbas Barbosa, Subdiretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas;

-Mayana Zatz, bióloga molecular, geneticista e docente do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo;

-Margareth Dalcolmo, médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz);

-Dimas Tadeu Covas, Presidente do Instituto Butantan e do Conselho Curador da Fundação Butantan;

-Alberto Duarte, pesquisador, doutor em Nefrologia pela Unifesp, pós-doutor pela Harvard Medical School e diretor de Análises Clínicas da Rede D´Or SP.

Abramed debate desafios e perspectivas para 2025

Durante Reunião Mensal de Associados, importantes players do setor analisaram o mercado de saúde no Brasil

6 de janeiro de 2025 – A última Reunião Mensal de Associados (RMA) da Abramed em 2024 foi realizada em 19 de dezembro, na sede do Hcor, em São Paulo, contando com o debate “Desafios e perspectivas para 2025”. Durante o encontro, foi entregue o Relatório Anual de Atividades 2024, um resumo do trabalho realizado pela entidade e seus associados durante o ano, destacando as iniciativas em prol do desenvolvimento da medicina diagnóstica e de todo o ecossistema de saúde.

Como anfitrião, Júlio Vieira, diretor de relacionamento com o Mercado, Negócios e Estratégia do Hcor e membro do Conselho de Administração da Abramed, apresentou dados sobre o hospital, que atua em mais de 50 especialidades médicas, além de contar com um Instituto de Pesquisa reconhecido internacionalmente.

“Compartilhamos tudo que aprendemos em nossos quase 50 anos no Hcor Academy, que, em 2023, capacitou mais de 5.500 alunos, quase 150% a mais que em 2022. Recentemente, lançamos cursos de pós-graduação nas frentes assistenciais e gestão em saúde, somando mais de 800 alunos”, destacou Vieira.

Na sequência, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, fez uma retrospectiva da atuação da entidade em 2024. Foram 90 reuniões de seus 11 comitês temáticos, mais de 60 reuniões de relações governamentais com Ministério da Saúde, Anvisa, ANS, MDIC, entre outras instituições, além de 20 eventos promovidos e com participação da entidade.

“Desenvolvemos mais de quatro conteúdos relevantes por meio dos nossos comitês, como a Cartilha Com A Visa no Peito, a Pesquisa sobre o uso de Inteligência Artificial na Medicina Diagnóstica e o Relatório sobre o Uso do Padrão TISS. Esses materiais têm contribuído significativamente para a qualificação e a evolução do setor”, disse.

Por sua vez, Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da Abramed, destacou a relevância do trabalho da entidade junto aos associados. “Estamos cada vez mais próximos, permitindo que conheçam melhor a Abramed e, ao mesmo tempo, que a Abramed conheça mais profundamente as instituições. Esse movimento tem sido muito enriquecedor, pois fortalece o entendimento mútuo sobre o que já foi realizado e o que está em planejamento”, afirmou.

Ao comentar sobre o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, publicação anual da entidade que traz um panorama do setor, Nomura enfatizou a importância dos dados para todo o mercado da saúde. “O Painel ajuda a combater mitos como a ideia de que 20% dos exames não são acessados. Isso não é verdade, apenas 3,8% dos exames não foram acessados diretamente pelos pacientes em 2023. Muitos desses exames, no entanto, são realizados dentro de hospitais, onde os médicos têm acesso e utilizam os resultados para conduzir o tratamento. É importante desmistificar essa ideia equivocada e valorizar os dados confiáveis que o Painel oferece”, afirmou.

Debate

Após as apresentações, Nomura moderou o debate “Desafios e perspectivas para 2025”, com participação de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem, CEO da LifesHub e membro do Conselho de Administração da Abramed; Claudia Cohn, diretora-executiva no Grupo Dasa e membro do Conselho de Administração da Abramed; Fernando Torelly, CEO do HCor; e Giovanni Cerri, presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia (InRad) e de Inovação (InovaHC), do HC da FMUSP.

