Palestrante do FILIS 2023 provoca reflexões sobre o uso de dados para a inovação na saúde

Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, mostrou a importância de mudar o mindset para criar insights e turbinar a experiência dos pacientes

Provocando o público com várias e pertinentes reflexões sobre como fazer diferente no dia a dia de suas operações, Jacson Barros, Healthcare Business Development Manager da Amazon, apresentou durante a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS a palestra “Potencializando o uso de dados para a inovação na saúde”, mostrando como a empresa analisa as palavras “dados” e “inovação”.

A Amazon trabalha a inovação sob quatro eixos: cultura, mecanismo, arquitetura e organização. Barros focou nos dois primeiros. “Temos um ambiente integrado e todos os novos colaboradores, antes da primeira reunião, passam três meses estudando cada um dos 16 princípios de liderança da empresa”, explicou.

Entre os mais importantes está o conceito de “disagree and commit”, ou seja, é normal que as pessoas tenham opiniões diferentes e discordem em algumas decisões, mas é importante manter o progresso e a eficiência do trabalho em equipe. Significa que mesmo não concordando, há comprometimento em fazer acontecer.

Invent and simplify” é outro conceito que leva à reflexão: os colaboradores de sua empresa podem inventar? “Há abertura para receber uma proposta de simplificação de fluxo, por exemplo?”, provocou Barros, citando, ainda, a alta burocracia na saúde. “O sistema de informação de sua companhia é amigável para quem usa?”

Mais um “mantra” da Amazon é “think big”: pensar grande. “Quais são os planos da sua empresa? O que pretendem para os próximos anos?”, perguntou. 

Barros explicou, ainda, a importância do conceito working backwards (trabalhar de trás para frente), que envolve começar com um entendimento claro do resultado desejado ou do objetivo final e, em seguida, trabalhar de volta para determinar como alcançar esse objetivo. Dessa forma, todos sabem aonde pretendem chegar.

“O que queremos no fim do dia? Reduzir as filas? Diminuir os desperdícios? Todos os envolvidos estão alinhados com o mesmo objetivo? Isso acontece no seu dia a dia?”, questionou. “Não há nenhum segredo em aplicar tanto os princípios de liderança quanto os working backwards”, disse.

Desafios de saúde

Barros chamou a atenção para o fato de que a jornada do paciente não começa no hospital, mas bem antes disso, embora poucos se atentem a isso. “Os pacientes contam, hoje, com milhares de pontos de coletas de dados ao longo de sua jornada. Será que conhecemos quem atendemos? Precisamos analisar isso em nossa rotina”, provocou, mais uma vez.

As prioridades de saúde estão passando por uma evolução significativa, refletindo os desafios ouvidos na indústria de saúde. Há uma crescente demanda por acesso mais equitativo aos cuidados à medida que eles transitam de um modelo centrado no hospital para prestados localmente, focando na proximidade com os pacientes.

Além disso, há uma necessidade crescente de diagnósticos integrados que ofereçam uma visão 360 graus do paciente, permitindo uma abordagem mais holística para o tratamento. No entanto, os sistemas de saúde enfrentam pressões consideráveis, pois precisam capturar mais dados, manter o nível de serviços e responder rapidamente às necessidades dos pacientes, sob gerenciamento de orçamento constante.

“Para as organizações de saúde, o desafio de proporcionar cuidados centrados no paciente em meio a custos crescentes nunca foi tão significativo. Todo dia são gerados novos dados, precisamos saber separar o joio do trigo”, apontou Barros.

Em uma pesquisa feita com quem usa dados em saúde, o palestrante destacou duas afirmações dos respondentes: “Gastamos mais tempo ingerindo e processando dados do que traduzindo insights em melhores decisões de negócios”, e “Está tudo isolado! Pesquisar e analisar dados é difícil”. O que leva a outra reflexão: o quanto sua empresa trabalha para evitar o desperdício?

“Ouvimos muito sobre a importância da interoperabilidade, mas ela não é bala de prata, que resolve todos os problemas. Enfrentamos desafios cotidianos, questões da vida real, como a falta de treinamento adequado para profissionais e a crescente rigidez dos sistemas. Fundamental pensar nisso”, expôs Barros.

Data-driven

O profissional da Amazon também falou sobre data-driven, que, na saúde, refere-se ao uso de dados e análises para tomar decisões clínicas, operacionais e estratégicas. Pesquisa Executiva de Big Data e Inteligência Artificial 2022, feita pela NewVantage Partners, mostrou que tornar-se data-driven requer um foco organizacional na mudança cultural. Pelo 4º ano consecutivo, mais de 90% dos executivos apontaram a cultura como maior impedimento para alcançar resultados de negócios. 

“É preciso mudar o mindset. Uma organização data-driven é aquela que aproveita os dados como um ativo, para impulsionar a inovação sustentada e criar insights acionáveis a fim de turbinar a experiência de seus clientes. Pense nisso como tecnologia moderna complementada com uma metodologia moderna”, frisou.

A Amazon orienta que para chegar a uma visão moderna do uso do dado, é preciso trabalhar em ciclos. Primeiramente, definir um caso de uso – o mais palpável –, e a partir daí, comunicar e gerenciar a mudança no ritmo certo, para que todos visualizem aonde querem chegar.

Alguns pontos importantes nesse processo são: buscar o engajamento dos gestores, não apenas o patrocínio; usar os dados para subsidiar as decisões, não para justificá-las; ter os dados como um ativo da organização, não como propriedade departamental; e trabalhar a proficiência em capacidade analítica, e não proporcionar o “letramento de dados”, ou seja, investir na capacidade das pessoas de entender, interpretar e analisar dados de maneira eficaz.

Por fim, Barros deixou uma mensagem de Andy Jassy, CEO da Amazon: “Gostamos de dizer que não existe um algoritmo de compressão para a experiência”. Ou seja, a experiência é a base de tudo, e é a partir dela, com a ajuda dos dados, que seremos guiados e orientados às melhores decisões.

A importância dos gêmeos digitais na personalização da medicina e no futuro da saúde

Colaboração entre países, interoperabilidade, empoderamento e experiência do paciente foram temas abordados por Tobias Zobel, palestrante internacional do FILIS 2023

É fato que o perfil da população mudará em breve e que até 2050 deverá chegar a 10 bilhões. Como consequência desse maior número de pessoas, haverá também um aumento da demanda e saúde de alta qualidade. Por outro lado, ao mesmo tempo, o mundo terá um déficit de 18 milhões de profissionais de saúde até 2030. É exatamente nesse contexto que a automação e a inteligência artificial (IA) tornam-se essenciais para o setor da saúde, sendo inseridas no diagnóstico e no tratamento.

