Dengue: Cresce 221% o número de positivados por dengue nos laboratórios privados

    Número de exames para detectar a arbovirose também apresentam aumento 

A Abramed informa que houve crescimento de 221% de exames positivos para dengue com relação à primeira semana epidemiológica de 2023. Os exames realizados, no mesmo período, apresentaram aumento de 152%.  

O resultado foi o crescimento da positividade de 26,51% para 33,74%, no período da primeira à última semana epidemiológica deste ano. Vale destacar que “positivos” representa o número total de pacientes com testes positivos, enquanto “positividade” é a relação entre os testes positivos e os exames realizados. 

A análise já consegue apresentar tendência de aumento significativo e preocupante, como pode-se observar em algumas localidades que já declararam surto. A análise epidemiológica é feita a  partir dos dados oferecidos pelos laboratórios que integram a Associação. 

Testes diagnósticos disponíveis na rede privada 

De forma geral, 60% do volume de exames realizados na rede suplementar são feitos em laboratórios associados da Abramed. São mais de quatro mil tipos oferecidos, como testes de dengue, incluindo os de resposta rápida. 

São eles: anticorpos anti dengue IgG –IgM; antígeno para Dengue; antígeno dengue – NS1; detecção e tipagem do vírus da dengue por PCR; PCR para chikungunya e dengue; PCR para Zika, Chikungunya e Dengue; PCR para Zika, Chikungunya. 

*Consulte a disponibilidade da clínica.

Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed, no Labor News – Homenagem às mulheres

A diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano, foi uma das homenageadas no especial de março da Labor News em alusão ao mês das mulheres. A publicação é especializada em assuntos sobre o setor de Saúde.

Segundo a diretora, a pandemia afetou desproporcionalmente as mulheres em diversos setores e expôs desigualdades de gênero. Para ela, é preciso investir em políticas e programas que considerem as suas necessidades, como prevenção e tratamento de doenças específicas e apoio emocional, além da promoção das mulheres em posições de liderança, onde elas possam ajudar a moldar políticas e decisões em Saúde. “É importante reconhecer e abordar os desafios específicos enfrentados por nós.”

Confira a publicação.

Combate à Meningite: o exame do Líquor e os exames moleculares merecem destaque para diagnósticos precisos

Endêmica no país, atualmente a doença pode ser diagnosticada e tratada com precisão; vacinas também estão disponíveis nos laboratórios privados para público ampliado

A data de 24 de abril é marcada como o Dia Mundial de Combate à Meningite. Ela faz alusão à prevenção e ao diagnóstico dessa doença endêmica no Brasil, que pode ser fatal. Pela característica altamente transmissível, as vacinas são recomendadas e, no primeiro sinal de sintomas, é imprescindível realizar exames diagnósticos para evitar sequelas ou morte. São eles: exame Quimiocitológico do Líquor; Bacterioscopia Direta; Cultura de Bactérias; e Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (PCR).

Segundo o Dr. Carlos Senne, presidente do Senne Liquor Diagnóstico, laboratório associado da Abramed, o exame de líquor (LCR) é o mais recomendado para identificar a presença de meningite e também para definir o agente etiológico. “O diagnóstico diferencial entre as meningites virais e bacterianas inicia-se a partir da análise citológica e bioquímica do LCR. Como complemento, o diagnóstico microbiológico convencional, que inclui métodos de coloração (GRAM) e as culturas em placas de ágar, ainda são de grande importância nas meningites bacterianas”, declara.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2021, foram registrados quase 7 mil casos, que ocasionaram 793 óbitos. Um ano antes, um grande surto atingiu a cidade de São Paulo. No mundo, a meningite afeta mais de 2,8 milhões de pessoas a cada ano. A doença existe nas formas viral e bacteriana, as quais podem provocar inflamação no cérebro e na medula espinhal. Para as crianças menores de um ano de idade, a orientação é observar a presença de inchaço na moleira e choro persistente.

Os sintomas mais comuns são dor de cabeça, náuseas e vômitos e febre. Em casos mais graves, podem levar a perda da consciência e convulsões. As meningites virais costumam ser mais leves – atingem crianças na maioria dos casos e têm grande potencial de causar surtos. Já as meningites bacterianas são mais graves e devem ser tratadas imediatamente, para evitar sequelas ou morte.