Ademar ressaltou que o setor de saúde no Brasil enfrenta desafios complexos, como envelhecimento populacional, alta carga de doenças crônicas, subfinanciamento, acesso restrito a crédito e um modelo de negócios fragmentado. Apesar disso, há avanços, como maior acesso à saúde, desenvolvimento de biotecnologia e incorporação tecnológica focada em inteligência de dados e monitoramento de pacientes.

Ainda assim, o setor carece de um verdadeiro ecossistema de saúde. Segundo ele, a fragmentação atual coloca operadoras, redes e empresas em “modo sobrevivência”, sufocando criatividade e inovação. “Porém, parcerias estratégicas entre hospitais e operadoras começam a sinalizar mudanças rumo a sistemas eficientes, que devem ganhar força em 2025”, disse.

Para avançar, Ademar considera que o setor precisa investir em três pilares. O primeiro é gestão, focando em estratégia, pessoas, operações, marketing, vendas e finanças. O segundo são dados, direcionados para a criação de data lakes (repositórios para grandes volumes de informações) e uso mais robusto de tecnologias analíticas para melhorar a tomada de decisão.

“Diversas tecnologias avançadas, incluindo inteligência artificial, estão chegando. No entanto, não conseguiremos utilizá-las plenamente se não prepararmos os dados básicos necessários para que essas ferramentas operem de forma eficaz no setor de saúde”, explicou Ademar.

O terceiro é automação de processos, que ajuda a reduzir custos operacionais com tecnologia, especialmente frente ao alto custo de mão de obra. Esses passos são fundamentais para enfrentar os desafios e preparar o setor para as transformações tecnológicas que já estão emergindo.

Para entender 2025, Torelly voltou a 2019, considerado o último ano “normal” da saúde. Desde então, veio a pandemia e, em 2023, as operadoras acumularam prejuízos de R$ 11 bilhões, forçando ajustes drásticos nos custos, que continuaram em 2024. “A arquitetura competitiva mudou radicalmente e continuará mudando, com uma forte consolidação no setor hospitalar”, disse.

Segundo Torelly, apenas os que aliarem escala a eficiência e forem atrativos tanto para operadoras quanto para pacientes estarão protegidos. “Tenho preocupação com os hospitais filantrópicos, pois se eles continuarem isolados em um cenário de consolidação, vão perder protagonismo no futuro por uma questão de mercado”, expôs.

Além disso, apontou que se a saúde se tornar um mercado pouco atrativo devido a fatores como câmbio e juros elevados, o investimento pode diminuir, prejudicando todo o sistema no longo prazo. “Não me preocupo com isso hoje, mas daqui a 5 ou 10 anos.”

Apesar das dificuldades, Torelly considera que o setor parece caminhar para um 2025 mais positivo, com prejuízos das operadoras reduzidos e ajustes em andamento. Contudo, é necessário que hospitais e gestores olhem para sua própria prática, combatendo variabilidades e glosas injustificadas e enfrentando o mercado de forma mais assertiva e colaborativa.

Cerri também fez uma retrospectiva, mostrando que a primeira metade desta década foi marcada por desafios profundos no setor de saúde, desde a pandemia até a crise das operadoras de planos de saúde.

De acordo com ele, embora as operadoras estejam reduzindo seus prejuízos, o desarranjo econômico e político do país é a grande preocupação para 2025. O aumento dos juros e o dólar elevado dificultam investimentos e agravam a situação. Por outro lado, Cerri cita como elemento positivo o avanço tecnológico.

A transformação digital, incluindo inteligência artificial, telemedicina e interoperabilidade, oferece caminhos para maior eficiência e racionalização de processos. Essas inovações permitem que médicos se concentrem mais no cuidado direto ao paciente e podem ser fundamentais para a sustentabilidade do setor.