Segundo Tobias Zobel, diretor do Digital Health Innovation Platform (d.hip) e embaixador do Medical Valley – um dos complexos mais ricos para engenharia aplicada à medicina no mundo, localizado na região norte do estado alemão da Bavária -, a automação aumentará continuamente por meio de robôs virtuais e físicos baseados em IA para, desta forma, apoiar os profissionais de saúde e, em última instâncias, os pacientes e indivíduos saudáveis. O executivo foi um dos palestrantes internacionais que participou do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS), no dia 31 de agosto, e falou ainda sobre os desafios na saúde no Brasil e na Alemanha e como os países podem colaborar mutuamente para solucioná-los.

Embora na d.hip, que consiste em uma aliança de inovação entre pesquisa industrial, clínica e tecnológica, existam, por exemplo, diversos projetos, que incluem data center de saúde digital e os próprios gêmeos digitais, ainda há muito o que avançar. Também é notável a necessidade de engajar as pessoas na IA. 

“Não sabemos o que vem pela frente, apenas que o resultado será bom. Mas, por hora, o que podemos dizer é que estamos em uma espécie de área cinza e precisamos definir o máximo de padrões possível. Nas legislações existem tópicos que ainda não foram contemplados, é muito parecido aqui no Brasil, onde existem projetos que precisam ser considerados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Governo. É o caso da proteção de dados, que apesar de ser importante, tem o outro lado da equação no sentido do quanto o dado beneficia o diagnóstico? O maior desafio que enfrentamos hoje na Alemanha e que, finalmente, estamos discutindo, está relacionado à identificação dos pacientes”, complementa Zobel.

Gêmeos digitais 

Com relação ao gêmeo digital de saúde, modelo baseado em tecnologia que vincula o mundo real ao digital para tornar os dados em percepções acionáveis, o especialista explicou que existem muitas definições.  Mas, salientou que o digital patient twin aprende e evolui constantemente com uma pessoa para evitar tanto que ela fique doente ou para ajudá-la a recuperar sua condição de saúde o mais rápido possível quando adoecer.

A prevenção, nesse caminho de um gêmeo digital pessoal, é um dos tópicos mais importantes, mas com ela vem o empoderamento do paciente. É preciso garantir que eles compreendam seu estado de saúde e o quanto são responsáveis por ela. Atualmente o princípio está em comparar pacientes com a base toda de dados, identificar semelhanças e diferenças. Porém, a ideia é dar um passo além, coletando dados anteriormente de quando ela ainda é saudável e em seguida olhar para a avaliação do estado de saúde, o risco e criar um plano de prevenção personalizada para que eles possam mudar seu comportamento e detectar precocemente doenças. Trata-se de informações simples, que podem ser extraídas, sem nenhum contato com o paciente. 

“Os dados também podem servir para melhor percepção da situação de saúde. O próprio paciente pode ajudar a fazer monitoramento, olhando para tudo o que impacta em suas vidas. Por isso, os wearables são tão essenciais. E quando chegamos finalmente na etapa da consulta, já conseguimos levar os dados clínicos fornecidos em etapas anteriores em relatório clínico completo, sem perda de nenhuma informação relevante para o diagnóstico e terapia. E quem tem esse dado é o próprio paciente. Um twin digital holístico é o que permite praticar medicina personalizada”, reforça.  

Para Zobel é preciso implementar o máximo de inteligência artificial possível. Exatamente por todas essas questões, ele reforçou a importância da interoperabilidade e da criação de padrões. Porém, enfatizou que, essa, não deve ser uma responsabilidade do Governo.  

“Encabeçar a solução desse desafio é um papel da indústria. A Abramed e outras associações estão fazendo um trabalho excelente neste sentido, e não vemos isso na Alemanha, por exemplo. Mas, se não tivermos esse avanço, não poderemos tirar proveito dos benefícios da IA”, atesta.

Além da criação de um modelo internacional de IA e de parâmetros que norteiam todos os processos desde o processamento até a anonimização, Zobel falou de desafios como integração, normalização e manutenção de dados; implementação nos fluxos de trabalho; acesso dos pacientes aos dados e direito de decidir sobre o uso; considerações regulatórias e interação com outras plataformas e repositórios. Esses, segundo ele, são os pontos que, inclusive, deverão ser olhados pela Anvisa para a regulação desses aspectos. 

“Isso tudo é um grande desafio. Temos que colocar esses pontos em um fluxo de trabalho real nos hospitais, que estão 20 anos atrasados. Em nosso hospital, por exemplo, temos 700 sistemas de TI para extrair dados clínicos de pacientes. E ainda precisamos garantir a proteção e a gestão da informação, bem como o paciente tem que dar consentimento sobre como podemos usar os dados. Esse é um aspecto prévio e primordial nessa discussão toda”, finaliza.

Leaders Connection e Momento Transformação foram as novidades do FILIS 2023

O primeiro focou na conexão entre os participantes do evento, enquanto o segundo foi dedicado a cases de sucesso

Duas novidades marcaram a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS): o Leaders Connection, períodos de pausa durante a programação do evento focados no networking entre os participantes; e o Momento Transformação, apresentação de cases nacionais e internacionais de inovação na área da Saúde apresentados por grandes players do mercado.

Com a crescente importância da colaboração e da interconexão entre os atores do sistema de saúde, o Leaders Connection se revelou uma iniciativa estratégica e bem-sucedida. Líderes de diferentes áreas tiveram a oportunidade de se reunir informalmente para um momento de verdadeira interação.

O FILIS propicia um ambiente onde profissionais altamente qualificados se congregam para discutir temas essenciais para a sustentabilidade do sistema, como gestão e inovação. “A Abramed preza muito pelo relacionamento, pela troca de boas práticas e pela comunicação entre os diferentes elos da cadeia de saúde. É no momento de intervalo entre as apresentações do FILIS que se torna possível fazer esse networking qualificado com o público”, ressaltou Milva Pagano, diretora-executiva da entidade.

Espaços como esse são essenciais para ampliar horizontes, explorar novas perspectivas e estabelecer conexões que podem impactar positivamente o futuro da saúde no Brasil e no mundo.