Por ter características distintas, o exame laboratorial da doença deve ser preciso para recomendação do melhor tratamento. Outro exame de destaque, segundo o médico, são os exames moleculares, por serem capazes de identificar o agente etiológico. Algumas metodologias moleculares envolvem técnica rápida e inovadora, podendo ser liberadas em poucas horas. “Foi um grande avanço”, afirma. Ainda segundo ele, a inteligência artificial (IA) pode permitir a integração de várias plataformas e abordagens para apoiar a tomada de decisões clínicas, uma vez que possibilita explorar vários fluxos de dados, incluindo, entre outros, informações laboratoriais, clínicas e radiológicas para fornecer aos médicos resultados preditivos e acionáveis. “Assim, temos grande potencial de contribuir no diagnóstico e na condução dos casos de meningite.”

Ainda segundo o Dr. Senne, durante datas alusivas, as pessoas tendem a se informar mais, e o número de exames solicitados pelos médicos aumenta. Embasando 70% das decisões médicas, os exames diagnósticos são indispensáveis para a garantia da saúde global. Tendo a doença diagnosticada, 20% podem ficar com sequelas, como amputação de um membro, surdez, cegueira ou outras complicações neurológicas. Mas 80% se curam.

As vacinas são consideradas a melhor forma de prevenção contra a doença e, na rede privada, elas atendem a todos os sorotipos por meio da administração da conjugada quadrivalente ACWY. São três doses até 1 ano de idade, dependendo da marca da fabricante. Também é recomendado um reforço entre os 5 e 6 anos e outra dose aos 11 anos. Pode ainda ser aplicada em adultos, em idosos e pessoas imunocomprometidas, ampliando o reforço do sistema público.

Uma vez que as coberturas vacinais estão em queda, a rede suplementar, por meio de distribuição particular, para empresas e subgrupos mais abrangentes, consegue auxiliar no atingimento da meta de 95% de cobertura e nas campanhas sazonais.

Abramed discute sustentabilidade da saúde suplementar em evento da Amcham

Presidente do Conselho de Administração mostrou a pertinência da medicina diagnóstica no contexto da Saúde suplementar e do acesso à Saúde

No último dia 30 de março, a Abramed esteve na Reunião Especial Amcham & Mattos Filho para discutir questões das indústrias Life Science e Saúde com foco nas atualizações regulatórias mais recentes. Em uma discussão multisetorial dentro da indústria da Saúde, problematizaram-se os rumos do setor nos próximos quatro anos e as questões que envolvem o acesso por meio da união entre público e privado e regulação. Representando a instituição no debate, estava o presidente do Conselho de Administração, Wilson Shcolnik. Os associados da Abramed são responsáveis por 60% de todos os exames diagnósticos da Saúde suplementar do país, despontando, assim, como um importante pilar do setor, que oferece mais de 4 mil tipos de exames atualmente.

Shcolnik comentou que a chegada de uma nova gestão governamental especializada anima o setor da Saúde, uma vez que os temas anunciados atendem aos interesses corporativos e da população. “Foi anunciado, por exemplo, o interesse em acelerar a atenção primária e empoderar a telessaúde, que é esperada como uma forma de levar eficiência a todo sistema, tanto público quanto privado.” Segundo ele, a pandemia deu a oportunidade de utilizar de forma mais ostensiva esses mecanismos tecnológicos e remotos e espera que as decisões regulatórias sirvam para a manutenção desse avanço.

Gustavo Swenson Caetano, sócio do escritório Mattos Filho, que patrocinou o evento, concorda que a pandemia acelerou assuntos até então parados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com relação à regulação. As atualizações das normas da agência rumo ao avanço tecnológico também foram destacadas. “Vemos uma tentativa de alinhamento de padrões internacionais para otimizar o trabalho regulatório”. Ainda de acordo com o advogado, a telemedicina foi um importante marco de implementação e regulação. “Precisamos buscar modelos de parceria saudáveis em termos financeiros que tenham segurança jurídica.”

Exaltando a parceria entre público e privado, Shcolnik ainda revelou que na pandemia foi preciso observar essa intersecção. Citando mais um anúncio do atual governo, ele fala que o complexo econômico-industrial da saúde é um destaque. “Sofremos muito na pandemia, pois não tínhamos reagentes para diagnosticar covid-19.” De acordo com ele, é muito importante o diagnóstico precoce, além da promoção e prevenção. “Isso alivia qualquer sistema de saúde de custos de agravamento de doenças.” O presidente do Conselho de Administração da Abramed relembrou que os associados da instituição são responsáveis por 60% dos diagnósticos privados no Brasil e complementou: “30% dos 2 bilhões de exames realizados no país são feitos por nossos associados – exames de laboratório e imagem”.