O desafio, no entanto, permanece na necessidade de mudanças estruturais, como novos modelos de pagamento, ampliação do acesso e o retorno dos planos individuais. “Vamos observar como essas duas variáveis – o cenário econômico e político e o avanço da tecnologia no setor – irão se encontrar. Qual será o resultado dessa combinação? Espero que seja positivo”, comentou Cerri.

Na análise da Cláudia, o Brasil deixou de ser o foco para investimentos internacionais e não será a “bola da vez” em 2025. Para ela, a dificuldade de captar recursos e a necessidade de buscar alternativas são realidades que o setor de saúde precisa enfrentar. Empresas que antes operavam com margens confortáveis precisaram repensar suas estratégias para garantir a sustentabilidade. Isso levou ao surgimento de sistemas integrados – como a união entre hospitais, operadoras e empresas de diagnóstico.

Claudia ressaltou, ainda, que dados estruturados e inteligência artificial podem revolucionar a produtividade e a organização do setor, mas ainda são iniciativas pontuais. Para avançar, é fundamental que as empresas adotem uma visão sistêmica, aproveitando as oportunidades oferecidas pela transformação digital.

Além disso, conforme acrescentou, há um excesso de investimentos em novas infraestruturas, como leitos hospitalares, que podem se tornar inviáveis diante do enfraquecimento do fluxo de capital. Segundo ela, é preciso refletir se essa expansão desordenada faz sentido, especialmente considerando o atual cenário econômico.

“Minha última provocação é: será que vamos deixar de lado as disputas por interesses próprios para avançarmos juntos em um nível mais elevado, com um olhar mais amplo para o setor? Vejo a Abramed entrando em uma nova fase, focando menos em problemas pontuais – sem deixá-los de lado, é claro, mas resolvendo-os enquanto promovemos discussões mais maduras e estratégicas sobre o que realmente precisamos fazer para transformar o setor e nos tornarmos mais fortes, em conjunto”, disse.

Outros apontamentos relevantes incluíram a importância de estratégias voltadas à eficiência operacional, como gestão de custos e estruturas administrativas mais enxutas. Foi citado que práticas eficientes em gestão de supply chain podem gerar economia significativa nos custos variáveis das organizações. Os participantes também ressaltaram que o setor deve adotar um modelo baseado em eficiência, além de evidências, para enfrentar os desafios macroeconômicos.

Ao final, Nomura ressaltou a relevância de unir forças para avançar. “Em momentos de crise, a criatividade tende a desaparecer; quando um animal está acuado, seu foco é apenas a sobrevivência. Vejo que algumas instituições estão passando por isso agora. Por isso, é essencial que, como líderes, sejamos capazes de transmitir a importância da coopetição – uma combinação de competição e colaboração. Que ao final de 2025 possamos dizer que conseguimos fazer algo diferente”, concluiu.

O evento se encerrou com uma visita técnica ao Hcor.

Fraudes na saúde são um desafio à sustentabilidade e eficiência de todo o sistema

Tema foi debatido em evento online da Unimed Federação Minas, com participação da Abramed na programação

13 de dezembro de 2024 – As fraudes no setor de saúde são um grande obstáculo para a sustentabilidade financeira e operacional de todo o sistema. As práticas ilícitas incluem desde falsificação de documentos e reembolsos fraudulentos até esquemas sofisticados envolvendo organizações criminosas. Além das perdas de recursos, essas ações comprometem a qualidade do atendimento ao paciente.

O assunto foi debatido durante evento virtual do Grupo Estadual de Recursos e Serviços Próprios da Confederação Nacional das Cooperativas Médicas – Unimed Federação Minas, realizada no dia 6 de dezembro. José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), e Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), foram convidados para palestrar sobre o tema “Controle de fraudes em recursos próprios”.

Cechin apontou que as perdas por fraudes e abusos no setor de saúde suplementar decorrem de práticas realizadas por beneficiários, prestadores e terceiros. Entre as mais comuns estão falsificar identidades para acessar serviços, desdobrar recibos, aumentar quantidades e incluir procedimentos não realizados. Também ocorrem abusos no uso de materiais médicos, com desperdícios ou escolha de itens mais caros, como visto no caso da “máfia das próteses”.