Cases de sucesso

Já o Momento Transformação foi dividido em duas apresentações. A primeira com a participação da palestrante internacional Wendi Mader, Vice President Employer da Quest Diagnostics, que abordou gestão e saúde populacional, ressaltando o papel dos insights diagnósticos nos programas de saúde corporativa e como essas informações podem direcionar as pessoas ao cuidado adequado no momento certo, aproveitando soluções tecnológicas inovadoras que aprimorem o acesso ao cuidado.

A segunda apresentação foi do Presidente da Roche Diagnóstica Brasil, Carlos Martins, que expôs o tema “A integração de dados aumenta a eficiência e melhora os cuidados com os pacientes”. Ele mostrou as soluções digitais utilizadas por Unimed Sorocaba, Hospital Israelita Albert Einstein, Grupo Fleury e Ministério da Saúde para integrar seus processos na área de diagnóstico, bem como os resultados obtidos.

Ao destacar casos de inovação na área da saúde, o Momento Transformação buscou inspirar líderes a abraçar mudanças, adotar novas tecnologias e aprimorar suas estratégias, se baseando no que o mercado vem praticando.

“O sucesso do Leaders Connection e do Momento Transformação ressaltaram mais uma vez a importância do FILIS como um espaço crucial para a integração de toda a cadeia da saúde”, finalizou Milva.

Fórum Internacional de Lideranças da Saúde discutiu a importância da integração para o futuro da saúde no Brasil

Evento promovido pela Abramed chegou à sua sétima edição promovendo a interação entre líderes da área. Mauricio Silva Nunes, diretor de desenvolvimento setorial da ANS, fez apresentação na abertura da programação

O 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS, que vem se consolidando como uma das principais agendas da Saúde no Brasil, foi realizado no último dia 31 de agosto, no Teatro B32, em São Paulo (SP). Desde sua primeira edição, tem se confirmado como referência de inovação e troca de experiências entre profissionais da cadeia da saúde. 

Em solenidade de abertura do evento, Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, destacou que a interoperabilidade é um tema central para a Abramed, pois tem foco direto na gestão da saúde do paciente. Opinião compartilhada pelo presidente do Conselho de Administração da entidade, Wilson Shcolnik. Para ele, as empresas de medicina diagnóstica estão integradas a outros segmentos de prestação de serviços e as fronteiras de atuação já não existem mais. 

“Isso nos traz a oportunidade de termos uma jornada mais orientada para os nossos pacientes, lucrando todos, evitando desperdícios e contribuindo com cuidado qualificado da saúde e sustentabilidade do sistema. Temos consciência do momento de transformações intensas vividos pelo sistema de saúde”, afirma o presidente.

Entre as novidades destacada do evento neste ano, houve o “Leaders Connection”, um período de parada na programação, direcionado ao relacionamento e à troca entre os participantes do evento, e o “Momento Transformação”, com apresentação de cases de inovação na área da Saúde.

Apresentação ANS

Em se tratando de desafios do setor, o diretor de desenvolvimento setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Maurício Nunes da Silva, afirma, em 20 anos de atuação na instituição, nunca ter visto um momento tão complexo e desafiador. Ele foi convidado para uma apresentação na abertura da programação do 7º FILIS.

Trazendo um panorama geral sobre o setor de saúde suplementar, o diretor lembra que em 2022 houve um “comportamento atípico” que coloca o segmento em situação de atenção, e para compreender esse movimento é necessário voltar para 2014 quando o setor de saúde suplementar apresentava o maior número de beneficiários em sua história: 50,4 milhões de pessoas em planos médicos hospitalares.

Porém, em razão da crise econômica que o Brasil passou entre os anos de 2015 e 2016, houve uma perda de mais de três milhões de beneficiários: “saindo de 50,4 milhões para pouco mais de 47 milhões”, aponta o diretor de desenvolvimento setorial da ANS. E desde então, esses números se mantiveram em oscilação até próximo do primeiro semestre de 2022, quando aconteceu um crescimento mês a mês. 

A trajetória crescente é interrompida em janeiro de 2023, porém em fevereiro os números de beneficiários voltaram a aumentar e em março alcança a maior quantidade da série histórica: 50,5 milhões e até junho essa constância leva aos 50,8 milhões. Mas, se houve essa melhora quantitativa, o que chama atenção da ANS como comportamento atípico?

Silva explica que junto a trajetória de crescimento de beneficiários houve queda de receita operacional das operadoras de R$ 7 bilhões; um aumento de despesas de aproximadamente R$ 700 milhões. “Essa queda de receita operacional chama a atenção porque no momento de tendência de aumento de beneficiários com queda de receita operacional, isso provavelmente nos mostra que os beneficiários procuram por planos mais baratos”, pondera.

Para a ANS, isso é um sinal de alerta, afinal o setor é de financiamento mutualista: um beneficiário paga anualmente pelo serviço, mas caso não o utilize, outra pessoa com tratamento de alto custo o faz, o que dilui os impactos e despesas. O diretor esclarece que no setor, 70% dos contratos são coletivos empresariais – “com contratos muito grandes ou muito pequenos. Microempreendedor Individual (MEI) se classifica por coletivo empresarial, por exemplo” -, 18% são planos individuais familiares e 12% são coletivos por adesão. 

Valor ao beneficiário

Há mais de 30 anos o bioquímico norte-americano Van Rensselaer Potter (1911-2001) trata do valor que é entregue ao beneficiário, de acordo com Silva. “Ele trouxe um debate nos Estados Unidos sobre a eficiência da utilização do recurso no setor de saúde, que para cada um dólar gasto com saúde o que entregamos de valor não é monetário, mas de resultado da saúde [do paciente]”, explica.

O diretor de desenvolvimento setorial da ANS afirma que até o final de 2023 há a expectativa de aprovar a certificação para a linha oncológica: “Já temos algumas para atenção primária. A oncologia é um grande exemplo. A certificação oncológica força operadoras e prestadores a buscar o melhor do resultado em saúde”.

Há ainda, segundo Silva, outros projetos de indução à qualidade, como o que a ANS chama de “Buscador Qualis”, ferramenta no portal da Agência onde o beneficiário pode pesquisar se um hospital ou prestador ou laboratório é acreditado e o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde (“QUALISS”), de monitoramento da qualidade hospitalar; lançado em 2022, começou com a participação de 133 hospitais – hoje são 176, dos mais diversos perfis, incluindo instituições privadas e Santas Casas. 