Nesse contexto, ele comentou que a Anvisa realiza diálogos abertos para a regulação, elogiando a Agência: “A norma de realização de exames fora de laboratório, que está em discussão, pode impactar a saúde do paciente”. Realizar exame dentro de clínicas adequando-a como posto de coleta laboratorial apresenta menos risco para o paciente, uma vez que cuidados pre-analiticos são essenciais para obtenção de um resultado de exameconfiável. “Se a agência não atuar para mudar essa perspectiva, haverá insegurança para a população.” 

Integrar setor público e privado é fundamental para promover acesso à saúde

Sobre as perspectivas para os próximos quatro anos e as pautas que devem ser destacadas nesse período, Fernando Iazzetta, head of Legal, Compliance & Government Affairs da Chiesi, também contribuiu dizendo que a Saúde deve ser prioridade em qualquer política de Estado. “Essa questão, em um país continental, é um dever de todos nós, inclusive da indústria.” O head destacou a criação de uma agenda para o uso das tecnologias e de digitalização e o aprimoramento de dados para criar recursos, inclusive chamando a esfera pública para esse desafio. “Como conseguimos reunir toda essa inteligência e esses dados incluindo todos os stakeholders e propor uma estratégia de alocação mais efetiva?”, indagou no contexto de valor agregado de cada produto, como os farmacêuticos.

Ainda segundo ele, é necessário integrar o setor público e o privado para promover acesso às regiões mais distantes e carentes de recursos. “Temos responsabilidade de, além de vender o medicamento, construir a Saúde da forma que ela merece.” Ponderou-se ainda, durante o debate, as questões orçamentárias que influenciam as propostas, uma vez que existem empresas com nível de endividamento grande, inclusive para promover crescimento, o que atrasaria as discussões econômicas, as discussões do setor da Saúde.

Leandro Fonseca, head of Public Affairs and Healthcare System Sustainability da Novartis, complementa a problematização dizendo que há uma grande busca por saúde suplementar e isso precisa ser observado pelo novo governo, além das questões econômicas. Mas tem uma visão otimista: “Há uma perspectiva de discussões para essa demanda no Planalto.”

Shcolnik aproveitou a chance e chamou a atenção para os obstáculos que podem interferir no acesso. Um deles é a proposta de aumento do piso salarial da enfermagem:“Esse assunto da enfermagem está em linha com o acesso. Quem está inserido na Saúde suplementar pode inviabilizar operações levando a aumento de custos e migração da população para o SUS e esse contingente não é esperado”. No mesmo contexto econômico, a reforma tributária deve ser neutra para o presidente: a exemplo do que ocorre em outros países, a Saúde e a educação devem ser tratadas de forma diferenciada.

Ele ainda se pronunciou sobre a Lei 14.454/22, que “dispõe sobre os planos privados de assistência à saúde, para estabelecer critérios que permitam a cobertura de exames ou tratamentos de saúde que não estão incluídos no rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar”. “Temos uma posição não corporativista e nos posicionamos de forma contrária.” Segundo ele, a lei coloca em risco a sustentabilidade do setor. E destaca que a Lei 1.303/22, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde para tornar obrigatória a existência de contratos escritos entre as operadoras e seus prestadores de serviços, regulamentada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), não apresentou efetividade. “Isso afeta a qualidade dos serviços oferecidos ao usuário final.”

Ana Cândida Sammarco, sócia da Mattos Filho, destacou a importância da saúde suplementar dentro do ecossistema, mas ponderou o processo de judicialização. “Tivemos aumento no número de beneficiários, mas temos número muito alto de processos”, declara. Segundo ela, a cobertura extra no rol impactou significativamente o setor. Marcos Paulo Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), receia que perderemos um ano discutindo economia “e teremos dificuldade de colocar nossas pautas prioritárias nesse momento”.

A Amcham é uma Câmara Americana que integra todo o país disponibilizando conteúdos e networking qualificado para diversos segmentos com foco no setor privado. As datas de todos os eventos podem ser consultadas no site www.amcham.com.br.