Outro esquema frequente envolve organizações criminosas que criam CNPJs e funcionários fictícios, contratam planos de saúde e simulam reembolsos de serviços inexistentes. Há casos, ainda, de recebimento de comissões irregulares em diferentes etapas da cadeia de distribuição e no uso de dispositivos médicos, como próteses de joelho.

Durante a pandemia, as solicitações de reembolso passaram a acontecer por meios eletrônicos, sem a necessidade de envio de documentos físicos. “E daí nasceu uma verdadeira indústria da fraude. Os reembolsos passaram de R$ 6 bilhões, em 2019, para R$ 11 bilhões, em 2022, de acordo com estudo do IESS”, mostrou Cechin.

Em vista a essa realidade, as operadoras de planos de saúde adotaram medidas preventivas e corretivas, incluindo campanhas educativas e o aprimoramento de métodos de detecção e apuração. Também chegaram a demitir funcionários envolvidos em fraudes e criaram comitês especializados, promovendo a troca regular de informações.

Entre as medidas possíveis para combater fraudes no setor de saúde, Cechin citou o uso de biometria para autenticar identidades, auditorias regulares, criação de uma base de dados com casos comprovados e suspeitos, bem como a troca de informações entre operadoras. “Precisamos avançar no uso da inteligência artificial, que, apesar de custosa, tem grande potencial para identificar desvios de comportamento e prevenir desperdícios. Além disso, pode ser aplicada de forma preventiva, por exemplo, para verificar a compatibilidade do que está sendo solicitado”, expôs.

Este é um tema de extrema importância para a Abramed, que estimula o uso racional de exames e trabalha ativamente pelo equilíbrio e pela sustentabilidade de todo o sistema de saúde, mantendo o diálogo aberto com diversos atores da cadeia, como salientou Milva. Ela mostrou que as fraudes são um forte ofensor à essa sustentabilidade e, como resposta, a entidade conta com iniciativas importantes, como o Código de Conduta, que influencia comportamentos éticos e transparentes e repudia qualquer oferta de benefícios financeiros indevidos.

“Esperamos que todos os associados cumpram rigorosamente as diretrizes desse código em qualquer circunstância. Também disponibilizamos um canal de denúncias para reforçar esse compromisso ético. Dessa forma, combatemos as fraudes e conscientizamos o setor”, expôs.

Segundo dados da Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANS), o setor enfrentou uma epidemia de fraudes em 2023, com prejuízo de R$ 1,7 bilhão causado por falsificação de recibos e documentos médicos. “A fraude é uma ação enganosa, desonesta, ilegal e imoral que visa obter uma vantagem, seja financeira ou pessoal, prejudicando não apenas o sistema como um todo, mas também o paciente, que deixa de receber o atendimento adequado”, explicou Milva.

Os indicadores de fraudes no setor de saúde incluem práticas como o reembolso sem desembolso, quando uma operadora paga por serviços que não foram efetivamente prestados, e o reembolso assistido, em que o pagamento é realizado sem a devida documentação ou verificação do serviço executado. Outros indicadores incluem a renda incompatível com os valores desembolsados e a falsificação de comprovantes e documentos.

“Ao fornecer login e senha para o acesso de terceiros aos dados de seu plano de saúde, os beneficiários podem não perceber que estão, de forma passiva, contribuindo com uma fraude. Por isso, em 2022, a Abramed lançou campanhas de educação e conscientização voltadas para os pacientes, em parceria com diversos players da cadeia, com o objetivo de combater essa prática”, explicou Milva.

Além das fraudes, ela destacou outros pontos críticos que devem ser observados para melhorar a eficiência do sistema de saúde. “Para que o paciente seja colocado no centro do cuidado, é essencial que ele tenha conhecimento sobre sua saúde e saiba utilizar adequadamente o plano de saúde. Sem essa conscientização, ele pode ser manipulado, tanto por práticas fraudulentas quanto por outros golpes, frequentemente orquestrados por quadrilhas”, disse.