Ainda sobre o QUALISS, foram definidos indicadores de qualidade: dados reportados pelos próprios hospitais, que serão divulgados pela ANS. “O mais interessante é que é um programa de adesão voluntária. É a primeira vez na história do Brasil em que teremos indicadores de hospitais. É uma ação inovadora! ”, afirma o diretor. 

Outra meta relativa aos hospitais é a de transferência da rede hospitalar. Por força legal do artigo 17 da Lei 9.656, se define que toda vez que uma operadora de planos de saúde retirar ou substituir hospital, deve-se seguir parâmetros definidos pela ANS. Com essa norma o beneficiário ao contratar determinado plano devido à rede hospitalar, ao ser informado da remoção ou substituição, pode utilizar a portabilidade, indo para o plano que possua aquele determinado hospital, independentemente da faixa de preço. 

Silva explica ainda que junto dessas ações é proposta a possibilidade de que o beneficiário possa levar seu histórico médico para qualquer plano. “Aqui há um grande desafio em migrar dados – claro, respeitando a Lei geral de Proteção de Dados – entre planos e instituições. Mas reduz custos, como a repetição de exames, promovendo sustentabilidade no setor”.

Professor Alberto Duarte é homenageado da 5º edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld

Honraria criada pela Abramed reconhece profissionais e especialistas que promovem desenvolvimento e melhoria da saúde no País

O Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, homenagem criada pela Abramed, foi entregue ao Professor Doutor Alberto Duarte durante a 7ª edição do Fórum Internacional de Lideranças da Saúde – FILIS. Graduado em Medicina pela Universidade de Pernambuco, com doutorado em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pós-doutorado em Nefrologia da Harvard Medical School, Dr. Duarte conquistou livre-docência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) em 1983 e implantou o serviço de imunologia clínica do HC, além de ser responsável pela criação do Laboratório de Investigação Médica também nessa faculdade.

Duarte iniciou seu percurso na FMUSP como Livre Docente e depois tornou-se Professor Titular da Disciplina de Patologia Clínica. Foi diretor da Divisão de Laboratório Central do HC/FMUSP. Possui experiência na área de Imunologia, com ênfase em Imunologia Celular, atuando principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: Imunomodulação Experimental, Imunopatologia da Infecção pelo HIV, Imunopatologia das Imunodeficiências Secundárias, Infecciosas ou Metabólicas e Imunopatologia das Infecções Primárias. Durante todo esse período formou 78 mestres e 68 doutores, 16 deles, pós-doutores. Possui mais de 350 artigos científicos publicados.

“Para mim é uma surpresa muito grande essa homenagem e me sinto extremamente honrado, pois quem conheceu Gastão, ter um prêmio com o nome dele é algo muito especial”, disse o professor emocionado.

Ainda de acordo com ele: “tudo o que foi dito sobre mim, jamais pode ser só meu. Porque você não trabalha sozinho! Você trabalha com sua família, mas o que mais me agrada é que tudo o que eu fiz no sentido de treinar e desenvolver pessoas é o que fica. É o que se pode perpetuar e ajudar que isso traga benefícios ao País e ao nosso paciente, que é a nossa meta”. 

Um dos momentos de maior emoção na entrega do Prêmio foi quando Duarte lembrou que teve a “grande honra de orientar” o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, em seu doutorado. “Tem umas coisas muito interessantes da vida que quando você se propõe a orientar, mas é o seu aluno que te ensina”. 

Luiz Gastão Rosenfeld

Considerado uma das maiores autoridades em patologia clínica e hematologia do Brasil, o médico Luiz Gastão Rosenfeld foi um dos fundadores do Centro de Hematologia de São Paulo (CHSP) e presidiu a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), hoje Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular.

Também foi diretor do laboratório do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, além de ter coordenado o laboratório do Hospital Albert Einstein (HIAE), foi vice-presidente clínico e diretor de Relações Institucionais da DASA e coordenador científico da Câmara Técnica da Abramed.

De acordo com Shcolnik, “o doutor Luiz Gastão Rosenfeld foi um visionário”. Chefiou o laboratório do Hospital Albert Einstein, liderando certificação de qualidade internacional nesse laboratório de forma pioneira.

O prêmio foi criado em 2018 pela Abramed. Entre os homenageados das edições anteriores estão Jarbas Barbosa, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018; Mayana Zatz, bióloga molecular e geneticista, em 2019; Dra. Margareth Dalcolmo, médica pneumologista, professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2021, e o professor Dimas Covas Tadeu, presidente do Instituto Butantan e do Conselho Curador da Fundação Butantan, em 2022.

Insights diagnósticos são fundamentais para mudar o cenário da saúde corporativa, diz palestrante do 7° FILIS

Wendi Mader, da Quest Diagnostics, reforça a importância de acompanhamento e de gestão da saúde populacional nas empresas, e ações que foquem em prevenção para a redução de elevados custos de saúde 

Conhecer a saúde de sua população e trabalhar na prevenção são aspectos que ganham cada vez mais relevância no mercado corporativo. Considerando que qualquer adiamento no cuidado pode impactar não somente quem está negligenciando esse cuidado, como também os empregadores e até o próprio sistema de saúde, estratégias de gestão populacional fazem total diferença nesse contexto.

“Atualmente passamos entre oito e até 12 horas trabalhando. Tudo é sobre trabalho e acontece nesse ambiente. Além disso, não podemos fazer prevenção apenas em casa. Isso precisa ter continuidade”, explicou Wendi Mader, Vice-presidente Employer da Quest Diagnostics, que nos últimos 20 anos, tem atuado com foco em encontrar formas de controlar os custos de saúde e prevenir condições crônicas. 

Mas quais os caminhos a seguir? Foi exatamente visando esclarecer esses aspectos e mostrar a importância dos insights diagnósticos para melhorar a experiência do cuidado, a saúde populacional e reduzir os custos da saúde, que Wendi compartilhou sua experiência com os participantes do 7º Fórum Internacional de Lideranças da Saúde (FILIS). Ela foi uma das convidadas do “Momento Transformação”, uma das novidades desta edição, que trouxe para a programação a apresentação de cases de inovação na área da Saúde.