*Créditos da imagem: Mario Miranda, Fotógrafo Amcham.

Inteligência artificial: o futuro da saúde passa pela medicina diagnóstica

A tecnologia tem potencial de revolucionar o tratamento de doenças crônicas, permitindo um monitoramento contínuo e personalizado; o papel do médico e a regulamentação são pontos de atenção

A medicina tem utilizado cada vez mais recursos tecnológicos para atingir seus objetivos: promoção de bem-estar, prevenção e aumentar as chances de cura de doenças. O setor diagnóstico desponta como uma das áreas que mais têm se beneficiado com a nova realidade. Ferramentas como inteligência artificial (IA) são capazes de, por meio de algoritmos programados, fazer uma varredura rápida e assertiva sobre os melhores exames a serem ofertados em determinadas situações e ler com precisão os resultados. As ferramentas de comunicação remotas também são utilizadas para promover acesso à saúde.

Embasando 70% das decisões médicas, os exames diagnósticos são indispensáveis para a garantia da saúde global e cumprem papel fundamental nas ações de prevenção e detecção precoce de doenças. Para Ademar Paes Junior, médico radiologista, membro do Conselho de Administração da Abramed, presidente da Associação Catarinense de Medicina e sócio da Clínica Imagem e CEO LifesHub Inteligência em Saúde, o destaque vai para o uso da IA na patologia. “Sistemas como o Paige.AI identificam padrões em amostras de tecido que podem ser indicativos de câncer ou outras doenças”, declara.

Segundo o médico, sensores, wearables e implantes podem monitorar a saúde do paciente em tempo real e fornecer dados valiosos para médicos e pesquisadores e têm o potencial de revolucionar o tratamento de doenças crônicas como diabetes e doenças cardíacas, permitindo um monitoramento personalizado. Predisposição a doenças hereditárias também podem ser identificadas e prevenidas por meio de IA.

Paes Junior ainda traz outra inovação para o debate. “O projeto do Google DeepMind desenvolveu uma IA capaz de diagnosticar doenças oculares com precisão similar a especialistas humanos”, comenta.

No caso de exames por imagem, como ressonância magnética, tomografia computadorizada e radiografias, os benefícios das novas tecnologias também são múltiplos. “O resultado dessa digitalização vai do auxílio para diagnóstico aos médicos radiologistas e patologistas até a seleção da melhor conduta clínica”, explica Gustavo Meirelles, médico radiologista e líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed. Atualmente, uma imagem já pode ser lida por um software que consegue detectar padrões e ajuda o médico em diagnósticos.

 “Esses avanços estão em implantação principalmente nos grandes centros, com uma tendência de acontecer em seguida em clínicas menores”, avalia Meirelles. A aplicação de tecnologia nos serviços garante, ainda, o acompanhamento da jornada do paciente, por meio de interoperabilidade de dados que, inclusive, mostra situações de saúde para tomada de decisão e aplicação de novas políticas.

Entendendo que alguns recursos ainda são pouco acessíveis financeiramente, Paes Junior avalia que “à medida que a adoção dessas tecnologias aumenta e os custos associados caem, elas se tornam mais acessíveis para hospitais, clínicas e outros estabelecimentos públicos”. Segundo ele, os governos se beneficiam do uso da IA na medicina diagnóstica, pois tende a diminuir a demanda por tratamentos caros e prolongados, o que pode aliviar a pressão sobre os sistemas.

Meirelles também acredita que o SUS deverá ter mais acesso a tecnologias de última geração: “Novos auxílios levarão a IA para o setor público; não há inovação realmente transformadora e disruptiva que não passe pelo auxílio à esfera pública de saúde”. Ele comenta, ainda, que os chatbots poderão ser provedores de grandes mudanças no atendimento. Esses dispositivos simulam conversas e podem melhorar o acesso à saúde, além de promover agilidade na interação com o paciente.

Ele ainda exalta, no mesmo contexto, a telessaúde, que tem se tornado cada vez mais popular. “Essa combinação de IA e telemedicina tem o potencial de levar o atendimento médico a áreas remotas e melhorar o acesso aos cuidados de saúde para pessoas em todo o mundo”, comenta. A telessaúde foi muito usada durante a pandemia e ganhou espaço na oferta de saúde, assim como o uso de tecnologias modernas, que aceleram a tomada de decisão, como em momentos de crise sanitária. Porém, o acesso universal depende da oferta de internet de qualidade, inclusive para acessar prontuários remotamente.