É igualmente importante analisar as condutas médicas relacionadas a pedidos de procedimentos desnecessários, seja por motivações financeiras ou por excesso de cautela — muitas vezes decorrente de lacunas no processo de formação profissional. Além disso, o setor de saúde enfrenta desafios como a fragmentação e a falta de integração e interoperabilidade entre os diversos atores, o que agrava esse cenário.

“A fragmentação do sistema de saúde gera desperdício e custos desnecessários. A integração do sistema é necessária para uma maior eficiência e efetividade, além da mudança de cultura, sendo fundamental que todos os profissionais de saúde, incluindo médicos, sejam educados sobre as melhores práticas e a importância de atuar com base no cuidado integral e na colaboração entre os diversos stakeholders do setor”, expôs.

As apresentações destacaram que enfrentar as fraudes no setor de saúde vai além de punir culpados: exige educação, normas claras e atuação em conjunto. Só assim será possível criar um ambiente mais ético, funcional e sustentável, onde os recursos sejam usados de forma inteligente e o foco retorne ao que realmente importa: um atendimento de qualidade, com o paciente no centro das decisões.

Abramed na FISWeek2024 e no Rio Health Forum: confira cobertura completa dos painéis

Foram discutidos temas como qualidade na medicina diagnóstica, agência única de avaliação de tecnologia, desafios da saúde suplementar e interoperabilidade

20 de novembro de 2024 – Em novembro, a Abramed marcou presença em dois eventos simultâneos realizados pela Iniciativa FIS: a FISWeek2024 e o Rio Health Forum, no ExpoMag, Rio de Janeiro.

A FISWeek2024, considerado o maior evento de inovação, empreendedorismo e tendências da saúde da América Latina, aconteceu de 6 a 8 de novembro, reunindo mais de 5.000 participantes e mais de 450 speakers em 12 palcos diferentes, totalizando cerca de 180 painéis.

A Abramed participou com estande institucional e na promoção do painel “O Futuro da Medicina Diagnóstica: Inovações e Desafios em Qualidade”, moderado por Milva Pagano, diretora-executiva da entidade.

Já o Rio Health Forum, realizado nos dias 6 e 7 de novembro, foi um espaço exclusivo para líderes, governos, reguladores, empresas e academia discutirem temas fundamentais para a transformação do ecossistema da saúde. A Abramed colaborou em quatro mesas de debates.

No dia 6, Cesar Nomura, presidente do Conselho de Administração da entidade, participou do painel “Agência Única de Avaliação de Tecnologia: É Urgente Tratar desse Assunto!”, organizado pela Diretoria de Normas e Habilitação do Produtos (DIPRO), da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

No dia 7, Nomura contribuiu para as discussões do painel “Desafios da Saúde Suplementar para os Próximos 20 anos”, organizado pela Diretoria de Desenvolvimento Setorial (DIDES), da ANS.

Já Milva foi moderadora do painel “RNDS: Próximos Passos para uma Interoperabilidade e Integração dos Dados na Saúde” e, no fim do dia, integrou o painel “SandBox Regulatórios na Saúde: Prioridades, Instrumentos e Medição de Resultados”.

“A participação da Abramed na FISWeek2024 e no Rio Health Forum reforça o nosso compromisso com a inovação, a qualidade e a sustentabilidade do ecossistema da saúde no Brasil. Esses eventos proporcionam um espaço único para discutir tendências e desafios que impactam diretamente o setor, conectando líderes, empresas, governo e reguladores. Contribuir para painéis que abordam temas como interoperabilidade, regulação e o futuro da medicina diagnóstica é uma grande oportunidade de impulsionar mudanças e integrar toda a cadeia de saúde”, expõe Milva.

Clique nos títulos das palestras e acesse as matérias de cobertura de cada painel.