Com o objetivo de melhorar esse cenário, a Quest Diagnostics nos Estados Unidos tem adotado iniciativas para manter as populações saudáveis, mas que podem ser aplicadas em empresas no Brasil e em outros países. A companhia investe anualmente 400 milhões de dólares na saúde dos seus 45 mil colaboradores, o que é de extrema relevância, especialmente pelo tipo de serviço crítico que prestam.

A ideia é melhorar a saúde desde o momento de admissão até a aposentadoria, além de criar produtos que tornam os testes de diagnósticos mais simples. Atualmente são mais de 18 mil clientes e mais de 7 milhões de colaboradores testados. “A saúde e a segurança de um colaborador deve ser um comprometimento a longo prazo e deve considerar as especificidades de cada um deles”, complementa.

Reflexos da pandemia

Segundo Wendi, dados da empresa mostram que houve uma diminuição de 70% no número de idas ao médico durante a pandemia. O cuidado tardio, sem dúvidas, causa impactos a longo prazo, como agravamento dos sintomas, atraso no tratamento, maior estresse com relação à condição de saúde e impactos negativos na longevidade. Cerca de um em cada três pessoas nos 67% com alguma doença crônica disseram ter sua condição de saúde piorada durante a emergência sanitária. No entanto, os colaboradores reconhecem a necessidade de focar em sua saúde e dois a cada cinco têm a preocupação de ter alguma condição desconhecida. 

“Será que as pessoas sabem o que acontece em seu corpo? Será que elas relatam tudo o que têm com veracidade. 59% dos colaboradores com níveis de colesterol alto, por exemplo, não sabem que possuem essa condição crônica”, provoca a executiva. 

Por outro lado, os elevados custos que a falta de prevenção pode gerar também são pontos de atenção, que foram também salientados por Wendi. Nos Estados Unidos, por exemplo, um paciente com doença crônica custa em média 125 mil dólares. “Um caso somente basta para causar um desequilíbrio financeiro”, enfatiza. 

A Quest Diagnostics é especialista em dados clínicos e diagnósticos e oferece soluções que garantem às pessoas não apenas o acesso a testes onde quer que estejam, mas também a compreensão dos resultados deles. O objetivo é capacitar as pessoas a entenderem melhor seu estado de saúde, permitindo que elas se tornem consumidores mais informados e alcancem uma melhor gestão de sua saúde. Um desses produtos é o Blueprint Welness que ajuda a ter uma visão real dos dados e não suposições e já realizou a triagem de mais de três milhões de colaboradores no mundo. 

O objetivo é mudar o cenário atual, educar os colaboradores, dar acesso à assistência médica e colocá-los na trajetória correta do seu cuidado. “Temos que pensar diferente a respeito de como usamos a tecnologia. Podemos levar os profissionais da saúde para cada paciente. E não podemos nos esquecer também da saúde mental. Pessoas estão estressadas e tudo bem. A questão é que podemos ajudá-los. Ao final, o objetivo é alcançar uma saúde mais igualitária e reduzir os custos com ela”, finaliza.

Segundo painel do Summit Abramed na Hospitalar 2023 debate soluções para melhorar a gestão e a qualidade do cuidado em saúde

Foram elencadas questões como modelo de negócios, avaliação da jornada do paciente e interoperabilidade de dados

“Gestão da Saúde e a sustentabilidade do setor” foi o tema do segundo painel do Summit Abramed, realizado dia 23 de maio, durante a Hospitalar 2023. Os convidados destacaram pontos importantes para maior resolutividade na área suplementar. Participaram Anderson Mendes, presidente da Unidas Autogestão; Carlos Martins, CEO da Roche Diagnóstica; e Claudio Tafla, presidente da Aliança para Saúde Populacional (ASAP). A moderação foi da diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano.

Tafla, repercutindo o tema da mesa redonda, diz ser necessário engajamento para promover mudanças em prol do paciente, e não em prol de visão do mercado da Saúde. “Houve um distanciamento entre o médico e o paciente”, comenta. De acordo com ele, a prevenção não está sendo aplicada e isso corrobora para a insustentabilidade.

Mendes citou o foco da atenção na doença como ponto a ser combatido, por exemplo, voltar todos os esforços ao tratamento de diabetes, negligenciando a oportunidade de focar nos jovens obesos que poderão desenvolver o agravo no futuro. Mesmo uma coisa não excluindo a outra, a questão são as prioridades e isso é um tópico relacionado à gestão.

Atualmente, a atenção seria voltada a agravos relacionados ao envelhecimento da população, em detrimento da atenção primária, que poderia evitar a doença futura, tornando a Saúde, como um todo, onerosa e incapaz de se sustentar e de cuidar da população. “Gasta-se sem avaliação”, relata o presidente da Unidas. Ele explica que as condições do paciente também são um fator determinado por presença de saneamento, condições climáticas e outros fatores externos, tendo que ser avaliado. “Estamos enxugando gelo”, avalia.

Mendes entende que, inclusive, nada mudou durante a pandemia, diferentemente do que se coloca na maioria das discussões. A crise sanitária não trouxe alterações qualitativas e quantitativas, segundo ele. Nesse contexto, o presidente cita a telemedicina, que não seria um fator determinante se não observadas as demais prioridades citadas, tornando-se apenas uma ferramenta meio e, se mal utilizada, insustentável. Dados, para escolha de melhor tratamento, no momento certo ou o melhor método de trabalho evitariam os 20% de desperdício que poderiam ser empregados em acesso.

Os debatedores expuseram, inclusive, que o modelo de negócios healthcare, muito voltado para “pago, quero usar”, também não ajuda na construção da Saúde suplementar, que está em crise financeira sistêmica. Ou seja, não há base científica, epidemiológica ou comparativa que justifique a tomada de decisão, apenas a vontade expressa do cliente. Existe produção de dados financeiros, paradoxalmente. E não se trata de culpabilização do usuário; as questões são multidisciplinares e multifatoriais.

“A conta não fecha, estamos reduzindo acesso e qualidade e tem gente querendo ganhar dinheiro de outras formas”, diz Martins. A questão de como se deve gerenciar um produto peculiar como a Saúde foi repetidamente citada durante o painel. O CEO da Roche, defende que a indústria é um ator indispensável, pois investe em inovação, o que, bem gerida e bem administrada, é uma saída sustentável no cotidiano, por exemplo, da medicina diagnóstica.