O líder do Comitê de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed defende que a IA trabalhe como aliada do médico, permitindo maior precisão diagnóstica “e evitando que o profissional perca tempo com tarefas repetitivas que podem ser automatizadas, oferecendo mais espaço para a interação com os pacientes”. Nesse sentido, diferentemente do que se pode imaginar, a IA proporciona mais possibilidades de humanização e menos burocracia para o profissional.

Segundo informações da AllScripts divulgadas pela Health IT & CIO Report, disponibilizadas pelo radiologista, os profissionais de saúde passam metade de seus dias inserindo dados em prontuários eletrônicos e conduzindo trabalhos administrativos, reduzindo o contato com os pacientes a apenas 27% de sua rotina diária. “Além disso, as atividades exaustivas provocadas pela fusão de trabalho administrativo e médico influenciam no absenteísmo por burnout”, afirma.

Ele ainda destaca outro ponto de atenção: a apreensão dos profissionais quanto aos seus empregos. “Os médicos não precisam se preocupar quanto à manutenção de suas funções nas clínicas e nos hospitais, uma vez que as tecnologias devem passar pelo crivo de um profissional, sendo elas uma forma de leitura ou revisão para aprimorar o trabalho humano e não extingui-lo.” Mas ele pondera que serão necessários investimentos para capacitar a prestação de serviços de saúde pública e privada. “Houve um medo muito grande no início, mas a IA está sendo bem aceita, inclusive pela população.”

IA sob ameaça

Em março deste ano, diversas autoridades internacionais no setor de tecnologia, entre outras personalidades, emitiram carta aberta ao mundo alertando sobre o uso da IA. Segundo o documento, é preciso regular e democratizar a tecnologia para evitar danos como a disseminação de informações equivocadas e o mau uso dos dados coletados. “Estamos em momento de regulamentação, discutindo isso neste momento”, afirma Meirelles.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já falava sobre a temática em 2021. Segundo o relatório Ethics and governance of artificial intelligence for health (Ética e governança da inteligência artificial para a saúde, em tradução livre) da entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso garantir alguns princípios para a regulamentação e governança da IA: proteger a autonomia humana; promover o bem-estar, a segurança e o interesse público; garantir transparência, explicabilidade e inteligibilidade; promover responsabilidade e prestação de contas; garantir inclusão e equidade e promover inteligência artificial que seja responsiva e sustentável.

No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados é usada para garantir a proteção de dados do paciente e a tranquilidade para a exposição de seus diagnósticos. O Projeto de Lei 21/20 cria o marco legal do desenvolvimento e uso da IA pelo poder público, por empresas, entidades diversas e pessoas físicas. O texto, em tramitação na Câmara dos Deputados, estabelece princípios, direitos, deveres e instrumentos de governança para a IA a fim de que se garantam os direitos humanos e os valores democráticos.

Na Abramed, os comitês discutem todas as questões que envolvem a proteção do paciente e as difundem entre seus associados. Resguardados esses princípios, as tecnologias tendem a se consolidar, como está acontecendo na saúde, uma vez que proporcionam benefícios múltiplos.

Saúde para todos: como promovê-la?

Por Gonzalo Vecina*

A garantia de saúde para todos somente vai acontecer se a sociedade entender que isso é fundamental. Se é por meio da iniciativa pública ou privada, não interessa; interessa que todos tenham acesso. Algumas ofertas são exclusivas do Sistema Único de Saúde (SUS), como a vigilância epidemiológica e sanitária. A saúde suplementar pode oferecer tecnologias que devem ser usadas para impactar toda a sociedade. A oferta deve ser única, ou seja, presente nos dois setores. A união das partes atenderá ao todo.

Na Constituição de 1988 está: “A saúde é um direito do cidadão e um dever do estado”. Porém, até hoje, não conseguimos chegar a esse objetivo. Podemos elencar como causadores de obstáculos o sub financiamento, os problemas na gestão, as deficiências no modelo de produção de serviços no sistema público, além da falta de tecnologia e recursos humanos.