Mas, Martins também problematizou “não devemos focar somente no preço, devemos investir em propósito”. E mais: os governos precisam proporcionar continuidade nas políticas públicas e desfragmentar a polarização entre público e privado e players. A desfragmentação também viria da integração estratégica de dados para a tomada de decisão. Ele lembrou que inovação requer treinamento e educação dos profissionais. “Vemos, nesta roda de conversa, que está tudo interligado”, conclui.

Milva lembrou que é necessário sair de mesas-redondas com uma agenda. E todos concordam. No entanto, entendem que não existe uma resolução única e fácil para qualidade, sustentabilidade e estratégia, e não um mercado de cura. Para Tafla, o protagonismo está nas mãos de todos os envolvidos, incluindo do usuário, que precisa entender seu papel no cuidado e como usar melhor seu plano. Comentando um caso pessoal e real, disse que é possível engajar hospitais, prestadoras e clínicas para tentar construir projetos novos. “Não fazer nada é votar nulo.”

Então quais seriam as soluções para melhorar a gestão e a qualidade, problemas elencados como estruturais? Foi unânime o entendimento de que a gestão de dados que cheguem para análise do desfecho do cuidado do usuário e educação continuada dos profissionais são prioridades. Mas, para isso, será necessário ultrapassar algumas barreiras: a falta de integração entre público e privado, o modelo de negócios, descredibilizado, o cuidado curativo em detrimento do preventivo e habilidades para elencar prioridades na gestão.

Leia a matéria sobre o primeiro painel, “Saúde, segurança e qualificação – Quais os desafios?” neste link.

Summit Abramed na Hospitalar 2023 discute segurança e qualificação para melhoria dos serviços em saúde no Brasil

Em debate, líderes do setor destacam sistemas de informação e certificação para melhorar qualidade

“Saúde, segurança e qualificação – Quais os desafios?” foi o tema do primeiro painel de debate do Summit Abramed, realizado no dia 23 de maio, durante a Hospitalar 2023. Os participantes destacaram a importância da gestão de dados e das acreditações como formas de promover a qualificação e o aumento do acesso, por meio da sustentabilidade, assim como da boa gestão de recursos.

Participaram Angélica Carvalho, diretora adjunta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Cibele Carvalho, presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR); e Guilherme Oliveira, diretor administrativo de expansão do Grupo Sabin e diretor de Acreditação e Qualidade da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial (SBPC/ML). A moderação foi de Ademar Paes Jr., sócio da Clínica Imagem e membro do Conselho de Administração da Abramed.

“Buscamos promover um debate aberto, sempre pautados pela ética e pelo compliance”, comentou Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, na abertura do painel.

Repercutindo o tema central da discussão, Angélica destacou, primeiramente, que o Brasil tem dimensões continentais, sendo necessária uma discussão que considere diferenças regionais, inclusive de mercado, para elaboração de propostas sobre a pauta. Por isso, a coleta de dados e a interoperabilidade dos sistemas devem ser instrumentos importantes para traçar planejamentos reais. “A regulação ainda é muito fragmentada. Deve-se levantar e compartilhar mais informações, do setor público e do privado, e estruturá-las para ter uma visão maior.”

Paes Jr. concordou que é importante se basear em inteligência de dados de forma integrativa e compreensível. A ANS tem duas opções para combater esse gargalo: as entidades podem acessar o Programa de Qualificação dos Prestadores de Serviços de Saúde (QUALISS) como uma forma de estimular as boas práticas e consultar informações, enquanto a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) oferece dados interligados por meio de uma plataforma nacional de interoperabilidade.

Essas informações, como a trajetória do usuário e o desfecho, são importantes para identificar lacunas de desperdício e promover sustentabilidade, focando na segurança do paciente. “No país que faz as eleições em três horas, como não se pode fazer uma saúde mais integrada? O que podemos melhorar?”, completa Angélica, que admite a pulverização e as concorrências entre classes, dificultando a construção de serviços hospitalares e não hospitalares de qualidade. Ela conta que um familiar internado, inconsciente, passou por quatro exames antes de fazer o que salvaria sua vida. De acordo com a diretora adjunta da ANS, a culpa é do responsável pela coordenação do cuidado, que entenderia, por meio de dados, o estado da pessoa individualmente, garantindo cuidado e evitando desperdícios.

Uma das formas de se garantir essa qualidade é por meio de certificações, além do comprometimento de operadoras para credenciar serviços que entregam qualidade. Os instrumentos de auditoria que oferecem um selo de qualidade para o laboratório, por exemplo, verificam equipamentos, gestão, segurança e demais condições. Ainda pouco conhecidas pela população e representando gastos extras em uma realidade de baixo orçamento, as certificações são indispensáveis, mas pouco utilizadas e pouco cobradas por usuários, defende Oliveira. “Aproximadamente 70% dos exames pautam as decisões médicas. Não se faz medicina de excelência sem exame complementar de excelência.”

Todos os participantes concordam que informação, incentivo dos planos, contrapartida e financiamentos poderiam ser propulsores da aderência aos programas, que têm um custo mensal. Apenas 3% dos 15 mil laboratórios brasileiros possuem certificação, ainda que representem 40% dos exames realizados na iniciativa privada. A SBPC/ML, oferece certificações independentes e reconhecidas, como o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC).

A presidente do CBR, que também oferece selo de qualidade, como o pioneiro Programa de Acreditação e Diagnóstico por Imagem (PADI), diz que convencer os gestores de que o impacto na qualidade vem no médio prazo, ou seja, se gasta hoje para economizar amanhã, é difícil. Mas entende que, mesmo abrangendo uma parcela pequena da população, 50 milhões do total 200 milhões de pessoas da população total, o serviço suplementar é um elo importante do Sistema Único de Saúde (SUS), muito mais abrangente, mas com problemas semelhantes.

Assim como no setor complementar, na área privada o modelo de remuneração é discutido à exaustão, sem consenso. Mas Cibele não é otimista com as formas apresentadas para driblar problemas financeiros. “Vemos fusões de grandes operadoras que faturam na bolsa de valores, mas oferecem cuidado de má qualidade. Isso não pode acontecer. Saúde não é mercado.” Ela cita casos de campainha que toca com nove minutos de consulta para encerramento.

É consenso que o cuidado com o paciente deve ser o foco. E que promover segurança e sustentabilidade, como a boa gestão de recursos, aumenta e qualifica o acesso. Isso pode ser feito por meio dos esclarecimentos que uma acreditação dá sobre o modelo de negócio. Mas tudo isso depende de recurso e tecnologia, seja em equipamentos, seja em softwares. Porém, a radiologia, por exemplo, que mais recebe inovações tecnológicas, renuncia a isso por falta de verba. Cibele conta que trocava equipamento de ultrassom a cada três anos, e esse intervalo passou para uma década. “Mesmo assim, a gente não consegue convencer sobre a necessidade de grandes investimentos”.

Enquanto laboratórios de grandes centros já convivem com seus desafios, a questão das diferenças de acesso no país volta à tona. Oliveira vê a nova Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 302) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com desconfiança, mas considera que, por exemplo, exames pré-natais nas cidades devem ser feitos em laboratórios, porém, se forem realizados em populações ribeirinhas, lançar mão dos testes rápidos é uma saída para promover acesso. “Se no interior só há uma farmácia, usam-se testes de triagem.” Mas ainda questiona: “quem cuida dessa pessoa depois?”, ele lembra que informar as mães sobre os diagnósticos disponíveis é imprescindível e cita que sete em cada mil crianças nascem com sífilis congênita, de fácil diagnóstico.

Os temas abordados no Summit Abramed são de grande relevância para o ecossistema de saúde. A crise da saúde suplementar afeta a cadeia produtiva e os prestadores de serviço de modo sistêmico. Assim, diálogos que busquem promover a sustentabilidade do sistema seguem como protagonistas em feiras e congressos. Buscar soluções que estimulem, por exemplo, exames mais assertivos, evitando desperdícios, é um exemplo de atuação sustentável. Ainda, como preocupação central, está a oferta de serviços qualificados para o paciente.

Ressalta-se ainda que os serviços prestados pelas empresas associadas à Abramed têm a qualidade assegurada por meio de diversos processos de acreditação e certificação, entre elas o PADI e o PALC. Ser um estabelecimento acreditado é um critério de elegibilidade para ser um associado. A melhoria contínua da qualidade dos serviços de medicina diagnóstica pode ser alcançada por meio de processos de acreditação e certificação, entre outros processos de avaliações objetivas e imparciais.

Leia também a matéria sobre o segundo painel do Summit Abramed, “Gestão da Saúde e a sustentabilidade do setor”, neste link.

Ética depende da construção de cultura enquanto inovação pode sugerir caminhos para boas práticas

Evento com participação da Abramed reuniu players do setor de saúde para avaliar como se aplicam atuações transparentes e repercutiu importância da inovação e desafios atuais

Buscando discutir o posicionamento ético entre os atores da Saúde, o Instituto Ética Saúde (IES) promoveu o Ética Summit 2023, encerrando a Semana da Ética – maior evento sobre ética na saúde do Brasil e que promoveu debates e reflexões com líderes e profissionais da saúde e do setor governamental, a fim de ampliar o conhecimento sobreo tema e a consciência social sobre os impactos da corrupção no setor. A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) foi uma das entidades apoiadoras da iniciativa e integrou uma das mesas de debate. Com o tema “Fornecedores de Produtos e Serviços de Saúde: Inovação, Incorporação Tecnológica, Sustentabilidade Sistêmica, Valor ao Paciente e Dilemas Éticos da Atividade Econômica”, o Ética Summit aconteceu no dia 4 de maio, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP).

Participaram do debate César Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed; Fernando Silveira Filho, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (ABIMED); Bruno Sobral, secretário-executivo da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde); Luis Eduardo Calderari, vice-presidente executivo da Interfarma; e Sérgio Rocha, presidente do conselho de Administração da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (ABRAIDI). A moderação foi de Ligia Maura Costa, professora titular na FGV EAESP e coordenadora geral do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance (FGVethics).

“Na Suíça, por exemplo, um ministro perdeu o cargo por não declarar viagem oficial.” Nomura trouxe esse exemplo internacional para explicar que a boa conduta é multifatorial e multicultural. São exemplos de visões e sanções diferentes que regem o entendimento de ética de uma população ou um setor. Porém, é preciso, segundo ele, criar parâmetros transparentes, principalmente quando se está falando da atividade em Saúde.

“Há dez anos, a Abramed, por meio do seu Comitê de Ética e Compliance, deliberou sobre laboratórios alocados dentro de consultórios médicos de alto padrão. Entendendo que essa prática poderia gerar problemas no setor, os associados foram desestimulados a fazer isso”, falou Nomura, que completou: “Quando se indica uma conduta para associados, a ação se multiplica. Não é uma deliberação isolada”.

Os Códigos de Conduta são, indiscutivelmente, funcionais para garantir o cumprimento de atitudes éticas. Mas como promover a regulação dos serviços? Para Silveira Filho, fazê-la na forma de leis, que pautam, inclusive, o que pode e não pode ser feito na indústria, nos hospitais e nos laboratórios, não é interessante. Segundo ele, a corrupção sistêmica gera uma corrida para a elaboração de mais normas, o que seria insustentável: “Precisamos nos autorregular”. E essa sugestão deve ir ao encontro dos interesses da Saúde suplementar no sentido de promover acesso de forma adequada e na observância das boas práticas ao usuário final.

Foi unânime entre os debatedores a importância da ética, mais ainda a permanente discussão sobre o assunto. As associações de classe possuem seus manuais, enquanto os demais atores buscam promover a boa conduta dos processos por meio de discussões entre os envolvidos, estimulando a educação continuada e a aplicação do assunto durante cursos universitários, por exemplo. Contudo, para Rocha, a ética começa pela educação, que no Brasil fica a desejar. “Não adianta falar de ética na faculdade. Temos agora é que dar continuidade e aperfeiçoar o que aprendemos”.

Calderari ponderou que, “embora sejamos todos ‘convertidos’, é importante atuar na forma como os hospitais e as organizações de saúde se organizam”. Os participantes concordaram que a ética é uma escolha individual e precisa ser estimulada desde cedo, como algo comum na convivência em sociedade.

Ética: inovação e acesso

O vice-presidente executivo da Interfarma ponderou que, em um momento de crise, deve-se colocar a ética à frente de todas as prioridades. “Não devemos afastar nossos parceiros, funcionários, fornecedores e reconhecer nossas dificuldades”. A crise a que ele se refere é a crise econômica brasileira e das operadoras de Saúde que atinge toda a cadeia produtiva. Vive-se um momento de possíveis mudanças na carga tributária, de rombo operacional dos planos de Saúde, que supera o valor de R$ 11,5 bilhões.