Outro problema é o processo de envelhecimento populacional. Atendemos pacientes idosos e pessoas com problemas de saúde mais graves, então é um risco quando intervimos nesse tipo de paciente sem retaguarda de UTI. Durante a pandemia foi evidenciada a falta desses leitos. Tivemos de promover aumento, mas ainda não foi suficiente, porém,  o acordar para a existência de um sistema como o SUS foi uma grande conquista da pandemia.

Por isso, discutir as intersecções dos setores é benéfico para o acesso à saúde da população. Um exemplo: 60% da rede hospitalar é privada. Parte dela contratada pelo SUS e parte exclusiva do setor suplementar. Para ser mais eficiente, a iniciativa pública pode promover parcerias, criando filas únicas para todas as suas demandas, como as que já opera para transplantes, por exemplo.

As novas tecnologias também devem ser um ponto de atenção para promover o acesso à Saúde. Vimos isso ser implementado durante a pandemia com a telemedicina. Mas existem problemas complexos – a rede hospitalar brasileira tem 7,2 mil hospitais, aproximadamente. Posso dizer que temos uma informatização mais robusta em não mais de 10% desse contingente!

O que já acontece nas instituições bancárias pode ser exemplo para saúde. Investimento em sinais via satélite ou cabeamento de fibra óptica podem promover acesso à tecnologia da informação. Outra barreira a ser enfrentada é a interoperabilidade, seja na jornada do paciente, seja no controle de estoques, nos recursos humanos, na gestão financeira ou nos laboratórios. Além de dar acesso à telemedicina e acesso eletrônico a prontuários. O futuro dependerá disso. Mas temos muito o que caminhar, uma vez que somente 7% dos hospitais brasileiros têm prontuários eletrônicos. Serão necessárias políticas públicas e investimentos para pensar nas soluções que envolvem, inclusive, infraestrutura nas cidades mais isoladas, além de regulação. É demorado, mas deve ser construído desde já.

Com relação à medicina diagnóstica e às tecnologias ultramodernas, como a ressonância magnética nuclear, o PET-Scanner, os implantes inteligentes como o coclear, a cirurgia robótica e a impressão 3D de órgãos, o acesso à rede de dados é fundamental. Aliado à inteligência artificial, são instrumentos que podem trazer acessibilidade e agilidade para prevenção e tratamento de doenças. Um exemplo interessante são os equipamentos de point-of-care, que realizam análises clínicas e dão o resultado no local do atendimento.

Voltando à intersecção dos setores, promover uma central de diagnóstico remoto e digital que atenda a todos os hospitais de determinada região pode aumentar o acesso à Saúde diagnóstica. Inclusive, técnicos de enfermagem podendo participar da realização de ultrassonografias, por exemplo, que serão lidas remotamente e com agilidade por um especialista. Isso abreviaria o tempo de diagnóstico de muitas doenças por meio do uso de boas evidências.

Mas o SUS não dispõe de tanta tecnologia. Como promover um processo de atenção unificado? A intersecção entre público e privado na tecnologia depende da criação de um caminho singular: o setor suplementar não pode ter acesso a tecnologias que o SUS não tenha e, por outro lado, o SUS precisa ter acesso à tecnologia de forma mais inteligente do que foi até agora. Para isso, eu diria que se faz necessária a criação de uma agência independente para avaliar tecnologias e decidir qual vai ser colocada dentro do sistema de atenção à saúde brasileiro.

Então, para promover melhorias, voltamos ao tema investimento. Temos que levar em conta que, em meio à crise econômica atual no Brasil e no mundo, temos problemas não apenas na saúde, mas na educação, na alimentação, na segurança pública, na distribuição da justiça, no saneamento básico e não vamos conseguir construir uma torre de marfim na saúde. Ou conseguimos evoluir na implementação dos direitos básicos da cidadania de uma forma mais ampla, ou não tem saída.

O setor privado também tem problemas de financiamento, mas com características diferentes. Gasta-se muito sem gestão. O que não podemos é injetar dinheiro no privado sem que o impacto promovido por ele seja produzir saúde e não somente lucro, gerando um sistema de atenção baseado na promoção da qualidade de vida.

Toda saúde é um bem público. A ficha tem que cair. Não é uma transformação cultural fácil e deve demorar. A própria universalização, que é muito mais simples que a tecnologia, não conseguimos resolver, mas não tem outro caminho para uma sociedade desenvolvida, moderna e civilizada — coisa que ainda não somos, infelizmente.

*Gonzalo Vecina é médico sanitarista, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.