Somada a essa realidade, há denúncias de fraudes nesse setor já estrangulado, inclusive executadas por profissionais que prestam seus serviços sem a observância da ética médica, seja por meio de autorregulação, seja pelo código civil e criminal ou seja pelos códigos de conduta de entidades de classe. Os usuários também fazem parte de alguns sistemas de ações fraudulentas. Segundo Sobral, o resultado é 100% de sinistralidade, o que assusta os prestadores de serviço. Ele ainda critica a atuação de alguns sindicatos, que trabalham de forma anticompetitiva e antiética financeiramente.

Segundo Caderari, as inovações, os equipamentos de última geração e o uso de tecnologias parecem ser um caminho de transformações no setor, uma vez que podem registrar tanto a jornada do paciente quanto do médico e dos demais atores, é possível competir de forma lógica com relação a custos, por exemplo. “Somos o principal driver de carecimento, os centros produtivos e industriais.” Mas, de acordo com o executivo, além de receberem recursos limitados, “não atendem a todos pelo alto custo final”, reconheceu.

Na plateia, ponderou-se que representantes do legislativo poderiam compor a mesa para discussões sobre investimentos. O Governo Federal anunciou a recriação do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis) para promover articulação governamental e formular medidas que fortaleçam a produção e a inovação na área da Saúde. Enquanto isso, a Medida Provisória (MP) 1.147/22, que ainda passará pelo Senado, fala de financiamentos para a indústria. As discussões sobre reforma tributária ainda tramitam no terceiro poder e causam polêmica.

Sobral entende que, finalmente, deve haver uma mudança cultural educacional. Para isso deve-se estabelecer incentivos econômicos corretos e avaliar questões políticas, citando o rol taxativo e a PL do piso da enfermagem. “Mas parece que caminhamos para frente, com foco no paciente.”

Tecnologia e sustentabilidade nos planos de Saúde são discutidas no 14º Seminário Unidas

Abramed destacou o papel da medicina diagnóstica defendendo o exercício do setor de forma mais sustentável

A Abramed participou de um painel na 14º Seminário Unidas, promovido pela Unidas – Autogestão em Saúde. Com o tema “Quem são os verdadeiros atores da Saúde suplementar”, o destaque da discussão esteve em torno da implementação do uso de tecnologias no setor para, principalmente, promover a sustentabilidade em meio à crise financeira que o atinge. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos de saúde apresentam um rombo acumulado que chega a R$ 11 bilhões. O evento aconteceu nos dias 25 e 26 de abril, em Brasília (DF), abordando a temática central “Por mais integralidade e equidade na saúde”.

Estavam presentes na mesa o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik; o diretor de Tecnologia e Informação da Associação Paulista de Medicina (APM) e presidente da comissão organizadora do Global Summit Telemedicine & Digital Health, Antonio Carlos Endrigo; o gerente executivo da CASSI, Everton Nunes – que moderou o debate, e a diretora de contratos do Grupo Hapvida Notredame Intermédica, Nathalia Pompeu.

Abrindo a conversa, Nunes ressaltou que o tema em si já era provocador. “O ator é quem tem papel ativo em algum acontecimento e, agora esse momento é de mudanças. Falamos muito em colocar o cliente no centro, temos que buscar soluções técnicas para isso”.

Shcolnick ressaltou que um dos principais problemas enfrentados é o não conhecimento, por parte dos pacientes e beneficiários, de que a não utilização de maneira correta dos recursos gera um impacto no valor, um reajuste. “Essa repetição frequente de exames e os métodos de análise não serem padrão são grandes barreiras. Desde 2011, a Abramed adotou a terminologia Loinc que é a padrão do Ministério da Saúde, mas não avançamos e, essa padronização é essencial, também, para a saúde das pessoas”, complementou.

Para ele, “a área da medicina diagnóstica traz bastante preocupação para os planos de saúde, que cobra pela superutilização desse recurso”. Porém, reforçou que 70% dos diagnósticos médicos são feitos a partir de exames de laboratório de análises clínicas e de imagem, sendo o setor de importância crucial na prevenção de doenças e no tratamento correto.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Abramed, a entidade conta com laboratórios que codificam regularmente dados para exames mais precisos e usam sistemas integrados ao Ministério da Saúde, facilitando a comunicação para tomada de decisão, como aconteceu na pandemia. “Estendemos fronteiras e, atualmente, os exames servem de base para tratamentos personalizados. Isso gera economia para os sistemas de Saúde, tanto público quanto suplementar.”

Shcolnick se refere às fronteiras ultrapassadas por meio do uso de tecnologias que permitem leituras assertivas, diagnósticos mais precisos, menos refração, monitoramento e padronização de dados e interoperabilidade e, então, maior economia pelas operadoras que pagam pela execução dos exames. Mas lembrou ser necessário legislar nesse sentido: “Precisamos dialogar para promover essa implementação respeitando os direitos dos pacientes e a legislação”.

Nathalia garantiu que o ator central dessa discussão é e deve ser o usuário. “Fazendo uma analogia a uma peça de teatro: cada ator corre para cumprir seu papel e ninguém está lá para fazer o espetáculo acontecer. O consumidor final não participa dessas discussões e, como saúde suplementar, temos que representá-los. Falar para quem está acostumado a ouvir é fácil”, afirmou.

Destacando a telemedicina, ela concorda que as novas tecnologias são disruptivas e geram economia, mas devem respeitar o acesso aos dados do paciente. Atualmente, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) regula as relações de dados oferecidos pelo usuário e utilizados pelo prestador de serviço. A acreditação dos sistemas de Saúde também confere proteção ao usuário e ao médico, pois tratam não apenas de equipamentos, mas também de telecomunicações, prevenindo, inclusive, ataques cibernéticos que paralisam sistemas ou expõem dados epidemiológicos pessoais.

“Um dos pontos que nos preocupa é a quantidade e a velocidade que foram criadas as Faculdades de Medicina. Infelizmente não teremos vagas suficientes para residência médica e nem eles estão acostumados a buscar cursos de especialização. E, isso impacta os beneficiários e os planos de saúde. Porque o volume de médicos que estão indo para o setor é grande e a conta não vai fechar. Os convênios não terão como incluí-los na rede credenciada. Isso pode gerar a diminuição nos honorários médicos e, consequentemente, termos médicos de menor qualidade”, destacou Endrigo acerca dos desafios na carreira médica.